Por Luiz Cesar Pimentel
O final de dois grupos em 2013 foi a combinação que deu origem ao Statues on Fire. Além da mescla de sonoridade dos finados Nitrominds, no hardcore, e do Musica Diablo, no thrash metal, a banda que surgiu trazia em comum o guitarrista e vocalista André Alves. Ele igualmente cantava e tocava no Nitrominds, mas no Musica Diablo o microfone era do Sepultura Derrick Green. Da banda de hardcore veio para o posto de baixista Lalo Tonus. Do Musica Diablo, o guitarrista André Curci (ex-Threat, que há dois anos foi substituído por Regis Ferri). Completa o time Alex Silva na bateria. A ideia inicial era não seguir nem a trilha de uma nem de outra, mas formar um combo mais melódico com duas guitarras. Missão cumprida, só que o peso do Musica Diablo e a velocidade do Nitrominds não abandonaram (felizmente) o Statues on Fire.
Como vem sendo a evolução desde o começo da banda?
André Alves: A banda vem crescendo disco após disco desde o começo, em 2013. No ano seguinte, lançamos o disco Phoenix e já fomos para a primeira tour na Europa. Todos os discos são lançados na Alemanha pela Rookie Records, gravadora referência em punk que fica em Hamburgo. Fizemos também parceria nos Estados Unidos com a Snubbed Records, para lançar os trabalhos por lá. A banda ainda lançou No Tomorrow em 2016 e Living in Darkness em maio de 2019, contabilizando cinco turnês europeias.
A expectativa no Brasil sempre foi de que seria uma continuação do Nitrominds, porém foi para algo mais melódico, que conquistou um novo público. Quais são as referências que cada integrante traz para o som? Já que todos são experientes.
André: As influências são muitas, vão do punk ao metal e até de bandas de outros estilos como The Police e Rush. Não somos bitolados em um estilo apenas. Dá para dizer que os integrantes escutam de tudo, de Elton John a Slayer.
Tendo tocado tantas vezes na Europa, entendo que a recepção por lá foi crescente nesses anos.
André: Sim, cresce bastante a cada vez que viajamos para lá. Tanto que nesta quinta turnê nós documentamos tudo em vídeo para fazer um documentário. E enquanto nós falamos, deveríamos estar lá novamente, participando dos festivais de verão europeus, só que graças à covid tudo passou para 2021.
Conte sobre a música e clipe Marielle, baseada em Marielle Franco, a vereadora e socióloga carioca assassinada em 2018.
André: Eu escrevi a letra logo quando ela foi assassinada (em março de 2018). Só que até a colocarmos em disco, lançarmos, levou um ano. Então a música saiu quando a morte dela fez o primeiro aniversário. Fizemos um lyric vídeo, porque muitas pessoas ouvem as músicas em inglês e acabam não sabendo realmente sobre o que estamos falando. Teve uma chuva de comentários de haters, como: “comunistas”, “Marielle morta-viva”, “essa aí foi tarde”, bem como outros comentários mais civilizados como: “isso foi um tapa na cara dos fascistas” ou “parabéns por dizerem o que eu penso”.
Do que você mais se orgulha nesse período de sete anos da banda?
André: Acredito que essa recepção sem fronteiras que alcançamos é um ponto que mostra que estamos no caminho certo. Também o fato de ter lançado todos os discos em edições digitais, mas também em vinil. Fora que somos os únicos artistas brasileiros patrocinados pela Gibson.
Como foi e é gravar com o Marcello Pompeu e Heros Trench (do Korzus)?
André: Eu conheço essa dupla há muitos anos. No primeiro disco, quando liguei pro Pompeu para cotar, ele já mandou: “É um (som) melodiquinho?”. Aí quando o Alex fez a primeira música, ele falou: “Esperava mais de você” (risos). Mas quando as músicas foram tomando forma, ele virou fã da banda. Com o Heros na mixagem foi a mesma coisa. As músicas na mão dele vão tomando outra forma, ele não sai da cadeira até que a música fique do caralho, por isso gravamos os três discos lá – o clima é ótimo, é só piada o dia todo e eles sabem o que fazem. Recebemos várias propostas para gravar em vários outros estúdios, que eu sei que o resultado ficaria muito bom e talvez mais barato, mas quando quebra o seu carro aonde você leva?
Turnê no exterior é mais festa ou perrengue para uma banda como a de vocês?
André: As pessoas pensam que é só glamour ir para a Europa, mas não é bem assim. Você tem que alugar van, alugar o equipamento, pois as casas de show têm apenas os microfones e o PA, dorme tarde, acorda cedo e tocar todo dia. Você fica mais tempo esperando para passar o som do que de fato tocando. Alguns dias os shows estão super lotados e a venda do merchandising é muito boa, mas tem dias que além de a comida ser uma merda, não tem muita gente pra te ver.
Que dica você dá para quem vai ou quer enfrentar experiência dessa, já que além do Statues você rodou uma dúzia de vezes a Europa com o Nitrominds?
André: A primeira semana é a pior. Voa catorze horas ou mais, com conexão geralmente. Por isso criamos um certo roteiro, que é viajar direto para Amsterdã (Holanda), passamos na Gibson, pegamos as guitarras e depois viajamos 350km até Colônia, na Alemanha. Dia seguinte acordamos cedo, vamos para Dortmund para pegar o backline e seguimos para o primeiro show, sabe-se lá onde for. O que conta é você ter um bom time, que tem em mente o que realmente foi fazer lá. E saber que um show merda não pode ser motivo para desmoralizar a tropa.
Quais países são mais receptivos à música pesada, principalmente de bandas de médio porte?
André: A Alemanha é o país certo para se fazer uma tour. É totalmente profissional, pagam bem as bandas ou o acordo de percentual é super justo. Eles te acolhem da maneira correta, bom equipamento, comida, cerva até morrer e lugar para dormir e tomar banho. O alemão já sai do trabalho e vai pro boteco para ver uma banda tocar. Autoral, é claro.
Qual acha que é o futuro da música com a pandemia?
André: Vi um post no Facebook que dizia o seguinte: “O cara da casa de shows que nunca te deu uma água sequer e te faz vender ingressos pra tocar está pedindo ajuda na campanha para não fechar”. Isso diz tudo. Depois da pandemia, será que a realidade da maioria das bandas irá mudar? Será que os músicos serão mais conscientes e os donos dos bares também? Eu sou dono de estúdio, vejo a luta de todas as bandas, ensaios, cordas, baquetas, muito tempo destinado a isso. Acho às vezes que quando não existia a internet era melhor. Você procurava mais pelas coisas que queria ouvir, ia atrás das bandas que queria ver ao vivo, copiava fitas ou CDs, comprava revistas, lia zines, escrevia cartas… Hoje tem muito oferta, está tudo na sua cara e as pessoas não se interessam por porra nenhuma!
Sites relacionados:
https://www.youtube.com/statuesonfire
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