Cobertura por Jayme Alexandre de Lima
O “Sweden Rock Festival”, que está entre os maiores e mais importantes eventos de Rock de todo o mundo, completou 25 edições em 2016. A maratona musical ocorreu entre os dias 8 e 11 de junho, em Solvesbörg, cidade litorânea ao sul da Suécia. Infraestrutura, organização, segurança, comodidade, o ambiente super amigável e excelentes lojas de CDs continuam compondo a “experiência SRF”. Mas o que mais diferencia o ‘Sweden’ de todos os outros festivais é a diversidade de bandas. O cast sempre é recheado de excelentes nomes das principais vertentes da nossa amada música… Classic Rock, Hard, Heavy, Prog, Black, Death, Blues, Thrash, Southern… Todos estilos sempre muito bem representados. Além disso, os organizadores fazem questão de viabilizar sets com uma duração decente para todas as bandas. Imagino o quanto deve ser frustrante músicos se prepararem por meses para um show de meia hora, ou até menos, como acontece com frequência em outros festivais. Sem contar os fãs que com um set tão curto dificilmente saem plenamente satisfeitos.
O segundo maior dos 5 palcos, tradicionalmente chamado de “Rock Stage”, este ano foi rebatizado como “Lemmy Stage”, em mais uma justa homenagem a um dos maiores ícones do Rock’n’Roll. Havia uma grande expectativa quanto ao line-up deste ano, já que 25 anos é um marco importante na história de qualquer festival. No entanto, para muitos, o cast, apesar de contar com grandes nomes, não foi tão forte como em anos anteriores. Alguns dos principais anúncios foram King Diamond, tocando o clássico “Abigail” na íntegra; Michael Schenker, em um show mais do que especial contando com Gary Barden, Graham Bonnet e Robin McAuley, três grandes vocalistas que gravaram álbuns irretocáveis com o ‘guitar hero’ alemão; Dirkschneider, banda do mestre Udo fazendo um set apenas com clássicos e lados B do Accept; e a reunião do Hellacopters, comemorando 20 anos do lançamento do debut “Supershitty to The Max”. Além destes, grandes nomes como Slayer, Anthrax, Megadeth (três dos ‘Big Four’), Queen + Adam Lambert e Twisted Sister em sua tour de despedida.
DIA 1 (08 junho):
O primeiro dia de festival sempre realizado como um aquecimento, sendo que os dois palcos principais ficam fechados. A manhã começou nublada, mas logo abriu aquele “sol da Bahia”. A brincadeira começou com os novatos suecos do SAFFIRE, fazendo um Hard Rock pesado, com pitadas de Power Metal. Destaque para o excelente vocalista Tobias Jansson, que lembra muito o saudoso mestre Dio. Por falar nisso, é nítida a influência de Black Sabbath, com riffs que remetem diretamente à áurea (e também polêmica) fase com Tony Martin. Bela largada!
Na sequência um show bastante aguardado, MIKE TRAMP, líder de um dos grandes grupos de Hard Rock nos anos 80, o saudoso White Lion. A expectativa era que os grandes clássicos fossem executados, o que de fato aconteceu, mas infelizmente em versões bem diferentes e mornas… A banda, formada por uma garotada de no máximo vinte e poucos anos, abriu com a maravilhosa “Little Fighter”, do irretocável “Big Game” de 1989. O andamento bem mais lento, com uma sonoridade bem seca, sem teclados, sem peso, sem energia, tudo isso somado ao baixo volume deixou uma pulga atrás da orelha… “Será que vai ser o show inteiro nessa (falta de) pegada!?”. Infelizmente sim… Nem o hino “Hungry” que veio na sequência fez com que a coisa melhorasse. Para piorar, o set foi bem mal escolhido, sendo recheado pelas insossas canções da carreira solo do cantor, que ainda insiste em seus discursos exageradamente magoados com a indústria fonográfica que destruiu a música dos anos 80 e bla, bla, bla… Eis a primeira grande decepção desta edição.
Mas, nada como um belo show para reanimar. De lá corremos para ver a nova sensação do Hard Rock: ECLIPSE. A introdução veio com grandes clássicos de nomes como KISS (“Crazy, Crazy Nights”!!!), Judas Priest e Motörhead executados no som mecânico, quando o quarteto entrou com o pé na porta com a enérgica “I Don’t Wanna Say I’m Sorry”. Se um dos problemas do show anterior era a falta de pegada, aqui tivemos de sobra. A guitarra estava bem mais alta que todo o restante nessa música e o excelente vocalista e compositor Erik Mårtensson também deu umas escorregadas no início, mas absolutamente nada que comprometesse.
Já emendaram com a ótima “Stand On Your Feet”, também do último álbum, o aclamado “Armageddonize”. E os caras continuaram pisando fundo no acelerador com “Wake Me Up” para depois tocarem mais uma do novo álbum, a bela e energética “The Storm” – que refrão! Realmente impossível ficar parado vendo aquilo… A pegada celta, à la Gary Moore da época de “Wild Frontier”, veio forte em “Battlegrounds”. E assim o show seguiu, com grandes músicas, muita energia, público dançando e cantando sem parar! Destaque para “Ain’t Dead Yet”, em uma execução com muito mais peso que a versão de estúdio, e a melódica “Bleed And Scream” que fez todo mundo pular.
Erik Mårtensson é muito bom de palco e bota fogo em tudo! Mais para o fim da apresentação, ele disse que esteve por muitos anos ali mesmo assistindo suas bandas preferidas, e que estar no palco era realmente muito bom. Essa foi a deixa para a saideira “Breaking My Heart Again”. Nela, o vocalista foi pra galera, abraçou e cantou junto com os fãs! No final, colocaram “Battlegrounds” no som mecânico enquanto a banda agradecia o público. Grande show!
