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SUMMER BREEZE BRASIL 2024: DIA #3

28 de abril – Memorial da América Latina (SP)

Acompanhe agora a cobertura do terceiro dia de shows do Summer Breeze Brasil 2024, com as apresentações na ordem em que aconteceram ao longo do domingo, 28 de abril, nos palcos Hot, Ice, Sun e Waves. A cobertura dos dois primeiros dias, sexta-feira (26) e sábado (27), você já pode acessar no link abaixo.

Sexta-feira (26) | Sábado (27) | Domingo (28)

ECLIPSE (Ice Stage)

Por Daniel Agapito

Até antes de começar o Eclipse, primeiro show do dia, o clima já estava quente dentro e fora do palco, com um sol de 30 graus já torrando as cabeças do público paulistano. Em cima do palco, um dos roadie da banda começava o expediente gritando com a produção do festival, por algum quitamento da banda não estar do lado certo. Rapidamente tomou um dura e voltou para seu lugar, ouvindo um firme ‘no scream’ de um técnico de palco da própria organização.

Já às 11h, o telão ligava, exibindo uma contagem regressiva, com uma medley de clássicos do hard rock e heavy metal tomando conta dos PAs. Com a contagem acabando, os suecos corriam ao palco, com sorrisos no rosto, tocando a animada “Roses on Your Grave”. O clima podia até estar feliz, mas o roadie da banda seguia com cara de poucos amigos, esperando pouco para chegar à frente do palco e reclamar do som.

Não demorou nem 4 músicas para o quarteto já entrar nas graças do público, com os fãs já gritando o nome da banda depois de “Run for Cover”, a terceira. Nas músicas seguintes, grande parte dos que estavam lá cantavam junto com a banda, já bastante envolvidos nas letras. Interação com o público não faltou, Erik Mårtensson constantemente agradecia o público por ter chegado tão cedo para apreciar um pouco de hard rock sueco de qualidade. Por conta do calor absurdo, também parava entre uma música e outra para tomar água, também influenciando seus fãs a fazerem o mesmo.

As respostas do público seguiram calorosas quando o quarteto passou por “The Storm” e “Bleed and Scream”, de “Armageddonize” (2015) e “Bleed and Scream” (2012), respectivamente. Após “Bleed and Scream”, o vocalista disse que ‘mesmo sendo domingo de manhã’, queria que o público festejasse como se fosse sábado à noite’, emendando “Saturday Night Hallelujah”. Depois desta, pegou um violão e pediu para que o público cantasse a próxima música junto, brevemente trocando uns ‘uooos’ com a plateia.

Sozinho no palco, Mårtensson dedilhou os acordes iniciais da comovente “Battlegrounds”, com o resto da banda se juntando a ele. Phillip Crusner, o baterista, optou por não tocar seu instrumento, ficando sentado em frente ao bumbo, deixando as palmas dos fãs agirem como percussão. Foi um momento que mostrou a real sensibilidade do público mais tradicionalmente ‘metaleiro’, que tinha ido ao festival para ver Anthrax e Mercyful Fate.

O violão seguiu nas mãos de Mårtensson um pouco mais, mas não foi peça central de “The Downfall of Eden” nem “Black Rain”. A trilogia de faixas que fechou a performance foi “Never Look Back”, de “Monumentum” (2017), “Twilight”, de “Wired” (2021), e “Viva La Victoria”, de “Paradigm” (2019). Apesar dos pesares e do começo controverso, os suecos proporcionaram uma hora de hard rock animado, conseguindo arrancar diversos sorrisos dos headbangers da música extrema. Foi o pontapé inicial necessário para um dia de muitos shows e muitas rodas, assim como o Nestor na sexta-feira.

Setlist: Roses on Your Grave, Got it!, Run for Cover, The Storm, Bleed and Scream, Saturday Night Hallelujah, Battlegrounds, The Downfall of Eden, Black Rain, Never Look Back, Twilight e Viva La Victoria.

TORTURE SQUAD (Sun Stage)

Por Antonio Carlos Monteiro

Quem trabalha com isso há quase quarenta anos, como é o caso deste que vos fala, sabe a dificuldade que é manter uma banda de rock no país do axé e do sertanejo – e se for uma banda de heavy metal, a dificuldade se multiplica. Justamente por isso é sempre uma satisfação ver um grupo como o Torture Squad, que está há mais de trinta anos na cena e mostrando a mesma garra e o mesmo sangue nos olhos desde o princípio. Certamente foi por isso que uma enorme quantidade de gente se aglomerou diante do Sun Stage na manhã de domingo para assistir a banda.

Os veteranos Castor (baixo) e Amílcar Christófaro (bateria), há três décadas segurando a cozinha do grupo, já estão há um bom tempo ao lado dos mais jovens Rene Simionato (guitarra) e May Puertas (vocal), e essa formação, junta há nove anos, provou uma das mais consistentes da trajetória do grupo paulistano.

O show no Summer Breeze, que marcou o lançamento do disco Devilish (2023), começou com uma longa intro até que os quatro atacaram com “Hell is Coming”, faixa de abertura do novo trabalho. O som excelente e a pegada monstruosa do quarteto mostraram de cara que seria uma manhã memorável – parece estranho, mas quem disse que tem hora certa pra ouvir rock do bom?

O show foi relativamente curto, apenas oito temas, descontada a introdução, e metade deles veio de “Devilish”. No final, a vocalista Leather Leone e o guitarrista Vinnie Tex (brasileiro que toca na banda de Leone) foram chamados ao palco para participar de duas músicas: “For Those Who Dare” (música de Chastain, com quem Leather já gravou dez álbuns) e “Warrior”, que já ganhou até um videoclipe. Foi incrível constatar como Leather Leone, do alto de seus 65 anos, ainda canta com fúria e garra. Foi uma excelente abertura para o último dia do festival.

Setlist: Find My Way (Intro), Hell is Coming, Flukeman, Buried Alive, Hellbound, Murder of a God, For Those Who Dare, Warrior e Chaos Corporation.

WHILE SHE SLEEPS (Hot Stage)

Por Marcelo Gomes

O While She Sleeps chegou ao Hot Stage com um calor que beirava ao absurdo. O som mais moderno ganhou espaço no festival já nos primeiros segundos da apresentação. Misturando metalcore com aquela afinação baixa, grooves e pitadas de sons eletrônicos, os britânicos conseguiram mexer com a plateia mesmo que não os conhecessem. O vocalista Lawrence Taylor chegou ao palco chamando atenção com seu visual exótico, trajando meia calça, algo no mínimo inusitado.

Deram início com “Sleeps Society”, seguida por “Anti-Social” e “You Are All Need”, mostrando versatilidade e técnica. Em alguns momentos, certos elementos chegam a lembrar o Linkin Park, só que com muito mais peso e velocidade. Aos poucos, a banda foi ganhando a confiança do público que tentava sobreviver ao calor.

E não era só o público que sofria com as altas temperaturas. A banda tentava não derreter em meio a sua performance eletrizante. Entre uma água e uma toalha para tentar conter o suor, mais música. “The Guilty Party”, “Self Hell” e “You Are We” ganharam espaço em meio ao repertório relativamente curto da banda. Na plateia, os primeiros circle pits começaram a aparecer. Para uma banda até que nova e com um som que foge do tradicional, nada mal, não é mesmo?

Caminhando para o fim, tocaram “Enlightenemnt(?)”, e o vocalista Taylor se arriscou a surfar pelo público, resultando num momento verdadeiramente épico. Dos braços da multidão, volta ao palco para encerrar com “Systematic”, colocando fim a um show no mínimo explosivo.

