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THE SISTERS OF MERCY

Por Claudio Borges

Fumaça, muita fumaça. Essa é a costumeira percepção de quem presencia um show do The Sisters Of Mercy pela primeira vez. Mesmo sendo a quinta passagem da banda pelo país – terceira em solo carioca –, há quem ainda reclame do clima de festa de vampiros. Há também os que dizem existir playback, apenas por desconhecerem que o grupo conta com bateria eletrônica e baixo sintetizado. Santa ignorância! Tudo isso nunca foi problema para Andrew Eldritch (fundador, cantor, principal compositor e dono de uma voz grave bastante imitada), que, alheio ao falatório, segue fazendo shows aclamados por onde passa.

Dez anos após a última visita ao Rio de Janeiro, o grupo não poupou hits, simpatia e a tão propalada fumaça, realizando uma apresentação muito superior à de 2006. Sem música de abertura ou qualquer outra pompa, Eldritch, Ben Christo (guitarra e backing vocals), Chris Catalyst (guitarra e vocais) e Ravey Davey (a “enfermeira” do Doktor Avalanche – nome dado à bateria eletrônica) assumem seus postos e disparam “More”, a primeira das quatro retiradas de “Vision Thing”, último álbum da banda, gravado no longínquo ano de 1990. Foi a partir dele que o Sisters enveredou por um som mais pesado e calcado em riffs. Esse direcionamento foi incorporado até nas músicas mais antigas e de cores mais góticas. Isso fez “Amphetamine Logic”, do antológico “First And Last And Always” (1985), demorar a ser reconhecida.

Como um Ramones, mas sem o ’one, two, three, four’, emendam clássico após clássico sem espaço para interação com os fãs, mas com uma cadência certeira.  Até as “novas” (há, pelo menos, uma dezena de músicas sem versão de estúdio) soam melhor nessa dinâmica e não deixam o show esfriar. Como é o caso de “Crash And Burn”. Eldritch se movimenta pelo palco cortando as luzes e a fumaça com gestuais robóticos e um quê de Nosferatu moderno. Mesmo sem as madeixas de outrora e o emblemático chapéu, seu carisma e magnetismo o colocam no centro das atenções. Sua voz pode vir em um grito idiossincrático ou em um sussurro gótico. Sobretudo nas músicas mais climáticas do início da carreira, como “Alice”, “No Time To Cry” e “Marian”.

A essa altura, há uma névoa que transformou o Vivo Rio em um cenário digno de filme de suspense. Cortesia também da ótima iluminação. Ambientes de verde, amarelo, azul e vermelho são criados, e feixes de luz cruzam o palco e emolduram silhuetas. Ao longe, são a marca persistente do que muitos conseguem ver. É nesse teatro fantástico que as músicas compõem o enredo.

“Dominion/Mother Russia” (“Floodland”, 1987) eleva tanto mãos quanto o coro de vozes em uma explosão catártica, cujo ápice é o verso final: ‘mother Russian rain down!’. Já a pouco conhecida “Jihad”, retirada do projeto Sisterhood (produzido e composto por Eldritch para evitar que Wayne Hussey e Craig Adams usassem esse nome, o que os obrigou a mudar para The Mission), ganha uma versão pesada e menos eletrônica. Brilham a destreza técnica de Ben Christo – não à toa também guitarrista da banda de Hard Rock Night By Night – e a simpatia contagiante de Chris Catalyst. Momento para Eldritch sumir na própria fumaça de seu incansável cigarro. Ao término, os guitarristas são ovacionados e o cantor emerge das profundezas do palco para soltar sua ainda potente voz na soturna “Valentine”. Após uma hora de show, “Flood II” encerra momentaneamente a apresentação.

Saída planejada. Voltam com a balada “Something Fast”, na qual os vocais são muito bem divididos com Chris, que é cantor em sua banda de Power Pop Eureka Machines. Muitos fazem críticas pela falta de um baixista. Logo o Sisters, que sempre primou por linhas de baixo marcantes, usar bases sintetizadas indica uma diminuição do seu espectro sonoro. Algumas músicas realmente sofrem com essa formatação e perdem um pouco do impacto. “Lucretia, My Reflection” é uma delas, mas na força do show isso se torna um mero detalhe. O que não acontece com o poderoso riff de “Vision Thing” anunciando o apocalipse sonoro em versos como ‘twenty five whores in a room next door’ e ‘it’s a small world and it smells bad’.

Se é verdade que o melhor vem no fim, a segunda pausa termina com o hino “First And last And Always” e a plateia se manifesta ruidosamente. Mesmo que o som não tenha sido o melhor, “Temple Of Love” e a sua indefectível batida colorem de verde as camisas pretas, em sua grande maioria, adornadas com o símbolo da estrela. À beira do palco, o cantor rege o coral da bombástica “This Corrosion” e promove mais um canto em uníssono. Eldritch esboça um sorriso de canto de boca e se curva, junto à banda, em sinal de agradecimento. Os fãs saem saciados. Não há mais o que reivindicar.

O Sisters Of Mercy pode ter inaugurado o subgênero Gothic Rock, mas 36 anos após sua formação, na cinzenta Leeds (Inglaterra), personificam de forma exata a descrição do site oficial: uma máquina de groove industrial. Que o Rio não fique mais dez anos sem essas misericordiosas brumas.

Set list
1. More
2. Ribbons
3. Doctor Jeep / Detonation Boulevard
4. Amphetamine Logic
5. Body Electric
6. Alice
7. Crash And Burn
8. No Time To Cry
9. Marian
10. Arms
11. Dominion/Mother Russia
12. Summer
13. Jihad
14. Valentine
15. Flood II
Bis #1
16. Something Fast
17. Lucretia My Reflection
18. Vision Thing
Bis #2
19. First And Last And Always
20. Temple Of Love
21. This Corrosion

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