Em seguida, fomos conferir mais um dentre as centenas de filhos bastardos do AC/DC, BONAFIDE. O guitarrista e vocalista Ponts Snibb soa como uma reencarnação de Bon Scott. Destaques para a participação especial do líder malucão do Mustach, Ralf Gyllenhammar, que cantou o cover de Björn Skifs, “Michelangelo”, e para a excelente “Fill Your Head With Rock”, música composta em 2011 em homenagem ao SRF.
De lá fomos para o palco coberto (Rockklassiker) conferir a lenda do NWOBHM DIAMOND HEAD, que está completando 40 anos de carreira! A banda, que ganhou maior notoriedade graças ao sucesso da versão que o Metallica fez para seu hit “Am I Evil?”, mostrou que tem muito, mas muito mais a oferecer. Os caras estavam visivelmente felizes por estarem ali. O vocalista dinamarquês Rasmus Anderson tem um timbre idêntico ao cantor original, Sean Harris, e definitivamente trouxe um gás adicional à banda liderada pelo guitarrista e único membro da formação original, Brian Tatler.
Clássicos como “It’s Electric” e “Lightining to the Nations” trouxeram uma enorme nostalgia no ar. O local estava completamente lotado, com fãs cantando a plenos pulmões. “In The Heat Of The Night”, que abre o ótimo “Borrowed Time” (1982), foi emocionante, com a linha de baixo marcando forte com aquela pegada 80’s. Os grandes hits da banda encaixaram perfeitamente com algumas novas como “Diamonds” e “Shout At The Devil”. Aliás, essa última é uma verdadeira viagem aos tempos áureos do Metal, chegando a lembrar o lendário Riot da fase com Guy Esperanza. O final, como não poderia ser diferente, veio com o hino “Am I Evil?”, que arrepiou os fãs que frequentaram os famosos “bailes de Rock”, repletos de coreografias, coletes jeans surrados, cobertos de patches e muito air guitar. Tomara que, mesmo que tardiamente, a banda receba o devido reconhecimento no meio Heavy Metal.
Mais tarde fomos assistir a mais um show bastante esperado: GRAHAM BONNET BAND. O vocalista que conta com um currículo invejável, tendo gravado álbuns que são clássicos eternos como “No Parole For Rock’n’Roll” (Alcatrazz), “Down To Earth” (Rainbow), “Assault Attack” (MSG) e “Stand In Line” (Impellitteri), está em tour com sua nova banda e conta com ninguém menos que o monstro Mark Zonder na batera, consagrado pela sua carreira no Fates Warning. O “crooner” continua que com seu estilão galã dos anos 50 à la James Dean ostentando um pomposo topete, e logo na abertura com “Eyes Of The World já deu para perceber que Mr. Bonnet ainda está cantando muito, com seu timbre poderoso e performance cheia de energia em plenos 69 anos de idade.
Após um pequeno problema técnico para soltar a intro pré-gravada da segunda música, eis que o mega hit do Rainbow “All Night Long” arranca um largo sorriso de boa parte dos presentes na noite fria sueca. A sequência com a feliz “SOS” do álbum “Line-Up” de 1981 foi uma grata surpresa. Destaque para Mark Zonder, que mesmo respeitando o feijão com arroz das linhas originais das canções, demonstrou um estilo único, uma pegada incrível com peso e fantásticas sutilezas aqui e ali que fizeram toda a diferença na dinâmica das músicas. A matadora “Stand In Line” veio numa excelente versão, em que o guitarrista Conrad Pesinato deu um show à parte. Aliás, difícil o trabalho do cara… executar faixas compostas por gênios como Yngwie Malmsteen, Richie Blackmore, Chris Impellitteri e Steve Vai não é para qualquer um.
Na belíssima “Jet to Jet” Graham Bonnet não arregou nem nas partes mais altas. Ele se esticava todo, ficava vermelho, mas chegava lá. Fantástico! A fase com Steve Vai do Alcatrazz foi representada por “Night Games” e na sequência uma das mais belas (se não for A mais bela) balada da carreira do britânico fez alguns olhos lacrimejarem… “Suffer Me”. Como no último dia do festival ele cantaria com Michael Schenker, achei que as músicas do MSG estariam fora do set, mas felizmente não foi o que aconteceu. Mandaram “Dancer” e “Desert Song”, música cujo riff foi no mínimo uma fortíssima inspiração para os caras do Spiritual Beggars comporem a ótima “Concrete Horizon” (se não acredita, escute as duas agora). E assim seguiu o show, com pérola seguida de pérola… “Island In The Sun”, “Since You’ve Been Gone”, “Assault Attack”. E com um Graham Bonnet extremamente sorridente e brincalhão (especialmente com a bela e competente baixista Beth-Ami Heavenstone), executam a acelerada saideira “Lost In Hollywood”. Um concerto que se tivesse toda semana aqui, eu não perderia um!
O fechamento da primeira noite ficou por conta dos alemães do BLIND GUARDIAN, mandando sonos como “The Script for My Requiem”, “Nightfall”, “Bright Eyes”, “Imaginations from the Other Side”, “Valhalla”, “Into the Storm”, “The Bard’s Song – In the Forest” e fechando com “Mirror Mirror”. Àquela altura demos uma chegada no trailer da pizza para aguardar o segundo dia.