SANTO GRAAL (Waves Stage)

Por Antonio Carlos Monteiro

Uma das atrações que mais movimenta a cena rockeira antes do Summer Breeze é o concurso New Blood, que oferece a uma banda, pré-selecionada por um corpo de jurados e escolhida por votação popular, a oportunidade de se apresentar no festival. Este ano o vencedor foi o Santo Graal, sexteto de metal sinfônico de São Paulo/SP, que não deixou a oportunidade passar em branco: Natalia Fay (vocal), Paulo Francioli (guitarra), Adriano (baixo), Carol Claro (teclado), André Pedroso (bateria) e Wagner (cello) – sim, a banda conta com um celista em sua formação – abraçaram com força a oportunidade e fizeram um ótimo show.

‘Que sonho a gente está realizando!’, confessou a vocalista Natalia Fay, grande destaque da banda e cujo vocal vai do lírico ao gutural sem a menor dificuldade, além de ter uma movimentação cênica muito interessante. A banda ainda levou a bailarina clássica Glenda Franco para se apresentar durante “Black Swan”, dando um colorido diferente à apresentação.

Setlist: Whisper of Soul, Lesser Evil, Rebirth, Troubled Heart, Dark Roses, Angel of Lust, Mistake Shadows, Black Swan e Sunshine II.

BATTLE BEAST (Sun Stage)

Por Daniel Agapito

Pouco antes das 13h, um piano épico e grandioso soava pelo Sun Stage. Pouco depois, o público paulistano recebeu o circo das trevas dos finlandeses do Battle Beast. Iniciaram o show com dois pés na porta, com a forte “Circus of Doom”. A sonoridade deles é uma mistura de hard rock oitentista com power metal; é para matar dragão batendo cabeça. Depois de terminarem esta primeira, não esconderam que estavam honrados em tocar para tanta gente, agradecendo bastante a presença do público.

Interação com o público foi um dos pilares do show, com os integrantes da banda constantemente incentivando o público a cantar. Era perceptível que apesar de a banda não ser tão conhecida por terras tupiniquins, quem estava lá vendo estava bastante envolvido, geralmente conseguindo acompanhar os finlandeses, cantando após o primeiro refrão. O peso de “Circus of Doom” foi contrastado diretamente com uma sequência de músicas com uma pegada mais hard, sendo elas “Straight to the Heart” e “Familiar Hell”, ambas do fantástico “Bringer of Pain” (2017).

O setlist da banda focou nos três últimos álbuns, sendo eles o supracitado “Bringer of Pain” (2017) e “Circus of Doom” (2022), com cinco músicas cada, e “No More Hollywood Endings” (2019), com apenas duas músicas, sendo uma delas a faixa-título, que procedeu “Familiar Hell”. A energia continuou alta com “Eye of the Storm”, um dos destaques do LP mais recente, que teve seus refrões cantados pelo público, após certo incentivo da banda.

Já “Where Angels Fear to Fly” teve cantoria do público mesmo antes de a banda começar, vendo que ela começa com um complicadíssimo ‘na na na na na na na’. Piadas à parte, não seria exagero dizer que todos estavam impressionados com a performance proporcionada pela Battle Beast, curtindo, cantando junto, gritando o nome da banda após cada música. Tendo concluído “Bastard Son of Odin”, o  baixista Eero Sipilä comunicou ao público que, mesmo não conseguindo falar em português, amava o público brasileiro, se impressionando com a presença da ‘família do heavy metal global’, pessoas da Argentina, do Chile, Peru.

Durante “Eden”, o público já estava na mão dos finlandeses por completo. Antes do “Master of Illusion”, Sipilä declarou que trocariam mais três músicas, mesmo querendo tocar muito, muito mais, agradecendo ao público por estar cantando e pulando, porque, de acordo com o mesmo, o Battle Beast é sobre isso. Seguiram “Master of Illusion”, “King for a Day” e “Beyond the Burning Skies”.

Ao todo, fizeram um grande show, indubitavelmente ganhando uma boa quantidade de novos fãs. Injetaram uma dose de metal feliz e melódico em um dia dominado em grande parte pelo metal mais extremo, mais agressivo. Uma turnê solo do sexteto por terras latinas seria recebido muito bem.

Setlist: Circus of Doom, Straight to the Heart, Familiar Hell, No More Hollywood Endings, Eye of the Storm, Where Angels Fear to Fly, Bastard Son of Odin, Wings of Light, Eden, Master of Illusion, King for a Day e Beyond the Burning Sies.

OVERKILL (Ice Stage)

Por Leandro Nogueira Coppi

Cinco anos separaram o Overkill do público brasileiro. E a sexta visita dos thrashers americanos de Nova Jérsei teve ingredientes especiais. Desde que fez a sua estreia em São Paulo, no distante ano de 2001, essa era a primeira vez no país em que o Overkill tocava em um megafestival, além de ter sido a primeira à luz do dia. E não para por aí. Foi a primeira vez também que a banda veio desfalcada de seu talentoso baixista, D.D. Verni. Recentemente, D.D., um dos fundadores do Overkill, foi submetido a uma cirurgia no ombro, da qual ainda se recupera.

Assim sendo, o cofundador Bobby “Blitz” Ellsworth (vocal) e seus demais asseclas, Dave Linsk (guitarra solo), Derek Tailer (guitarra base) e Jason Bittner (bateria), vieram acompanhados de ninguém menos do que do ex-Megadeth David Ellefson, uma das figuras mais emblemáticas do thrash metal.

Após introdução, estrategicamente surgiram primeiro no palco Bittner, Tailer e Linsk. Eles deixaram os aplausos mais efusivos para o ilustre baixista convidado e também para o carismático frontman, que surgiu por último na abertura com “Scorched”, música que dá nome ao novo álbum do Overkill, lançado há exatamente um ano. Na sequência, o grupo mandou um de seus hits dos anos 2000, “Bring Me the Night”, que foi um dos singles e clipes de “Ironbound” (2010).

Com uma carreira ininterrupta de quase 45 anos, o Overkill, que em seus primeiros dias atendia por Virgin Killer (clara homenagem ao Scorpions), sabe dominar uma plateia como poucos. Ainda que tenha deixado fora diversos clássicos, alguns imperdoáveis, como “Powersurge”, “In Union We Stand”, “Thanx for Nothing” e “Necroshine”, e mesmo desfalcado de Verni, o grupo deixou a plateia com um sorriso de orelha a orelha, não só por ter tocado clássicos que serão mencionados e pedradas como “Electric Rattlesnake”, “Coma”, “Ironbound” e “The Surgeon”, por exemplo, mas também pelo carisma de Blitz, que como frontman é indiscutivelmente um dos melhores do thrash, tanto como vocalista como ‘entertainer’.

Apesar de muitas pérolas terem sido deixadas fora, fomos compensados com clássicos como “Hello from the Gutter”, “Elimination” e “Rotten to the Core”. Preciso como de costume e mostrando o quanto é profissional, Ellefson tocou todo o repertório com a maior naturalidade, sem se perder e nem errar nenhuma das músicas. Blitz até ressaltou no show que Verni o aprovou. Entretanto, é indiscutível que D.D. Verni é um baixista incomparável e insubstituível, o motor do Overkill. Apesar de Ellefson também estar entre os maiores baixistas do gênero, o ‘playing’ e os timbres de Verni são únicos.

