Em uma quente noite de quinta-feira na capital paulistana o Sepultura trouxe ao SESC Belenzinho o show de comemoração aos 20 anos de um de seus álbuns mais importantes, “Chaos A.D.” – para muitos, o mais importante. Para celebrar da melhor forma possível, o grupo decidiu tocá-lo pela primeira vez na íntegra. Isto, por si só, gerou uma grande expectativa entre os fãs. O resultado disso foi que rapidamente os ingressos para os shows dos dias 25 e 26 se esgotaram em menos de 30 minutos! Então, uma campanha para uma data extra começou e, em poucos dias, o SESC anunciou a nova data: quinta-feira (24). Novamente, em menos de 30 minutos os ingressos esgotaram.
Ao chegar ao SESC por volta das 20h45 já pudemos observar um grande número de fãs, que já formavam uma fila para entrar na área do palco, e também em volta da loja dos produtos oficiais da banda, localizada na parte externa – para essa série de shows, o Sepultura preparou algumas camisetas especiais, comercializadas apenas nas datas de comemoração. Ocorre que muitos fãs arriscaram e apareceram no local mesmo sem ingressos, só que como a “parede” que separa o palco da área externa é de vidro, alguns dos que não conseguiram entrar ficaram ali fora mesmo para apreciar o show. Algo que ficou bem claro é que o SESC disponibilizou uma quantidade limitada de ingressos para, digamos, manter o “controle”, pois claramente havia muitos espaços livres lá dentro. Daria para colocar três vezes mais pessoas para, de fato, lotar a área reservada para a apresentação.
Precisamente às 21h30 as luzes do SESC se apagaram e “Chaos B.C.” começou a soar nos PA’s, anunciando o que estava por vir. Então, Eloy Casagrande adentrou ao palco, seguido por Paulo Jr., Andreas Kisser e Derrick Green. Assim, antes do fim de “Chaos B.C.”, Andreas já começou o riff inicial de “Propaganda”, música que Kerry King (Slayer) diz ser a melhor da banda. O público cantava os versos da música enquanto Derrick agitava seu braço pedindo para que o público pulasse com ele. Neste clima, veio na sequência mais uma das várias obras-primas desse álbum, “Slave New World”. A música, que foi composta em parceria com a lenda do HC Nova Iorquino e ex-líder do Biohazard, Evan Seinfeld, automaticamente fez com que o público abrisse um “Mosh Pit” gigante, que pegava quase todas as extremidades da área da pista. A roda que se abriu era tão impressionante que Andreas subiu em cima da caixa de retorno para ver o que estava acontecendo por ali.
Na sequência veio “Amen”, faixa que há algum tempo não era executada ao vivo pela banda e foi seguida de “The Hunt”, originalmente da banda punk New Model Army, da qual Iggor Cavalera é fã. Na época, Paulo Jr. deu uma declaração dizendo que o dinheiro das vendas do álbum iriam servir para comprar uma dentadura para James Sullivan, o desdentado vocalista do New Model Army. Vale lembrar que esta música havia sido executada pela banda na sua participação no “Rock In Rio 5”, mas havia algum tempo que ela não era tocada ao vivo.
O show seguiu nessa toada com “Nomad”, “Manifest”, “We Who Are Not As Others”, três faixas que também não eram tocadas ao vivo desde os anos 90 e que fizeram com que os fã se emocionassem. Já o público mais jovem também vibrou, pois provavelmente nunca mais irão ouvi-las dessa forma novamente. Então foi a vez do maior clássico instrumental da banda, “Kaiowas”, que, segundo Andreas Kisser, é a música mais eclética da banda. “Clenched Fist” veio na sequência e agitou bastante o já inflamado público.
Chega a vez da segunda versão da banda, era a vez de “Polícia” clássico de uma das bandas nacionais de maior sucesso no país, Titãs, que fez com que especialmente o pessoal da roda desse um show a parte. “Biotech Is Godzilla”, escrita pelo ex-líder do Dead Kennedys, Jello Biafra, especialmente para esse álbum, foi anunciada por Derrick Green e depois teve seu refrão cantado pelos fãs a plenos pulmões. Em seguida tivemos mais uma versão do Sepultura, dessa vez para seus também compatriotas do Ratos De Porão, “Crucificados Pelo Sistema”. A versão, que foi executada ao vivo nos anos 90 durante a turnê do “Chaos A.D.”, voltou a ser tocada ao vivo agora com Andreas Kisser nos vocais. Ao final de sua execução, Derrick Green parabenizou o guitarrista pelos seus vocais guturais.
