Uma típica tarde outonal cinzenta e fria trazia as cores perfeitas para uma apresentação memorável que estava prestes a acontecer. Mesmo com os desastres que marcaram o festival no Nordeste do país, São Paulo felizmente teve um final de semana com ótimos shows organizados por empresas competentes. O Via Marquês, uma excelente casa na Barra Funda, foi palco de uma das atuais lendas do rock progressivo: Steven Wilson, o gênio! Além de músico com trabalhos em diferentes grupos, como Porcupine Tree, Blackfield, Bass Communion e No-Man, ele também está por trás de grandes produções como Opeth, Orphaned Land, King Crimson e Marillion. A lista de “recomendações” é gigante!
Infelizmente, a casa não estava muito cheia e até o próprio músico comentou que estava chateado por isso. Mas não foi motivo para desanimá-lo: o show foi memorável para todos ali, que pareceram estar enfeitiçados durante as quase duas horas de apresentação.
Pontualmente às 18h, os músicos entraram no palco, que tinha uma espécie de tela à frente, no qual eram exibidas algumas projeções. No Twilight Within The Courts Of The Sun e Index foram suficientes para deixar o público anestesiado. Na final da terceira música, Deform To Form A Star, a tela foi retirada e as projeções continuaram atrás da banda.
Absolutamente tudo no show foi cuidado nos mínimos detalhes: as pausas, o cenário, a iluminação, as projeções. Tudo digno de um grande espetáculo. O público foi transportado para o mundo da magia onde o senhor Steven Wilson manteve tudo minuciosamente sob controle.
O espetáculo prosseguia com grandes números, como Postcard e Harmony Korine, quando a primeira surpresa aconteceu: uma nova música, Luminol, foi apresentada. É difícil transcrever em palavras o efeito daquela preciosidade ao vivo, uma faixa perfeita, como tudo o que foi mostrado ali. No Part Of Me e Raider II encerraram a primeira parte do show. Nesse momento, houve uma pausa para que Steven explicasse que o próximo número se tratava de uma música com mais de vinte minutos e complexa de se tocar. Por isso, ele pedia a atenção do público, para que todos ficassem em silêncio. E tivessem paciência.
No retorno para o bis, ele comentou que já havia feito shows por todo o mundo, mas que nunca havia tocado no Brasil e gostaria de saber o por quê. Ouviu algumas pessoas da plateia como “agenda lotada”, “pessoas são idiotas” (resposta com a qual ele concordou prontamente) e quando alguém disse que eram “culturas diferentes”, Steven devolveu com uma outra pergunta: “Somos assim tão diferentes?”
Get All You Deserve fechou a noite do trabalho solo e enquanto os nomes dos renomados músicos apareciam no telão, era visível o carinho com o qual Steven agradecia e abraçava cada um. Ele comentou que havia escolhido os músicos aleatoriamente, mas que a sintonia foi tão grande que iriam gravar o próximo trabalho juntos. Os músicos de peso e extrema competência eram Marco Minnemann na bateria, Adam Holzman nos teclados, Neck Beggs no baixo, Tsonev Niko na guitarra e Theo Travis nos instrumentos de sopro. Músicos que trabalharam com grandes nomes como Robert Fripp, Miles Daves, The Tangent e trio KMB, dentre outros.
Após a despedida dos músicos, Steven continuou com o violão no palco e o êxtase crescia: os shows da turnê sulamericana foram presenteados com o bis de duas músicas do Porcupine Tree e as escolhidas para São Paulo foram Lazarus e Trains, cantadas a cada verso por todos ali presentes com lágrimas nos olhos. A esperança de que ele retorne ao país em breve é grande, seja com seu trabalho solo ou com outros projetos, principalmente o Porcupine Tree.
Set list:
No Twilight Within The Courts Of The Sun
Index
Deform To Form A Star
Sectarian
Postcard
Remainder The Black Dog
Harmony Korine
Abandoner
Like Dust I Have Cleared From My Eye
Luminol
No Part of Me
Raider II
Get All You Deserve
Lazarus (Porcupine Tree)
Trains (Porcupine Tree)