Até que não demorou tanto. Na verdade, Russel Allen e Cia. desembarcaram em São Paulo (SP) pela última vez apenas três anos atrás, mas, quando se trata de música, saudade e ansiedade não podem ser medidas de forma racional, então, sim, havia certa ansiedade pela presença dos norte-americanos, isso era claro na fila que se formava diante do Tropical Butantã em uma noite fria deste início de agosto. Da minha parte, a ansiedade tinha nome e sobrenome: Michael Romeo, o impressionante guitarrista do Symphony X. Confesso que depois de ter ouvido à exaustão o último álbum solo do guitarrista (War of the Worlds Pt. 1, lançado no ano passado), eu estava decidido a não perder a próxima aparição dele por essas bandas, e já que ele estaria aqui com o Symphony X e todo o seu incrível repertório, tanto melhor.
Então, tudo estava posto para que fosse uma grande apresentação, e com o público devidamente aquecido pelo show do Vers’Over, restava apenas aguardar a chegada da atração principal, o que não demorou muito. Com um palco ainda bastante escuro, uma introdução começou a ser executada, e não demorou para que Michael Romeo e o baixista Mike LePond puxassem a fila, a exceção do vocalista Russel Allen, que apareceria um pouco mais tarde. A verdade é que não tinha como prestar atenção em outra coisa: assim que Iconoclast (única de Iconoclast, 2011) começou a ser tocada, LePond e Romeo tomaram os holofotes para si, e não havia maneira de desviar os olhos do espetáculo que os dois produziam com seus respectivos instrumentos, já nos primeiros segundos do show.
A verdade é que bateria e teclados também já estavam despejando doses e mais doses de metal progressivo, mas demorou alguns instantes até que percebêssemos que tinha mais acontecendo, uma bela primeira impressão, que só fez melhorar com a entrada de Russel Allen alguns minutos depois. Foram os aplausos e gritos entusiásticos do público que me fizeram retomar a atenção ao conjunto da obra, o que acabou sendo muito bom. Confesso que só fiquei sabendo que Allen tinha passado por problemas de saúde muito depois, já que a performance correta e empolgada do vocalista não demonstrava nenhum tipo de desconforto, e novamente, que ótima impressão isso deixa, já que todos nós cansamos de ver bandas que parecem fazer sua apresentação protocolar com um olho na passagem de avião e outro no relógio, se bem me entendem.
Fato é que a noite só estava começando. A intensa Evolution (The Grand Design) foi recebida com empolgação pela plateia, e foi a única do louvado V: The New Mythology Suite (2000) a dar as caras nesta noite, mas com um repertório tão vasto, quem poderia reclamar? Serpent’s Kiss (Paradise Lost, 2007) também não fez feio, e o mais recente álbum de estúdio, Underworld (2015) começou a aparecer logo em seguida, com a execução refinada de Nevermore, outra com ótimas linhas de guitarra. Com Allen interagindo o tempo todo com a plateia (é sério que ele não estava bem?), Without You e Run With The Devil deram sequência ao programa, enquanto a plateia se aquecia e a noite avançava.
Sea of Lies foi uma ótima escolha para a apresentação. Confesso que eu havia previamente criado todo um discurso mental que pretendia defender ferreamente aqui sobre o quanto Of Sins And Shadows deveria ser a música certa para representar o clássico The Divine Wings of Tragedy (1996), mas todos os meus argumentos caíram por terra assim que LePond nos ofereceu as primeiras notas da canção, e o solo incrível de Romeo foi apenas mais um lembrete que eles sabiam muito bem o que estavam fazendo. Da minha parte, tudo isso fez com que Set the World on Fire (The Lie of Lies) passasse meio batida na sequência, mas o encerramento com a longa e incrível The Odyssey (do álbum de mesmo nome, lançado em 2002), foi mais do que digna de menção, foi digna de louvor. Que bela canção, e que banda competente para tocar isso ao vivo. Repensando aquilo que afirmei no início, três anos foi tempo demais. Que a próxima visita demore menos, e que venha acompanhada de um novo álbum.