Por Leandro Nogueira Coppi
Fotos: Roberto Sant’Anna
Apesar de os músicos do Steel Panther serem realmente fãs de hard rock, convenhamos que dificilmente o grupo teria tantos holofotes se fosse só mais uma mera banda representante do gênero. Quando foi formado no ano de 2000 como Metal Shop e pouco tempo depois passou a ser chamado de Metal Skool, o auge do hard já havia passado há muito tempo. Sabedores disso, eles tiveram uma boa sacada de marketing e se tornaram bem sucedidos ao fazerem do Steel Panther (nome adotado em 2008) uma banda que brinca com estereótipos do gênero e os elevam ao máximo do exagero visual, da fanfarronice e dos apelos sexistas – ‘swallow this’! Pena que eles ‘exageraram no exagero’ no show de São Paulo na última quinta-feira (19)…
Longe do público brasileiro desde sua estreia no país no ano de 2015, quando na ocasião passou, respectivamente, por Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) e São Paulo (SP – como uma das atrações do festival Monsters of Rock), dessa vez o Steel Panther tinha apenas a capital paulista no itinerário de sua turnê sul-americana, que antes de alcançar o Brasil passou por Chile e Argentina. A Áudio, local escolhido para o show, não lotou, porém recebeu um bom público – inclusive de fora do estado. Na plateia, foi legal observar pessoas caracterizadas com visual baseado no hard rock dos anos 80, trajadas à rigor: botas, acessórios, calças spandex, roupas de vinil, estampas de “oncinha”, “zebrinha” e afins. Isso sem contar os cabelos repicados e com laquê e a variedade de camisetas de grandes bandas do gênero, tais como Poison, W.A.S.P., Mötley Crüe, Guns N’ Roses, Bon Jovi e, claro, do próprio Steel Panther, entre outras. Agora, vamos falar do show…
O enorme ‘backdrop’ em alusão à capa do novo álbum do Steel Panther, On the Prowl, dava um ótimo visual cenográfico. Quando a introdução mecânica começou a rolar, a histeria tomou conta do recinto e aumentou ainda mais quando Michael Starr (vocal), Satchel (guitarra), Stix Zadinia (bateria) e o novo baixista Spyder surgiram no palco. O quarteto inflamou ainda mais os fãs quando deram início com Eyes of A Panther, música de seu primeiro álbum, o aclamado Feel the Steel, lançado em 2009. Mas apesar da animação da banda e do público, a qualidade de som começou capenga, abafada e magra. E infelizmente continuou assim na música seguinte, Let Me Cum in, do álbum seguinte, Balls Out (2011). Apesar disso, essa música fez o público pular e agitar. Ao final dela, todos entraram no groove com o Steel Panther e repetiram exaustivamente os pedidos da banda para gritarem palavras como “fuck”, “hell yeah” e “motherfucker”.
Exceto pela qualidade de som que até aquele momento estava aquém do esperado, tudo ia bem e refletia em empolgação dos fãs, porém Satchel, que apesar das galhofas de sua banda para com o hard rock é admirado por outros músicos do gênero, como Kip Winger (Winger), por exemplo, que é fã de Steel Panther e admirador declarado do guitarrista, começou a tagarelar e isso durou intermináveis 10 minutos. Empolgado com a recepção, Satchel declarou que São Paulo é a sua cidade favorita no mundo e gritou, “Nós amamos São Paulo!” Ainda usufruindo das expressões aprendidas em português, distribuiu frases como “Nós amamos peitos grandes”, “amamos cocaína” e “pau pequeno”. Falou ainda do novo álbum, do mencionado backdrop, perguntou quantos ali amavam heavy metal, e arrancou gargalhadas do público quando começou a apresentar a banda, começando pelo vocalista: “Quero apresentar a vocês uma lenda do heavy metal; um dos melhores vocalistas do heavy metal; o cara que influenciou milhares de crianças a caírem fora da escola e transarem com stripers todos os dias… Mas infelizmente Vince Neil (Mötley Crüe) não está aqui esta noite“. Michael Starr ficou sem graça, mas logo caiu na risada. Ao apresentar Spyder, oficializado para o lugar que um dia foi do baixista original Lexxi Foxxxi, que deixou o grupo em 2021, Satchel disse que o conheceu à um quarteirão do estúdio da banda em Los Angeles, trabalhando em um Starbucks. Quando da apresentação de Zadinia, a banda tocou trecho de Photograph, do Def Leppard. Em suma, o grande problema nisso tudo foi que, como de costume nos shows do Steel Panther, houve muita enrolação e isso foi se repetindo ao longo do show.
Depois desse mini stand up comedy, o Steel Panther chamou uma fã de ascendência oriental ao palco e retomou o show justamente com Asian Hooker (se você achou que isso pegou um pouco mal, concordo contigo, porém a jovem, que acredito não ser menor de idade, parecia feliz no palco, e se realmente estava, em minha opinião é isso o que importa). Depois dessa, Satchel novamente disparou a falar pelos cotovelos e quando parou a banda executou – agora com uma bandeira do Brasil ornamentando o praticável da bateria – a bela The Burden of Being Wonderful, que soa como um encontro entre Def Leppard e Danger Danger (fase Ted Poley no vocal). Nessa, foi engraçado quando Satchel passou por trás de Starr segurando uma calcinha de “oncinha” e, sem o menor sentido, os dois começaram a esticá-la. Ainda sobre The Burden…, o destaque foi a performance vocal de Starr. Como canta esse cara! Em todo show ele ostenta no pedestal de seu microfone um monte de lenços, assim como fazem também Steven Tyler (Aerosmith) e Bret Michaels (Poison). A propósito, vale dizer que antes de Starr ficar mundialmente famoso como vocalista do Steel Panther, os fãs mais veteranos (inclusive esse que vos escreve) já o conheciam por sua breve passagem pelo L.A. Guns, onde gravou o EP Wasted (1998), quando artisticamente ainda usava o seu verdadeiro nome, Ralph Saenz – ele também tocou no 7% Solution e teve um Van Halen cover chamado Atomic Punks, que abordava somente o período da banda com David Lee Roth no vocal.
