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SUICIDAL TENDENCIES

Para celebrar dois anos de atividades, promovendo shows e incentivando ações sociais, a Honorsounds novamente trouxe o Suicidal Tendencies ao Brasil, assim como fez em 2016. A lenda norte-americana do crossover sempre bate cartão por aqui, e dessa vez retornou ao país apenas dez meses após a sua visita anterior. A “World Gone Mad South American Tour April 2017” passou, respectivamente, por Rio de Janeiro, Recife (PE) e São Paulo. O grupo veio divulgar o seu novo álbum, “World Gone Mad”, que marcou a estreia do icônico e influente baterista Dave Lombardo (ex-Slayer, Testament, Grip Inc. etc), que, como não poderia deixar de ser, assim como no ano passado, era visto como uma atração a parte da turnê. Dias antes dos três shows, o grupo desembarcou em São Paulo para participar do agitado coquetel promovido pela Honorsounds no amplo Auditório Artwalk, mas, momentos antes, Mike “Cyko Miko” Muir (vocal), Dean Pleasants e Jeff Pogan (guitarras), Ra “Chile” Diaz (baixo) e Dave Lombardo atenderam a imprensa em uma bem humorada entrevista coletiva.

Sobre o show de São Paulo, dessa vez o lugar escolhido para receber o Suicidal Tendencies foi a Tropical Butantã, mesmo local em que vinte dias antes o respeitado grupo nova-iorquino de hardcore, Madball, que também voltou ao país através da Honorsounds, realizou um show memorável, em evento que contou também com as bandas nacionais Paura, Bayside Kings e Oponente. Mas antes de Mike Muir e seus comparsas levarem seus fãs à loucura, coube ao Dead Fish, que foi convidado para fazer a abertura, encarar a missão de aquecer o público com seu hardcore melódico. O grupo deu início a sua apresentação às 19h25, contando com alguns pontos favoráveis: um bom tempo de palco (cerca de uma hora), boa qualidade de som durante todo o set, público em número razoável e alguns fãs, que marcaram presença agitando e cantando – e acredite, teve até quem “surfasse” em cima das pessoas com uma prancha de bodyboard!

Ao invés de priorizar no repertório o seu mais recente álbum, “Vitória” (2015), a banda preferiu mostrar músicas não só desse, mas também várias de quase todos os outros discos que lançou ao longo de pouco mais de vinte anos de carreira. Temas considerados clássicos como “Zero e Um”, “Bem-Vindo ao Clube”, “Sonho Médio”, “Autonomia” e “Proprietários do Terceiro Mundo”, por exemplo, se juntaram às novas “Selfegofactóide”, “Cara Violência”, “Procrastinando”, “Sausalito” e outras mais. Parecendo saber que pessoas de gosto mais “old school” poderiam torcer o nariz para o som do Dead Fish, Rodrigo Lima (vocal), Ric Mastria (guitarra – Sugar Kane, ex-Level Nine), Alyand (baixo) e Marcão Melloni (bateria – Ação Direta), iam mandando as músicas quase que sem intervalos, para não darem brecha às possíveis chiadeiras do público. Rodrigo até pregou alguns discursos – inclusive contra a Rede Globo, chamando a emissora de “golpista / fascista” -, mas avisou que falaria pouco. Há de se destacar a performance de Marcão, pois o cara é uma máquina tocando! Como era de se esperar, o grupo agradou seus fãs, mas quase, ou, absolutamente nada, os mais radicais. Particularmente, confesso que a partir de um certo momento, achei o show cansativo, devido ao fato de o repertório tocado ter sido muito extenso.

Ao final da apresentação do Dead Fish, os mais ansiosos – ou seja, todo mundo que ali estava -, tiveram que amargar quarenta minutos de espera até que, para histeria geral, pontualmente às 21h00, o dedilhado inicial de “You Can’t Bring me Down” começou a soar no som mecânico. Quando os cinco elementos do Suicidal Tendencies surgiram no palco, dando sequência à este clássico som do imbatível “Lights… Camera… Revolution” (1990), a festa começou pra valer na pista. Na sequência, o quinteto revisitou o ‘debut’ “Suicidal Tendencies” (1983) com a polêmica “I Shot Reagan”, música que, devido ao seu teor lírico que detona o ex-presidente americano Ronald Reagan (falecido em 2004), chegou a render a Muir a “visita” inesperada do serviço secreto norte-americano em sua residência.