Pareceu que até por questão de respeito, na clássica e sombria “Horrorscope” Ellefson não tocou a sinistra introdução de baixo criada por D.D.. A banda a iniciou da parte em que todos entram. Após “Horrorscope”, Blitz, Ellefson e Tailer deixaram o palco para Dave Linsk, que, acompanhado de Bittner, mandou um breve solo de guitarra. Em tempo, Linsk está no Overkill há 25 anos, obstante do reconhecimento que deveria ter como guitarrista de thrash metal – confira seu trabalho também no Speed Kill Hate e me diga se estou errado ao dizer que ele está entre os grandes guitarristas do gênero.

Depois da ótima “Long Time Dyin’”, do injustiçado álbum “From the Underground and Below” (1997), música essa que inicia com o poderoso riff do ex-guitarrista Sebastian Marino (falecido no ano passado), Bittner também mandou seu solo. Ele iniciou com a famosa intro de Scott Travis para “Painkiller” (Judas Priest) e ainda incorporou a batida de Clive Burr em “Run to the Hills” (Iron Maiden). Depois disso, Ellefson retornou ao palco e, acompanhado no bumbo por Bittner, ameaçou tocar “Peace Sells”, do Megadeth. O público vibrou, porém o baixista interrompeu a intro e o Overkill mandou outra de “Scorched”: “The Surgeon”.

Após alguns clássicos já mencionados, o grupo encerrou uma das melhores apresentações do Summer Breeze Brasil 2024 com a provocativa e obrigatória “Fuck You”, da banda punk The Subhumans. Como de praxe, ela foi saudada pelos fãs com seus dedos do meio em riste. Dos seis shows que presenciei do Overkill em São Paulo, opino que este só perdeu para o primeiro, aquele que citei de 2001.

Setlist: ScorchedBring Me the NightElectric RattlesnakeHello From the GutterWicked PlaceComaHorrorscopeLong Time Dyin’, solo de bateria/bateria e baixo, The SurgeonIronboundEliminationRotten to the CoreFuck You (cover do The Subhumans)

HELLISH WAR (Waves Stage)

Por Eliton Tomasi | Fotos: Susi dos Santos

Não é mais necessário acautelar-se da expressão afirmativa: o Hellish War é a mais relevante banda brasileira de heavy metal tradicional!  O grupo de Campinas (SP) está há quase 30 anos na estrada, passou por pouquíssimas mudanças no line-up e é atualmente formado por Bil Martins (vocal), Vulcano e Daniel Job (guitarras), JR (baixo) e Daniel Person (bateria). “Defender Of Metal”, disco de estreia da banda lançado em 2001, tornou-se obra cult, sendo considerado por alguns headbangers alemães como “o melhor disco brasileiro de heavy metal de todos os tempos”! “Heroes Of Tomorrow”, o sucessor de 2008, trouxe a banda para níveis superiores em termos de técnica e musicalidade, além de ter possibilitado ao Hellish War realizar sua primeira turnê pela Europa. Lançado em 2013 pela gravadora alemã Pure Steel Records, “Keep It Hellish” proporcionou a segunda passagem do Hellish War pelo velho mundo somando sete apresentações em seis países diferentes: Alemanha, Bélgica, Suíça, França, Holanda e Polônia. “Wine Of Gods” é o título do quarto e mais recente disco de estúdio e é apontado por imprensa e público como um dos melhores trabalhos da carreira do quinteto paulista.

E foi com a faixa título do novo álbum que o Hellish War abriu sua apresentação no Summer Breeze Brasil debaixo de um sol forte que parecia incomodar mais os músicos no palco do que ao público que buscou espaços de sombra no Waves Stage. Aliás, a iniciativa do palco Waves e a ampliação de apresentações de bandas brasileiras no festival foi, a meu ver, o principal acerto dessa segunda edição do Summer Breeze Brasil. Só faltou uma atenção da curadoria no sentido de incentivar para que o público prestigiasse as apresentações das bandas brasileiras que, muitas vezes, foram intercaladas com apresentações de outras bandas internacionais renomadas e de estética musical semelhante, potencializando o efeito contrário: durante o show do Hellish War, o Overkill apresentava-se no Ice Stage. Quem escolheu ver o Hellish War, pode se considerar um verdadeiro “Defender Of Metal”, segunda música do set do grupo, cujo refrão era cantado em uníssimo pelo público com os pulsos cerrados. “Keep It Hellish” veio a seguir com outro refrão forte: “Hellish We Keep / Keep It Hellish”, palavras de resistência que remetem não apenas à trajetória da banda, como representa a superação do heavy metal feito no Brasil como um todo.


A partir desse momento o Hellish War apresentou uma sucessão de clássicos: a épica “Son Of The King” e “Destroyer”, ambas de “Heroes Of Tomorrow”, a cadenciada “The Challenge”, além de “Metal Forever”, que também foi cantada por todo o público, que demonstrava sua paixão e orgulho em ver o Hellish War apresentando-se no palco do maior festival de heavy metal da América Latina. Posso sentir até agora o arrepio na pele que foi o fim do show do Hellish War no Summer Breeze Brasil com “We Are Living For The Metal”. Composição autoexplicativa, não só sobre o que foi o show da banda ou o que o Hellish War representa para seus músicos e seus fãs, mas o porquê de nós – que fazemos e representamos o heavy metal no Brasil -, seguirmos sempre adiante mesmo afrontados por um mercado deficitário que não faz qualquer questão de repensar seu modo operacional de importação unilateral, bem como os hábitos culturais de um povo que parece ter herdado a arrogância do colonizador em detrimento de tudo aquilo que possa lhe fazer sentir-se feliz e pertencente ao lugar onde nasceu.

AVATAR (Hot Stage)

Por Daniel Agapito

Desde que abriram para o Iron Maiden em sua Legacy Of the Beast World Tour em 2022, os suecos do Avatar tem conseguido bastante sucesso comercial não só no Brasil, mas no mundo com seu mais novo álbum, “Dance Devil Dance” (2023), tendo chegado à primeira posição das paradas de hard rock da Billboard. Tendo apresentado uma sonoridade ligeiramente mais acessível, mais pop, como alguns diriam, o mais novo full-length alavancou-os ao sucesso global, tendo embarcado em diversas turnês mundiais desde então. Uma delas sendo a Great Metal Circus Tour, que em sua perna latino-americana, passou por Chile, Brasil e Argentina.

Entraram no Hot Stage às 14h30, logo após o Overkill ter ‘quebrado tudo’ no Ice Stage. A faixa-título do novo trabalho da banda, “Dance Devil Dance”, iniciou o show, com gritos dos devotos fãs desde o sino, que acontece antes da música começar. Sobre a devoção dos fãs, durante o dia era possível encontrar um bom grupo de pessoas com a cara pintada, imitando a pintura de palhaço que o vocalista Johannes Eckerström usa. Não era difícil encontrar pessoas usando as roupas vermelhas do grupo também, muito provavelmente cozinhando no calor de mais de 30 graus que fazia naquele domingo. Vale destacar um fã em especial que estava na grade da pista com um busto do vocalista, que acabou sendo reconhecido pelo mesmo.

Mostrando desde o começo do show seu timing cômico impecável, depois da “Valley of Disease”, outro destaque do novo LP, falou: ‘Licença enquanto eu quebro o palco’. Subvertendo expectativas, apenas jogou o estande de microfone no chão, causando risos. Falou também que nós iríamos fazer coisas aos corpos dos outros que podem ser estranhas no começo, mas se aprendermos a respirar, nos tornariam novas pessoas. Por conta disso, disse que por fazer tanta referência sexual, precisava do consentimento do público, virou o microfone pro público e foi recebido por gritos de aprovação. Era nítido que Johannes sabia muito bem o que estava fazendo acima do palco, sendo um verdadeiro showman.

