Tanto o The Winery Dogs quanto o Soto são formados por músicos que podemos considerá-los de casa. Isso porque, Richie Kotzen, Billy Sheehan, Mike Portnoy e Jeff Scott Soto, são bem populares no Brasil, além de bastante frequentes por aqui. Entre eles, a amizade é tanta, que foi o próprio The Winery Dogs que convidou Jeff e banda para abrir a sua “Double Down World Tour” pela América do Sul – rolou até um vídeo promocional engraçadíssimo, chamado “I Like Sauce”, que eles gravaram juntos para divulgar essa turnê. Coincidentemente, ambas as bandas estão promovendo seu segundo álbum cada. Os shows passaram, respectivamente, por Brasília (sem Soto), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba (PR) e Londrina (PR), e foram sucesso absoluto. Em São Paulo, a Tropical Butantã (que tem um estilo similar ao do Carioca Club) estava completamente lotada para recebê-las. Para você leitor que não estava lá ter uma ideia, a fila na rua era tão grande que, pontualmente às 20h, enquanto a primeira banda surgia no palco, muita gente ainda estava do lado de fora, tentando entrar.
O Soto é um grupo de nacionalidades diversas, pois além de seu líder Jeff Scott Soto, que é um norte-americano descendente de porto-riquenhos, tem o também americano David Z. (baixo), o espanhol Jorge Salan (guitarra) e os brasileiros BJ (guitarra e teclado) e Edu Cominato (bateria), em sua formação. E o quinteto que está no começo da turnê do recém lançado “Divak”, deu início após a introdução mecânica de mesmo nome, com “Freakshow”, do novo álbum. Jeff é um vocalista versátil que já explorou gêneros como Heavy Metal, Neo-Classical, AOR e Hard Rock, por exemplo. Nessa nova empreitada, ele traz um som bastante moderno, pesado e cheio de efeitos. No repertório, ele e sua banda incluíram músicas de seus dois álbuns, “Inside The Vertigo” (2015) e “Divak” (2016), além de vários covers. Então, após “Weight Of The World” – também de “Divak” -, a banda mandou uma dobradinha do Talisman – ex-banda de Soto – com “21st Century” e “Colour My XTC”. Todos os quatro integrantes faziam backings impecáveis, que somados à voz de Jeff, formavam um coral brilhante, e como a qualidade de som estava muito boa, isso proporcionou um espetáculo à parte.
Na primeira pausa, Jeff agradeceu e comemorou com o público o fato de estar de volta à cidade: “Obrigado, São Paulo! É bom estar em casa novamente. Iremos nos misturar esta noite. Tenho uma banda novinha para vocês e ela se chama Soto. Nós temos dois álbuns e vamos tocar um monte de músicas deles. Mas primeiro eu quero agradecer imensamente o The Winery Dogs por nos convidar para esta turnê brasileira”. O vocalista aproveitou para falar sobre a próxima música: “Esta é uma canção que eu co-escrevi com Mike Orlando (guitarrista), do Adrenaline Mob e do Noturnall, e ela se chama “Final Say”. Só que, infelizmente, ele se confundiu e a música ficou de fora, aí então ele se corrigiu e anunciou “The Fall”, a primeira a ser tocada do primeiro álbum. Essa em questão tem uma pegada Industrial que mesmo ao vivo remete ao Marilyn Manson e ao White Zombie. Voltando ao novo álbum, o peso se manteve com “Cyber Masquerade”.
Depois, foi engraçado quando Soto ergueu um copo de caipirinha e em bom português cantou o tradicional “vira, vira, vira, virou”. E ele virou! Na sequência o vocalista apresentou a banda, mencionando de que lugar era cada integrante, só que quando chegou a sua vez, arrancou gargalhadas ao dizer: “…e eu sou David Coverdale”. Sobre a música seguinte, Soto explicou: “Essa é sobre vocês, sobre seus filhos (caso tenham), e também sobre seus pais. Ou seja, é sobre todo mundo. Dedico à vocês de São Paulo que estão aqui esta noite”. Dessa vez o clima foi mais ameno, já que “When I’m Older” segue uma linha mais puxada para o AOR.
Após mais algumas do novo álbum, o que veio a seguir foram covers, começando por “Tears In The Sky” do Talisman. BJ, que se destacava por tocar guitarra, teclado e participar dos vocais de apoio, teve seu momento especial quando cantou trecho da famosa “Don’t Stop Believin’” do Journey, que antes de chegar ao refrão foi emendada com a música mais conhecida do Talisman: “I’ll Be Waiting” – essa incluiu um breve solo de baixo de David Z., em cima de “Billy Jean”, do Michael Jackson. Ainda vieram alguns medleys, o primeiro com as clássicas “I Am A Viking” e “I’ll See The Light Tonight” – ambas do lendário segundo álbum do Yngwie Malmsteen’s Rising Force, “Marching Out” (1985), que contava com Jeff Scott Soto no vocal – e o segundo com os hinos “We’re Not Gonna Take It” (Twisted Sister), “I Love It Loud” (Kiss) e “We Will Rock You” (Queen). Quando Edu Cominato começou a bater no surdo e em um dos tom-tons da bateria, todos vibraram, pois sabiam que era “Stand Up”, que foi composta por Sammy Hagar, mas gravada por Soto, para a trilha sonora do filme “Rock Star” (2001). O final em grande estilo foi feito com os cinco cantando à capela o refrão da balada sacana, “Community Property”, do Steel Panther. Após uma hora de show o grupo se despediu, sendo bastante aclamado pela plateia.
