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SAMAEL | HYPOCRISY – São Paulo (SP)

Por Heverton Souza

Fotos: Leonardo Benaci

Não é de hoje que o Brasil, São Paulo em especial, é parte privilegiada do circuito “obrigatório” de shows de qualquer tour que venha para a América do Sul. E não temos do que reclamar quanto a isso. Porém, nesse momento, esse privilégio tem sido um problema para produtores, públicos e bandas. Com todo mundo querendo recuperar o tempo perdido durante a pandemia, uma série de eventos estão vindo ao país com datas muito próximas, quando não em dias coincidentes. Isso tem criado uma “disputa” no bolso dos fãs, que se veem forçados a fazer escolhas que muitas vezes estariam mais bem fracionadas por todo um ano ou mais. Para citar somente os dias no entorno desse evento aqui, uma semana antes tivemos shows das bandas suecas Lucifer e Watain, da americana Exodus, nos dias subsequentes Judas Priest e o Pantera, Knotfest… Com isso, o domingo de 11 de dezembro não recebeu dos maiores públicos na Audio Club para conferir os suíços do Samael e os suecos do Hypocrisy.

Às 17h30, surgia em palco a representação do black metal para as redes sociais: o fenômeno digital conhecido por Carniçal. Composto por Matheus “Sototos” Castilho (vocal e guitarra), Felipe “Sombra” Rocha (bateria) e João “Mortificado” Siqueira (baixo e vocais), o trio tinha uma cabeça de um bovino como candelabro no centro do palco de seu metal negro. Poucas pessoas se faziam presentes na casa para conferir a banda. Desses, boa parte eram curiosos que queriam saber se a “não seriedade” em redes sociais seria diferente musicalmente em palco – vale citar que até em entrevistas a banda já declarou não se levar tão a sério, apesar de afirmar que não se tratam de personagens, mas de suas personalidades.

Divulgando seu único lançamento até então, o EP Inquisição Espiritual, os rapazes de Nova Odessa, cidade do interior paulista, fizeram, sim, um show sério. E, respondendo a muitos, sabem tocar, sabem o que estão fazendo ali em palco e melhor que suas execuções em estúdio até então, com destaque ao baterista Sombra e aos vocais dramáticos de Sototos que, como guitarrista, sola sem pudor algum, algo não tão comum no black metal. Tocaram mais que apenas músicas de seu EP, mostrando que já têm repertório para um novo material de sua combinação de Darkthrone, Sepultura e Sarcófago.

Musicalmente eficiente, apesar de bastante simples e nada inovador, a questão maior sobre a escolha da banda para uma oportunidade dessas, com apenas três anos em atividade (o trio foi formado em 2019), pode ser colocada na injustiça de nomes de nosso underground que estão em na ativa há 20, 30 anos e nunca tiveram uma chance como essa, de abrir para grandes nomes do metal mundial, incluindo aí bandas formadas por ídolos dessas. Dentre a própria plateia vista no decorrer da noite era possível se deparar com músicos de grandes bandas de nossa cena, que evitavam polemizar o assunto quando questionados sobre a escolha da abertura. Então, a pergunta que fica é: será mesmo que é justo com tantos uma banda que só cresceu por conta de redes sociais ter ganhado essa oportunidade que tantas outras talvez nunca tenham?

Fato é que, às 17h58, o Carniçal encerrou sua apresentação com as belas palavras de Sototos: “Essa foi a Carniçal aí! Foda-se!”.

Aquela pausa para breves preparos e às 18h28, Marcello Pompeu (Korzus) fez o papel de mestre de cerimônias perguntando se o público queria death metal e anuncia: “Uma das maiores bandas de death metal do mundo: Hypocrisy!” A essa altura, um público maior já se fazia presente, mas ainda aquém da relevância do evento e alguns desavisados estavam surpresos em ver que o  Hypocrisy tocaria antes do Samael, visto que a banda sueca tem sim um público maior e nada dividido, diferentemente da banda suíça.

O líder, vocalista e guitarrista Peter Tägtgren segue com Tomas Elofsson na guitarra e, apesar de nunca ter deixado a banda, o baixista Mikael Hedlund não pode vir para a tour, substituído por Sebastian Svalland, enquanto a bateria ficou à cargo de Henrik Axelsson, mais conhecido por sua passagem na banda The Crown.

O set começou com a faixa-título do mais recente disco da banda, o álbum Worship (2022) e seguiu com Fire in the Sky, de Into the Abyss, de 2000.

Voltamos ao anos de 1994, mais precisamente no álbum The Fourth Dimension, com a execução de Mind Corruption e sua pegada mais old school. Circulando por diferentes pontos da casa, claramente quem assistia ao show ali da pista premium ou das laterais à frente do palco, tinha uma qualidade melhor que os que estavam mais atrás, na pista comum e não, não deveria ser assim. Na verdade, não entendo muito bem a divisão de pistas em casas fechadas de pequeno e médio porte e entendo menos quando se trata de eventos que passam longe da lotação máxima desses espaços, como é o caso de shows de metal extremo, com raras exceções.

