TEMPESTADE METÁLICA ANO XXX

Em 5 de outubro de 1985 acontecia uma festa de som mecânico muito inesperada para “algumas dúzias” de rockeiros que existiam em Fortaleza, mas que atraiu atenção de diversos jovens da cidade, por ser um evento inédito e ousado para aquela época de reforma política. “Tempestade Metálica”, como ficou batizada essa festa organizada por universitários, ganhou mais duas edições em 1986, originando ali o epicentro de um dos cenários mais fiéis ao Metal no Brasil.

Trinta anos depois do primeiro acontecimento, movidas pelo desejo de relembrar aqueles três “bailes metaleiros” de forma excelente, algumas pessoas que estiveram presentes na época, resolveram iniciar um projeto liderado por Bremen Quixadá que durou dois anos de estudos, ensaios e reunião de bandas que existiam nesses primeiros anos de história. O trabalho não poderia resultar em algo melhor do que colocar em palco novamente, os “quarentões” e “cinquentões” do Asmodeus, Procreation, Beowulf e participação de músicos que fizeram parte da Revenger, Insanity e Paranoia. Para que esse sonho se tornasse realidade, a Gino Production abraçou o projeto e colocou centenas de pessoas dentro do Grêmio Recreativo do Antonio Bezerra, oferecendo a maior festa do Underground local desses últimos trinta anos: o “Tempestade Metálica Ano XXX”.

O Speed Metal do Fist Banger era esperado por um grupo grande de pessoas que já acompanhava a passagem de som liderada por de Paulo “Drunk” Henrique (bateria, Oráculo) e Vinny “Fist” Maia (vocal).  A entrada energética do vocalista ecoando um sonoro “boa tarde!” após a intro da demo “Invaders Of The Thrash” (2013), arremessou muita gente à base do palco, mas ao final da de “Merciless Death”, o som parou de funcionar. Providenciada a troca de equipamentos, o show seguiu com “Bestial Force (Now)” e “Angel Steel” até ser interrompido mais uma vez em “Speed Metal Reaper”.

Uma significativa tensão surgiu em torno da situação que poderia comprometer todo o festival, mas a técnica finalmente resolveu o problema, o que não salvou o Fist Banger, que para não estourar o tempo, teve que encurtar o ‘set’, tocando apenas mais três músicas. Restou ao fã que estava lá na frente cantando todas as músicas, aplaudir os momentos de grande diversão proporcionados pelo grupo e saudá-los como guerreiros de uma missão cumprida.

Enquanto a segunda banda se prepara, Bremen Quixadá apresenta os idealizadores das primeiras edições do T.M., Wellington Santos, sua esposa Dora Gadelha e Ricardo Catunda que discursaram sobre a origem do Festival e os primeiros movimentos do cenário local.

A noite chega trazendo a Asmodeus, banda que esteve no palco do terceiro T.M. O baixista Anderson Frota, único membro da formação original, dessa vez se sentiu mais à vontade em palco com seu modelo Rickenbacker, pois diferente do que aconteceu há 29 anos, não fizeram nenhuma “gambiarra” para que seu instrumento pudesse plugar na caixa.   Presenciar o experiente headbanger novamente na ativa tocando, batendo cabeça e cantando as composições da banda, aflorou um sentimento de nostalgia em alguns presentes.

O grupo que ficou conhecido como a primeira banda de Metal de Fortaleza, mostrou suas canções com influências que vão do Hardcore ao Thrash/Death Metal, cortesia também oferecida pelo vocalista Elineudo Morais (Flagelo), pelo Guitarrista Fabio “Morcego” (ex-S.O.H.) e pelo baterista Mário “Queen” Henrique. “Escravos Do Mal” fazia o público girar, e o mais interessante é que a Asmodeus jamais mostrou alguma música sua, se não àqueles que viveram sua época.

Nesse set, além dos ‘stage divings’, os novos fãs até acompanharam com seus “Hey-hey-hey!” a “Poder Fracassado” e puderam ‘bangear’ com as sequências cadenciadas de “Ilusão”. Depois das bases à la Celtic Frost de “Pobre Diabo”, Anderson vai ao microfone e fala sobre a emoção de estar ali mais uma vez divertindo tanta gente e falou sobre a origem da banda. A despedida foi com a música “Asmodeus” com muitos da plateia proferindo o refrão que aprenderam ali, no momento da execução.

Para algumas pessoas, principalmente para os veteranos, o melhor da festa começou às 19:00h com a subida da Procreation ao palco trazendo quase sua formação original com Ricardo “Chumbica” (vocal), Ricardo Brito (baixo), Franzé (bateria) e Tales Groo (guitarra, Dark Syde). Para essa reunião foi recrutado Joe Wilson (guitarra, ex-Dark Syde). Abriram o repertório com “Belial” que muita gente conhece na versão da Dark Syde em seu ‘debut’ “Eclipsed Soul” (2004). Os mais empolgados logo formaram rodas ao som da primeira banda de Thrash/Speed de Fortaleza.

Depois de mais uma autoral, “Povo Hebreu”, a primeira ‘jam’ da noite se inicia com Alexandre “Gato” dos Santos, vocalista da antiga Paranoia que causou devastação com “Marginal” e “A Bruxa Está Solta”. A performance do veterano do skate que saltou para o ‘mosh’, foi um show à parte que contagiou toda a molecada presente. E quem deu sequência às jams foi a Música “Knights Of The Apocalypse” da extinta Orpheus, que contou com o vocalista original, Marcos Ary e seu vocal épico.