Alimentando a teatralidade de sua verdadeira performance, tendo concluído “Chimp Mosh Pit”, todos se retiraram, voltando enfileirados, marchando para tocar “Colossus”. Durante a execução desta faixa, ficaram todos um do lado do outro na frente do palco, menos o baterista. Em seu show em Rennes, na França, até o baterista se juntou à banda, tocando uma bateria menor, já aqui no Brasil, não rolou. Durante “Bloody Angel”, oriunda do brilhante “Hail the Apocalypse” (2016), houve mais interação com os fãs, com uma clássica troca de ‘oooos’. No final da mesma, mostrando que ninguém é de ferro, o vocalista bebeu um gole de água, mas como tudo que faz é teatral, sua garrafa não era exatamente uma garrafa, e sim, um tambor de gasolina, ocasionando diversos olhares curiosos do público.

Tendo tomado sua água, Eckerström tirou seu casaco e fez que ia tirar seu suspensório, até chegando a provocar um zunzum de ‘lindo, tesão, bonito e gostosão’ entre os thrasheiros da grade. “For the Swarm” viu o vocalista conduzir o resto da banda como se houvesse uma dinâmica de poder, realmente, entre eles, como se ele controlasse o resto. Viu também mais uma ocorrência dos famosos headbangs sincronizados.

Indubitavelmente sabem conduzir o público muito bem, antes da “Paint me Red”, chegaram a fazer o público admitir que faria qualquer coisa pela banda, quase como um líder de culto. Sempre mantendo o respeito pelos espectadores, começou “Let it Burn” falando que São Paulo estava pegando fogo, que era para deixar queimar (‘let it burn’, em inglês). Depois da “Let it Burn”, dois roadies trouxeram um teclado ao palco, um deles sendo um homem gigante sem camisa, usando uma bermuda jeans meio solta e com uma máscara de couro, arrancando risos dos fãs.

O vocalista sentou à frente do teclado e agradeceu a presença de todos, alegando que adora o Brasil, que o quarto show da banda em lugar algum, seja na Suécia, país natal deles, seja na Alemanha, nos Estados Unidos nenhum estava assim. Nenhum estava tão cheio e com uma energia tão marcante. Antes de começar a “Tower”, falou: ‘Esse piano é pequenininho, mas faz meu pinto parecer gigante’, perguntando se disse isso em voz alta e rapidamente anunciando o nome da música, trocando de assunto. Ele sabe o que faz.

Durante a mesma, os fãs fizeram uma roda bem devagar, parecida com o trenzinho do Night Flight Orchestra, mas realmente andando. No final da “Tower”, Eckerström ficou desapontado com a cantoria do público, soltando um ‘eh’. Depois agradeceu cantando parte da música “Summer Breeze”, popularizada no mundo do metal pelo Type O Negative: ‘Summer breeze, makes you feel fine’.

Após “The Dirt I’m Buried in”, o vocalista mostrou novamente seu controle de público e timing cômico, falando que tocariam mais duas músicas. O público gritou ‘três’, ele gritou ‘três’, público gritou ‘quatro’, ele gritou ‘quatro’, alguém mostrou dez com os dedos, e ele falou: ‘Calma, esses são todos seus dedos, não seja egoísta’. Voltou pra dois, alguém vaiou, ele falou que ia embora e virou as costas. Voltou e falou que nunca sentiríamos o que é poder verdadeiro, como um predador brincando com sua presa.

Falou também que as pessoas o olham de maneira estranha, emendando “Smells Like a Freakshow”. Os fãs praticamente explodiram, a grade chegava a tremer de tantos pulos. A cantoria era tanta que da segunda vez, deixou o público cantar o refrão, ‘I need something to sedate me, but I can’t afford the high, give me something to help me escape, smells like a freakshow’.

Acabaram tocando só mais duas músicas mesmo, mas a última foi certamente a mais esperada pelos fãs. O fechamento do set desta nova turnê está nas mãos de “Hail the Apocalypse”, faixa mais tocada da banda no Spotify e que leva o título do álbum de 2016. Sendo mais pesada, mais tradicionalmente melodeath, mas ainda permanecendo acessível a todos os fãs, têm incendiado públicos no mundo inteiro desde que foi lançada. Em São Paulo não foi diferente, o chão novamente tremia de tanta gente pulando, o clima estava lá no alto.

Esse foi o Avatar, um verdadeiro show. Eles são uma banda que tem realmente muito desse aspecto da teatralidade, conseguindo proporcionar uma experiência muito melhor e muito mais completa ao vivo do que em estúdio. Sem querer desmerecer, de maneira alguma, seus trabalhos em estúdio, falta alguma coisa. Não é a mesma coisa pegar um CD deles, ou pegar os álbuns no streaming. O ao vivo acaba adicionando uma dimensão a mais, uma conexão mais profunda entre a banda e os fãs. Tudo isso sem falar que o vocalista, o genial Johannes Michael Gustaf Eckerström é um grande performer, um dos melhores de sua geração, apresentando não só uma ótima voz, mas uma habilidade absurda de entrar no personagem e uma presença de palco e controle de público invejáveis. Fazer o que ele faz do jeito que ele faz é para poucos. Com certeza foi um grande show.

Setlist: Dance Devil Dance, The Eagle Has Landed, Valley of Disease, Chimp Mosh Pit, Colossus, Bloody Angel, For the Swarm, Paint me Red, Let it Burn, Tower, The Dirt I’m Buried in, Smells Like a Freakshow e Hail the Apocalypse.

RATOS DE PORÃO (Sun Stage)

Por Antonio Carlos Monteiro

Quem já viu um show do Ratos de Porão sabe muito bem que com eles não tem frescura: é ‘um-dois-três-quatro’ e tome porrada na orelha. Outra coisa que todo mundo que não viveu em Marte nos últimos quarenta anos sabe é que a banda tem uma posição política claramente de esquerda e não tem o menor problema em deixar isso evidente – o baixista Juninho trajava uma camiseta do MST e pendurou uma bandeira do movimento em seu amplificador. Mais que isso, o último disco do Ratos, “Necropolítica” (2020), é o famoso ‘mais-explícito-impossível’ nesse sentido.

E com a galera gritando o nome da banda antes de o som rolar, João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria) deram início ao show com as duas primeiras do novo disco, “Alerta Antifascista” e “Aglomeração”  – sem introdução, sem firulas, foi pancada direto! Como sempre, a banda grudava uma música na outra, com pouco espaço para conversa com o público e com João Gordo fazendo lá suas danças durante as músicas, enquanto Jão e principalmente Juninho pulavam a valer. Lá pelas tantas, João gritou que o ex-presidente deveria ir pra cadeia e gerou uma catarse no povo, que iniciou um xingamento em coro ao político. Gordo retrucou: ‘Ele não tem que tomar no c*, ele tem que ir preso, pô!’. Já usamos a palavra ‘explícito’ ali em cima, certo?

Calcando o repertório na fase mais crossover da banda, o que fazia sentido num dia em que o thrash tinha grande predominância na programação do festival, o Ratos de Porão contou até com a presença do baixista Dan Lilker numa das laterais do palco acompanhando a apresentação. E o quarteto entregava um show coeso, tremendamente ensaiado e muitíssimo bem tocado, além de o som do Sun Stage estar mais do que cristalino. O resultado foram rodas e mais rodas no meio da galera, aumentando ainda mais a nada amena temperatura.

O final, com “Beber até Morrer” e “Crise Geral”, pode ter sido previsível, mas não menos empolgante – como, aliás, é todo show do Ratos de Porão.