O local já estava tomado de gente quando meia hora após o ‘opening act’ a aguardada atração principal, The Winery Dogs, que já havia aportado por aqui em 2013 para divulgar o homônimo primeiro álbum, surgiu em cena com seu ‘dream team’ formado por Richie Kotzen (vocal, guitarra e teclado), Billy Sheehan (baixo) e Mike Portnoy (bateria) – que dispensam maiores apresentações – mandando ver com uma dobradinha do novo álbum, “Hot Streak” – lançado em 2015 -, formada por “Oblivion” e pela ótima “Captain Love” (que enquanto escrevo essas linhas, acaba de ganhar videoclipe). Levando em consideração que no Soto o som estava ótimo desde o início, no The Winery Dogs não se pode dizer o mesmo, já que no estava bem embolado. Sorte que não demorou muito e a partir de “We Are One”, do ‘debut’, tudo se ajeitou.
No primeiro momento, Kotzen que geralmente fica bastante tímido para se comunicar com o público, se mostrou empolgado com a recepção calorosa e falou: “São Paulo, o que está pegando? Vocês aí estão todos bem? Nós somos o The Winery Dogs. Temos uma nova música que se chama “Hot Streak””. É chover no molhado falar sobre a performance desse trio, mas a interpretação gestual de Kotzen e os malabarismos que os três fizeram nessa, principalmente Portnoy que jogava e girava as baquetas enquanto tocava, eram de cair o queixo até de quem não curte o trabalho desses caras. Nas improvisações, Billy Sheehan também mostrou do que é capaz.
Foi engraçado quando após a execução de “How Long” e “Time Machine” Portnoy cumprimentou o público dizendo: “É muito bom estar de volta ao Brasil. Aqui é onde tudo começou para o The Winery Dogs. Da última vez que viemos, éramos apenas filhotinhos, agora estamos de volta e já somos cachorrões. Mas nos chamem apenas de adolescentes!” E quando resolveu falar sério, arrancou aplausos: “É bem legal estar de volta e eu tenho que dizer, sem brincadeira nenhuma, que São Paulo tem a minha plateia favorita no mundo inteiro, porque vocês se mostram amáveis”. Daí então Mike bateu no cowbell e pediu para a plateia o acompanhar através de palmas ritmadas a cada vez que o ouvissem bater no acessório em “Empire”. E ele foi atendido. Um momento singular aconteceu quando o palco ficou a disposição de Kotzen, que, ao violão, tocou trecho de uma de suas músicas solos mais aclamadas pelos fãs, “You Can’t Save Me”, que logo foi emendada com “Fire”, do novo álbum do The Winery Dogs. Com Sheehan e Portnoy de volta e Kotzen ao teclado, essa parte calma do show foi encerrada com “Think It Over”.
Cada um nesse grupo tem as suas “esquisitices” particulares no modo de tocar. Richie Kotzen, por exemplo, nem lembra mais o que é uma palheta, com isso, seus dedos da mão direita já devem estar até petrificados, de tanto que os judia enquanto toca. Mas Portnoy extrapolou nesse sentido. Além de alguns “malabarismos” que fez no decorrer das músicas, na hora do solo ele simplesmente saiu batendo em tudo o que via pela frente, não só em sua bateria – que, curiosamente, ele tem dispensado as peles de resposta dos tom-tons -, a qual ele tocou até quando saiu de trás dela, mas também no chão do palco, nos P.A.s, no microfone e no teclado de Kotzen. O mais hilário é que antes de voltar ao seu instrumento para finalizar seu solo, foi até a beira do palco e deu uma sorrateira esfregada na careca de um segurança que estava de costas para ele. A plateia caiu na gargalhada e o rapaz em questão não conseguiu disfarçar o sorriso discreto.
Após “The Other Side”, foi Billy quem ficou sozinho no palco e mostrou suas conhecidas habilidades com as cordas de seu tradicional contra-baixo Yamaha, modelo ‘signature’, “Attitude Limited 3”. Após “Ghost Town”, o grupo mandou “I’m No Angel” e “Elevate”, que foi a mais comemorada de todo o set. Mas como não poderia deixar de ser, teve bis sim e ele veio com “Regret” e “Desire”, que encerraram essa noite em que os fãs que saíram de suas casas para prestigiar o Soto e o The Winery Dogs voltaram satisfeitos com o que esses caras fizeram em cena. E você acha que Jeff Scott Soto, Richie Kotzen, Billy Sheehan e Mike Portnoy os decepcionariam?
THE WINERY DOGS – Setlist:
Oblivion
Captain Love
We Are One
Hot Streak
How Long
Time Machine
Empire
You Can’t Save Me (cover do Richie Kotzen)
Fire
Think It Over
– Solo de bateria
The Other Side
– Solo de baixo
Ghost Town
I’m No Angel
Elevate
Regret
Desire
SOTO – Setlist:
Divak (Intro)
Freakshow
Weight Of The World
21st Century / Colour My XTC (Covers do Talisman)
The Fall
Cyber Masquerade
When I’m Older
Suckerpunch
Unblame
Tears In The Sky (cover do Talisman)
Medley: Don’t Stop Believin’ (Journey) / I’ll Be Waiting (Talisman) / Billy Jean (Michael Jackson)
I Am A Viking / I’ll See The Light Tonight (covers do Yngwie Malmsteen)
Medley: We’re Not Gonna Take It (Twisted Sister) / I Love It Loud (Kiss) / We Will Rock You (Queen)
Stand Up (cover do Steel Dragon)
Community Property (cover do Steel Panther a capela)