A banda foi uma espécie de introdutora do Power Metal em Fortaleza quando existiam apenas bandas mais extremas na cidade. De volta à Procreation, outra banda da vanguarda foi lembrada com o quinteto levando o cover de “Heróis De Guerra” da saudosa Revenger, que contava com o baterista Franzé em seus últimos meses de atividade, antes de se tornar Hemisphereo e, consequentemente, Kamerata. Durante essa execução, Tales Groo não se conteve e desceu do palco para tocar guitarra junto da galera.

Antes de anunciar a próxima banda, o apresentador Vansmacy Vangleuson agradeceu à ROADIE CREW e o programa Blitz Metal pela cobertura do evento, em seguida chamou a Dark Syde que preparou um set especial para essa noite, abrindo a sessão “noventista” com participações esperadas. Os primeiros momentos tiveram “Legacy Of Shadows” e “Human Pest Control” do álbum “The Apocalypse Bell Part II: Legacy Of Shadows” (2015) e “Born For War” com João Júnior (vocal, Final Prophecy) no palco antecedendo “Sacrificed Parasites” de “Prayers In Doomsday” (2012). Depois de mais uma do novo álbum, “Escape From The Doom Desert”, Bruno Gabai (guitarra/vocal, S.O.H. e ex-baterista da Insanity) se apresenta para sentar no kit de bateria de Bosco Lacerda e descer o braço em “Fragments Of Time”, música do primeiro álbum da Dark Syde. Durante a música, Tales Groo entrega sua guitarra para Joe Wilson e salta sobre a galera, seguido por Chumbica. De volta, Tales chama outro membro do S.O.H. e fundador da Insanity, o baixista George Frizzo, e outra jam estava formada com membros da Dark Syde e Insanity tocando canções que ganharam terreno nacional pela antiga banda dos convidados –, “Brain Dead” do EP “Cryogenization” (1991) e “Night Of The Living Deads” do álbum “Phobia” (1993) estrondaram nos PAs.

O momento aumentou a troca intensa de energia. Após a despedida dos músicos representantes da Insanity, os anfitriões engatilham o mais novo hino da banda: “Domination Underground”, composto com uma letra direcionada ao cenário de Fortaleza e que arrancou o fôlego de quem estava no G.R.A.B. bradando “Thrash, Mosh, Apocalypse!”, com reforço de Chumbica e Germano Monteiro (vocal, Obskure) no microfone.

Após dezenove anos desde sua última aparição em público, uma das bandas mais comentadas durante a divulgação do festival, quebra o jejum quando Allex Thauan e Helias Vull (guitarras, Final Prophecy), Henrique Moreira (baixo, Scariotz) e Cláudio Lima (bateria, Hatori Hanzo) liderados pelo vocalista Silvio Cesar Barros, tomam posse do palco apresentando para os fãs, o novo Bewoulf. A voz de Silvio parece não ter estacionado durante esse período. Suas participações em jams nos últimos anos talvez serviram para “exercitar” suas cordas vocais que em certos momentos, ocultavam o som das guitarras. (não é exagero).

“Another Way”, música composta para a coletânea “Projeto Mythus” (1994), provou que o tempo foi fiel amigo do alcance vocal do “Lord Beowulf”. Ainda preservando o mesmo carisma de décadas, Silvio aproveita os intervalos para agradecer às pessoas que colaboraram e se fizeram presentes ao festival. Alguns covers foram tocados como “Eagle Fly Free” do Helloween, que levou Vinny Fist novamente ao palco para dividir os vocais. “Destinity Visions” da demo de 1990, deu continuidade ao repertório autoral e foi oferecida a uma amiga do vocalista que saiu de SP para presenciar o T.M. O próximo cover trouxe participações de João Júnior e Vellton Simplício (vocal, Alchemy) que dividiram as estrofes de “Carry On” (Angra) com suas técnicas distintas.

Ao término desse ato, Silvio anuncia “Flying Free” chamando o compositor da letra, Tales Groo (também ex-Beowulf), para cantar junto. Antes de a banda tocar “The Evil That Men Do” do Iron Maiden, Silvio agradeceu a dois profissionais da imprensa especializada que estavam presentes, sendo eles o Daniel Tavares (Whiplash.Net) que apreciava o evento, e a este representante da ROADIE CREW que vos escreve. Depois do clássico “Angel Hammer”, cantado pela platéia, o encerramento do show e do Tempestade Metálica Ano XXX se deu com uma grande jam que reuniu os vocalistas Marcos Ary, Vellton Simplício, João Júnior, Marcelo Falcão (Dark Syde) e Silvio César para cantarem juntos o hino do Manowar, “Battle Hymns”.

Esse acontecimento com certeza vai ficar para a prosperidade. Sem dúvida alguma, foi um dos maiores festivais de Metal com bandas locais realizados em Fortaleza. Pena que a única banda de outro estado – Vulcano – não pôde comparecer por motivos justificáveis. Uma grande manifestação de prestígio a um legado entra para a história nesse domingo do dia 11 de outubro de 2015. E que a magia desse legado possa atravessar muitas outras gerações.

 

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