Não deixa de ser estranho ouvir que o Lamb of God é um dos grandes nomes da nova geração do heavy metal, uma vez que a banda completará 30 anos em 2024. No entanto, apesar de esse clichê ser eventualmente usado lá e acolá, a verdade é que um dos principais nomes – e talvez o principal – da New Wave of American Heavy Metal se tornou uma grande força também no Brasil, e não seria nada demais ver a banda fechando um dos palcos principais do festival.
Se alguém duvida, basta dizer que os empolgados de última hora correram para o stand de merchandising e deram com os burros n’água. As camisas do quinteto esgotaram não muito depois do fim do show, com o detalhe de que no dia seguinte ainda havia material de todas as outras bandas disponível para venda. Pudera, Randy Blythe (vocal), Mark Morton e Phil Demmel (guitarras), John Campbell (baixo) e Art Cruz (bateria) passaram como um rolo-compressor pelo ótimo público que aguardava no Hot Stage, o palco principal à direita.
Rolo-compressor e, também, um verdadeiro bate-estacas, uma vez que o som alto fazia com que cada batida do bumbo fosse uma estaca fincada no peito – entenda: o som estava realmente alto. E se você conhece a música do Lamb of God, sabe bem com os dois bumbos são (muito) utilizados… Antes, porém, o ‘wake up’ de “Memento Mori”, clássico instantâneo do grupo, acendeu o pavio de um show que só não explodiu a cada música porque nem todo material mais recente estava na ponta da língua dos fãs.
Do homônimo álbum lançado em 2020, “Memento Mori” ficou com todos os holofotes, enquanto “Resurrection Man” serviu mesmo para manter as rodas em dia – rodas que alguns descerebrados acham que servem para sair distribuindo socos, como fez um rapazinho com a camisa do “Master of Puppets”, do Metallica, que botou o galho dentro depois de levar dois safanões muito bem dados.
De “Omens” (2022), o trabalho mais genérico do quinteto, muito em parte pela falta que faz a criatividade de Chris Adler, a faixa-título até causou alguma reação sonora durante o refrão, mas “Ditch” foi apenas mais uma num repertório que, no geral, se mostrou brilhante nos grandes clássicos e em algumas agradáveis surpresas, como “Ruin”, de “As the Palaces Burns” (2003), e “Contractor”, de “Wrath” (2009).
Só que o melhor mesmo era ver que pouco importava qual música estivesse sendo apresentada para Blythe mostrar por que é um dos melhores frontmen do metal, e já há bastante tempo, enquanto o restante da banda assume com bom gosto o papel de coadjuvante para o vocalista – menção honrosa para Demmel (Vio-Lence), que tem substituído Willie Adler em shows fora dos EUA. Acostumado a quebrar o galho em bandas como Slayer e Overkill, o guitarrista engoliu o titular do posto, que não sai do país de origem porque, dizem as más línguas, não se vacinou contra a Covid.
E a julgar pela reciprocidade entre banda e público, não fez falta alguma, principalmente em músicas que estão no rol do melhor do metal contemporâneo. “Walk With Me in Hell” foi recebida com tanto êxtase quanto “Now You’ve Got Something to Die for”, sem contar um desfecho absolutamente arrasador, que incluiu até mesmo uma homenagem ao Sepultura, “banda que todos nós já ouvíamos antes mesmo de sermos o Lamb of God”.
Cruz, que usava uma camisa da maior entidade do metal brasileiro, ainda puxou “Refuse/Resist”, mas foram “512”, “Laid to Rest” e, especialmente, a espetacular “Redneck” que efetivamente enlouqueceram de vez a massa que estava lá principalmente ou também pelo Lamb of God. E o trecho da letra que diz ‘This is a motherfuckin’ invitation, the only one you could ever need’ mais uma vez fez todo sentido. Que show!
Setlist
1. Memento Mori
2. Ruin
3. Walk With Me in Hell
4. Resurrection Man
5. Ditch
6. Now You’ve Got Something to Die for
7. Contractor
8. Omerta
9. Omens
10. 512
11. Laid to Rest
12. Redneck