DIA 2 (09 junho):
O segundo dia amanheceu ensolarado e tivemos o Shock-Rock do LORDI no café da manhã, inaugurando o Lemmy Stage em 2016. Era a primeira vez que o “Sweden Rock” recebia os monstros filandeses, que contaram com um bom público, especialmente considerando o horário do show (meio dia). A entrada foi com “Nailed By The Hammer of Frankestein” e seguiu com todos os hits que os fãs esperavam. Motosserra, pedestal em forma de machado, cabeças decapitadas e outros apetrechos completam a produção para o Hard Rock moderno e vigoroso do Lordi. Destaques para “My Heaven Is Your Hell”, “Sincerely With Love”, com o divertido corinho de “f*ck you *sshole!” e, claro, “Hard Rock Hallelujah”.
Então, uma escapada para conferir um pouco do Southern Rock dos veteranos THE KENTUCKY HEADHUNTERS. Apesar de a banda estar na ativa há mais de 20 anos e ter lançado 8 álbuns, essa foi sua primeira (e até agora única) apresentação na Europa. As músicas são quase um Country mais pesado. Excelentes composições. O visual do baterista, com sua costeleta/barba gigante, chama a atenção e o cara ainda fez um solo bem legal sem baquetas, destruindo seu kit com as mãos.
Fomos assistir o SHINEDOWN, que traz um Hard bem moderno, mas sem exagero em “moderníces”. A banda que estreou em 2003 e alcançou maior sucesso com seu terceiro disco “The Sound Of Madness” de 2008, está com a agenda de shows bem lotada nestes últimos meses. O vocalista Brent Smith se apresentou com uma camiseta com a imagem da lenda do boxe Muhammed Ali, falecido poucos dias antes. O repertório contou com algumas músicas muito boas, como a linda “I’ll Follow”, mas houve passagens frias, com muitas baladas na sequência e baterias pré-gravada (isso realmente não dá!). A execução do hino “Simple Man” do Lynyrd Skynyrd em homenagem aos músicos falecidos em 2016 emocionou. Em resumo, um show bacana, mas espero mesmo que esse “estilo” não seja o futuro do Hard Rock…
E por falar em Hard Rock, a próxima atração era o L.A. GUNS. A banda que conta com dois membros originais, Phil Lewis (vocal) e Steve Riley (bateria), abriu com “No Mercy” primeira faixa do seu disco de estreia autointitulado de 1988. É muito bom assistir bandas americanas de Hard Rock dos anos 80! A maioria ainda tem uma aura, uma presença de palco que, obviamente aliada às músicas que marcaram a época, fazem desses shows uma verdadeira viagem no tempo. E os caras continuaram acelerados com “Showdown” e a fantástica “Sex Action”, trilha sonora perfeita para uma boa confusão Rock’n’Roll. “I Wanna Be Your Man”, botou fogo na galera e “Over The Edge” e “Wheels Of Fire” surpreenderam os fãs. Phil anunciou “Gypsy Soul”, mas na verdade era para tocarem “Hellraisers Ball”. Bagunça arrumada, seguiram em frente sem maiores problemas. O guitarrista Michael Grant pegou o celular umas três vezes durante intervalos entre as músicas para filmar o público. A banda tem feito muitos shows nos EUA para plateias significativamente menores.
Após um rápido solo de batera, uma surpresa. Para homenagear alguns dos grandes nomes da música que se foram recentemente, a banda executou uma inspiradíssima versão da clássica balada “Purple Rain”, eternizada na voz de Prince. Foi um momento daqueles de filme, em que tudo parece que fica em câmera lenta, com aquele belíssimo sol de fim de tarde da Suécia completando a cena que inspirou alguns casais presentes a protagonizarem beijos cinematográficos. Voltaram com tudo com “One More Reason” e “Eletric Gypsy”, e a despedida ficou por conta da bela “The Ballad Of Jayne” e “Rip and Tear”. Grande show! Uma pena que a apresentação que fariam no Brasil foi cancelada.
E fomos direto do Hard Rock oitentista para o Thrash Metal sangrento do SLAYER. Essa variedade de estilos é uma das marcas do “Sweden Rock”… De longe do palco Festival já dava para ver o imenso backdrop com a capa em preto e branco do novo disco, o excelente “Repentless”. E os reis da violência entraram arregaçando tudo com a porrada “Repentless”, que ficou ainda mais pesada ao vivo. Foi impossível alguns fãs conterem o ímpeto de partir pro ‘mosh pit’ e algo inédito em pelo menos 10 anos de “Sweden Rock” foi visto… Abriu-se uma verdadeira “roda” digna de um show desse calibre. Como a terra estava bem seca, logo se formou uma imensa nuvem de poeira que completou o cenário de batalha campal com a trilha sonora perfeita. E os caras seguiram intercalando clássicos absolutos como “Die By The Sword” e “Black Magic” do histórico debut “Show No Mercy”, com algumas mais novas como o chute no dente “Hate Worldwide” e “You Against You”. A banda não parou para as tradicionais interações com o público e foi pancada seguida de pancada! E tenho que destacar o quanto Gary Holt (guitarra, Exodus) encaixou perfeitamente no grupo. Que pegada, que vontade! A trinca final foi matadora, com “Raining Blood” (com direito a um inédito “wall of death”!!!), “South of Heaven” e “Angel of Death”. Terminada a aula de Thrash, alguns tiveram que ir cuidar dos dentes moles e escoriações sofridas de bom grado no mosh pit…
Na sequência, outro Big 4 entraria em ação: MEGADETH. A expectativa era grande por conta de ser a tour do excepcional álbum “Dystopia” e por trazer o brasileiro Kiko Loureiro pareando Mustaine nas guitarras. Os caras montaram um set list que matador, abrindo os trabalhos com a fantástica “Hangar 18, “Wake Up Death” e “In My Darkest Hour”! Jogo ganho a partir daí…
Na sequência a primeira nova, “The Threat Is Real”. É muito bom ver um show de uma banda consagrada como o Megadeth, com tantos clássicos como os caras têm, e ficar feliz por tocarem músicas novas. Prova que a banda está se renovando e que tem muita lenha para queimar e alguns novos clássicos para lançar. Kiko pareceu bem à vontade na nova função e mandou muito bem, especialmente nas músicas do “Dystopia”. Orgulho nacional!
