Por Jayme Alexandre de Lima
Esta foi a primeira edição do Sweden Rock Festival após a venda do evento para uma grande empresa de entretenimento. Isso causou certa apreensão aos frequentadores, dado o risco de a organização mudar sua filosofia de priorizar o conforto do público ao invés de um maior lucro, que certamente viria se vendesse um número superior de ingressos e abarrotasse o local de gente. Pois, infelizmente, foi exatamente o que aconteceu este ano. Colocaram milhares de ingressos extras à venda, segundo eles, devido à inclusão do IRON MAIDEN no cast – a banda inglesa sempre foi considerada grande demais para o SRF. Mesmo assim, os ingressos se esgotaram em tempo recorde.
Além disso, outros fatores que prejudicaram a comodidade do público foram a redução do número e a mudança dos locais dos banheiros. Antes, estes eram distribuídos próximos aos palcos e agora passaram a estar disponíveis apenas em dois locais, o que causou longas filas.
Outro tema que deixou o público cativo do festival de cabelo em pé quando a venda foi anunciada foi a possível guinada do cast para bandas mais modernas, seguindo a tendência da maioria dos festivais europeus e americanos, o que graças a São Rock não aconteceu. Além de uma trinca de headliners fantástica, completada por JUDAS PRIEST e OZZY OSBOURNE, ainda tivemos os maiores representantes da nova leva de bandas de hard e sleaze da Suécia: HARDCORE SUPERSTAR, CRASHDÏET, H.E.A.T. e CRAZY LIXX! Enfim, um belo cast, que reverencia as grandes bandas e abre espaço para a nova geração, sem desviar da essência do evento.
DIA 1:
A abertura aconteceu no feriado em que o país celebra o Dia da Suécia, e o ASTRAL DOORS, prata da casa, fez as honras com a execução do hino sueco.
Sob um sol escaldante, seguimos para conferir mais uma ótima reencarnação do Thin Lizzy, o BRIAN DOWNEY’S ALIVE AND DANGEROUS. Brian, que foi o primeiro e único baterista da seminal banda irlandesa, está em plena forma no auge de seus 67 anos e, por meio de clássicos como “Jailbreak”, “Rosalie” e “Massacre” mostrou todo o seu enorme talento e originalidade. Acompanhado dos jovens Brian Grace e Phil Edgar nas guitarras e do clone do saudoso Phil Lynott, Matt Wilson no baixo e vocais, desfilaram pela brilhante discografia do Thin Lizzy, nos lembrando da importância do seu legado para o rock. Afinal, quantas bandas o Thin Lizzy não influenciou e influencia até hoje, com suas canções repletas de riffs icônicos, com aquela cozinha impecavelmente grooveada, melodias vocais cativantes e as tradicionais guitarras gêmeas?!
Todos estavam visivelmente felizes no palco e Wilson acabou indo pra galera na energética “The Rocker”! O final com “Black Rose” e “Waiting For Na Alibi” fez o público sair mais do que satisfeito…
Na sequência fomos conferir o CYHRA, considerado por alguns como “supergrupo”, já que é formado pelos ex-In Flames Jesper Strömblad e Peter Iwers (guitarra e baixo, respectivamente), pelo ex-Amaranthe Jake E (vocais), pelo ex-Annihilator Alex Landenburg (bateria) e Euge Valovirta na segunda guitarra. Infelizmente, Iwers deixou a banda dias antes e o CyHra se apresentou como um quarteto, com as linhas de baixo pré-gravadas. Considerando que o som dos caras já é bem moderno, cheio de efeitos e samplers, a ausência de um baixista “de carne e osso”, somada a um exagero de vocais pré-gravados, tornou a apresentação bastante artificial, digamos…
Como infelizmente o THE QUILL cancelou sua apresentação por conta de um problema de saúde do vocalista Magnus Ekwall, fomos acompanhar o retorno de um dos nomes mais importantes do power metal sueco, após um hiato de 10 anos: NOCTURNAL RITES. O som estava abafado, mas não chegou a comprometer a boa apresentação dos veteranos, que promovem seu novo disco “Phoenix”. O grande destaque ficou para a ótima “Still Alive” do álbum “Grand Illusion” de 2005.