Setlist: Alerta Antifascista; Aglomeração; Amazônia Nunca Mais; Farsa Nacionalista; Ignorância; Lei do Silêncio; Morte ao Rei; Morrer; Mad Society; Crianças Sem Futuro; Crucificados pelo Sistema; Descanse em Paz; V.C.D.M.S.A.; Igreja Universal; Sofrer; Conflito Violento; Aids, Pop, Repressão; Beber até Morrer; e Crise Geral.

JOHN WAYNE (Waves Stage)

Por Antonio Carlos Monteiro

O John Wayne já conta com quinze anos de estrada, três álbuns e um EP na bagagem, além de incontáveis shows ao longo desse tempo, incluindo participações em festivais como Rock in Rio e Abril Pro Rock. Ou seja, palco não é problema para o quinteto paulistano de metalcore, que conseguiu levar um ótimo público para o Waves Stage.

Guilherme Chaves (vocal), Rogerio Torres (guitarra), Junior Dias (guitarra), Denis Dallago (baixo) e Edu Garcia (bateria) são um time muito entrosado e apresentaram um repertório bem variado, com destaque para os guturais certeiros de Guilherme, momentos em que o quinteto se aproxima do deathcore.

Não satisfeito, o vocalista ainda mostrou versatilidade a ponto de incluir trechos com voz natural em Reconectar, gerando um contraste interessante. Foi um show curto, mas direto e com muito peso – exatamente com tem que ser.

Setlist: Intro/Aliança, Midas, Semblantes, Abel, Demasia, Pesadelo Real, Reconectar, Tempestade, Aliança Pt. 2 e Lágrimas.

CARCASS (Ice Stage)

Por Denyze Moreira

Eram 15h50 de domingo, havia cinco sóis para cada um em São Paulo, e eles batiam diretamente no palco onde o Carcass se apresentaria. Era muito compromisso e força de vontade de todos ali, banda e fãs. Calor brutal… Tão brutal que Jeff Walker estava visivelmente em dificuldade: o sol batia diretamente na cara dele, um calor com o qual possivelmente ele não está acostumado, e num fuso que também não é o dele.

Foi desafiador, e por isso mesmo acredito que não tenha sido, nem de longe, o melhor show da banda. No entanto, treino é treino, jogo é jogo, e o Carcass fez um setlist de festival, aquele clássico prato feito que ninguém recusa. Rápido, popular e funcional.

Rindo de si mesmo pelas produções dos anos 1990 – ‘Muitas bandas que estão aqui hoje gravaram péssimos discos nos anos 90. Nós não somos exceção’ –, Jeff jogou para a torcida, talvez ciente de que “Heartwork” fez um grande sucesso por aqui, com seus principais clipes tocando quase que diariamente na saudosa MTV.

Abrindo o show com “Buried Dreams”, o setlist ainda contou com outras três faixas do famoso disco da banda: “This Mortal Coil”, “Heartwork” e “Death Certificate”, além de “Black Star”, “Tomorrow Belong to Nobody” e “Keep on Rotting in the Free World”, do “Swansong” (1996).

O calor estava levando vantagem sobre Jeff, que em dado momento precisou tocar com uma bolsa de gelo, improvisada pelo roadie, na cabeça. Se estava incomodado, Bill Steer não deixou transparecer, assim como Dan Wilding e James “Nip” Blackford. O setlist seguiu mesclando faixas do disco mais recente, “Torn Arteries”, com algumas (poucas) faixas de discos basilares, casos de “Ruptured in Purulence” (de “Symphonies of Sickness”) e “Corporal Jigsore Quandary” (de “Necroticism – Descanting the Insalubrious”).

Pedindo desculpas por estar claramente derretendo, Jeff encerrou o show aplaudindo a plateia e agradecendo a todos pelo esforço de estarem ali, debaixo do fogo que vinha do céu. Resta torcer para que o Carcass volte para tocar fora do sol e como headliner.

Setlist: Buried Dreams, Kelly’s Meat Emporium, Incarnated Solvent Abuse, Under the Scalpel Blade, This Mortal Coil, Tomorrow Belongs to Nobody/Death Certificate, Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March No. 1 in B), Black Star/Keep on Rotting in the Free World, The Scythe’s Remorseless Swing, 316L Grade Surgical Steel, Corporal Jigsore Quandary, Ruptured in Purulence/Heartwork e Tools of the Trade.

DEATH ANGEL (Sun Stage)

Por Leandro Nogueira Coppi

De volta ao Brasil, 14 anos após sua estreia, o sentimento que ficou do show do Death Angel no Summer Breeze foi o de justiça sendo feita. Isso porque em 2010 a série de shows cumprida pela banda no país teve em São Paulo dois realizados em locais pequenos, na Clash Club e no Blackmore Rock Bar, para poucas testemunhas. Dessa vez, o Death Angel foi assistido por um grande número de pessoas no Sun Stage – nome apropriado de palco para um sol que às 16h30 ainda era desidratante.

Comparando essa com aquela mencionada primeira vinda ao Brasil, o que ficou claro é que, seja para poucas ou muitas pessoas, a entrega, a energia e a visceralidade do Death Angel ao vivo são as mesmas. Dito isso, o quinteto da lendária Bay Area de São Francisco (EUA) entregou um dos melhores shows da segunda edição do Summer Breeze.

Mesmo seu último álbum de estúdio, “Humanicide”, tendo sido lançado há cinco anos, o Death Angel veio ao Summer Breeze com a turnê chamada Latin American Humanicide 2024. Porém, a abertura se deu com “Lord of Hate”, porrada ultrassônica de abertura do álbum “Killing Season” (2008), disco este que foi o segundo lançado pelo Death Angel após um hiato que durou de 1990 a 2004. Ou seja, espaço de tempo equivalente ao tempo que o grupo demorou a retornar ao Brasil.

Valendo-se de uma qualidade de som alta e ao mesmo tempo muito equilibrada, o Death Angel manteve o público nas mãos com a dobradinha de clássicos atemporais e indispensáveis que veio a seguir. A começar por seu hit mais antigo, “Voracious Souls”, do debut “The Ultra-Violence” (1987), depois por “Semingly Endless Time”, uma das melhores músicas da banda, presente em seu terceiro álbum, “Act III” (1990).

De volta a “Killing Season”, o Death Angel disparou “Buried Alive”. A seguir, finalmente uma do ‘novo’ álbum. Aliás, “I Came for Blood” foi também a primeira do set gravada pela atual e já antiga formação do grupo, integrada pelos fundadores Mark Osegueda (vocal) e Rob Cavestany (guitarra) e pelos mais ‘novatos’ Ted Aguilar (guitarra), Damien Sisson (baixo) e Will Carroll (bateria). Falando em Carroll, foi muito bom revê-lo atrás dos tambores do Death Angel.

Para os mais próximos, é um verdadeiro milagre Carroll estar vivo, visto que no início da pandemia, quando não existia vacina, Carroll foi internado e intubado com Covid-19, apresentando um quadro muito grave. No show, ele mostrou que não perdeu sua destreza e segue sendo o ‘relógio’ da banda, tamanha a precisão com que executa suas partes.

Após abrir o circle pit na música que dá nome ao álbum “The Dream Calls for Blood” (2013), os thrash bangers seguiram se divertindo e agitando com “The Moth”; a própria “Humanicide”; a dobradinha do primeiro álbum formada por “The Ultra-Violence” e “Mistress of Pain”; e a derradeira “Thrown to the Wolves”, esta do álbum “The Art of Dying” (2004), que foi lançado há 20 anos, quebrando o mencionado período de inatividade da banda.