Como tem sido nas últimas turnês, a banda trouxe uma bela produção de palco e o batera recém-contratado, Dirk Verbeuren, mandou muitíssimo bem e contribuiu com a renovação do vigor da banda ao vivo. E não faltaram hits como “A Tout Le Monde”, “Trust” e “She Wolf” e em um dado momento, Mr. Mustaine ficou puto com a passagem de som do Queen no Festival Stage, mandando um recado nada polido aos roadies… A saideira ficou por conta das obrigatórias “Symphony of Destruction” (lá eles não fazem o coro acompanhando o riff principal com “Me-ga-deth! Me-ga-deth!”), “Peace Sells” (com a entrada da mascote Vic Rattlehead) e a obra-prima “Holy Wars… The Punishment Due”. Belo show!
Em seguida o headliner da noite, QUEEN + Adam Lambert, começou com a excelente “One Vision” que fez os fãs já cansados dançarem como adolescentes repletos de energia. “Love of My Life” foi de arrepiar, com Brian May cantando até a entrada de uma gravação do eterno Freddie Mercury no gigantesco telão, fazendo dueto com seu parceiro de banda… Lindo momento.
O batera Roger Taylor (que está a cara do ator Anthony Hopkins!) assumiu os vocais na feliz “It’s A Kind Of Magic”, enquanto seu talentoso filho, Rufus Tiger Taylor, comandava as baquetas! E foi divertido assistir pai e filho dividindo um solo de bateria momentos depois. Durante “Under Pressure” a banda prestou homenagem ao camaleão David Bowie com um emocionante vídeo. O George Michael mirim, Adam Lambert (que trocou de roupa umas 217 vezes durante o show), é sem dúvida um cantor e frontman talentoso. Não está lá à toa. Tem uma excelente presença de palco, mas falta “punch”… Freddie “retornou” ao telão cantando a eterna “Bohemian Rhapsody” e voltamos à infância com “Radio Ga Ga”. Um belíssimo e divertido show, sem dúvida.
Pelo segundo ano o SRF tem colocado alguns shows após os headliners e, neste dia, após o Queen, fomos testemunhas de algo que marca a vida de qualquer headbanger que se preze: KING DIAMOND tocando o irretocável play “Abigail” na íntegra!
A produção, como sempre estava impecável. O cenário era a mansão na qual se desenrola a história do disco, com escadas, gárgulas e cruzes invertidas. Aliás, foi o mesmo cenário do show de seu retorno aos palcos no Sweden Rock 2012, com exceção das grades à frente que estavam presentes na apresentação de quatro anos atrás. E que diferença faz assistir isso a noite… É outro impacto visual e, sem dúvida, a madrugada é o horário perfeito para um show do Rei Diamante…
A abertura veio com a empolgante “Welcome Home”, seguida dos clássicos “Sleepless Nights” e “Halloween” e a ótima “Eye Of The Witch” com aquela base “pinga-fogo” como dizem os “metaleiros” das antigas! Ah, e ainda fomos presenteados com covers os do Mercyful Fate “Melissa” e “Come To The Sabbath” que fez todo mundo bater cabeça. Ok, plateia devidamente desperta, chegava a hora da execução de um dos álbuns mais importantes do Heavy Metal… A introdução com “Funeral” preparou o clima para o que viria a seguir… Os atores entram com um caixão branco em que está uma boneca representando a bebê Abigail, que é sacrificada pelo rei com uma adaga! Público extasiado para a belíssima “Arrival”. Andy La Rocque é um gênio – que criatividade, que execução, que talento! Assim, todas as canções do álbum foram executadas na mesma ordem. Destaque para a perfeita “Omens” com seu riff cortante, durante a qual King Diamond jogou pétalas vermelhas para o público. Para a bela “The 7th Day Of July 1777”, Andy trouxe um violão com uma belíssima pintura com a capa do disco. Aliás, nesta música fica nítida toda a influência que Andy aportou aos primeiros discos dos suecos do Evergrey, dos quais participou das gravações como engenheiro de som. E assim seguiu o show com a execução de todas as músicas de Abigail… Sem dúvida, foi o melhor concerto deste dia de festival. Inesquecível!
DIA 3 (10 junho):
O terceiro dia do SRF’16 começo com aquela típica (e desconfortável) alternância entre frio e calor que acontece na região nesta época do ano. Era um tal de põe blusa, tira blusa que não tinha fim! Antes de entrarmos na área dos shows deu para ouvir a passagem de som do 220 Volt com “Broken Promisses”. Só isso já fez o cansaço ir embora e as dores no corpo serem esquecidas.
