Texto: Por Thiago Rahal Mauro
Finalmente chegou o grande momento para os fãs brasileiros da banda Shaman! Após muitos anos de espera por parte do público, o Shaman retornou aos palcos com sua formação original graças ao apelo em massa dos fãs. O line-up com Andre Matos (vocal), Luis Mariutti (baixo), Hugo Mariutti (guitarra) e Ricardo Confessori (bateria), além de Fabio Ribeiro (teclados) que também esteve nesta volta do Shaman, não se apresentava ao vivo fazia mais de 12 anos, o que deixou todo mundo com uma ansiedade fora do comum e a expectativa em alta.
Após o anúncio do primeiro show em São Paulo, os ingressos se esgotaram em poucas horas e se transformou em um show extra para o dia seguinte (um domingo) e mesmo local (na Audio). O Shaman apresentou os álbuns Ritual (2002) e Reason (2005) na íntegra e tocados na sequência, algo inédito até então, então o fã foi até ao evento esperando um show sem precedentes e que marcaria a história da banda. “Fiquei impressionado com toda a mobilização que rolou, para que, logo em seguida, tudo isso fosse comprovado na prática quando esgotaram os ingressos para o show. É motivo de orgulho e responsabilidade; dar o melhor de mim é o mínimo que se pode fazer para retribuir a esses fãs. Preparamos uma produção de classe para todos”, disse o vocalista Andre Matos em entrevista à ROADIE CREW na edição #235.
O show… e que show!
A primeiro apresentação, no dia 22 de setembro, estava marcada para começar às 21h. Com pontualidade britânica, às 20h59 para ser mais exato, as luzes se apagam e um vídeo é apresentado com cenas de making of da época das turnês de Ritual e Reason, além de uma entrevista com Andre Matos na Chapada Diamantina, que, dentre outras curiosidades da época, profetizava o futuro da banda e essa volta mágica que está acontecendo neste momento. A ansiedade entre os fãs era impressionante e aumentou ainda mais quando após o vídeo, uma introdução com trechos de músicas da banda foi iniciada para então um a um dos músicos entrarem no palco para começar o show com Turn Away, faixa do álbum Reason. Para minha surpresa, eles começaram com o segundo álbum da banda e não com o Ritual, que seria a lógica inicial, mas acredito que a ideia da banda se tornou mais eficaz, deixando os clássicos para o final.
De todo modo, a energia foi muito forte e o público pulava e cantava como se estivessem no começo dos anos 2000, com poucos celulares levantados, se comparado aos shows atuais ocorridos em São Paulo. A faixa-título Reason mostrou toda uma musicalidade única que o Shaman criou na época. Esse disco foi muito injustiçado e os climas criados na guitarra por Hugo Mariutti e os teclados de Andre Matos e no show por Fabio Ribeiro foram um dos grandes destaques. Na sequência, More, cover de Sisters of Mercy lembrou o videoclipe que na época era transmitido direto na MTV Brasil e se tornou um dos grandes sucessos daquele trabalho.
Um dos ápices do show certamente foi em Innocence. A balada se tornou um dos hinos do Shaman e foi cantada em uníssono por todos (apesar de clichê, este termo merece ser usado para esta faixa em especial). Os fãs da banda são muito emocionais com esta composição, que tem um apelo melódico muito grande. Quem um dia imaginou ver essa composição sendo executada igual ao CD? Eu nunca imaginei.
Enquanto isso, no show extra…
Dando sequência ao disco, as faixas Scarred Forever e In The Night mostraram ao vivo que Reason é um álbum muito complexo, mas não de uma maneira técnica. Ele carrega uma simbiose entre música e letra espetaculares, além, é claro, de timbres muito peculiares no heavy metal melódico. Não é qualquer um que consegue criar climas tão diretos, mas que seguram a atenção do ouvinte.
Em Rough Stone, Andre Matos deu seu show particular com uma interpretação esplêndida, digna de sua história. Foi interessante notar o baixo de Luis Mariutti segurando as pontas enquanto Hugo Mariutti fazia seus climas na guitarra. Já em Iron Soul e Trail Of Tears, o destaque vai para Ricardo Confessori que fazia tempo que não assistia um show tão consistente como este.
Para finalizar a primeira parte do show, Andre Matos segue para o piano de cauda instalado estrategicamente do lado esquerdo do palco para iniciar Born to Be. Essa faixa em especial é um épico daqueles bem característicos da carreira de Andre Matos. Seu início e os climas que permeiam o meio da composição praticamente hipnotizam os fãs. E o final com cada músico saindo do palco, até sobrar apenas o vocalista em seu piano e o público cantando junto. É um momento especial, realmente.
