Por Marcelo Gomes
Fotos: Roberto Sant’Anna
Na última passagem do Satyricon por São Paulo, no Carioca Club, a lendária banda norueguesa de black metal entregou uma performance memorável, carregada de atmosfera densa, peso e técnica. Com um setlist que percorreu diferentes fases de sua carreira, a banda liderada por Satyr (vocal) e Frost (bateria)demonstrou por que é um dos nomes mais respeitados do gênero, sendo ovacionada por um público fiel que lotou a casa e se entregou intensamente a cada nota.
Satyr e Frost, acompanhados por Steinar Gundersen (guitarra), Ben Ash (guitarra), Phil Pieters (baixo) e Anders Hunstad (teclado), deram início ao show com a sombria e melancólica To Your Brethren in the Dark, que trouxe uma atmosfera densa com sua cadência lenta e introspectiva. A música foi recebida com reverência, e o público imediatamente respondeu com gritos e braços erguidos, criando uma conexão que só se aprofundaria ao longo da apresentação. Na sequência, clássicos como Nemesis Divina e Now, Diabolical incendiaram a plateia, que respondeu com entusiasmo, especialmente no refrão marcante desta última, consolidada como um clássico da banda.
Satyr aproveitou o momento para saudar o público paulista, destacando que as turnês não se resumem a bons restaurantes e hotéis, mas sim ao contato com os fãs. Ele pediu que o público transformasse aquela noite no melhor show da América Latina, iniciando Black Crow on a Tombstone, que trouxe uma energia visceral ao evento. Ao final da música, a banda foi ovacionada com um “olê, olê, olê, Saty-ri-con!”.
Faixas como Deep Calleth Upon Deep, título do álbum de 2017, mostraram a evolução sonora da banda ao longo dos anos, com melodias sombrias e letras introspectivas. A resposta do público, que parecia conhecer cada detalhe da discografia, evidenciou a relevância do Satyricon, mesmo após décadas de carreira. Outros momentos marcantes foram Our World, It Rumbles Tonight e a emblemática Repined Bastard Nation, que equilibraram agressividade e sofisticação musical.
A próxima trinca foi de tirar o fôlego: Black Wings and Withering Gloom, Hvite Krists død e Walk the Path of Sorrow. Sem piedade, a banda tocou três longas faixas que resgatam o black metal old school, repletas de partes e dinâmicas que deixaram o público atônito com a execução impecável da banda. O público parecia atordoado com a velocidade e o virtuosismo dos músicos que entregavam tamanha brutalidade. Era nítido que os fãs estavam gostando, mas faltava algo: um mosh pit. Nesse momento, até comentei com o Roberto Sant’Anna, fotógrafo desse show, que estava achando esquisito que, até então, não tinha rolado um. Enfim, o show precisava continuar!
Um dos pontos altos da noite foi Filthgrinder, introduzida por Satyr com uma reflexão sobre o período em que o álbum Rebel Extravaganza (1999) foi gravado e as críticas recebidas na época. O vocalista explicou que, na sua visão, o uso de teclados pode ressaltar os riffs de guitarra, mas enfatizou seu descontentamento com teclados que soam como música gótica, os quais ele odeia. Satyr também recordou que uma revista alemã classificou o álbum como techno metal e, de forma irônica, afirmou que a revista certamente tem um lugar reservado no inferno. Ele encerrou suas palavras destacando que Rebel Extravaganza é um disco extremamente pesado de black metal e que o tempo se encarregou de provar que a crítica estava equivocada. Como evidência, mencionou os diversos convites recebidos de festivais ao redor do mundo para executar o disco na íntegra. No entanto, a banda recusou todos, realizando apenas um show comemorativo em sua cidade natal, Oslo (NOR). A narrativa foi recebida com aplausos e apoio pelos presentes. Quando os primeiros riffs de Filthgrinder ecoaram pelo Carioca Club, a plateia mergulhou intensamente na atmosfera sombria e profunda da música.
O Satyricon apresentou uma sequência impactante, culminando em momentos catárticos. Die By My Hand, To the Mountains e The Pentagram Burns foram entoadas em uníssono pelo público. Ao final, a banda foi ovacionada mais uma vez com o tradicional “olê, olê, olê, Saty-ri-con!”, agora acompanhado pela poderosa bateria de Frost. O vocalista Satyr agradeceu ao público e aproveitou para mencionar os bons shows realizados na Colômbia e no Chile. Entretanto, destacou que aquele era o terceiro consecutivo na América Latina sem um mosh pit, algo que considerava inimaginável. A provocação foi imediatamente compreendida pelos fãs, e foi com Fuel for Hatred que a energia do público atingiu seu auge. As rodas transformaram a pista do Carioca Club em um verdadeiro pandemônio, refletindo a intensidade e a força da música. Para encerrar com intensidade máxima, Mother North, possivelmente o maior clássico da banda, transformou-se em um momento de devoção pura, com a plateia cantando cada palavra com paixão, sem esquecer das rodas. O encerramento veio com K.I.N.G., um hino moderno que coroou a noite de forma majestosa, consagrando o show como uma das performances mais marcantes da banda no Brasil.
O show do Satyricon em São Paulo foi uma celebração de sua carreira e de sua importância no black metal. Por duas horas, os noruegueses entregaram uma apresentação técnica e visceral que impressionou o público. A mistura de clássicos atemporais e músicas recentes ressaltou a relevância contínua da banda, enquanto a resposta calorosa dos fãs reafirmou seu status de lendário. A conexão entre o Satyricon e seus devotos ficou evidente, com Satyr, visivelmente emocionado, agradecendo várias vezes e reforçando o vínculo especial com o público brasileiro. Sem dúvida, uma noite inesquecível para todos os presentes.
Setlist
To Your Brethren in the Dark
Nemesis Divina
Now, Diabolical
Black Crow on a Tombstone
Deep Calleth Upon Deep
Our World, It Rumbles Tonight
Repined Bastard Nation
Black Wings and Withering Gloom
Hvite Krists død
Walk the Path of Sorrow
Filthgrinder
Die by My Hand
To the Mountains
The Pentagram Burns
Fuel For Hatred
Mother North
K.I.N.G.
- Clique aqui para receber notícias da ROADIE CREW no WhatsApp.