Por se tratar de um festival, obviamente o setlist foi menor do que o que o Death Angel costuma tocar em um show convencional. Assim sendo, muita gente sentiu falta de outros clássicos dos três primeiros álbuns, como “Kill as One”, “Thrashers”, “3rd Floor”, “Bored”, “Stop” e “Veil of Deception”. Ainda assim, que show absurdo o Death Angel fez no Summer Breeze, caro leitor!

AXTY (Waves Stage)

Por Denyze Moreira

A banda paulista de metalcore reuniu um bocado de gente no Waves Stage. Com um som que não perde em nada para as bandas gringas do gênero, o AXTY fez um show digno de Sun Stage (quem sabe em 2025?).

Com um setlist de 12 músicas, sendo três delas do disco mais recente, “Unbreakable”, o grupo honrou o metalcore e elevou os ânimos que pudessem estar um pouco abatidos com o calor. Se você não conhece, corre no Bandcamp que tem tudo lá.

KILLSWITCH ENGAGE (Hot Stage)

Por Daniel Agapito

O começo do Killswitch Engage foi pra enfartar os fãs mesmo. Sem pompas nem circunstâncias, subiram no palco, sem falar nada, tocando “My Curse”. O grito e subsequente cantoria dos fãs foi tão alta que nem deu para perceber que o microfone do Jesse, vocalista, não estava funcionando. Não só os fãs estavam impressionados com a escolha realmente bombástica da banda, mas a banda também estava evidentemente deslumbrada com a reação dos fãs, ainda cantando e já tendo aberto algumas rodas, constantemente trocando olhares e sorrisos.

A felicidade do grupo em estar ali, não só naquele momento, porém no show inteiro era palpável, não só pelos constantes sorrisos da banda, mas também pelo vigor de seus headbangs, pela altura de seus pulos, pela emoção de cada verso cantando por Jesse Leach, cada riff tocado por Joel Stroetzel e Adam Dutkiewicz, cada batida de Justin Foley, com a base forte e constante de Mike D’Antonio no baixo.

Dutkiewicz, por sua vez, já havia quebrado uma corda de sua guitarra, tamanha a emoção. Quando o mesmo anunciou isso ao público, após Leach agradecer a presença de todos, passaram o clássico ‘fueun fueun fueun’ pelos PAs. A banda deixou claro desde o começo – falando com todas as letras – que estavam lá para se divertir e que fariam um show divertindo, aplaudindo bandas como o Anthrax por permiti-los um pouco de diversão no palco.

Já mostrando o clima leve e pouco sério do show, Leach revelou que errar é humano, chamando “Rise Inside” como “This Fire”, rapidamente pegando seu erro e soltando um ‘nom it’s not’, depois de ter gritado ‘this one is called “This Fire”’. Independente desta pequena gafe, os devotos fãs continuam cantando como se não houvesse amanhã, chegando ao volume da própria banda. Um dos momentos mais emocionantes do festival também acabou acontecendo durante essa música, mas não em cima do palco. Um grupo de fãs na parte da frente da pista, área reservada ao lounge, levantou outro fã, cadeirante, para conseguir ver melhor, ato que foi reconhecido pelos integrantes da banda. O clima de verdadeira irmandade não tinha como ser negado.

“This Fire”, agora realmente a música certa, mostrou que a vertiginosas rodas e circle pits, não se limitavam a apenas a ‘pista’ do festival. Independente do pequeno espaço, um grande mosh abriu na já citada área do lounge, que só havia acontecido até então para o show do Exodus. A mesma faixa também foi uma das primeiras instâncias da aparição de aparatos pirotécnicos, sendo usados com abundância nos refrões, ‘this fire burns always’. Com o término da faixa, Jesse pediu para que o público parabenizasse a equipe da banda, que trabalhou incansavelmente até então para proporcionar a performance que os fãs viam naquele momento.

Vale destacar que o repertório dos nativos de Massachusetts contemplou não só músicas de ambas as passagens de Jesse pela banda, como “Rise Inside”, de sua primeira, mas também os clássicos da época em que Howard Jones era vocalista da banda, dentre elas “My Curse”, “Reckoning” e “The Arms of Sorrow”. A última, uma das músicas mais carregadas de emoção que seriam tocadas naquela tarde, foi recebida pelos fãs calorosamente, com eles novamente cantando tudo. Não dava para saber se era para chorar ou bater cabeça. Enquanto cantava “In Due Time”, música já de sua segunda passagem pela banda, Jesse desceu pro pit de fotografia, área entre o palco e o público, se aproximando ainda mais dos fãs, cena que acabaria se repetindo durante a noite.

Para “A Bid Farewell”, Jesse pediu para que as rodas aumentassem, para que ficassem mais rápidas. Dito e feito, um gigante ciclone humano podia ser observado em frente ao Hot Stage. Prefaciando “The Signal Fire”, música que em estúdio reuniu tanto Leach quanto Howard Jones, vocalista do auge da banda, o vocalista atual saudou os fãs com uma cerveja, sendo recebido por gritos e um mar de copos levantados ao ar. Naquela hora, ninguém estava mais ‘broken, hopeless’ estavam todos unidos para prestigiar esse titã do metalcore. Infelizmente, os fãs perderam a grande oportunidade de acender os sinalizadores que foram acesos posteriormente no show do Anthrax, dado o nome da faixa. Mesmo assim, continuaram demasiadamente envolvidos, ainda nas rodas como se não houvesse amanhã.

É necessário ressaltar que Jesse Leach não só realmente cabe perfeitamente na banda, mas também conta com apoio incondicional dos fãs. O repertório escolhido para aquela noite demonstra isso perfeitamente, com nove músicas sendo de álbuns das duas passagens de Leach pelo Killswitch e nove sendo da passagem de Howard. Ao mesmo tempo que os clássicos de “As Daylight Dies” (2006) e “The End of Heartache” (2004) eram berrados com todos os pulmões de todo público paulistano, músicas de “Disarm the Descent” – lançado em 2002, ainda na primeira passagem de Jesse – e dos novos “Atonement” (2019), “Alive or Just Breathing” (2013) e “Incarnate” (2016) recebiam a mesma atenção.

Boa parte dos fãs ali era realmente devota à banda, em vez de ter vindo apenas para ouvir “My Curse” ou “The End of Heartache”, evidenciado pela cantoria incessante. Com a conclusão de “The Crownless King”, Jesse falou de maneira inspiradora que deveriam mandar os políticos e outras forças maiores ‘tomarem no cu’ e nunca esquecer que o povo tem poder, independente de qualquer propaganda que ‘enfiam na sua goela’, mas sem demonstrar opinião política qualquer.

Dutkiewicz se direcionou ao público recém-motivado e disse que o circle pit em frente ao Hot Stage, palco onde a banda tocava estava Ok, usando de seu melhor português para soltar um ‘mais ou menos’, já o público que estava em frente ao Ice Stage, à espera do Anthrax estava parado. Tiro dado, bugio deitado, Adam nem precisou fazer os chugs do começo da pesada “Rose of Sharyn” para que um murmurinho de mosh fosse iniciado em frente ao Ice e que todas as outras rodas aumentassem significativamente, inclusive a da área da frente do palco, que não havia parado até agora.

Seguiram em frente com “Strength of the Mind” e “This is Absolution”, com a última contendo a terceira descida de Leach ao pit, que àquela altura era praticamente abraçado pelos fãs, caindo em cima dele. “The End of Heartache foi lindo”. Lindo. Desde os primeiros acordes, todo mundo cantando junto, batendo cabeça. Naquela hora os fãs não sabiam se batiam cabeça, choravam, gravavam a música.

