O último show do Sepultura em terras gaúchas, realizado em dezembro passado, já trazia à Porto Alegre a turnê do aclamado Machine Messiah, lançado pela Nuclear Blast no começo de 2017 e já despertando um grande alvoroço entre os fãs. Nas duas décadas de estrada com o vocalista Derrick Green, Machine Messiah é tido como um dos melhores trabalhos do grupo desde sua entrada. E para celebrar todo este tempo com o “Predador”, coube ao Sepultura prestar uma homenagem à estreia de Derrick na banda, executando três faixas de Against, lançado em 1998. Então, a receita estava pronta: músicas novas, passando pelos clássicos da fase Derrick e um punhado de faixas antigas (e obrigatórias) garantiram ao público 1 hora e meia de um autêntico rolo compressor! Produzido novamente pela Pisca Produtora e Opinião, o evento teve uma excelente pontualidade e produção.
Para abrir a noite, às 20h, pontualmente, tivemos um dos expoentes da nova geração do Metal brasileiro em ação: Project46. Vindos de São Paulo, Caio MacBeserra (vocal), Vini Castellari e Jean Patton (guitarras), Baffo Neto (baixo) e Betto Cardoso (bateria) divulgam seu mais recente álbum, TR3S, eleito como o melhor álbum nacional de 2017 pela ROADIE CREW. A apresentação agradou até quem não conhecia a banda, mas grande parte dos presentes sabiam as letras e muitos comentaram nas redes sociais que a banda merecia um show próprio em Poero Alegre. Com uma bagagem de respeito forjada ao longo de 10 anos de estrada, em sua discografia ainda contam os discos Doa a Quem Doer, de 2011 e Que Seja a Nossa Vontade, de 2014. No set list, músicas como Terra de Ninguém, Dor, Pânico, Na Vala, Erro+55, Violência Gratuita e Tr3s entregaram ao público muita agressividade e potência. O único porém foi equalização do som nas primeiras músicas, com a bateria encobrindo os outros instrumentos, mas depois houve uma grande melhoria, destacando os riffs absurdamente pesados de Vini e Jean. No final, Caio mandou todos colocarem a raiva para fora com um sonoro “foda-se” com a música Foda-se (Se Depender de Nós) e a ovacionada Acorda pra Vida, que ganhou até um coro à la Iron Maiden devido às suas linhas melodiosas de guitarra, finalizando de forma épica mais um show vencedor em Porto Alegre.
Com o clima de esporro já instaurado pelo Project46, coube à Polícia, dos Titãs, servir como intro para o show do Sepultura, que já entrou os com dois pés no peito com a curta e grossa I Am the Enemy, um dos destaques de Machine Messiah. A pegada hardcore dá a tônica na música, empolgante do início ao fim. Com o público ainda chegando, emendaram com a trabalhada Phantom Self, recheada de passagens intrincadas e grandes arranjos. Kairos, do disco homônimo de 2011, manteve o ritmo pulsante, mas foi com as batidas tribais de Territory que o Bar Opinião veio abaixo, seguida da clássica Inner Self. Aqui cabe um parênteses para a performance cavalar do baterista Eloy Casagrande: é incrível e surreal a pegada que o outrora prodígio, agora referência, tem de seu instrumento. Se Iggor Cavalera sempre impressionou, agora cabe à Eloy manter a banda sempre em cima de sua velocidade e empolgação. Antes de seguir para o mini-especial com faixas do Against, Sworn Oath, com seu peso arrebatador e vibe progressiva, provou porque é uma das faixas mais festejadas do novo álbum, com destaque para o trabalho fantástico de Andreas Kisser.
Voltando vinte anos no tempo, em 1998 Derrick Green era “apenas” um ilustre desconhecido à frente do Sepultura, que após todo o estresse causado pela saída de Max Cavalera, teve que trabalhar duro para recuperar seu prestígio. Against marcou uma nova fase na carreira do grupo, e embora não tenha agradado uma boa parcela de seus fãs, mostrou que todas as dificuldades serviram para criarem este grande álbum, que contou com diversas participações especiais. E foi com a faixa título, seguida de Choke e Boycott que esta importante e época foi homenageada, causando, certamente, grande emoção à Derrick.
Seguindo com músicas novas, vieram Machine Messiah e a fantástica instrumental Iceberg Dances, recebidas com entusiasmo pelo público. Aliás, mesmo não lotando o Opinião, devido a diversos fatores locais e obviamente financeiros do povo, o público deu um show de empolgação, agitando em todas as faixas, abrindo rodas e cantando os clássicos à plenos pulmões. O domingo gaúcho foi marcado por um tenso Grenal e ainda havia o Acampamento Farroupilha ocorrendo na cidade, então era de se esperar um público pouco abaixo do esperado. Em meio à tudo isso, é impossível não destacar o exímio trabalho do técnico de iluminação da banda, meu conterrâneo e xará Maicon Scherer, que soube como deixar cada música com efeitos visuais matadores!
Para deleite dos fãs old school, Desperate Cry, Refuse/Resist, Arise e Dead Embryonic Cells foram tocadas com precisão e pegada absurdas, finalizando assim o set list tradicional do show, partindo para o bis com Slave New World, Resistant Parasites, Ratamahatta e Roots Bloody Roots. Como de costume, foi mais um grande show do Sepultura em Porto Alegre, tradição iniciada lá na década de 1980 na turnê do Beneath the Remains!