O vocalista sempre foi bastante consciente sobre política e, perguntado na coletiva de imprensa por esse que vos escreve o que ele pensa sobre Donald Trump, devido às polêmicas que envolvem o atual presidente em relação aos cidadãos mexicanos, tendo em vista que o Suicidal Tendencies – assim como a cena americana de Hardcore de modo geral – sempre teve muita conexão com os hispânicos, ele explanou bem sua opinião a respeito dos males causados pelos embates políticos na humanidade e finalizou soltando o verbo: “Mais do que odiar a Trump, odeio o que ele representa!”.

Prosseguindo com o show, era hora de a banda tocar música nova, e a primeira delas foi a divertida “Clap like Ozzy”, que abre o álbum “World Gone Mad”. Nessa, o baixista chileno Ra Diaz começou a mostrar sua habilidade nos ‘slaps’ (técnica de contrabaixo). Falando em baixistas habilidosos, no dia da coletiva Muir afirmou que ainda é amigo de seu ex-companheiro de banda, Robert Trujillo (Metallica), com o qual formou o Infectious Grooves. Ele ressaltou a importância do baixo e disse que quando o Suicidal excursionou com o Metallica no início dos anos 90 não ouvia muito o instrumento se destacando por parte de Jason Newsted nas músicas da banda de James Hetfield e Lars Ulrich. Voltando a falar do show, o sempre bem humorado frontman brincava com o público, mas também falava sério quando o assunto era política, tema que ele odeia pelo fato de dividir as pessoas. Após “Freedumb”, Mike Muir apresentou Dave Lombardo, que mesmo estando tímido com a ovação dos fãs, não conseguiu esconder o sorriso. Totalmente adaptado ao estilo do Suicidal Tendencies, Lombardo está tocando bem melhor do que em sua última passagem pelo Slayer. Ele também demonstra estar bem mais feliz.

Não é necessário dizer que na pista o circle pit rolava solto a cada música tocada, mas em “Subliminal”, que foi emendada com a também sempre aguardada “War Inside my Head”, foi insano o que se viu, assim como em “Cyco Vision”, à pedidos de Ra Diaz, que após outra aula de baixo, onde em alguns momentos foi acompanhado cavalarmente por Lombardo – que cozinha é essa? -, seguido de um breve funk de Pleasants – foi solicito à Mike Muir ao falar com o público em espanhol. Depois de outro hino, a dançante “Send me your Money”, que foi finalizada com gritos de “S.T., S.T.”, foi muito legal quando Muir convidou um monte de garotas que estavam na pista para subir ao palco e agitar na lendária “Possessed to Skate”, que contou com breve solo ‘slapeado’ do carismático Diaz. E elas ainda continuaram na hilária “I Saw your Mommy”. Esse momento lembrou o que aconteceu no show de São Paulo em 2016, na Audio Club – embora naquela ocasião tenham sido os homens a curtir lá de cima com Muir, Lombardo, Diaz, Pleasants e Pogan.

Além de outras músicas, a banda ainda tocou algumas do novo álbum, no caso, a ‘rapeada’ “Get your Fight on!” e, no bis, a contagiante “Living for Life”, em que Lombardo, com muita criatividade, simplesmente detonou em cada paradinha. Com essa, o quinteto se despediu do público paulistano e partiu para Santiago, no Chile, aonde iria se apresentar no dia seguinte. À lamentar, apenas o fato de o grupo não ter tocado seu grande hit, “Institutionalized”, e também “I’ll Hate you Better” – esperar por “Nobody Hears” já seria pedir demais. Ainda assim, tão quão suadas diversas bermudas, calças, camisas de flanela e, principalmente, bandanas, saíram da Tropical Butantã, foi a certeza de seus donos de que o Suicidal Tendencies continua ‘ainda psicótico após todos esses anos’!

SUICIDAL TENDENCIES – Setlist:
You Can’t Bring me Down
I Shot Reagan
Clap Like Ozzy
Freedumb
Trip at the Brain
Get your Fight on!
War Inside my Head
Subliminal
Send me your Money
Possessed to Skate
I Saw your Mommy
Cyco Vision
How Will I Laugh Tomorrow
Pledge your Allegiance
Living for Life

DEAD FISH – Setlist:
Afasia
Sobre a Violência
Shark Attack
Linear
Selfegofactóide
Cara Violência
Zero e Um
Queda Livre
Autonomia
Armadilhas Verbais
Desencontros
Just Skate
A Urgência
Tão Iguais
Siga
Sonhos Colonizados
Venceremos
Procrastinando
Sausalito
Asfalto
Molotov
Proprietários do Terceiro Mundo
Bem-Vindo ao Clube
Sonho Médio

 

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