A primeira música a ser tocada do novo álbum, On the Prowl, foi a divertida e liricamente pornográfica Friends With Benefits. Em seguida, novamente Satchel teve seu momento particular, dessa vez não “papagaiando”, mas executando um solo convincente com sua guitarra zebrada em preto e “verde Poison/Overkill”, uma Charvel modelo Signature Pro-Mod DK.
Caso você leitor não saiba, Satchel ficou conhecido no início dos anos 1990, ainda como Russ Parrish, sendo um dos membros do Fight, banda criada por Rob Halford após sua saída do Judas Priest, com quem o guitarrista gravou em 1993 a obra-prima War of Words, um dos melhores álbuns de heavy metal daquela década.
Já com o som da casa melhor regulado, o quarteto tocou Death to All But Metal. Clássico do mencionado debut do Steel Panther, ela foi cantada em uníssono. Em seguida, Starr, Satchel, Zadinia e Spyder mandaram outra nova, a ótima 1987, uma ode à muitas bandas e discos lançados naquele mágico ano do hard rock, na qual o Steel Panther diz na letra, “1987, you’re always gonna be the best”, e ainda, “the music scene will never be the same”. Aliás, essa letra é um tapa na caretice dos canceladores: “Back then the friends we had were real / and we saw ‘em every day / and no one once got canceled for the things that they say”. Receba! Ao final de 1987, foi emocionante quando Starr lamentou a falta do Van Halen no cenário. Em homenagem Eddie Van Halen, o vocalista puxou o coro para “Eddie, Eddie…”.
A próxima parte do show foi reservada para uma sessão acústica composta por Ain’t Dead Yet, Improptu Song For A Girl e Girl From Oklahoma. E tome mais minutos de enrolação com falatórios, tiradas e zoeira! Nisso uma fã foi estimulada a subir ao palco. Em certo momento, a garota foi alvo dos integrantes que tentaram convencê-la a mostrar os seios ao som de música improvisada e supostamente romântica, mas com letra que, na verdade, era recheada de impropérios. Nesse ‘unplugged’, em que Zadinia se mandou da batera, foi para frente do palco e em determinado momento comandou o teclado deixado ali pelo roadie, foi bacana quando a mencionada jovem, de nome Kimberly, foi incentivada a cantar com a banda – e por sinal ela se saiu bem na missão.
A balada seguinte, a também sacana Community Property, proporcionou um momento ímpar ao show, com todos cantando-a em alto e bom som e com o palco repleto de garotas dançando junto com os fanfarrões californianos. E se o clima estava bom assim, assim continuou na música seguinte, a ‘bonjoviana’ Party All Day (Fuck All Night). Ao final dessa, as moças foram conduzidas para fora do palco e a banda também se retirou.
Para o bis, o Steel Panther retornou com outro ‘hardão’, Glory Hole (título esse que dispensa explicações – mas caso você tenha dúvida, pesquise-o em algum site de entretenimento adulto para entendê-lo). Antes da última, Michael Starr disse que daria cerveja grátis para todos ali presentes. Satchel se empolgou, disse que essa era uma ideia louca e estendeu a oferta para Jack Daniel’s e também cocaína (em português) de graça. Arrependido, Starr corrigiu o parceiro dizendo que não haveria cocaína de graça (ele quis dizer à vontade), apenas a primeira amostra (veja no vídeo abaixo). É claro que isso tudo não passava de encenação e do humor sarcástico do Steel Panther, que se despediu do Brasil tocando uma de suas músicas mais legais: Party Like Tomorrow is the End of the World – também do primeiro álbum do Steel Panther, em estúdio essa música teve a participação do divertido Justin Hawkins, vocalista e guitarrista do The Darkness.
Quem compareceu à Audio presenciou um show super alto astral e divertido, no entanto os membros do Steel Panther perderam muito tempo com galhofas e “piadas repetidas”. Foram, precisamente somados, 37 minutos em que não tivemos música rolando. Não estou querendo dar uma de “tio da Sukita” – até porque notei outras pessoas reclamando pelos mesmos motivos -, mas, pensa comigo, para uma banda de músicas de curta e média duração, pelos menos mais umas quatro poderiam ter sido tocadas se metade desses minutos tivesse sido dedicada à elas.
Moral da história: o show do Steel Panther foi legal para quem curte hard rock, mas poderia ter sido ainda melhor.
Steel Panther – set list:
- Eyes of A Panther
- Let Me Cum in
- Asian Hooker
- The Burden of Being Wonderful
- Friends with Benefits
- Guitar Solo
- Death to All But Metal
- 1987
- Ain’t Dead Yet
- Improptu Song For A Girl
- Girl From Oklahoma
- Community Property
- Party All Day (Fuck All Night)
Bis
14. Glory Hole 15. Party Like Tomorrow is the End of the World