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SODOM publica comunicados sobre polêmico festival finlandês “Steelfest Open Air”

A lenda do thrash metal alemão Sodom recebeu uma tempestade de ofensas nas redes sociais nos últimos dias depois de anunciar a sua participação no festival finlandês “Steelfest”. A razão para a polêmica foi que o line up do festival contém um número considerável de bandas rotuladas, direta ou indiretamente, como Black Metal Nacional-Socialista (NSBM). Devido a isso, o grupo formado atualmente por Tom Angelripper (vocal e baixo), Frank “Blackfire” Godszik (guitarra), Yorck Segatz (guitarra) e Toni Merkel (bateria), publicou um comunicado em seu Facebook na última quarta-feira (01), em que diz:

“Olá amigos! Para ir direto ao ponto. Mais uma vez: nos distanciamos de bandas que abusam de sua plataforma musical para transmitir suas visões políticas, sejam de direita ou de esquerda, para o mundo exterior. Porém, defendemos a liberdade de expressão para todos e não vamos deixar que isso nos leve à morte. Quando o organizador do “Steelfest” agendou o show conosco no final de 2019, essas bandas de abertura e o line up nem estavam em discussão. Portanto, temos um contrato válido de performance. Estamos atualmente em processo de esclarecimento da situação jurídica. Basicamente, tocamos para nós mesmos e para nossos fãs e não para as outras bandas.

As bandas politicamente corretas – o que quer que isso signifique –, superam em número o “Steelfest”. Todas elas cancelarão seus shows? Com certeza, falaremos novamente com o organizador sobre esta situação e formaremos nosso próprio julgamento.

Nem sempre podemos agradar a todos e não queremos isso, mas se tivermos que nos curvar a algum tipo de pressão política todas às vezes, então nós, artistas/músicos, poderemos em breve pedir demissão. E depois de 40 anos neste negócio empolgante, não precisamos de nenhuma instrução sobre o que fazer ou não fazer.

Temos muitos seguidores na Finlândia e muitos estão ansiosos para ver o Sodom novamente e obter um setlist especial exclusivo. Depois desse longo período de seca (N.R.: devido a pandemia), é claro que estamos felizes por podermos tocar na Finlândia novamente. Este é o nosso trabalho, nossa paixão. É para isso que vivemos. Não vamos deixar de falarmos até a morte e decidirmos por nós mesmos. Claro, vamos mantê-los atualizados sobre a situação atual.

Mas, não se esqueçam… Sodom significa liberdade, paz, justiça e democracia. E isso é tudo o que importa. Cheers!”.

Nesta quinta-feira (02), o Sodom compartilhou um novo e longo pronunciamento, desta vez feito pela própria organização do “Steelfest Open Air”. Leia-o na íntegra:

“Olá à todos!

Fomos contatados por algumas (não todas) agências/empresariamentos de artistas, e essas agências representam algumas das bandas que devem se apresentar no “Steelfest” de 2022.

OBSERVAÇÃO! Não conversamos diretamente com as BANDAS sobre o assunto abaixo. Não sabemos o que todas as bandas ou seus integrantes (relacionados a essas agências) pensam sobre essa situação.

Estas duas, três agências, tinham especificamente uma mensagem. O “Steelfest” deve reconsiderar sua programação “ou”…

Como perguntamos a essas duas, três agências, “Entendemos completamente seu ponto de vista e gostaríamos de ouvir sua opinião sobre quais bandas em particular vocês acham que são problemáticas”, temos duas listas de bandas, algumas das agências não nos responderam.

Então, temos listas diferentes que incluem no total doze bandas diferentes que o “Steelfest” deveria “reconsiderar”. Doze bandas que deveríamos “reconsiderar/cancelar” e então, talvez, mais listas nos chegarão.

O “Steelfest” não pode negociar ou permitir que “terceiros” efetuem/decidam qual banda pode ou não tocar no festival ou em qualquer um de nossos eventos. Além disso, percebemos que somos culpados por criarmos uma mistura polêmica demais para lidar com essas agências. Esse gênero é apenas dinheiro para elas.

Então, temos que parar com isso. Não podemos ficar presos a este tipo de conversa e controlados por qualquer “terceiro”, e não podemos sempre checar os profissionais de agências e etc., ou medir qualquer tipo de pressão social que algum artista possa receber, nem qual banda está apta ou não a tocar no “Steelfest”.

À medida que “cortamos” essa conversa, isso significa que teremos cancelamentos para o “Steelfest” de 2022.

A pressão da mídia social, especialmente em partes do mundo, é forte, e como um sábio nos disse, “tudo se torna nuclear, ninguém vai querer estar na zona de explosão com vocês”. Continuaremos e sabemos que muitos de vocês estão conosco. Apoio sem fim do público do “Steelfest”, voluntários, artistas, funcionários e da comunidade local, etc., etc.

