Fortaleza, conhecida em muitos lugares como a “Capital do Riso”, a “Cidade da Luz” ou a “Terra do Forró”, aos poucos vai abrindo espaço para mais uma adjetivação: “Capital Nordestina do Rock”. Isso vem ocorrendo graças a empresas como a Arte Produções, que viu no cenário rockeiro um bom motivo para investir. Tal iniciativa que, de cara, levou Iron Maiden e Anthrax à Arena Castelão, resultou em maior segurança para a realização de mais eventos de Heavy Metal, como o caso do Megadeth, presenteado por outra grande produtora. Assim, o Centro de Formação Olímpica foi aberto ao público para recepcionar a banda alemã Scorpions, e o que se viu foi um espaço com estrutura de sobra para comportar muitos eventos esportivos e musicais. O ambiente em si é modelo padrão de arena, do tipo que assistimos em DVDs de bandas ‘mainstream’, ou seja, um habitat natural para Klaus Meine (vocal), Rudolf Schenker e Matthias Jabs (guitarras), Pawel Maciwoda (baixista) e o baterista Mikkey Dee (ex-Motörhead), que substitui James Kottak até o final de 2016, nessa turnê comemorativa de cinquenta anos de banda.
Exatamente no horário marcado, às 22h, as cortinas ilustradas com a capa do álbum “Return To Forever” (2015), que cobriam o palco, caíram revelando os músicos tocando “Going Out With A Bang”, música que também abre o novo disco. A canção causou certo entusiasmo, não mais que o próprio vocalista quando se aproximou da galera pela passarela, gerando muita gritaria, afinal, quem ficou ali perto foi difícil acreditar que estava a palmos de Klaus Meine.
Quando a banda tocou “Make It Real”, de “Animal Magnetism” (1980), a imagem da bandeira nacional apareceu nos telões, alegrando mais os presentes. Por possuir um público bastante misto, a canção animou mais aos fãs rockeiros que os demais, e esse tipo de divisão perdurou por todo o show, mas sempre com uma paixão unânime. Ao final da música, Meine foi à frente dizendo em português: “Boa noite, Fortaleza!”, e elogiou: “Nossa, que lugar lindo! Essa vai ser uma grande noite.”. Ao final dos cumprimentos, Rudolf partiu conduzindo a clássica “The Zoo”, que fechou a dobradinha de “Animal Magnetism”. Durante o solo ‘talkbox’ de Jabs, Rudolf e Pawel subiram no elevado onde ficava a bateria e formaram uma bela imagem ao lado de Mikkey, que “soqueava” nas cadências.
O show ainda estava longe de terminar, mas Meine já reduzia o estoque de baquetas de Mikkey jogando-as aos fãs, até lembrar que deveria se recolher ao ‘backstage’ com Jabs e Pawel, para que o “capitão” Rudolf pudesse atacar em “Coast To Coast”, a instrumental de “Lovedrive” (1979) que tem sua assinatura. Esse é sempre um dos momentos mais esperados dos shows do Scorpions, pois é a única música do set em que todos os membros fazem suas performances com seus instrumentos, inclusive Klaus empunhando sua Gibson vermelha. Foi nessa execução que uma fã mais animada jogou seu sutiã pego por Jabs que brincou com Schenker, tentando colocá-lo em sua cabeça. Diversão total embaixo e encima do palco.
Ainda muito sorridente, o ‘frontman’ agradeceu mais uma vez e disse que prepararam algumas “velhinhas, de 74, 75 a 77”. Os fãs mais assíduos da banda já imaginavam o que seria, pois alguns já sabiam decorado o ‘setlist’ que os alemães escolheram para essa turnê, logo, não foi surpresa, mas o efeito foi marcante com as músicas “Top Of The Bill”, de “In Trance” (1975); “Steamrock Fever”, de “Taken By Force (1977)”; “Speedy’s Coming”, de “Fly To The Rainbow (1974); e “Catch Your Train”, de “Virgin Killer” (1976), todas em um ‘medley’ sensacional.
Antes da banda tocar “We Built This House”, segunda na relação do álbum de divulgação, uma bandeira brasileira foi lançada à passarela e erguida pelo vocalista. Os coros de “Scorpions! – Scorpions!” eram bradados tão alto quanto os “Oh! – Oh! – Oh!” do refrão da música. Deu para perceber que essa funcionou tão bem quanto a música de abertura, mas os fãs de virtuose puderam se deleitar com a desenvoltura de Jabs em “Delicate Dance”, instrumental registrada pela primeira vez no álbum “MTV Unplugged – Live In Athens” (2013).
