Podemos definir o que foi a primeira vez do grupo de stoner rock The Atomic Bitchwax por aqui como oma viagem no tempo. A nostalgia fez os presentes ao Clash Club mergulharem aos anos 1990, época em que o rótulo que enquadra o grupo ainda não era tão popular e grupos como Monster Magnet, Godspeed eram apenas “estranhos no ninho”. Embora tivessem Black Sabbath como referência, carregavam em si afinações estranhas, características de muitas bandas alternativas da época (alguém disse Sonic Youth?). Passadas mais de duas décadas, vemos essa vertente antes “marginal”, tendo em suas fileiras milhares de fãs. E nada melhor do que ter no país um dos maiores nomes do estilo: os americanos do The Atomic Bitchwax. Contando com integrantes e ex-integrantes das bandas citadas no primeiro parágrafo, fizeram uma apresentação incendiária em São Paulo.
Antes dos anfitriões, a festa contou com a participação das bandas Grindhouse e Projeto Trator. E este último começou a tempestade musical da noite, às 19h50, ainda com a casa vazia. Onze anos de estrada e uma considerável discografia, o duo formado por Paulo Ueno (guitarra e vocal) e Thiago Padilha pratica uma música caótica, pesada e instigante, que abrange elementos do stoner, psicodelia e até traços de bandas do já citado Sonic Youth. Livre de fórmulas, a dupla mandou um set recheado de peso e experimentações, cujos destaques foram a pesadíssima A Foice, Delirios do Dr. Lilly e A Valsa, ambas com muito dos anos 90. O fim com D-Beat foi inusitado. Extremamente minimalista, contou com convidados nos berros, deixando a dupla apenas com o peso e a experimentação.
Rapidamente, às 20h45, o Grindhouse iniciou seu set com a pesada e arrastada Desert of Affliction, dona de um final pra lá de empolgante. As camisas de alguns dos integrantes (Mad Season e Husker Dü), foram a deixa para sabermos que o som dos caras era carregado e melancolia, que combinada com o peso são matadoras, como Centauros e Cleanliness. Era muito legal ver a resposta do público em relação ao quarteto, que também possui músicas fora da caixinha, como a “Motörheadiana” Throw it Out e o hit Burn Like Fire, os pontos altos do show de uma rapaziada que merece ser ouvida por mais pessoas! Que Leandro Carbonato (vocal e guitarra), Luiz Natel (guitarra), Roger Marx (baixo) e Gustavo Cardoso (bateria) continuem brilhando por aí.
Alguns ajustes eram feitos no palco até que às 21h50, o The Atomic Bitchwax, trio que conta hoje com Chris Kosnik (baixo e voz, ex-Monster Magnet e Godspeed), Finn Ryan (guitarra e vocal) e Bob Pantella (bateria, Monster Magnet) entraram com o jogo ganho mandando um trecho de In the Flesh (Pink Floyd), causando o frenesi de muita gente que ocupava a casa. Frenesi que virou agitação quando seguiram o set com Stork Theme, pesadíssimo instrumental que em menos de três minutos, nos proporciona uma viagem que vai do stoner ao quase jazz, graças ao excelente nível dos músicos, enquanto Hope You Die colocou levou todo mundo da histeria a introspecção. Assim como Forty Five, Giant e Kiss the Sun, todas ovacionadas pelo público.
O mais recente lançamento do grupo, Gravitron (2015) teve uma sequencia com a psicodelia de War Claw o hit It’ s Alright e Coming in Hot. Além de brindados com música da boa o que chamou a atenção foi a coesão dos músicos, que não perdem a pegada mesmo quando falam com os presentes. Em especial Finn Ryan, que dava goladas generosas de Jack Daniels entre uma música e outra. So Come On, Gettin’ Old e Force Field encerraram a apresentação fantástica do trio, que deixou fãs (e não fãs) satisfeitos e com astral elevado. Estado de espírito que se manteve mesmo quando alguns problemas no equipamento rolaram no meio do set dos americanos.
Uma viagem por climas pesados e climas que foram da variação e inquietude, que fizeram muitos voltar no tempo a uma época que o rótulo stoner dava seus primeiros passos firmes para se tornar mais um pedaço deste tal de rock’n’roll.