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THULCANDRA: SOB DOMÍNIO DOS ANJOS CAÍDOS

Por Valtemir Amler

Estabelecer-se em um cenário tão competitivo (e restrito) quanto o do metal extremo não é tarefa das mais fáceis, e isso é de conhecimento geral. Estabelecer-se duas vezes, com duas bandas diferentes, e com estilos musicais também diferentes, isso já é quase uma impossibilidade. E o ‘quase’ nesse ponto é muito bem aplicado, já que temos alguns exemplos de músicos que conseguiram superar essa barreira, e um deles é o guitarrista e vocalista alemão Steffen Kummerer. Com um currículo impressionante que também abrange participações especiais em diversas outras ótimas bandas, Steffen apareceu para o mundo primeiro com o Obscura, que fundou em 2002 e dedicou totalmente ao technical death metal, com fortes referências progressivas. Pouco mais tarde, em 2003, ele resolveu dar um passo adiante e mostrar todo o seu amor por aquele black/death melódico típico dos grandes atos suecos dos anos 90, como Dissection, Sacramentum e Unanimated, nascendo assim o Thulcandra, tema principal dessa nossa conversa com o vocalista. Mantendo aquela qualidade tão costumeira nos trabalhos de Steffen, o Thulcandra mostra o músico cercado de talentos. A banda é completada com Carsten Schorn (baixo, Nailed To Obscurity), Alessandro “Erebor” Delastik (bateria, ex-Nargaroth) e Mariano Delastik (guitarra, The Soulscape Project), além do costumeiro toque de qualidade do sueco Dan Swanö, que trabalhou ao lado dos alemães nos dois álbuns mais recentes, A Dying Wish (2021) e Hail The Abyss (2023). Steffen nos falou sobre a história e o momento atual do novo gigante do black/death germânico.

Como foi a sua introdução no mundo do black metal?

Steffen Kummerer: Tem tudo a ver com o meu início no metal extremo, tudo a ver. Quer dizer, quando comecei a mergulhar no metal extremo, eu não quis ficar totalmente focado em um único subgênero, quis logo expandir o meu olhar e ver o quadro completo, todas as possibilidades que eram oferecidas pela música extrema. Claro que era uma época diferente, e como a internet não era algo ainda, conhecer novas bandas era basicamente fruto das conversas com amigos, discos e CDs que emprestávamos uns para os outros e que depois copiávamos em fitas, acho que todos com a nossa idade meio que se identificam com esse processo. Então, não era tão fácil escolher, tipo ‘eu só quero conhecer bandas de death, ou de black, ou de grind’, isso não fazia muito sentido naquela época, pois a oferta era pequena, e você basicamente pegava aquilo que chegava às suas mãos, especialmente no extremo, que era mais restrito.

Sim, foi dessa forma que terminei sendo fã de Echo And The Bunnymen e Napalm Death ao mesmo tempo.

Steffen: Exatamente (risos). Acho que foi assim com todos nós, tínhamos um círculo de amigos que curtiam música, cada um tinha suas preferências e seus contatos de onde conseguiam música, e todos trocávamos material, fosse o que fosse. Claro que algumas vezes ouvíamos algo que não encaixava, mas nossos ouvidos foram treinados para essa pluralidade de música desde aqueles tempos. Era apenas questão de ir separando aquilo que mais satisfazia os nossos gostos.

E foi assim que você chegou no death do Obscura e no black do Thulcandra.

Steffen: Sim, de alguma maneira o black e o death metal foram os estilos que mais chamaram a atenção do meu grupo de amigos, ao mesmo tempo que eram também gêneros muito populares na Alemanha, Áustria e Suíça, a nossa base de atuação, por assim dizer. Eu estava em Munique, muito próximo desses outros dois países, e muitas bandas incríveis estavam se firmando nessa área, então estávamos todos muito empolgados com tudo o que estava acontecendo a nossa volta, todos nos sentíamos parte de algo que estava acontecendo naquele momento. Lembro que chegou a um ponto em que simplesmente pagávamos as distribuidoras para nos enviarem CDs de metal extremo sem nem ao menos saber do que se tratava, tudo pela empolgação do que estava acontecendo, sabíamos que seria algo incrível. Ficamos estreitamente conectados a essa cena underground, e de alguma maneira acebei muito conectado com o death metal que vinha dos EUA, especialmente Death e Atheist; e também com o black metal da Escandinávia, Emperor, essas coisas. Tudo o que fosse lançado pela No Fashion Records ou War Anthem Records se tornaram quase que sagrados para nós. Eu ouvia Unanimated e Dissection e simplesmente amava a combinação de melodias com pura rispidez e obscuridade, e isso é algo que a primeira geração do black metal não oferecia. Então, não sou um grande fã de Venom embora reconheça o valor deles para o desenvolvimento da música pesada, mas sou muito fã de bandas influenciadas por eles, como o Samael e tantos que vieram depois.