Outro que teve que cancelar sua apresentação por problemas de saúde foi JOE LYNN TURNER, devidamente substituído pelos QUIREBOYS, liderados pelo estiloso vocalista Spike com sua voz rasgada, que parece ser regada a muito cigarro e uísque. Os britânicos fizeram o melhor show do dia, executando todos os hits como “There She Goes Again” e deliciosa “Mona Lisa Smiled”! Spike, que pulava e dançava mesmo com um dos pés imobilizado, não perdeu a chance de fazer uma piada irônica com os americanos. Ele disse apontando para a bota “Era para eu estar sentado no palco, mas, hey! Eu não sou americano!”.
Ainda tivemos um intenso show do BULLET e o encerramento do warm-up que ficou por conta do HARDCORE SUPERSTAR.
DIA 2:
Muitos costumam chegar ao festival apenas no segundo dia, quando os dois palcos principais abrem. Como dessa vez tivemos um número de pessoas muito maior do que o normal, isto impactou no trânsito para chegarmos ao local. Por conta disso, perdemos praticamente todo o show do CRAZY LIXX, mas chegamos a tempo de pegar o final com “21’ Till I Die”. Foi o suficiente para comprovarmos que a evolução apresentada no excelente último disco “Ruff Justice” de 2017, também aparece na performance ao vivo dos caras. Uma banda muito mais madura e coesa do que aquela que vimos em 2007, quando estrearam no SRF. E que venha muito mais!
No caminho para o Sweden Stage para o show do BATTLE BEAST já ficou evidente que aquele seria o dia mais lotado da história do festivallen… Mesmo no comecinho da tarde, enquanto muita gente ainda não tinha chegado, já havia longas filas para comer e beber. Quanto aos finlandeses do Battle Beast, fizeram um show que agradou a quem já era fã, com destaque para a performance teatral da talentosa vocalista Noora Louhimo, com seu timbre rouco à la Bonnie Tyler.
Um dos shows que eu mais queria ver era do AVATARIUM, cujo mentor Leif Edling (Candlemass) criou uma mistura absolutamente original de doom metal com classic/hard/heavy dos anos 70 – leia-se Uriah Heep, Deep Purple, Black Sabbath e afins. E eles não decepcionaram!
Ao som de uma sombria introdução instrumental, a banda, formada pelo ex-Evergrey e Royal Hunt, Marcus Jidell (guitarra), Lars Sköld (bateria), Mats Rydström (baixo), Rickard Nilsson (órgão) e a bela e talentosíssima Jennie-Ann Smith (vocais), entrou no palco com o pé na porta executando a sensacional “Into The Fire / Into The Storm”, que também abre “Hurricanes and Halos” (2017). Emendaram com a emocionante “Pearls And Coffins” e aqui vale destacar a baita ousadia em tocarem uma música tão densa e introspectiva logo no início do set em um festival, onde certamente havia muita gente que estava conhecendo a banda ali. No entanto, o poder e suavidade da voz de Jennie-Ann se destacaram, chegando a dar um nó na garganta da plateia, tamanho feeling em sua interpretação. Sua figura serena em uma roupa branca esvoaçante contrasta de uma forma hipnotizante com o peso e intensidade das composições.
Também mandaram a pesadíssima “Moonhorse”, que bebe direto na fonte dos pais do Heavy Metal – Black Sabbath – e a excelente “The Sky At The Bottom of The Sea”, com uma influência escancarada de Uriah Heep. Um show fantástico de uma banda que ainda tem muita história pra contar…
Continuando na vibe dos 70’s, GLENN HUGHES fez um show impecável celebrando sua memorável passagem pelo Deep Purple. Além dos óbvios clássicos como “Stormbringer”, “Mistreated” e “Burn”, o público ainda foi brindado com a bela “You Keep On Moving” – em que Hughes lembrou que foi composta com seu parceiro David Coverdale – e a surpresa “Might Just Take Your Life”. O set ainda trouxe músicas gravadas na era Gillan como “Lazy”, “Smoke On The Water” e “Highway Star”, maiores sucessos da banda.
