Por Valtemir Amler
Não é necessária muita pesquisa e nem muito receio para afirmar que, quando fundou a banda em 2008, o vocalista norte-americano Troy Norr tinha uma grande, enorme, gigantesca influência do lendário mestre dinamarquês que adoramos conhecer como King Diamond. Se originalmente o Them (que até carrega o nome de um dos discos do King Diamond, lançado em 1988) carregava todos as características de uma ‘banda tributo’, essas características ficaram para encerradas na primeira encarnação (que durou até 2011), e desde que retomou atividades em 2014 a banda assumiu o controle de suas ações, criando repertório próprio e com muita personalidade. Com um histórico na música pesada que remonta a meados dos anos 80, Troy (que sempre foi o vocalista da banda thrash Coldsteel), ainda mantém algo de King Diamond no seu Them, especialmente naquilo que se refere a imagem e as letras, que seguem uma narrativa que vem se desenvolvendo desde os primeiros dias, criando álbuns conceituais em uma sequência quase vertiginosa. Desde o retorno, em 2014, já são quatro álbuns completos e mais um EP, além de vários singles que tem mantido o sexteto ativo ao longo desses quase dez anos. Para conhecer mais dessa história, conversamos com Troy Norr.
Pelo que li, no início não havia a ideia de tornar o Them em uma banda autoral. O que pode nos contar daqueles primeiros dias?
Troy Norr: É verdade, no começo era tudo muito diferente. A verdade é que as pessoas que hoje estão envolvidas com a banda não faziam parte dela antes, era um grupo totalmente diferente de pessoas, com um objetivo diferente. Éramos um quinteto, e três desses músicos eram da minha banda anterior, o Coldsteel. Com o Coldsteel fazíamos som autoral, tocávamos um híbrido de speed e thrash, e estávamos trilhando um caminho mais sério, mais profissional, por assim dizer. Ainda assim, a banda tinha se separado, e estávamos cada um seguindo seu próprio caminho. Foi assim que nasceu o Them. Estávamos tentando nos reconectar como músicos e também com essa emoção de tocar por diversão, então escolhemos uma de nossas bandas favoritas, e decidimos servir basicamente como uma banda cover. Claro, estamos falando do King Diamond.
Então, você chegou a ficar por algum tempo fora do circuito.
Troy: Pode-se dizer que sim. Mas a minha vida havia virado de cabeça para baixo naquela época. Por volta de 2002 ou 2003 voltei a tocar, pois meu casamento tinha acabado, minha esposa e eu nos divorciamos, ela ficou com nossos filhos e se mudou, eu estava tão frustrado e irritado com aquilo, estava com muita raiva. E também estava com muito tempo ocioso, não tinha nada para fazer a não ser voltar para a música. Eu estive casado por oito anos, e neste tempo todo nunca mais havia cantado. Os últimos shows que tinha feito haviam sido com o Coldsteel, por volta de 1992. Então, em 2003 me juntei a uma banda que curiosamente se chamava Anger Management.
Caiu como uma luva (N.R: traduzido, o nome significa Controle da Raiva).
Troy: Pois é. E funcionou, eu diria (risos gerais). Toquei com essa banda por anos, e basicamente o que fazíamos eram covers, havia algumas poucas faixas originais, mas o repertório era primordialmente canções do Iron Maiden, Pantera, Metallica, Megadeth, Slayer, e coisas mais rock dos anos 60 e 70, quer dizer, era uma banda muito boa, daquelas que realmente ajudam a expandir a experiência de um músico. Você aprende muito quando precisa sair da sua zona de conforto e fazer o que os outros querem que você faça, e sair do thrash e do metal tradicional ajudou a expandir os meus horizontes como vocalista e fã de música. Cara, aquilo era realmente divertido, bons tempos.
A ideia do Them foi inspirada por aquilo que sentiu ao tocar com o Anger Management.
Troy: Sim, foi literalmente isso. Um dia, cheguei para um ensaio e tínhamos esse guitarrista que eu chamava de ‘jukebox humana’, já que ele parecia conhecer todas as músicas de todas as bandas de rock sobre a Terra (risos). Eu cheguei e ele começou a tocar a The Invisible Guests (N.R: terceira faixa de “Them”, lançado pelo King Diamond em 1988), e eu pensei ‘isso não é possível’. Quer dizer, muita gente curtia a banda, mas eu não conhecia nenhum guitarrista capaz de tocar King Diamond em Long Island. Eu comentei isso com ele, e ele respondeu ‘eu não sei só essa música, eu sei tocar todo o álbum’. E ele literalmente começou a tocar tudo, na ordem que está no álbum! Cara, eu queria aquilo, eu queria tocar todas aquelas músicas! Eu e ele estávamos realmente empolgados, decidimos que iríamos incluir pelo menos a Welcome Home (N.R: segunda faixa de “Them”) e apresentamos a ideia para os outros caras, mas eles sequer pensaram a respeito. Foi um não instantâneo. Não lembro a razão, mas eles nem sequer discutiram a ideia, recusaram na hora! Meu amigo Jukebox Humana, cujo nome realmente é Rob ficou frustrado, eu também, então disse a ele ‘Rob, muitas coisas estão acontecendo na minha vida nesse momento, mas ano que vem vamos fazer uma banda cover do King Diamond, e tocaremos três shows especiais’. E assim fizemos, em 2008.