Bem, nos anos 90 havia o Inner Circle na Noruega, o Austrian Black Metal Syndicate na Áustria e outras ‘organizações’ ao redor do mundo. Existia algo do tipo conectando a cena alemã de black metal?

Steffen: Eu não consigo lembrar exatamente. Acho que existia uma conexão entre algumas bandas daqui naquela época, mas nunca nada que fosse tão organizado quando o Austrian Black Metal Syndicate, por exemplo. A Alemanha teve uma cena grande e intensa, mas era muito underground, as bandas alemãs ficaram muito maiores fora da Alemanha do que por aqui, o que é engraçado. Produzíamos ótimas bandas e tínhamos um público enorme para o estilo, mas os alemães queríam ver bandas escandinavas, enquanto os outros queriam ver bandas alemãs, como assim? (risos gerais). Coisas dos anos 90.

Você saberia dizer quais foram os álbuns de black metal que mais te influenciaram?

Steffen: Deixe-me ver (N.R: ele pensa por alguns segundos). Têm alguns álbuns que definitivamente precisam estar nessa lista como o Prometheus – The Discipline of Fire and Demise (2001, Emperor), e ainda The Somberlain (1993, Dissection), Ancient God Of Evil (1995, Unanimated), Verwüstung / Invoke the Dark Age (1994, Abigor) e Eternal (1999), do Samael. Esse último nem é algo realmente black metal deles, é algo bem experimental, mas somou muito no que penso sobre música.

Sim, todos esses álbuns são bem diferentes entre si, então isso meio que explica a sua postura diante da música, que é bem aberta. E isso também ajudou na hora de encontrar seu próprio estilo, certo?

Steffen: Sim, sem dúvida. Para começar, eu não acho que alguém pode ser um bom músico sem ouvir muita música, é como um esportista que não vê esporte, entende? Quanto mais música você ouve, mais você se habitua com coisas como melodia e ritmo, e quanto mais amplo é o seu olhar, mais coisas diferentes você enxerga que poderão fazer a diferença quando estiver compondo. Outra coisa que acho muito importante é, antes de começar a compor, saiba com clareza de onde você vem e onde quer chegar com aquela música. Desde o começo eu sabia muito claramente a direção que queria seguir, sempre tive o início e o fim de cada canção muito claro na minha mente, então, todas essas referências que fui colhendo ao longo do caminho serviram basicamente para preencher a lacuna entre os dois pontos, para não ficar previsível demais. Nunca quis soar como uma banda cover de alguém, então não basta ouvir, assimilar e replicar, você também precisa saber o que realmente quer fazer.

Quando o Thulcandra nasceu, você já tinha o Obscura. Quer dizer, você já tinha uma banda, então o que motivou a criar o Thulcandra logo em seguida?

Steffen: Sim, foi literalmente logo em seguida, pois o Thulcandra nasceu um ano depois do Obscura, então, foi muito rápido. Além disso, o Thulcandra originalmente era formado pelos membros do Obscura, então era normal as pessoas fazerem confusão na época, e claro, isso ainda suscita algumas dúvidas hoje. Mas, respondendo a sua pergunta, a razão de ter criado o Thulcandra é que sentia que precisava separar as ideias que estava tendo, para que pudesse trabalhá-las com a precisão que elas demandavam. Quando comecei com o Obscura, logo gravamos uma primeira demo, que se chama Illegimitation (2003), e o que você ouve lá é basicamente uma mistura de death metal com melodic black metal e thrash, ou seja, era uma mistura de tudo que no fim das contas não aprofundava em nada, e não é assim que lido com música. As coisas precisam ser tratadas de forma séria, é assim que vejo as coisas. Então, ainda éramos bem jovens, mas já entendíamos que precisávamos ser mais focados, que precisávamos dar o nosso melhor ou seríamos só mais outra banda mediana que nem sabe direito que gênero está tocando (risos). O Thulcandra permitiu que o Obscura fosse uma banda melhor, e acho que o Obscura faz o mesmo pelo Thulcandra. Não consigo me imaginar sendo criativo sem nenhuma das duas.

Bem, o Obscura tem toda essa aura ‘espacial’ em sua música e letras, e confesso que sempre achei que o nome Thulcandra fosse uma referência sua à obra Além do Planeta Silencioso, de C.S. Lewis (‘Out Of The Silent Planet’, no original, livro lançado originalmente em 1938), mas, pelo que conversamos antes, não é nada disso.

Steffen: Pois é, não tem nada a ver (risos). E confesso que agora, com todas essas conexões que você fez, acho que seria muito mais legal dizer que foi essa mesmo a ideia, mas infelizmente eu não era tão inteligente na época, nem sabia que esse livro existia, é uma vergonha (risos). A verdade é que era simplesmente o nome da minha demo favorita do Darkthrone (N.R: de 1989), então roubei o nome (risos gerais).

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