Não precisava gostar da banda pra entender quão emocionante foi. Estar ali no meio, ouvindo uma das músicas mais carregadas de emoção de uma das bandas que foi considerada um titã de seu estilo exatamente por sua mescla de peso, emoção e melodias, foi uma sensação muito complicada de transmitir em texto. É incrivelmente clichê dizer isso, certamente, mas você tinha que estar lá para ver. Já impressionado pela cantoria do público, o vocalista deixou os fãs assumirem o refrão do final, mostrando mais uma vez o apreço recíproco da banda e quem estava lá assistindo. Agradeceram muito a presença e envolvimento de todos, falando que amam essa ‘família metal’.

A banda seguiu com a introdução acústica de “My Last Serenade”, já Leach nem tentou cantar, deixou direto pros fãs mesmo. Foi mais uma em que o público não sabia se chorava ou batia cabeça. A noite já caía sob o Memorial da América Latina, mas a energia do show não, muito pelo contrário. Leach continuava correndo pelo palco, os guitarristas seguiam pulando e tocando seus riffs com uma consistência impressionante, Foley continuava batendo na bateria como se ela o deva-se dinheiro, os fãs continuavam agitando.

A emocionante ‘última serenata’ não foi a música que fechou a noite, com o quinteto deixando os fãs com uma versão caracteristicamente metalcore da clássica “Holy Diver”, do Dio, que faz parte do repertório da banda há alguns anos. Se os fãs do metal mais tradicional não tinham cantado até agora, neste momento não conseguiram se segurar e cantaram juntos. Naquela hora não havia barreiras de subgênero, era apenas o metal unido para homenagear um dos maiores nomes da história. Enquanto o grupo se despedia, a clássica “Careless Whisper” de George Michael tocava pelos PAs, reforçando o clima leve e descontraído da performance.

Ao todo, a experiência ao vivo do Killswitch Engage foi emocionantemente brutal. Não só fizeram um show nostálgico, tocando boa parte de seus hits dos anos 2000, mas também mostraram que ainda têm muita gasolina no tanque, dada a boa recepção das músicas mais novas. Apresentaram seus clássicos a uma geração nova de headbangers e também proporcionaram um show com uma energia única, que certamente não será esquecido tão rápido pelo público paulistano que estava lá para presenciá-lo.

Setlist: My Curse, Rise Inside, This Fire, Reckoning, The Arms of Sorrow, In Due Time, A Bid Farewell, Beyond the Flames, The Signal Fire, Unleashed, Hate By Design, Rose of Sharyn, Strength of the Mind, This is Absolution, The End of Heartache, My Last Serenade e Holy Diver.

KRYOUR (Waves Stage)

Por Denyze Moreira

Outra banda que se apresentou no Waves Stage mostrando músicas novas e outras já conhecidas. Com um público um pouco mais tímido, visto que se aproximava o horário do Anthrax, o Kryour não economizou no death metal melódico num set caprichado. O novo single do grupo, “Timeless”, já está nas principais plataformas de streaming de áudio, e vale a pena demais você, que assistiu ou não ao show, conferir!

ANTHRAX (Ice Stage)

Por Denyze Moreira

Show do Anthrax é como um chamamento para qualquer um que diz gostar de heavy metal. A coisa toda é muito simples: thrash metal para descarrego. A ideia é pular tanto quanto Scott Ian e seguir as instruções dadas por Joey Belladona. Quem viu o show deles no Rock in Rio, em 2019, já sabia o que esperar. Apresentação de festival é um catado de melhores momentos da carreira, é show para agradar quem é fã e quem está conhecendo agora, então os puristas talvez tenham reclamado um pouco, mas quem estava ali para curtir um bom show de thrash abriu roda e saiu de alma lavada.

Tocando com céu já escuro, o Anthrax ganhou a vantagem de não ter um forno industrial ligado em suas caras, e o palco também foi favorecido com o backdrop de led, além de podermos enxergar melhor não só a banda no palco, como também os telões. E quem não acompanha as redes do quinteto pode ter achado estranho não ver Frank Bello no palco, que não veio para a turnê n América Latina devido a problemas pessoais.

No baixo estava um dos fundadores do grupo, Dan Lilker (que também tocou no S.O.D., Nuclear Assault e Brutal Truth), então quem estava presente no show também teve a chance de ver o cara que começou tudo com Scott Ian e que tocou em “Fistful of Metal”, primeiro disco do Anthrax. Assim, ouvir “Metal Thrashing Mad” com o baixista original foi um presente!

Como escrevi antes, show de festival é show de melhores momentos, então, no caso aqui, teve “Among the Living”, “Caught in a Mosh”, “Madhouse”, “Antisocial”, “Got the time”… E isso é a catequese do metaleiro. Era o início da grande missa campal que se seguiria com Mercyful Fate.

Andreas Kisser subiu ao palco para tocar “I Am the Law” com a banda, para, acredite, protesto de algumas pessoas na plateia. E Cacique Belladona jamais deixaria “Indians” fora de um set, de forma que esta foi o bis antes do encerramento do show. Um set limpo, curto, educativo e objetivo. É sempre bom contar com o Anthrax.

Setlist: Among the Living, Caught in a Mosh, Madhouse, Metal Thrashing Mad, Efilnikufesin (N.F.L.), Keep it in the Family, Antisocial, I Am the Law, In the End, Medusa, Got the Time, A.I.R. e Indians.

AMORPHIS (Sun Stage)

Por Marcelo Gomes

Para quem desejava apreciar um show um pouco mais tranquilo, uma ótima opção foi o Amorphis, que veio apresentar sua turnê Halo Latin America 2024. Com uma base cativa de fãs, os finlandeses trouxeram músicas do seu mais recente trabalho, “Halo” (2022), e já começaram com uma nova, “Northwards”. A faixa mantém a essência da banda com vários climas e muito peso. Contrastando com a anterior, “Sky is Mine”, mostrou a versatilidade do vocalista Tomi Joutsen, que utilizou apenas vocais limpos durante as belas melodias.

Intercalando com mais uma nova, “The Moon”, foi uma das mais esperadas desse novo trabalho. Mais cadenciada, esta tem os dois extremos da voz de Joutsen, sempre se casando de forma perfeita a música. A escolha do horário da apresentação no início da noite foi acertada, porque a banda tem um clima mais soturno, elementos progressivos que pareceriam estranhos naquele sol de rachar que fez à tarde.

A viagem pelo material da banda continuou com “Castaway”, “Silver Bride” e “The Wolf”. Depois de cinco anos sem pisar no Brasil, a banda escolheu um setlist que agradou em cheio aos fãs. Todos cantavam e pareciam felizes com a escolha. Na sequência, os teclados deram início a “Black Winter Day”, e na sequência veio “The Kantele”, que tem um clima mais balada, apesar dos guturais iniciais.

Muito aplaudidos, eles entraram na etapa final do show com “House of Sleep” e “The Bee”, esta última do álbum “Queen of Time” (2018), que já é considerada um clássico entre os fãs. O show do Amorphis proporciona diversas sensações ao longo de sua apresentação. É uma banda que além do peso, privilegia melodias bonitas despertando em ouvintes de bom gosto, o desejo por mais.