Hughes continua com sua voz em dia, além de ter a mesma energia no palco de 20 anos atrás! A bela “This Time Around”, que foi executada no show dessa tour em São Paulo, fez muita falta no set, mas nada que comprometesse a excepcional apresentação.
Os australianos do ROSE TATOO, que, aliás, figuram entre as principais influências do Guns N’Roses, executaram um show alto astral com seu rock’n’roll simples e direto fazendo a galera que os assistia no palco principal cantar e dançar ao som da clássica “Nice Boys”.
Chegava o momento de um dos principais nomes da edição deste ano tomar o palco: HELLOWEEN, com a tour Pumpkins United que trouxe de volta à banda Michael Kiske e Kai Hansen. Assim como aconteceu nos shows no Brasil, as boas vindas ficaram por conta da épica “Halloween”, que é simplesmente perfeita como abertura, mesmo que tendo tido algumas partes cortadas. A sequência com “Dr. Stein” já ganhou de vez o extasiado público! A nostalgia que bate ao ouvir esses hinos do metal executados ao vivo é inevitável… São músicas que marcaram a adolescência de muitos ali presentes e por isso tem um significado especial para estes fãs.
O medley de “Starlight/Ride The Sky/Judas/Heavy Metal (Is The Law)”, cantado pelo criador do power metal (ou metal melódico, como preferir), Kai Hansen, foi avassalador. Outros destaques foram o hit “Power” do aclamado “The Time Of The Oath” de 1996, “How Many Tears” com os três vocalistas cantando juntos e a empolgante “Eagle Fly Free” com belas imagens no telão.
Apesar de ter sido um set curto (comparando-se com o daqui) e de não tocarem nenhuma do espetacular “Master Of The Rings”, disco de estreia de Andy Deris, foi um showzasso!
Sem perder tempo, nos posicionamos em frente ao palco principal para o show mais esperado deste ano: a maior banda de heavy metal da história, IRON MAIDEN! Após a já esperada execução de “Doctor Doctor”, clássico do UFO, dois figurantes vestidos de soldados retiram as cortinas que cobriam partes do palco revelando um cenário de campo de batalha, com a bateria de Nicko atrás de uma parede de folhas como se estivesse camuflada! Eis que os PAs ecoam o épico discurso proferido pelo ex-Primeiro-Ministro do Reino Unido, Winston Churchill, durante a II Guerra Mundial, enquanto uma réplica enorme de um Spitfire, avião de caça britânico, sobe por trás da parede de amplificadores anunciando o hino “Aces High”.
Steve Harris, Adrian Smith, Dave Murray, Nicko McBrain, Janick Gers e Bruce Dickinson (vestido como piloto de avião da II Guerra) entram com a energia a mil por hora aos sons de tiros e explosões! A esta altura a multidão já estava enlouquecida! A sequência com “Where Eagles Dare” foi um presente para os fãs e, após “2 Minutes To Midnight”, Bruce diz que aquele era o último show na Escandinávia e que todos até ali tiveram 100% dos ingressos vendidos. Disse que aquela seria a última vez que falaria ao público naquela noite, já que o set list, por si só, iria contar uma história.
O imenso backdrop que mudava a cada música trazia agora o mascote Eddie como guerreiro escocês, abrindo alas para “The Clansman” do álbum “Virtual XI”. Há quem diga que, embora esta música tenha sido originalmente gravada por Blaze Bayley, parece que foi feita para Bruce Dickinson cantar. Aliás, é algo impressionante o pique que esse cara tem! Ele pula e corre de um lado para o outro sem parar, enquanto canta de forma irretocável.
A próxima mudança de backdrop anunciava a idolatrada “The Trooper”. Eddie entrou caracterizado como soldado da cavalaria inglesa e lutou com os caras no palco. Bruce que sempre agita uma surrada bandeira da Inglaterra nessa canção, dessa vez também saudou os donos da casa com a bandeira da Suécia.