Enfim, chegou o momento para Ritual xamânico do Shaman
Assim como no show de domingo, no sábado, um vídeo foi exibido mostrando os bastidores da gravação de Reason, algo inédito para os fãs. Porém, todos já sabiam o que estava por vir, até que Ancient Winds se iniciou nos PAs, clássica introdução de Ritual. Essa faixa, em especial, me fez voltar no tempo da gravação do DVD Ritualive até que os músicos entram no palco um a um para iniciar o show com Here I Am. A explosão de energia entre banda e público foi imensa. Algo realmente especial. O som estava ótimo, a banda entrosada e Andre Matos cantando igual naquela época.
O riff e o groove de Distant Thunder fez a Audio pular inteira. É uma daquelas músicas que é praticamente impossível você ficar parado, ela te pede para pular. A mágica entre os quatro integrantes estava intacta pela imagem nostálgica daqueles tempos áureos. Nem parecia que fazia 12 anos sem se apresentar juntos ao vivo. Andre Matos vai até o centro do palco e pela primeira vez conversa com o público, agradecendo pelo apoio em massa dos fãs e que nunca imaginaria que um dia isso pudesse realmente acontecer como estava acontecendo naquela noite.
Eis que Andre Matos volta para o palco com sua flauta guardada da época do Ritual para iniciar o já hino do Shaman e também do metal nacional For Tomorrow. Os fãs cantaram o trecho inicial com o famoso “ôôôôôôôô”, que naturalmente novamente me fez voltar ao show do Credicard Hall onde foi gravado o Ritualive. André então volta para o piano para iniciar Time Will Come, uma das músicas que definem a sonoridade do Shaman e que é um híbrido com o que eles faziam na época do Angra.
A beleza está onde se menos espera
No show extra, em especial, na faixa Over Your Head, o baterista Ricardo Confessori iniciou a música com uma precisão absurda. Ela tem uma energia muito forte, diga-se de passagem. Outro destaque é para o solo de teclado executado por Fabio Ribeiro. A sensação de beleza sonora e perfeição me fez perceber por um breve momento que parecia que eu estava escutando o disco no fone de ouvido.
O momento mais esperado para a grande maioria dos fãs do Shaman finalmente tinha chegado. André se dirige até o piano para iniciar Fairy Tale, faixa que se transformou num hino meteórico e que até hoje é lembrada por todos os fãs de metal. André cantou as partes altas dessa música com uma perfeição absurda, ele estava realmente com vontade de mostrar todo seu potencial e isso quase 1 hora e meia depois de show.
Na sequência, Blind Spell trouxe o lado mais metal tradicional do Shaman, com um groove bem característico de Ricardo Confessori e as cavalgadas no baixo de Luis Mariutti. Na faixa título, Ritual, o riff inicial de teclado iniciou uma cantoria absurda dos fãs que cantaram “ôôôôôô…..ôôôôôô”. Foi legal demais lembrar aquela época de ouro. Bastante nostálgico ter flashbacks daquela era do metal nacional, diga-se.
Antes de finalizar o show, cumprindo o prometido de apresentar os dois álbuns na íntegra, Andre Matos apresenta cada um dos músicos, saudando a importância de cada um para o Shaman e sendo ovacionado pelos fãs no final de tudo. Com o jogo ganho, o vocalista lembra que originalmente a música seguinte foi cantada por Tobias Sammet (Edguy, Avantasia), mas que infelizmente ele não pode estar presente. Sem muitas delongas o músico explica, “mas temos alguém a altura”: com vocês, Bruno Sutter! Para delírio do público, que cantou a faixa Pride a todos os pulmões. Bruno cantou as partes de Tobias Sammet muito bem e não deixou dúvidas nenhuma de que é um dos grandes vocalistas de heavy metal do Brasil. Dividir o palco com Andre Matos pode ser intimidador, ainda mais se você é fã, como é o caso de Bruno Sutter.
Com papéis picados celebrando a apresentação e fotos finais com o público, o Shaman se despediu de São Paulo em um final de semana que ficará para a história. O retorno triunfal de uma banda e de uma formação que fez parte de um grande momento do heavy metal nacional e mundial. Grandes músicas, composições com requinte e musicalidade, hinos cantados por fãs. A história nunca se apagará e sempre será lembrada eternamente. Será que após essa turnê, um DVD será gravado para registrar o momento? E um novo álbum de estúdio? Só o tempo explicará o que acontecerá no futuro, mas a certeza de que presenciamos dois shows mágicos, isso nunca sairá de nossos corações. Vida longa ao Shaman!
Setlist
Introdução (vídeo de bastidores)
Reason (2005)
- Turn Away
- Reason
- More
- Innocence
- Scarred Forever
- In The Night
- Rough Stone
- Iron Soul
- Trail Of Tears
- Born To Be
Intervalo (vídeo making of Reason)
Ritual (2002)
- Ancient Winds
- Here I Am
- Distant Thunder
- For Tomorrow
- Time Will Come
- Over Your Head
- Fairy Tale
- Blind Spell
- Ritual
- Pride (com Bruno Sutter)