THE TROOPS OF DOOM (Waves Stage)

Por Antonio Carlos Monteiro

Nova banda de Jairo “Tormentor” Guedz, guitarrista que fez fama ao participar dos primeiros discos do Sepultura, o The Troops of Doom encarou uma missão dificílima em sua apresentação no Summer Breeze Brasil. Afinal, no mesmo horário o Hot Stage recebia nada menos que a principal atração do festival, o Mercyful Fate. Mesmo assim, um público considerável deixou King Diamond de lado por um tempo para ver o que Jairo, Alex Kafer (vocal e baixo), Marcelo Vasco (guitarra) e Alexandre Oliveira (bateria) tinham a mostrar. E não era pouco!

Após uma improvável intro com uma versão mecânica de “God of Thunder” (KISS) tocada na íntegra, o quarteto começou antecipando seu próximo disco com a música “Chapels of the Unholy”, que vai estar em “A Mass to the Grotesque”, que sai dia 31 de maio. O restante do repertório foi dividido entre material dos trabalhos anteriores e músicas do Sepultura da época em que Jairo fez parte da banda, como “Bestial Devastation”, “Antichrist”, “Morbid Visions” e, claro, “Troops of Doom”, que fechou os trabalhos.

Em cena o grupo se mostrou consistente e entrosadíssimo, com destaque para as guitarras de Jairo e de Marcelo Vasco, que também é artista plástico consagrado e assina a coluna Front Cover na ROADIE CREW. Já Alex faz aquele frontman incitador de multidões: ‘Só eu tenho que fazer barulho aqui, porra? Vamos gritar, car***o!’, bradou ele mais de uma vez ao microfone, sendo prontamente atendido em todas. Alex ainda instigou a galera a ovacionar Jairo, o que gerou um barulho considerável por parte da plateia.

Dentre o repertório muito bem escolhido, chamou a atenção a música “A Queda”, única com letra em português e que foi precedida por sonoros xingamentos aos pastores, já que é disso que ela fala. O Troops of Doom deu o recado em pouco mais de uma hora, botou a galera pra suar e ainda deu tempo de ver boa parte do show do Mercyful Fate. Melhor impossível!

Setlist: Intro – Solve et Coagula, Chapels of the Unholy, The Devil’sTail, Bestial Devastation, Far from Your God, The Monarch, The Rise of Heresy, Antichrist, Between the Devil and the Deep Blue Sea, A Queda, Morbid Visions, Altar of Delusion e Troops of Doom.

MERCYFUL FATE (Hot Stage)

Por Daniel Dutra

🎶 ‘Tonight the circle is meeting again’ 🎶, porque a noite de domingo foi de reencontro com o círculo do Rei, e um reencontro em grande estilo. Dá para apostar sem medo que o Mercyful Fate era a atração mais esperada de todo Summer Breeze Brasil 2024, e não somente porque havia 25 anos que a banda não se apresentava no Brasil. Também porque King Diamond e cia. – Hank Sherman e Mike Wead (guitarras), Becky Baldwin (baixo) e Bjarne T. Holm (bateria) – se apresentariam com um cenário único na história do próprio grupo, e que no fim levou os fãs, ou melhor, seus fiéis devotos a uma missa negra com uma trilha sonora simplesmente impecável.

Afinal, que palco maravilhoso! E que setlist de arrancar lágrimas! Claro, o repertório foi basicamente em cima do homônimo EP de estreia, também conhecido como “Nuns Have No Fun” (1982), e os dois primeiros álbuns, os clássicos e obrigatórios “Melissa” (1983) e “Don’t Break the Oath” (1984), e não fugiu do que a banda vinha apresentando desde o arrebatador retorno aos palcos, em 2020. Inclua aí a nova “The Jackal of Salzburg”, e foi um deleite ouvi-la ao vivo no lugar do áudio de vídeos gravados com celular e postados no YouTube.

Até porque o som do Hot Stage estava impecável, o que ajudou a abrilhantar uma impecável apresentação visual. A presença hipnotizante de King Diamond ganhou contornos épicos já no início, com uma entrada climática no palco, e um chapéu com enormes chifres que completavam a maquiagem mais sombria usada por Sua Majestade Kim Bendix Petersen no Mercyful Fate. E o começo do show, com “The Oath” e “A Corpse Without Soul”, foi de arrepiar tanto quem já havia visto a banda, mas nunca como agora, quanto quem estava presenciando a celebração pela primeira vez.

A já citada “The Jackal of Salzburg” veio a seguir para deixar a plateia com ar contemplativo, e foi um bom momento para observar os detalhes do palco muito bem usado por Diamond, que ocupou teatralmente todos os seus espaços durante a apresentação, e também por Becky, a talentosíssima baixista cuja presença de palco é um show à parte. Sem se prender somente ao seu espaço natural, onde agitava sem parar, ela ia de um lado ao outro do palco, sempre interagindo com Wead e Shermann, e não se furtou de usar a escadaria para se colocar em posição de destaque.

E vale destacar a precisão de Wead e Shermann, perfeitamente entrosados – Wead, que também toca na banda King Diamond, ocupa com louvor o posto que um dia foi de Michael Denner –, e de Holm, o cara certo no lugar que foi do excelente Kim Ruzz, afinal, sua ligação com o Mercyful Fate data do início da banda. Enfim, como é a música que deve falar mais alto, o que se seguiu depois da épica ‘nova’ faixa foi para fazer todo mundo ajoelhar e levar aos mãos ao inferno, porque a sequência de clássicos/pérolas foi de converter qualquer um ao reinado da enorme cruz invertida que ornava o palco.

“Curse of the Pharaohs” fez os fãs cantarem como se estivessem dizendo ‘amém!’, ou melhor, ‘hail, satan!’; “A Dangerous Meeting” (lembra?) ratificou o culto messiânico do qual fazíamos parte; “Doomed By the Living Dead” nos transportou aos primórdios da missa negra comandada por Diamond; e “Melissa”… Meu amigo, essa aí foi para levar às lágrimas e emocionar até mesmo o capiroto! Que coisa linda, sublime mesmo testemunhar essa joia numa execução irretocável deste Merycful Fate – e diga-se: a voz de Diamond estava, durante toda a apresentação, tão redonda que chegou até mesmo a despertar o uso de ‘backing tracks’, mas isso faria dele o Rei também da sincronia vocal. Fica o registro.

“Black Funeral” e a antológica “Evil” voltaram a incendiar com peso o Memorial da América Latina, que vai registrar em seus anais o que veio a seguir: “Come to the Sabbath” foi para fazer Pazuzu, Belzebu, Mefisto, Fausto, Baphomet, Azázel e qualquer outro demônio fazerem fila para cumprimentar Shermann, Wead, Baldwin e Holme para, depois, pedir a bênção ao Rei Diamante. Quem não cantou e se emocionou (suar pelos olhos foi bônus) estava morto e não sabia.

O show poderia ter terminado aí que sairíamos todos possuídos pelo que o heavy metal tem de melhor, mas a apresentação foi uma das poucas do festival que contou até mesmo o com o protocolar bis. E “Satan’s Fall” foi outra maravilhosa intervenção divina (ops!) em forma de música, fechando aquele que foi, sim, o grande show do Summer Breeze Brasil 2024 – eu diria até que hors-concours, por ser obviamente incomparável e porque no dia anterior rolou a festa comandada pelo The Night Flight Orchestra. E a imagem de Diamond indo embora, lentamente, por uma das entradas/saídas do belíssimo cenário de palco era acompanhada por um único pensamento: ‘Pelo amor de satanás, volte logo’.

Setlist: The Oath, A Corpse Without Soul, The Jackal of Salzburg, Curse of the Pharaohs, A Dangerous Meeting, Doomed By the Living Dead, Melissa, Black Funeral, Evil, Come to the Sabbath e Satan’s Fall.

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