Chega o momento em que o palco muda completamente… Lustres e candelabros descem das estruturas e em questão de segundos o campo de batalha vira uma igreja, com enormes vitrais ilustrados com as capas dos álbuns e singles da banda. A essa altura já ficava claro que estávamos presenciando a maior produção que o Iron Maiden já teve! Tudo isso preparou o clima para a fantástica “Revelations”, com Bruce agora usando uma batina.
A sequência veio com a inusitada “For The Greater Good”, “The Wicker Man” e “Sign Of The Cross” (que não era tocada desde 2001), em que o vocalista traz um enorme crucifixo iluminado. Um gigantesco boneco do homem-alado Ícaro surge atrás da bateria, revelando aquele que talvez tenha sido o ápice deste histórico concerto: “Flight Of The Icarus”, que não era tocada desde 1986! Nessa música o vocalista usa dois lança-chamas acoplados aos seus braços, completando o visual que deixou os 36 mil headbangers de queixo caído.
A batida “Fear of The Dark”, em que Bruce cantou usando uma máscara e segurando uma lanterna, foi seguida pela maligna “The Number Of The Beast”, dessa vez com o palco transformado em um verdadeiro inferno com uma muralha de fogo e um backdrop com um rio de lava e figuras macabras.
Na sequência veio a clássica “Iron Maiden” e um Eddie demoníaco gigantesco emergiu atrás da bateria! Uma breve pausa para recuperarmos o fôlego e a banda então retorna com a trinca final: “The Evil That Man Do”, “Hallowed Be Thy Name” e “Run To The Hills”. Certamente a maior e mais teatral produção de um dos maiores ícones do Metal. Os caras parecem vinho… Quanto mais velhos, melhor ficam… Impressionante. Show histórico e irretocável!
E ainda tinha mais pela frente, afinal o principal representante do thrash metal europeu estava prestes demolir o palco Rock! O KREATOR, que pela primeira vez se apresentava a noite no SRF, dessa vez veio com um palco surpreendentemente bem produzido com uma iluminação insana, totalmente sincronizada com a bateria, várias telas de LED em forma de espelhos medievais, corpos pendurados ao fundo, muita pirotecnia e seu famoso mascote encapetado em uma versão gigante pendurado sobre a bateria.
Pauladas como “Phobia”, “Hordes of Chaos” (com direito a chuva de fitas prateadas) e “Violent Revolution” (em que figurantes mascarados acenderam sinalizadores para completar a imagem do caos), fizeram com que encontrássemos energia extra para bangear depois de 13 horas de maratona! Até um empoeirado circle pit rolou em plena madrugada sueca.
Como já havíamos assistido os alemães em outras duas edições do festival, a ideia era também conferir um pouco do H.E.A.T, que tocava no mesmo horário no palco Sweden. Nós até demos uma chegada lá, mas não teve jeito… Tivemos que correr de volta para o palco Rock, pois fomos praticamente sugados pelo atropelo do Kreator. Simplesmente não dava para perder o que estava acontecendo ali.
Em “Fallen Brothers”, as telas projetavam imagens de ícones do rock já falecidos, como Dio, Lemmy, Phil “Animal” Taylor, “Fast” Eddie Clarke, Paul Baloff, Bon Scott, Phil Lynott, David Bowie, etc. Ao anunciar a última música, Mille Petroza brinca dizendo que aquela seria a última chance um matar o outro, dando a deixa para o rolo compressor “Pleasure to Kill”. Que show brutal!
No caminho para o ônibus ainda paramos para ver um pouquinho da lenda COVEN, criadores do occult rock.
DIA 3:
No terceiro dia de festival o corpo já está pedindo arrego. Tudo doía! Fora a dificuldade em pular da cama depois de dias dormindo uma média de 4, 5 horas por noite. Mas basta lembrar que aquilo tudo logo iria acabar para dar o gás necessário.
