SCORPIONS e HELLOWEEN – 28 de setembro de 2019 – São José/SC
Arena Petry - São José/SC

Alessandro Bonassoli
“Essa é a primeira vez do Helloween em Florianópolis. Não deixem ser a última”, disse Andi Deris em seu contato inicial com as cerca de 10 mil pessoas que foram assistir o agora histórico show que ainda marcou a estreia do Scorpions em Santa Catarina. A resposta efusiva do público na Arena Petry – local da festa que na verdade fica em São José, município vizinho da capital catarinense – deixou nítida a carência do estado por shows de bandas de heavy metal.
Com capacidade para 17 mil pessoas, a casa inaugurada em dezembro de 2018 impressionou quem ainda não a conhecia. Com qualidade de som perfeita, a arena é o maior complexo multiuso da região Sul e um dos maiores do Brasil. Os 540 metros quadrados do palco com 24 metros de boca de cena podem ser vistos de todos os lados, pois a estrutura foi erguida em forma de semicírculo ao redor. Isso deu ainda mais qualidade ao espetáculo das duas bandas alemãs, que não enfrentaram problemas técnicos, algo comum em locais indoor no Brasil.
Quando I´m Alive abriu a noite, a maior parte da plateia parecia ainda não acreditar que a volta de Michael Kiske e Kai Hansen para o grupo era verdade. Os fãs mal começaram a aplaudir e já receberam outra carga de adrenalina com Dr. Stein e Eagle Fly Free. Os telões de altíssima resolução permitiam ver em detalhes as performances do agora septeto, incluindo a genuína alegria de Deris e Kiske, do baixista Markus Grosskopf, do baterista Dani Löebe e dos guitarristas Sascha Gernster, Hansen e Michael Weikath. Bem, dizer que o último demonstrou felicidade pode ser um pouco exagerado, levando-se em conta seu ar sempre sério demais, para não dizer mal humorado.
O fato é que a interação entre Helloween e o público foi excelente. A cada sorriso, a cada gesto de um dos artistas, a plateia delirava. Sem dúvida, mais uma prova de que os catarinenses que amam o rock pesado estão sedentos por novos shows de ídolos estrangeiros, mas são, normalmente, obrigados a viajar para outros estados dada a aparente falta de interesse de produtores locais e nacionais por um mercado que está totalmente aberto a novos espetáculos. E bastou uma ida às amplas e confortáveis áreas de estacionamento ao redor da Arena Petry para notar que vieram fãs de todo o Estado, incluindo regiões mais distantes como o Oeste do estado.
Deris deu um show próprio em Perfect Gentleman. Provou que pode até não ter a mesma potência e alcance de voz demonstradas por Kiske, mas é um excelente showman. Em seguida foi a vez dos fãs mais antigos praticamente perderem o controle. Afinal, Hansen, o criador de todo um segmento do heavy metal, anunciou a pesadíssima Ride The Sky, um dos destaques do excelente The Walls Of Jericho, gravado no distante 1985.
E com a balada A Tale That Wasn´t Right, na qual Kiske e Deris emocionaram o público, iniciou o ato final, uma verdadeira sequência de tirar o fôlego. Power, How Many Tears (cantada por Deris, Kiske e Hansen), Future World e I Want Out deixaram claro que, se depender dos catarinenses, o Helloween voltará muitas outras vezes ao Estado.
A troca de cenário para o ato principal demorou, mas não o suficiente para irritar o público, cujo comportamento foi exemplar. Até pela presença de muitas famílias. Sim, era fácil ver avós, pais e filhos esperando para ver o Scorpions. Quando as luzes se apagaram, a cortina desceu e as imagens invadiram a imensa tela ao fundo do palco, a energia fluía. Quer sejam os fãs mais fiéis, aqueles que conheceram o grupo ainda nos anos 1970; quer sejam os que testemunharam o auge da banda na década seguinte; ou os que só conhecem as músicas românticas (e, sim, muitos estavam lá só por causa delas); todos foram arrebatados pelo carisma dos veteranos Klaus Meine (voz), Rudolf Schenker e Matthias Jabs (guitarras), além de Pawel Maciwoda (baixista), que entrou na banda em 2004, e Mikkey Dee, baterista desde 2016.
Certamente, o Scorpions tem muitas canções melhores do que Going Out With a Bang, mas ela certamente serviu para abrir o show e aquecer a audiência. Make It Real, do clássico álbum Animal Magnetism (1980), puxou uma sequência para encantar os fãs mais ardorosos. Vieram em seguida a espetacular The Zoo (do mesmo disco), a instrumental Coast To Coast (do ótimo Lovedrive, de 1979) e o medley que une trechos de Top Of The Bill, Steamrock Fever, Speedy´s Coming e Catch Your Train, respectivamente registradas em In Trance (1976), Taken By Force (1977), Fly To The Rainbow (1974) e Virgin Killer (1976).
A fase mais recente foi representada com a radiofônica We Built This House, de Return To Forever (2015) e a instrumental Delicate Dance, na qual Jabbs mostra sua habilidade nas seis cordas. Lembra dos que foram ver as faixas românticas? Não perderam por esperar. Do disco Crazy World (1990) foram tocadas a monótona balada Send Me An Angel, que ganhou uma convincente versão acústica, e Wind Of Change, cantada até por quem curte apenas as mais rápidas e pesadas do Scorpions. Tease Me Please Me, da mesma fase, fechou a segunda etapa.
Aí veio um show a parte, com o impressionante solo de Mickey Dee, cuja bateria sendo suspensa do palco hipnotizou muita gente. O músico sueco demonstrou toda a sua técnica dos tempos em que integrou a banda de King Diamond junto com a experiência adquirida nos vários anos junto ao Motörhead, com quem se apresentou em Florianópolis, em 2011. Era chegada a reta final, que trouxe as ótimas Blackout, do álbum homônimo de 1982, e Big City Nights, de Love At First Sting (1984), trabalho que consolidou o Scorpions no Brasil. Tanto que mais duas faixas do disco fecharam o show. Não poderia faltar a mega balada Still Loving You e Rock You Like A Hurricane, um verdadeiro hino do hard rock oitentista.
A constatação final é que a Arena Petry tem um potencial enorme para novos espetáculos de grande porte. E, mesmo em tournês de grupos com menor apelo comercial, mas com uma divulgação bem feita no interior de Santa Catarina e nos vizinhos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, a rota das bandas estrangeiras pode ter sempre mais uma data no Brasil. E pensando na presença constante de argentinos e uruguaios durante o verão nas belas praias do estado, é possível apostar também na vinda de estrangeiros. Que o digam os integrantes de um fã clube do Scorpions que vieram do Chile para vê-los na Arena Petry.