Para encerrar o “Chaos A.D.” na íntegra faltavam apenas duas músicas. E eram justamente “Territory” e “Refuse/Resist”, dois clássicos que elevaram o nome do Metal brasileiro mundo afora e tiveram seus clipes exibidos com frequência, algo que ajudou a firmar de vez o nome da banda no cenário norte-americano. Claro, ambas foram cantadas por todos os presentes no SESC Belenzinho. Até mesmo os que não conseguiram entrar e que assistiam o show do lado de fora através do vidro agitaram e cantaram. O Sepultura agradeceu a recepção e se retirou do palco.
Após gritos de “SEPULTURA! SEPULTURA!”, a banda retornou ao palco com a introdução de “Arise” soando nos PA’s. Resultado: os presentes voltaram a gritar, pular e banguear freneticamente. Derrick Green disse “Inner” e o público completou “Self”. Claro, era a vez de “Inner-Self”, mais um clássico da banda, que está presente na obra-prima “Beneath The Remains” (1989). Andreas então foi ao microfone e falou “agora é a hora de celebrarmos o aqui e o agora”. Assim, mandaram “Kairos”, faixa do álbum de mesmo nome lançado em 2011 e que representa a nova fase da banda.
Andreas anunciou também “Impeding Doom” do novo álbum, “The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart”, música essa que iria ser executada pela primeira vez. O que se via ali era um certo ar de curiosidade por parte dos presentes. Claro, empolgou os presentes, mas nem tanto os fãs da fase mais antiga da banda. Após a nova foi a vez de mais uma versão, agora para “Da Lama Ao Caos” de Chico Science & Nação Zumbi, que também consta no novo álbum e já havia sido executada ao vivo no “Rock In Rio”. Nela, Andreas também mostra sua versatilidade vocal.
Então Derrick vai mais uma vez a frente e diz: Sepultura Do Brasil 1, 2, 3, 4, era a vez do clássico imortal da banda, se o metal nacional pudesse ser definido em uma faixa provavelmente essa seria a escolhida “Roots Bloody Roots” , o maior hino da banda do álbum que mais vendeu e que mostrou ao mundo que o Sepultura era a maior banda do estilo naquele ano, ao final de sua execussão Andreas agradeceu muito a todos os presentes, inclusive os que ficaram do lado de fora, e após prestar reverencia ao público o Sepultura deixa o palco.
Desde o lançamento do “Chaos A.D.” a banda teve várias mudanças em sua formação mas não foi a toa que o americano Derrick Green foi escolhido para ser o vocalista e frontman. Dono de umas das maiores vozes do Metal extremo mundial, Derrick tem uma espetacular presença de palco e a todo tempo está interagindo tanto com o público como com os outros membros da banda. Muitas vezes ele agita seu braço para cima e para baixo como se regesse com um maestro os pulos do público ao ritmo das músicas.
Eloy Casagrande, outro músico que não estava presente naquela formação, já é conhecido como um dos maiores nomes da bateria no Heavy Metal do país. A quem diga que ele é inquestionavelmente o maior, dono de uma versatilidade única e de uma rapidez e energia, ele também mostra que não está na banda a toa. Andreas e Paulo continuam fazendo as mesmas coisas que os consagraram na banda, não precisando mais provar nada a ninguém. O Sepultura mais uma vez deu um grande espetáculo tanto da parte técnica como da parte de interação e presença de palco, mostrando que ainda possuem muita energia pra queimar e que sempre serão dignos de levar o nome do país mundo afora.
Set List:
Intro – Chaos A.D./B.C.
Propaganda
Slave New World
Amen
The Hunt
Nomad
Manifest
We Who Are Not As Others
Kaiowas
Clenched Fist
Polícia
Biotech Is Godzilla
Crucificados Pelo Sistema
Territory
Refuse/Resist
Arise
Inner-Self
Kairos
Impeding Doom
Da Lama Ao Caos
Roots Bloody Roots