A festa começou com um excelente show das veteranas do VIXEN, a única banda representante do hard rock dos anos 80 no line-up deste ano. “Rev It Up” já serviu para esquecer o cansaço e entrar no clima novamente. Em “I Want You To Rock Me”, incluíram um cover de “Perfect Strangers” que ficou bem legal. Nem parece que há menos de seis meses a vocalista Janet Gardner teve que se submeter a uma cirurgia de emergência para tratar um hematoma subdural e colocar uma placa de titânio na cabeça, enquanto que a guitarrista Britt Lightning, que substituiu a saudosa Jan Kuehnemund, parece já estar totalmente a vontade em seu posto.
A baixista Share Pedersen cantou “I Don’t Need No Doctor”, cover do Humble Pie e o final veio com o hit “Edge Of A Broken Heart”. Excelente trilha para o café-da-manhã.
Mais uma vez o PRETTY MAIDS iria se apresentar no palco principal, agora promovendo seu último trabalho, “Kingmaker”, de 2016. Como já era esperado, foi um show impecável, em que misturaram muito bem músicas de diferentes fases da banda, como “Back To Back” e “Red, Hot And Heavy” do disco homônimo de 1984, as clássicas “Rodeo” e “Future World” e a maravilhosa “Little Drops of Heaven”, de “Pandemonium”. Aliás, vale ser destacado o quanto essa música é forte ao vivo. Uma das melhores composições dos anos 2000, fácil!
Os caras do TURBONEGRO com seus trajes inusitados lotaram o palco Rock, enquanto os veteranos do URIAH HEEP fizeram a alegria dos fãs no palco Sweden, mesmo com desnecessários solos de guitarra e bateria.
O vocalista Bernie Shaw disse que depois de tantos anos de banda e passando mais de 200 dias por ano na estrada, as coisas ficam um pouco repetitivas. Por isso, de tempo em tempo incluem alguma música no set que não tocavam há 10, 15 anos! A deste dia seria “Between Two Worlds”, do álbum “Sonic Origami” de 1998.
O encerramento, como não podia ser diferente, veio com a empolgante “Easy Livin’”. Interessante a rapidez com que a equipe de apoio socorreu um fã que passou mal durante o show.
O STONE SOUR abriu seu show no palco principal com a nova “Whiplash Pants” com faíscas saindo pra todo lado. Corey Taylor já foi pra galera logo de cara! A sequência foi com a ótima “Absolute Zero” em que já deu pra ver que o cara estava cantando muito bem, enquanto que a banda mostrou todo seu peso em “Cold Reader”. Destaques para “Tired”, uma das composições mais intensas da banda, “Bother”, que segundo o vocalista foi o primeiro contato de muita gente com a banda, e os hits “Through Glass” e a nova “Song #3”. Sem dúvida, Stone Sour é um dos candidatos a headliners do futuro.
Uma das coisas que tornam o Sweden Rock tão especial é que sempre trazem algumas excelentes bandas “esquecidas” para o cast. Já tivemos a reunião do Triumph, do Axe, do Great King Rat, entre outros. Esse ano isso se repetiu com HEAVY LOAD, simplesmente primeira banda de heavy metal da Suécia e primeira banda de viking metal do mundo, e que não se apresentava desde 1985.
E os caras continuam em plena forma, como deu pra ver logo na abertura com “Heavy Metal Angels”. Clichês da década de 80 estavam presentes, como a frase escrita na boina que o carismático vocalista Ragne Wahlquist usava: “Guitar is my sword”. Certamente grandes nomes como Manowar beberam muito dessa fonte.
Chegou a hora de dar adeus para uma das maiores lendas da história da música. OZZY OSBOURNE estava prestes a fazer o que muito provavelmente foi seu último show na Suécia e, como não poderia ser diferente, acompanhado de seu fiel escudeiro Zakk Wylde.
As luzes se apagam e começa um vídeo emocionante com imagens de todas as fases da carreira do madman. Ozzy entra no palco ao som de “O Fortuna” de Carl Orff, vestindo um exuberante sobretudo brilhante. Saúda a plateia e dá início à festa com a célebre frase “Let the madness begin!”, emendada pelo cortante riff de “Bark At The Moon”.
