O show do Sabaton já caminhava para o fim quando, na pausa entre duas músicas, um incrédulo e ao mesmo tempo extasiado Joakim Brodén mostrou a todos seu antebraço esquerdo. Em seguida, perguntou ao bom público presente ao Circo Voador como se dizia “estar arrepiado” em português. Ao tentar repetir a palavra, carregado de sotaque, o vocalista sueco arrancou aplausos e risadas gerais. O episódio resume bem o que foi o divertido retorno da banda de Power Metal ao Rio de Janeiro, dois anos depois de sua não menos empolgante estreia, no Teatro Rival.
Completado pelos guitarristas Chris Rörland e Tommy Johansson, o baixista Pär Sundström e o baterista e futuro papai Hannes Van Dahl (companheiro da vocalista do Nightwish, Floor Jansen, que está grávida), o grupo veio promover seu oitavo disco de estúdio, “The Last Stand” (2016). Em 80 minutos de espetáculo, iniciado pouco antes das 20h com duas faixas pré-gravadas, “In The Army Now” e “The March To War”, que já deixaram a pista do Circo em estado de ebulição, o quinteto executou um total de 16 músicas. O set privilegiou o trabalho mais recente e o anterior, “Heroes” (2014), incluindo cinco faixas de cada.
Após entrar no palco com “Ghost Division”, do álbum “The Art Of War” (2008), o Sabaton emendou a dobradinha “Sparta” e “Blood Of Bannockburn”, do disco lançado em agosto, mas já na boca do povo. Vale enfatizar a calorosa participação dos fãs, que detêm todo o repertório na ponta da língua. Abordando guerras e batalhas históricas, a linha temática das letras da banda ganha, digamos, suporte visual pelo traje dos integrantes, com direito a calças de estampas camufladas. “Swedish Pagans” (faixa-bônus presente em “The Art Of War”) foi antecedida por uma hilária apresentação do novo guitarrista Tommy Johansson, feita pelo carismático Brodén, ao público carioca.
Se o clima por parte da plateia era de total descontração, traduzido pelas seguidas rodas de pogo, palmas ritmadas e muito pula-pula, o que dizer de quem estava no palco? Rörland, Sundström (com seu baixo nas cores da bandeira sueca) e Johansson (que não ficava atrás, esmerilhando sua guitarra com pintura camuflada) agitavam o tempo inteiro, quando não trolavam uns aos outros. Comandante da festa, o igualmente irrequieto Brodén regia o público, ora apontando o microfone para que a plateia cantasse junto (era mesmo necessário?), ora em coreografias, que variavam entre palmas e punhos para o alto. Estrategicamente, na hora dos solos, o frontman saía de cena para os companheiros assumirem o protagonismo.
Ainda na metade do set principal, o grupo deixou brevemente o palco, durante o playback de “Diary Of An Unknown Soldier”, e voltou com “The Lost Battalion”, dona de um ritmo mais cadenciado. Após a execução de “Shiroyama” (outra música do álbum “The Last Stand”), Brodén mostrou suas habilidades nas seis cordas, ao tocar o riff de “Master Of Puppets”, do Metallica, cantando também um trecho da mesma. Se o jogo antes já não estava ganho… “Resist And Bite” veio na sequência, ainda com três guitarras no palco, e “To Hell And Back” (também de “Heroes”) fez a alegria geral com sua animada melodia, apesar do dramático teor da letra.
Além de anteceder a cena descrita no início do texto, “The Lion From The North” (do disco “Carolus Rex”, de 2012) trouxe uma grande performance de Johansson no solo, reforçando o acerto em sua escolha como substituto de Thobbe Englund. Já no bis, “Smoking Snakes” (mais uma de “Heroes”) foi certamente o destaque da noite. A canção homenageia o ato heroico de três soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que não se renderam e lutaram até a morte contra as tropas alemãs, em Montese, Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. “Primo Victoria” (faixa-título do primeiro álbum do Sabaton, de 1999) encerrou o show, mantendo a energia no topo e já deixando os fãs cariocas na torcida por um retorno, o mais breve possível, dos suecos à cidade.
A abertura da noite ficou por conta do Armahda. Trazendo na bagagem músicas em inglês e português, inspiradas na História do Brasil, a banda paulistana foi ovacionada pelo público com uma ótima apresentação. Em pouco mais de meia hora, Maurício Guimarães (vocais), Renato Domingos e Ale Dantas (guitarras), Paulo Chopps (baixo) e João Pires (bateria) tocaram faixas de seu homônimo álbum de estreia, que saiu em 2013, como “Queen Mary Insane”, “Paiol Em Chamas” e “Canudos”. Houve também espaço para “Last Farewell”, música lançada posteriormente como single e que presta tributo à memória da morte de Dom Pedro II.
Setlist Sabaton
1. Ghost Division
2. Sparta
3. Blood Of Bannockburn
4. Swedish Pagans
5. Carolus Rex
6. 40:1
7. The Lost Battalion
8. Far From The Fame
9. Shiroyama
10. Resist And Bite
11. To Hell And Back
12. The Lion From The North
13. Winged Hussars
Bis
14. Night Witches
15. Smoking Snakes
16. Primo Victoria
Set list Armahda
1. Echoes From The Duke
2. The Iron Duke
3. Canudos
4. Queen Mary Insane
5. Last Farewell
6. Armahda
7. Paiol Em Chamas