E o pontapé inicial ficou por conta desses veteranos suecos do 220 VOLT que, para esta apresentação, contou com o magnífico Matti Alfonzetti (Jagged Edge, Damned Nation, Alfonzetti, etc). A banda, que iniciou os trabalhos em 1979 e teve seu debut homônimo lançado em 1983, soou pesada e concisa como podemos conferir logo na abertura com “System Overload” do ótimo álbum de 2014 “Walking In The Starlight”. Alfonzetti, apesar de estar lendo a letra, mandou muito bem. A alegria do guitarrista fundador Mats Karlsson era contagiante. “Eye To Eye” foi demais! O set no geral foi muito bem escolhido, com um bom equilíbrio entre as mais novas, com as antigas… Destaque para “Walking In Starlight” que ficou ainda mais bonita ao vivo e o rockão típico da década de 80, “Power Games” em que tocaram pedaços dos hinos “Communication Breakdown” (Led Zeppelin), “War Pigs (Black Sabbath), “Man On The Silver Mountain” e “Long Live Rock’n’Roll” (ambas do Rainbow). Que gás, que categoria…
Na linda balada “Love Is All You Need”, Alfonzetti deu um show à parte… A trinca final veio com a marcada “The Harder They Come” (goláço!), “I`m On Fire” (com direito a chuva fria) e Firefall! Um show espetacular, com um set list impecável! Um café da manhã que só o Sweden Rock Festival é capaz de proporcionar…
Eis que chegava um dos momentos mais esperados do festival. Era hora de conferir os japoneses do LOUDNESS tocando pela primeira vez no “Sweden Rock”. Para ficar tudo perfeito, assim que a banda entrou no palco o sol se abriu. Liderada pelo “George Lynch nipônico”, o virtuoso guitarrista Akira Takasaki, começaram descarregando munição pesada com a obrigatória “Crazy Nights”, “Like Hell” e “Heavy Chains”, as três do idolatrado álbum de 1985 “Thunder In The East”. Que emoção ver a banda pela primeira vez, ainda por cima com sua formação clássica, trazendo além de Akira, o carismático Minoru Nihara nos vocais e o baixista Masayoshi Yamashita. Nas baquetas estava o competente Masayuki Suzuki, que substituiu o membro fundador Munetaka Higuchi, falecido em 2008. As leves falhas na rouca voz de Minoru fizeram as canções soarem ainda mais emocionantes…
A sequência veio com a recente e pesada “The Sun Will Rise Again”, do álbum homônimo de 2014. O único porém é que o repertório poderia ter trazido mais músicas das antigas, como a inspirada e contagiante “This Lonely Heart”. Uma pena mesmo… Mas nada que tenha comprometido a excepcional apresentação dos japas. A habilidade de Akira é um show à parte… O cara improvisa solos incríveis, que encaixam perfeitamente na vibração das músicas, sejam o mais puro Heavy Metal, ou um Hard mais melódico. Um gênio das seis cordas. O encerramento ficou por conta de “S.D.I.”, faixa de abertura do fantástico “Hurricane Eyes” de 1987 (que ano para a música!). Um belíssimo show, sem sombra de dúvida.
O próximo show foi da veterana LITA FORD no Lemmy Stage. A musa, que ainda continua muito sexy prestes a completar 58 anos, entrou no palco brincando com o solo de “Purple Haze” de Jimi Hendrix, engatando “Gotta Let Go”, que mesmo com o som bem baixo empolgou os fãs ali presentes. Na segunda música, a hardona “Larger Than Life” o som melhorou e a esperada “The Bitch Is Back”, escrita por Elton John incendiou a plateia, que cantou a plenos pulmões o refrão sensual de “Hungry”.
O amigo Lemmy Kilmister foi homenageado no início de “Can’t Catch Me”, de sua autoria, e na sequência um desnecessário solo de bateria de Bobby Rock. O ponto alto do show foi a dançante “Cherry Bomb”, cover da banda Runaways da qual Lita fez parte na segunda metade da década de 70 ao lado da icônica Joan Jett. O final com “Close My Eyes Forever”, originalmente um dueto vocal com Ozzy Osbourne, cujas partes foram cantadas pelo guitarrista Patrick Kennison, e a feliz “Kiss Me Deadly” fizeram a alegria da galera que deixou a área do show com um sorriso de satisfação no rosto…
Em seguida fomos ver os ícones do AOR, FOREIGNER, em sua tour comemorativa de 40 anos. O set parecia uma coletânea… Só super hits! “Double Vision”, “Head Games”, “Cold As Ice” e por aí foi… Os caras são muito talentosos. Kelly Hansen canta demais e o eterno baixista do Dokken, Jeff Pilson, é um senhor artista que, além de tocar de forma extremamente precisa e fazer backing vocals incríveis, ainda agita o show inteiro, com uma excelente interação com o público. A chuva fria voltou durante “Juke Box Hero”, mas não desanimou os fãs que se deleitavam com a grandiosa e elegante apresentação da banda. Até Mike Portnoy (que mais tarde tocaria com o Twisted Sister) estava assistindo de boca aberta na lateral do palco. Mick Jones, com seu característico cachecol, estava mais parado, porém não menos genial ao tocar sua Gibson Les Paul.
E o sol repentinamente voltou a brilhar nos rostos dos headbangers durante “I Want To Know What Love Is”. Quantas lindas lembranças essa balada não traz? De quantos momentos especiais nas vidas dos fãs ali presentes essa bela música já não foi trilha sonora? São essas coisas que fazem a experiência de assistir um show ao vivo de uma banda que marcou sua vida algo tão indescritivelmente único. Faz sim valer a pena viajar para um lugar tão distante quanto a Suécia para viver isto! Só quem tem o Rock’n’Roll no sangue entende… O encerramento veio com a animada “Hot Blooded”, com o empolgado Kelly Hansen tirando várias selfies com seu celular. Mais um show inesquecível pra conta.
Vimos o show do THE HELLACOPTERS de longe, já que tínhamos que garantir um lugar na grade do palco do headliner da noite… Era chegada a hora de assistir o que muito provavelmente seria a última apresentação do TWISTED SISTER no “Sweden Rock Festival”, já que a antológica banda anunciou sua turnê de despedida há meses atrás.