O show é aquela sequência de hits eternos que todos esperam, como “Mr. Crowley”, “I Don’t Know” e a espetacular “Fairies Wear Boots” do Sabbath. Desnecessário falar sobre o absurdo talento de Zakk Wylde como guitarrista, mas ninguém tem a pegada do mestre Tony Iommy. As músicas do Black Sabbath tocadas por ele têm 1.000 kg a mais…
Em “Suicide Solution” bateu forte a saudade daquele show da segunda edição do saudoso Monsters of Rock em 1995, quando Ozzy estava em sua melhor forma! Zakk fez um solo de guitarra intercalando com riffs eternos de “Miracle Man”, “Crazy Babies”, “Desire” e “Perry Mason”. A banda completada por Blasko (baixo), Adam Wakeman (teclados e, sim, filho de Rick Wakeman) e Tomy Cufletos (bateria) – que participou das duas últimas turnês do Black Sabbath – sem dúvida é uma das melhores formações da carreira solo do senhor Osbourne.
“Shot In The Dark” fez todo mundo cantar, mesmo com um solo desnecessariamente exagerado de Wylde, e deu um nó na garganta pensar que possivelmente estávamos ouvindo “Crazy Train” ao vivo pela última vez. A saideira veio com a emocionante “Mama, I’m Coming Home” e o hino absoluto “Paranoid”.
Demos nosso inevitável adeus ao madman, com um sentimento de enorme gratidão pelo seu legado não apenas à música, mas também pelo estilo de vida rock’n’roll. E, enquanto os PAs ecoavam a versão de “Changes” cantada por Ozzy e sua filha Kelly Osbourne, não podíamos deixar de imaginar a possibilidade dele mudar de ideia e fazer a No More Tours 3, 4 e 5… Não custa sonhar, não é!?
Corremos para ver um pedacinho do LUGNET na tenda! Pena que só deu tempo de conferir a linda “Tears In The Sky”, muito bem executada pelo novo vocalista, Johan Fahlbergs (Jaded Heart), e “All The Way”, música que abre o excelente disco de estreia de 2016. Que venha logo o segundo trabalho desses suecos!
DIA 4:
O último dia começou com o animadíssimo show do THE NEW ROSES! O vocalista avisou que a festa começaria ali, e ele tinha razão. Com um rock’n’roll despretensioso, porém muito bem feito e com muita personalidade, os caras certamente ganharam muitos novos fãs! “Every Wildheart”, “Dancing On A Razor Blade” e “Life Ain’t Easy (For A Boy With Long Hair)” fizeram todo mundo balançar! Quem assistiu provavelmente saiu com a mesma opinião: esses caras fazem música muito boa e ponto final! Outra banda que ainda está só começando e que tem muita lenha a queimar…
O Rock vive!
Os veteranos do southern rock DOC HOLLIDAY, fizeram uma boa apresentação cujo ponto alto foi o hit de seu segundo trabalho, “Southern Man”. Acabou não sendo possível assistir outro importante nome da nova leva de hard/sleaze da Suécia, o CRASHDÏET, que se apresentava no mesmo horário.
CIRCUS MAXIMUS é uma banda que vem crescendo nos últimos anos, principalmente após seus dois últimos lançamentos, “Nine” e “Havoc”. Os caras fazem um som extremamente técnico, com ótimas melodias e muito peso, tudo isso recheado com aquela pegada prog metal sem os exageros de alguns representantes do gênero. Para entender o som dos caras, escute a fantástica “I Am”, que também está entre as melhores composições dos anos 2000.
Assim como foi a apresentação dos noruegueses no Hangar 110 em São Paulo há dois anos, este também foi um excelente show, daqueles que nem se vê passar o tempo e que deixa aquele gostinho de quero mais! Destaque para o monstro Truls Haugen na bateria e para os belíssimos solos do guitarrista Mats Haugen. Um dos melhores momentos deste ano.
O retorno do STEELHEART ao SRF trouxe a tour do último disco, o razoável “Through Worlds Of Stardust” de 2017. O vocalista Michael Matijevic, famoso por seu absurdo alcance vocal e por ter participado da trilha sonora do filme “Rockstar”, continua cantando muito, e os sucessos “I’ll Never Let You Go” e “She’s Gone” foram o ponto alto da apresentação, mostrando que os ultra agudos de outrora ainda estão lá.