Novamente, não temos acusações contra as bandas, para algumas esse é o trabalho delas, as agências decidem grande parte disso e no final é tudo sobre dinheiro e pressão social. Sabemos que muitas não querem cancelar, mas sofrem muita pressão de muitos lados.

O “Steelfest” deixou extremamente claro no passado que rejeitamos quaisquer movimentos políticos ou ideologias racistas dos quais as pessoas queiram retratar nossas criações artísticas como parte disso.

Somos e seremos visados, pois não escolhemos um lado, já que todos os lados são igualmente repulsivos, nem jamais pediremos desculpas por nossas escolhas artísticas passadas, presentes e futuras”.

A organização do evento continuou seu pronunciamento (em primeira pessoa), dizendo:

“Os artistas em um festival de música típica são escolhidos principalmente com base em sua popularidade. Um artista popular atrai mais público, aumentando assim a margem de lucro da organização do festival. Isso geralmente leva a uma situação em que um festival de música típica escolhe apenas artistas típicos e sem riscos, anos após ano, fazendo com que todos percam a longo prazo.

O “Steelfest”, no entanto, não é um festival de música típica.

Quando comecei o “Steelfest” em 2012, queria trazer mais opções e diversidade ao público de festival de metal, como um fã e amante de música. Trazer e apoiar bandas das quais pessoalmente gostei ou que me chamaram a atenção e, ao mesmo tempo, oferecer algo significativo entre o então estagnado campo dos festivais de metal finlandês. Como o “Steelfest” tem crescido continuamente nos últimos nove anos, acredito que essa foi uma boa e bem-vinda decisão.

Considero-me uma pessoa criativa e acho que o “Steelfest” é uma das fontes para a qual canalizo minha criatividade. Como um pintor vê a tela vazia diante de si, sempre penso que novos pensamentos, sentimentos e possíveis discussões, a lista de artistas de cada ano de festival também poderia trazer (algo) além de sua música.

Sempre que escolho os artistas, quero mergulhar fundo, abaixo da superfície, e, às vezes, os resultados não são bonitos ou facilmente digeridos. O conteúdo pode parecer controverso, dilacerante ou mesmo irritante para alguns, especialmente para aqueles que não estão dispostos a compreender quaisquer significados mais profundos por trás ou compartilhar as mesmas interpretações possíveis. No entanto, pessoalmente é impossível me imaginar compartilhando a mesma visão ou mesmo compreendendo-a com cada uma das dezenas e centenas de artistas com quem trabalhei nos últimos nove anos. Os artistas, que sempre foram selecionados apenas por sua arte – apesar de minhas visões pessoais de mundo.

Como o “Steelfest” é puramente um festival de música, às vezes é confuso ver quanta discussão e debate isso causou em um discurso não musical. Não é de se surpreender que ao longo dos anos tenhamos recebido nossa própria parcela de feedback controverso de ambos os lados extremos no campo político. As críticas e questões como lista e vida pessoal de artistas às vezes chegam até nós, mas também não evitamos receber ameaças de pessoas que pensam que artistas de certas nacionalidades ou com uma determinada cor de pele não deveriam ter permissão para tocar. O mais recente exemplo pode parecer desconcertante para alguns, mas entre tudo isso é um bom lembrete de que o “Steelfest” nunca foi sobre atender a certos grupos extremistas, mas sempre sobre estética musical.

Alguns desses grupos extremistas, no entanto, parecem sugerir que, ao pressionar, acusar e até mesmo sabotar o festival, finalmente chegará a um consenso sobre quem pode se apresentar no palco. Quando uma banda divide o mesmo palco com um “artista não benvindo”, ela é condenada por “aceitar os pontos de vista do artista” por alguma lógica distorcida, e carrega esse eterno estigma a partir de então. No final, estamos diante de uma situação em que os únicos artistas aceitáveis são aqueles que são aprovados por esses grupos extremistas – até que os critérios mudem e a corda fique um pouco mais apertada, é claro.

Seria intelectualmente preguiçoso apenas afirmar que “ao não contratar artistas controversos, você evita todas as críticas e ameaças”. Entendo perfeitamente que alguns dos artistas no “Steelfest” podem ter causado irritação, raiva e até mesmo ódio absoluto com base em como expressaram seus pensamentos pessoais. Ainda assim, não acredito que apenas contratar bandas com base na aprovação de certos grupos nos traga um festival sustentável ou diversidade musical.

Uma política finlandesa uma vez trouxe o conceito de “arte baseada no bem-estar” em oposição ao mal-estar, e expressou sua preocupação sobre esse seu absurdo como uma possível demanda social. Gostaria de pedir aos opositores do “Steelfest” que pensassem por um segundo o que isso significaria em uma sociedade democrática e como viveríamos em uma distopia onde o propósito da arte é ser exclusivamente inodoro, sem sabor e perfeitamente seguro”.

Confira o cartaz do “Steelfest Open Air” de 2022:

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