O pano de fundo no palco trazia o logo da banda com os dizeres “Forty and Fuck It!”, em alusão aos 40 anos de carreira dos americanos. As luzes se apagaram e começou a tradicional intro “It’s A Long Way To The Top (If You Wanna Rock’n’Roll)” do AC/DC. Quase dava para pegar a excitação e ansiedade dos fãs para que o espetáculo começasse. Eis que ao som de “What You Don’t Know (Sure Can Hurt You)” um dos maiores frontmen da história do Rock entra em cena com sua energia interminável. Mr. Dee Snider já chegou quebrando tudo com seu tradicional pedestal rosa-shock. Ao fim da primeira música, Dee diz que pela última vez, aquilo é Twisted F*ckin’Sister e já emendam a maravilhosa “The Kids Are Back”. A banda é completada por Jay Jay French (guitarra), Eddie Ojeda (guitarra), Mark “The Animal” Mendoza (baixo) e Mike Portnoy (bateria) substituindo o saudoso AJ Pero, falecido em 2015 durante turnê com o Adrenaline Mob.
A intensidade de Snider é algo que ainda impressiona. Não importa quantas vezes você já o tenha visto ao vivo, o gás e a presença desse cara sempre é animal. Após “Burn In Hell”, o vocalista disparou que essa é mesmo a última tour da banda e a última vez que tocariam na Suécia, deixando claro que eles não farão como a “baboseira” da aposentadoria do Judas Priest, ou como a turnê de despedida do Scorpions… O show continuou com uma avalanche de clássicos, como “Destroyer”, “Like a Knife In The Back” e a rebelde “You Can’t Stop Rock’n’Roll”.
Chegou o momento do tradicional discurso de Jay Jay. Dessa vez ele agradeceu todo o sucesso que a banda sempre teve na Suécia, dizendo que a Europa salvou o Twisted Sister. Destacou que muita coisa estranha aconteceu nesses 13 anos desde seu retorno aos palcos suecos, tal como o programa de TV Idols, em que um garoto quer um contrato de gravação após 13 semanas. Ele dispara “Que p*rra é essa?! Agradecimentos por tweetar meu nome por 13 semanas?! Nós temos bandas como Foreigner, AC/DC, KISS, que estão fazendo isso por 30, 40 anos!”, arrancando urros da galera. Continuou dizendo que é legal que esses caras consigam um contrato de gravação, mas que apenas se ainda estiverem fazendo isto após 30, 40 anos eles terão de fato uma carreira. Faz muito sentido… Afinal, quantos “fenômenos” criados pela mídia, com vida útil de menos de um ano já não vimos por aqui?!
Pra finalizar, citou a perda do amigo e baterista AJ Pero, agradecendo Mike Portnoy por substituí-lo. Disse que pessoas perguntam por que eles, Black Sabbath e Lemmy continuam (continuava, no caso de Lemmy) fazendo shows e a resposta é porque “The Fire Still Burns”. De arrepiar! Essa música é muito forte, ainda mais nesse clima de despedida. E durante sua execução o palco parecia o inferno, com fogo pra todo lado. Fantástico! E o concerto seguiu com a execução emocionante de todos os grandes hits da banda. Após a obrigatória “I Wanna Rock”, foi a vez de Dee apertar o gatilho da metralhadora… Começou criticando o jargão americano “Hell Yeah!”, dizendo que isso é baboseira Country, e que somos pessoas do Metal e dizemos “Fuck Yeah!”, completando com “fuck country, fuck pop, fuck disco, fuck everything, but metal!”. Que figura… Mike Tramp deveria pegar umas aulas com ele sobre como fazer bons discursos enaltecendo os anos 80. E ele continuou também citando AJ Pero e o quando sua perda significou para a banda, enaltecendo o trabalho de Mike Portnoy, deixando claro que o próprio AJ disse que se algo acontecesse a ele, que a banda deveria pegar Mike. Disse que a próxima canção era dedicada à sua memória… eis que começam a tocar uma das mais belas ‘power ballads’ de todos os tempos, a eterna “The Price”. Como de costume, a primeira estrofe foi cantada apenas pelo público… Difícil conter as lágrimas… Chegava a hora do hit multi-platinado “We’re Not Gonna Take It” e o “Sweden Rock” virou uma festa literalmente. A alegria e energia dessa música contagiou os milhares de fãs inebriados pela intensidade daquele momento. As pessoas começaram a se abraçar, pular, cantar e dançar ao contagiante ritmo desse hino. Simplesmente inesquecível!
Após tocarem seu maior sucesso, um momento engraçado. Dee diz que a coisa mais importante que aprendeu na Suécia e que mudou sua vida foi o FIKA (algo como uma pausa para se tomar café, muito comum no país). E eis que o cara faz um Fika Break no meio do show. Depois do cover dos Rolling Stones, “It’s Only Rock’n’Roll (But I Like It)”, veio a sequência final com a forte “Come Out And Play”, a surpreendente “Tear It Loose” (um verdadeiro presente aos fãs ‘die hard’) e a saideira com a empolgante “S.M.F.”. Um show para ficar na memória, para contar para os filhos e netos. Dessa forma encerramos o terceiro dia de maratona metálica…
DIA 4 (11 junho):
Todo ano é a mesma coisa, quando chega o último dia o corpo já não aguenta mais dormir apenas 4 horas por noite e passar 13 horas por dia debaixo de sol e chuva em pé assistindo os shows. Só que tem algo dentro do fã de Rock que o faz achar energia extra para não perder nem um segundo daquilo. É um sentimento estranho… Um misto de alegria com uma pontinha de tristeza por estar acabando mais um SRF. É sempre assim… No último dia tiramos energia não sei de onde. A boa notícia é que estava um belo sol, o que ajuda muito! O aperitivo inicial ficou por conta dos ingleses do GUN, que faz um Hard Rock que caiu perfeitamente para o horário.