O metal tradicional teve mais um representante com o TORCH, liderado pelo peculiar vocalista, o “Papai Noel do inferno”, Dan Dark! O cara não para de agitar um segundo. Destaque para a excelente “Eletrickiss” que é Accept puro.
Havia certa expectativa para o show do STRATOVARIUS, uma banda que marcou a década de 90 liderando o renascimento do power metal. Ame ou odeie, era impossível passar despercebido.
Com apenas Timo Kotipelto (vocais) e Jens Johansson (teclados) da formação clássica, a banda fez um show morno, cheio de altos e baixos. As antigas como “Forever Free”, “A Million Light Years Away” e “Speed of Light” empolgavam, apesar do som baixo e super abafado.
Já as mais novas davam aquela derrubada na energia, mostrando o quanto Jörg Michael, Jari Kainulainen e Timo Tolkki fazem falta. A excepcional “Hunting High And Low” fechou o set, que deixou de fora o hit “Kiss Of Judas”. Decepcionante.
Outro grande anúncio deste ano foi YES FEATURING ARW, versão da lendária banda inglesa de rock progressivo com Jon Anderson (vocal), Trevor Rabin (guitarra) e Rick Wakeman (teclados), que entrou com sua tradicional e espalhafatosa capa dourada e vermelha! Destaques para as sensacionais “Hold On”, “Changes” e o mega-hit “Owner of A Lonely Heart”, na qual o som da guitarra de Rabin foi impressionante. Uma bela comemoração dos 50 anos de uma das mais importantes bandas da história.
Para fechar com chave de ouro, mais uma banda que participou da criação do Heavy Metal: os habitués da casa, JUDAS PRIEST!
Dessa vez, os caras se superaram. Após o petardo “War Pigs” executado no som mecânico, entraram quebrando tudo com a excelente “Firepower”, faixa-título do aclamado disco novo. E dali em diante o que se viu foi um show que todo fã sonha, sendo que a primeira hora foi praticamente inteira de lados-B, como “Grinder”, “Sinner”, “The Ripper”, “Bloodstone” e a inusitada “Saints In Hell”, de Stained Class de 1978, quando imagens de fantoches diabólicos passavam no enorme telão no centro do palco.
As surpresas continuaram com “Tyrant” e a emocionante “Night Comes Down”. É exatamente isto que uma banda com uma discografia tão extensa e de tanta qualidade deve fazer. É muita preguiça ficar tocando as mesmas 15, 20 músicas por décadas, sendo que existem tantas outras canções que os fãs adorariam ouvir. Imagine por exemplo se o KISS fizesse uma turnê tocando “Magic Touch”, “Naked City”, “Mr. Speed”, “Heart Of Chrome”, etc?! Infelizmente, acho que não veremos isso…
Voltando ao Judas, Richie Faulkner (guitarra) cresceu muito no palco e ocupou bem o gigantesco buraco deixado pela ausência de Glenn Tipton, que devido à progressão da sua doença (Parkinson), foi obrigado a abandonar a turnê. Ele foi competentemente substituído pelo aclamado produtor Andy Sneap.
E, na parte final do show, mandaram os grandes clássicos que não podem ficar de fora, como o rolo compressor de “Painkiller”, quando foram exibidas imagens de Tipton no telão. Emocionante.
Um dos maiores frontman da história, Rob Halford, disse que amava muito o público e que tinha um cara que também amava muito a Suécia, trazendo então Glenn Tipton ao palco, que caminhou cuidadosamente à frente e deu início ao hino “Metal Gods”. Momento de êxtase absoluto! Ainda com Tipton, emendaram “Breaking The Law” e encerraram esta aula-magna de heavy metal com a tradicional “Living After Midnight”, despedindo-se com a mensagem “The Priest will be back”!
Assim foi encerrado mais uma histórica edição do que para muitos é o melhor festival do mundo, com os grandes mostrando para a nova geração como se faz. Keep the fire burning!