Em palco, Peter soltava as primeiras palavras de cumprimentos e o anuncio de Erased. Com certeza um dos grandes momentos dos shows da banda desde o lançamento do álbum The Arrival, de 2004. Com a sequência de Inferior Devoties, a nova Chemical Whore e Until the End, o show dá uma mornada, mantendo mais a atenção dos fãs que o agito. Mas em Don’t Judge Me, uma parte da pista começou a ameaçar uma roda de mosh, enquanto a banda seguia sem agitar muito, porém com um show brutalmente conciso e em um dos seus momentos mais cativantes com as melodias de End of Disclosure. Foi então que com a entrada veloz de Weed out the Weak, que a roda que se ameaçava se tornou realidade.

Outro belo momento melódico com a nova e grudenta Children of the Gray, fez o público ovacionar a banda, mas com a brutalidade de War-Path a roda tomou forma novamente na pista. Se valendo da distração da equipe de seguranças, uma fã chegou a discretamente subir em palco pelo lado esquerdo, entre os PAs, mas foi rapidamente puxada de volta, levada no ombro por um segurança, direto para fora casa. Foi quase! O baterista Henrik Axelsson dava início ao “fim do show” com The Final Chapter, mas a banda não demorou a voltar, ao som dos teclados da apoteótica Fractured Millenium.

Após retornar ao seu primeiro disco, Penetralia (1992) com Impotent God, Peter agradece, faz questão de dizer que ainda teríamos o Samael em seguida e anuncua Adjusting the Sun, voltando mais uma vez ao clássico álbum The Final Chapter. E por falar em clássico, não poderia faltar o maior da carreira da banda, encerrando sua apresentação às 19h52 com Roswell 47, para alegria geral dos fãs, que passam o show todo do Hypocrisy esperando por esse momento.

Mais um intervalo para uma gelada, encontro entre amigos e a mudança de palco, quando às 20h25 uma nova intro soava no som, anunciando a entrada da dupla formada Vorph (vocal e guitarra) e Xy (teclados, samplers e bateria/percussão), acompanhados do guitarrista Drop e do baixista Ales. Iniciando seu show com Rain, o Samael seguiria dali em diante com a promessa de executar o álbum Passage na íntegra, celebrando seus 25 anos, completados na verdade em 2021.

A banda deve mesmo celebrar esse que foi o disco que mudou sua carreira, indo para um caminho sonoro do metal industrial que definiria o que é o Samael desde então, se afastando de seus primeiros anos como uma banda de black metal. E apesar de ainda terem os saudosistas que só lembram deles por esse passado curto e longínquo, o que define mesmo o que é a banda é exatamente de 1996 pra cá. Então se você não gosta do que os suíços fazem desde então até hoje, você na verdade não gosta de Samael.

E o que se viu na pista nas próximas músicas foi justamente pessoas que não gostam do Samael deixando a casa. Fato é que uma parte desse público estava ali muito mais pelo Hypocrisy, que esperava-se ser a banda que fecharia a noite, mas em nada isso pareceu abalar a banda. Após a terceira faixa, Angel’s Decay, Vorph fala em português com o público, explicando que a banda está tocando o disco Passage na íntegra, o que justifica a próxima música: My Saviour.

E assim, a banda seguiu com a execução completa do disco, com destaque para Jupiterian Vibe, pela nostalgia da música que nos remete ao extinto Fúria Metal, da MTV dos anos 1990 – aliás, seu começo tribal logo nos traz a imagem do clipe de volta à mente. Outra que pode ser destacada é Liquid Soul Dimension, que com seu riff marcante soa hipnótica ao vivo. Ao fundo do palco era possível observar Xy isolado com seu set de teclados, sintetizadores e bateria, parecendo que tocava em um show à parte, apenas seu. Uma “viagem” só sua.

Às 21h12 tivemos o fim dessa primeira parte do set. A banda deixa o palco, mas rapidamente volta com a música Samael. A faixa que leva o nome da banda é parte do último disco de inéditas dos suíços, o álbum Hegemony (2017). No mezanino da casa era possível ver os músicos da banda Carniçal circulando, curiosamente, ainda de corpse paint.

Após Luxferre, Vorph anuncia que era hora de um pouco de Ceremony of Opposites com Son of Earth, seguida de Until the Chaos, do clássico álbum Blood Ritual, de 1992. O momento nostálgico deu uma animada no público que até então mais observava a performance da banda. E por falar em performance, sem a guitarra, Vorph cantou Infra Galaxia de forma mais solta e performática, o que poderia se repetir por mais momentos do show.

Reign of Light tem tudo para ser ao vivo uma música com bastante agito e interação do público, mas já quase 10 horas da noite de um domingo, as pessoas pareciam um pouco cansadas e seguiam mais observando. Mais uma rápida saída de palco e a banda volta com Baphomet’s Throne, outro clássico de Ceremony of Opposites, e sem seguida outra nostalgia, diretamente a 1991, com Into the Pentagram, do álbum Worship Him.

Novamente Vorph fala em português e anuncia as últimas da noite: Slavocracy, uma das músicas mais marcantes da banda, parte do álbum Solar Soul, que nesse ano completou seus 15 anos e Black Supremacy, mais uma do já citada Hegemony, fechando a apresentação do Samael com 1h30 de palco.

Esta foi uma bela noite em um dos últimos shows de 2022 para quem pôde optar por ele entre tantos desse mesmo período. Cansativo, com uma inversão de papeis do que seria o headliner da noite, ao menos na cabeça dos fãs e revelador/polêmico quanto a uma abertura que divide opiniões. Agora é torcer para que 2023 tenha um calendário de shows amplo, rico, mas menos encavalado para os bolsos dos fãs de boa música.

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