Na sequência fomos assistir o THE WINERY DOGS, banda formada por um verdadeiro ‘dream team’. Mike Portnoy (bateria), Billy Sheehan (baixo) e Richie Kotzen (guitarra e voz) fazem um Hard Rock muito elaborado e técnico que está conquistando uma base de fãs cada vez maior. Divulgando seu segundo disco, “Hot Streak”, os caras fizeram um show bem alto astral e divertido! Os três ocuparam muito bem o gigante Festival Stage e os destaques ficaram por conta das ótimas “I’m No Angel”, “Desire” e o possível futuro clássico “Elevate”. Gênios!
Hora de recarregar as baterias com uma bela macarronada e correr para o rolo compressor chamado LEGION OF THE DAMNED. Os holandeses fazem um Thrash/Death de altíssimo nível com o qual é simplesmente impossível não bater cabeça. Esse show era especial, comemorando o aniversário de 10 anos do debut “Malevolent Rapture”, que foi executado na íntegra. Destaque para “Scourging The Crowned King”, que nunca tinha sido tocada ao vivo. Para fechar, mandaram as pedreiras “Cult Of The Dead” e “Son Of The Jackal”. Um show que certamente angariou novos fãs à legião.
STEVE VAI fez uma ótima apresentação para uma verdadeira multidão no Festival Stage! O guitarrista sabe bem como entreter uma platéia! O hit “For The Love Of God” foi executado com imagens do clip de 1990 rolando no telão. Sensacional! E “Tender Surrender” mostrou todo o feeling com que esse genial virtuoso é capaz de tocar…
Devidamente acomodados na grade do Lemmy Stage, eis que começa a rolar no som mecânico a abertura do disco novo dos americanos do SYMPHONY X, o excelente “Underworld”, enquanto Michael Romeo (guitarra), Michael LePond (baixo), Michael Pinela (teclados) e Jason Rullo (bateria) vão tomando suas posições… No primeiro acorde da acelerada “Nevermore”, o público já começou a pular e agitar com a banda. Russel Allen foi ovacionado e mostrou que sua voz continua incrível ao vivo. Como esse cara está cantando!
Nesta turnê de divulgação do “Underworld” a banda está executando o disco na íntegra, o que é algo bastante incomum para um lançamento. E isso está longe de ser decepcionante. Pelo contrário… Embora não seja um álbum conceitual, as músicas funcionam muito bem juntas. Há algo que as conecta, tanto nas letras quanto nas variadas emoções que elas passam. “Without You” já é uma das canções eternas da banda… Ao introduzi-la, Russell conta que a música fala sobre a bela jornada um cara que, figurativamente, vai até o inferno e luta com tudo o que tem para salvar sua amada que está perdida na vida, se afundando na batalha com seus próprios demônios pessoais. Quanta técnica, criatividade e, principalmente, feeling os caras demonstram nesta faixa. É uma balada pesada, muito intensa, que traz à tona um misto de sentimentos… Ao vivo então fica ainda mais forte e arrepiante. “To Hell And Back”, com Russell usando as máscaras teatrais símbolo da banda e a empolgante “Run With The Devil” se destacam entre as excelentes músicas do set.
Ao anunciar “Swan Song”, Russell faz uma homenagem a AJ Pero, que foi seu companheiro de Adrenaline Mob. Já em “Legend”, o homenageado é um dos maiores nomes da história do Metal, o mestre Ronnie James Dio. E Michael Romeo não é deste planeta, pois o que ele faz com a guitarra é assombroso. E fica ainda mais incrível pela absurda naturalidade com que toca. A guitarra realmente parece uma extensão do seu corpo! Além das músicas do disco novo, a banda ainda nos brindou com “The Death Of Balance/Lacrimosa” do aclamado “V: The New Mythology Suite”, “Out Of The Ashes”, “Sea Of Lies”, ambas do “The Divine Wings Of Tragedy” e “Set The World On Fire (The Lie of Lies)”! Um show fantástico, com muito peso e técnica! A única ressalva fica por conta da ausência de canções do maravilhoso “The Damnation Game”, álbum de estreia do vocalista… Seria fenomenal assistir os caras tocando “Edge Of Forever”, “Whisper”, ou “Dressed To Kill”… Quem sabe em uma próxima tour não lembrem que essa obra de arte existe…
Após o show deu para ver o DEATH DTA, banda formada por ex-membros do Death, mandando um belo cover de “Raining Blood” do Slayer. Então veio o pequeno grande ex-vocalista do Accept, Udo Dirkschneider, com seu DIRKSCHNEIDER, projeto formado para uma tour em que ele tocaria pela última vez clássicos e lados-B de sua ex-banda, entrava no Festival Stage!
A abertura veio com a inusitada “Starlight”, que já deu o recado que seria uma apresentação muito especial para os fãs de Accept. Além das obrigatórias “Princess Of The Dawn”, “Restless And Wild”, “Metal Heart” e “Balls To The Wall”, ainda tivemos surpresas como “Screaming For a Lovebite”, “Losers And Winners” e a divertida “Son Of A Bitch”. Accept é muito f*da! Que tenham vida longa com Mark Tornillo. E ao carismático Udo, que continue gravando boa música em sua carreira solo.