Funcionou logo de cara?
Troy: Sim, foi insano! Infelizmente, Rob não pode seguir adiante na banda, mas ele fez os três shows combinados, em que tocamos o “Them” na íntegra. Completei a banda com caras que eu conhecia do Coldsteel, e as coisas estavam indo muito bem, coisas bem legais aconteceram conosco. Na terceira noite, o próprio Mike Wead (N.R: guitarrista do King Diamond) subiu no palco e tocou conosco, a plateia enlouqueceu! Uma ótima lembrança!
Em que momento você decidiu que queria trazer o Them para o mundo das bandas autorais?
Troy: Bem, o Them originalmente foi concebido para fazer três shows, mas deu tão certo que levamos adiante. No final de cada ano, eu me reunia com os caras e perguntava ‘e aí, vocês estão a fim de seguir adiante?’. Eles sempre diziam sim, e seguimos. No terceiro ano, fiz a mesma pergunta, e quando recebi os ‘sim’ como resposta, falei que estava feliz com a banda, mas que devíamos fazer algo especial para quem nos seguia. Disse a eles que gostaria de ter uma música própria meio que no estilo do King Diamond, em que eu pudesse cantar como o King, mas os caras simplesmente não se animaram. Foi mais ou menos o mesmo que havia acontecido com o Anger Management. Quando chegou na metade do nosso terceiro ano como banda, eu meio que forcei o assunto: ‘caras, eu não estou pedindo um álbum, estou falando de uma música! Vamos lá, vocês devem ser capazes de escrever ao menos uma única música nesse estilo, é apenas para fazer algo especial para as pessoas!’. Mas, é claro que isso nunca aconteceu. Eles nunca colocaram as ideias na mesa, e eu meio que perdi o interesse naquilo. Tocar covers é legal, mas por um tempo, não para sempre. Simplesmente me reuni com o Coldsteel, e saímos em turnê, deixei o Them para trás por um tempo.
A ideia então era criar novo material com o Coldsteel?
Troy: Na verdade não, o que eu realmente queria era encerrar a história do Coldsteel da maneira correta, com a banda em um bom momento. A verdade é que nosso baterista original, Dom Mincieli, faleceu em 1989 em um acidente de carro, na época das nossas demos. Nós nunca nos recuperamos verdadeiramente daquilo, e desde então, embora seguíssemos em frente e até tenhamos gravado um disco, estávamos emocionalmente destruídos, e eu não queria que essa história terminasse assim. Por isso decidi retomar o Coldsteel, queria dar um final mais adequado para a nossa história.
E então você estava livre para retomar o Them.
Troy: Isso foi interessante. Fizemos a turnê com o Coldsteel, e acabamos chamando alguma atenção. Por conta disso, dois selos diferentes entraram em contato conosco, um para relançar nosso antigo debut (N.R: Freakboy, de 1992), e outro interessado em lançar uma coletânea com as nossas demos. O selo que lançou o álbum é da Alemanha, a Battle Cry Records, de Andi Preisig. Ele acabou se tornando um amigo, e algum tempo mais tarde, ele me ligou do nada dizendo que estava em Long Island, e perguntando se queria beber algo com ele. Marcamos de jantar para colocar a conversa em dia, e naquela noite ele estava acompanhado por dois caras da banda Lanfear, da Alemanha. Eles estavam ali para tocar em um festival, em Atlanta. Bem, eu não conhecia ninguém além do Andi, mas sabia que eles eram músicos, então começamos a falar sobre música. Lá pelas tantas, comecei a mostrar algumas ideias para o cara ao meu lado, que era Markus Ullrich, guitarrista do Lanfear. Mostrei a logo do Them, e ele se interessou, então expliquei o conceito e tudo o mais. Ele ficou ouvindo tudo, e no final me falou ‘cara, isso é bem impressionante. Você deveria fazer isso’.
E você fez.
Troy: Sim, mas acabou levando um tempo. A verdade é que tinha conhecido uns caras legais da Alemanha que apoiavam a minha ideia, mas até então era só isso. Após alguns meses, meu telefone tocou e era o Markus. Ele me perguntou como estava o Them, e eu falei pra ele que estava parado, pois ninguém queria me ajudar com aquilo. Então, ele disse, ‘tá certo, eu faço isso. Te ligo novamente em algumas semanas’. E foi assim mesmo (risos). Três semanas depois ele ligou, com o álbum Sweet Hollow completo, eu só precisei criar as letras (risos). E essa é a história completa de como o Them nasceu!
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