O momento estava pedindo a sessão acústica que fez muita gente cantar “Always Somewhere” do já citado “Lovedrive”, a nova balada “Eye Of The Storm” e “Send Me An Angel” de “Crazy World” (1990). Nessa parte do set até Mikkey Dee participou tocando em um cajón, aquele “banquinho” de percussão que o músico toca sentado sobre ele. Como era de se esperar, essa foi a parte do show que teve mais participação do público, mas a coisa se intensificou quando Meine anunciou “Wind Of Change” e deixou todo mundo cantar com o acompanhamento da banda. Luzes de celulares fizeram a sua parte, preservando a tradição que começou com isqueiros.
A partir daqui a sessão “paulada” teve seu segundo ato com “Rock’n’Roll Band” da versão elétrica do último álbum (a versão original é acústica, lançada em 2013), mas ela só aqueceu para “Dynamite”, de “Blackout” (1982), que embalou jovens e fãs mais antigos. Já que o momento pedia Heavy Metal, Meine aproveitou para apresentar o baterista, que era especialista no assunto, e disse que a próxima canção serviria para homenagear seu ex-companheiro de banda e grande amigo do Scorpions, Lemmy Kilmister. O público ecoou o nome do líder do Motörhead pelos quatro cantos. Se alguém tinha dúvida se a banda tocaria ou não um cover do trio inglês em Fortaleza, ela foi embora com “Overkill”, do álbum homônimo de 1979. Várias imagens de Lemmy apareceram nos telões e muitos se emocionaram.
Mikkey Dee não poderia deixar de fazer mais uma homenagem aos bons tempos de Motörhead, e isso foi sentido em seu solo característico onde surrou fortemente o seu kit de bateria. Como sempre, foi um verdadeiro show visto pela primeira vez por alguns e contemplado mais uma vez por outros. Seu solo não poderia terminar de outra maneira, senão alvejado por aplausos. Depois desse espetáculo particular, Rudolf apareceu com sua guitarra personalizada expelindo fumaça para todo lado, enquanto extraia as primeiras notas da música “Blackout” e logo após tacaram nos PAs, “No One Like You” do mesmo álbum, fechando o show com “Big City Nights”, de “Love At First Sting” (1984).
Toda banda reunida na parte central do palco, partiram para a interatividade com o público arremessando baquetas, munhequeiras e toalhas. Klaus agradeceu todo o calor e energia recebidos para em seguida a banda se retirar. Depois de alguns instantes, com a plateia ensurdecendo com o chamado de “Scorpions! – Scorpions! – Scorpions!”, o grupo volta para o bis e toca o seu principal hino considerado pelos brasileiros, “Still Loving You”, mas felizmente para tantos rockeiros e “simpatizantes”, a parte da “50th Anniversary World Tour – 2016” de Fortaleza, se encerrou com outro megaclássico, “Rock You Like A Hurricane”, ambas de 1984. Não se poderia pensar em melhor ato para finalizar esse “epílogo”.
Nos últimos seis meses, sonhos foram realizados com a presença de artistas do mundo do Rock e Metal. Que portas para uma rota fixa de grandes nomes já foram abertas, isso os moradores de Fortaleza já sabem. Agora o público tem que permanecer participativo para que essa porta nunca se feche. O cenário underground tem papel importante nessa ascensão do Rock ‘mainstream’ na cidade, pois foi dele que campanhas se ergueram e de onde partiu o “grito” que chamou a atenção de investidores. Parabéns a todo esforço, à paixão dos fãs e à organização profissional que vem acompanhando esses acontecimentos.
Setlist:
Going Out With A Bang
Make It Real
The Zoo
Coast To Coast
Top Of The Bill, Steamrock Fever, Speedy’s Coming, Catch Your Train (medley)
We Built This House
Delicate Dance
Always Somewhere, Eye Of The Storm, Send Me An Angel (medley acústico)
Wind Of Change
Rock’n’Roll Band
Dynamite
Overkill (cover do Motörhead), solo de bateria
Blackout
No One Like You
Big City Nights
Encore:
Still Loving You
Rock You Like A Hurricane