Pena que o IMPERIAL STATE ELETRIC tocou exatamente no mesmo horário do Symphony X. No Sweden não é raro termos que fazer escolhas difíceis… Muito difíceis. E, por falar nisso, precisava decidir entre assistir o ANTHRAX, ou os veteranos do KING KOBRA… Sendo fã das duas bandas, o que pesou foi o fato de já ter visto o Anthrax algumas vezes e nunca ter assistido a um show do King Kobra. Além disso, Paul Shortino e Carmine Appice teoricamente estão mais próximos da aposentadoria do que Scott Ian e companhia… Lá fomos nós então para o Sweden Stage, com uma enorme expectativa pelo o show do King Kobra. Os caras entraram no palco meio atrapalhados, parecendo desconcentrados. A abertura com “Ready To Strike” foi medonha. As pessoas na plateia se olhavam com cara de “que catso está acontecendo!?”. Pensei que era algum problema no som, ou coisa do tipo, mas infelizmente, em “Tear Down The Walls”, ficou claro que o buraco era mais embaixo. Além de estarem tocando com um tempo muito mais lento que o da gravação original, os caras estava se atropelando. Todo mundo errando…
Paul Shortino, dono de uma belíssima voz, estava totalmente desafinado e Carmine Appice, um gênio das baquetas, totalmente desorientado… De verdade, vergonha alheia… Para completar o “show de horror”, o baixista Johnny Rod estava se comportando como um idiota. Ficava jogando o pedestal com o microfone no chão repetidamente (pobre roadie), mandava o sinal de “fuck” para a galera, saía do palco… Como fãs, mantivemos em vão a esperança que as coisas poderiam melhorar. Em “Knock ‘Em Dead” até melhorou um pouquinho, mas foi apenas um breve suspiro… O megahit “Iron Eagle” estava irreconhecível! E o martírio continuou com a execução paquidérmica das ótimas “Live Forever” e “Hungry”. Shortino fez uma homenagem a Dio, que foi um grande amigo seu, cantando “Heaven & Hell” à capella (com direito a bronca no guitarrista mandando-o parar de tocar!). Mesmo nesse momento, Shortino foi totalmente apático, parecendo sem vontade alguma de estar ali… Em “Raise Your Hands To Rock” os caras colocaram um tom de bateria em cada ponta do palco e tentaram fazer um batuque que ficou horrível… Até hoje não sei por que não desistimos e fomos ver o Anthrax de uma vez. Enfim, o fato é que ficamos até o fim daquele que foi simplesmente o pior show visto no “Sweden Rock” em 10 anos.
Já o DEMON elevou o nível novamente. A banda foi anunciada aos 47 minutos do segundo tempo, em substituição a Robin George que cancelou o show por razões pessoais. Após ter conferido duas apresentações dos caras em edições anteriores do Sweden, finalmente veria o show durante a noite, o que para esta banda faz muita diferença pela produção de palco e pelo aspecto teatral com o que carismático líder e vocalista Dave Hill traz na execução das músicas. A trinca de abertura já valeu o show! Dispararam logo alguns de seus maiores sucessos: “Night Of The Demon”, “Into The Nightmare” e “Sign Of A Madman”. Os caras estão afiadíssimos até hoje e estavam visivelmente felizes por estarem tocando ali! Demon é uma banda que merecia muito mais reconhecimento. Seus discos trazem composições extremamente cativantes e originais, mesclando elementos do Hard e Heavy com passagens mais progressivas. “Nowhere To Run” e “Standing On The Edge” foram gratas surpresas no set, enquanto que a magnífica “Liar” veio no momento exato para dar aquela levantada no ânimo. O momento pediu brindes de vinho e shots do tradicional licor de ervas com o qual o grupo de brasileiros costuma “trabalhar” durante o festival. O fechamento, como não podia deixar e ser, foi com o hino “Don’t Break The Circle”, cujo refrão foi cantado a plenos pulmões pelos fãs ali presentes. Show nota 10!
Chegava o momento de nos despedirmos da edição de 2016 do “Sweden Rock”. E o fechamento não poderia ser melhor com MICHAEL SCHENKER GROUP. O lendário guitarrista alemão se apresentou com três talentosos vocalistas o acompanharam em sua trajetória artística: Gary Barden, Graham Bonnet e Robin McAuley. O primeiro a cantar foi Gary Barden, que mandou alguns dos grandes clássicos do MSG como “Into The Arena”, “On And On” e “Cry For The Nations”. Em seguida a surpresa com “Coast To Coast” do Scorpions preparou a entrada do segundo vocalista do show: Graham Bonnet. Ele gravou apenas um álbum do MSG, o excelente “Assault Attack” de 1982 e nunca saiu em turnê com a banda. Portanto, era um momento bastante especial para os fãs. As expectativas dessa vez foram atendidas e a trinca “Desert Song”, “Dancer” e “Assault Attack” esquentaram a plateia que parecia não se importar nem o pouco com o frio sueco que fazia naquele momento. Virou Cancun!
A última parte foi comandada pelo magnífico Robin McAuley, que entrou com “Save Yourself”, emendando com a emocionante “This Is My Heart”, que fez alguns fãs derramarem lágrimas! McAuley ficou para o grand finale com covers da lendária banda UFO… Foi com “Shoot Shoot”, “Doctor Doctor” e “Rock Bottom” que demos adeus a mais uma edição deste que é sem dúvida um dos mais importantes eventos dedicados ao nosso amado Rock/Metal hoje em dia.
Foram quatro dias de muitas alegrias, sonhos realizados e que deixarão lembranças incríveis… Mais uma vez, corpo destruído e mente zerada, iniciando a contagem regressiva para o “Sweden Rock Festival 2017”. Keep the fire burning!