Por Valtemir Amler
Quando deu os seus primeiros passos claudicantes na Estocolmo de 1995, a cena metálica da Suécia já era uma das mais apreciadas de todo o mundo, especialmente entre os fãs de metal extremo. Fosse pelo death dos gigantes Entombed, Dismember, Grave e Unleashed ou pelo black de Marduk, Dark Funeral, Dissection e Unanimated, os suecos ganhavam espaço a cada dia nas coleções dos aficionados, o que enchia o peito de entusiasmo daqueles jovens garotos que então começavam uma caminhada pelos caminhos mais estreitos, desafiadores e sombrios do metal extremo. Misturando em sua fórmula o black metal que seu conterrâneo Bathory fazia no início da carreira com o viking metal daquele mesmo Bathory nos anos posteriores, o Thyrfing rapidamente ganhou uma fiel legião de fãs após seus dois primeiros álbuns, Thyrfing (1998) e Valdr Galga (1999), mas foi com os dois seguintes, Urkraft (2000) e o imbatível Vansinnesvisor (2002) que eles se tornaram lenda em todo o mundo. Contando hoje com os fundadores Patrik Lindgren (guitarra) e Joakim Kristensson (teclado) ao lado de Dennis Ekdahl (bateria), Jens Rydén (vocal) e Fredrik Hernborg (guitarra), eles ostentam uma carreira solidamente firmada em oito álbuns completos de estúdio, sendo o mais novo deles Vanagandr (2021). Nada mal para um grupo de garotos que um dia chegaram a imaginar que jamais conseguiriam tocar além das fronteiras da sua Suécia natal. Confira o que Patrik Lindgren tinha a nos contar sobre toda essa história de sangue, batalha e glória.
É reconfortante poder olhar para o lado e ver que não somos os únicos ficando mais velhos e experientes, as nossas bandas favoritas estão seguindo o mesmo caminho natural. Com o Thyrfing tem sido assim, afinal em apenas mais alguns anos estarão celebrando três décadas.
Patrik Lindgren: Pois é, eu gostei mais da parte do ficando experientes do que da parte do ficando velhos (risos gerais). Bom, ainda bem que você não disse ‘ficando mais sábios’, pois não é bom exagerar (risos). É incrível, cara, trinta anos é muito mais do que poderíamos supor, e o tempo está nos levando até lá, então, é apenas questão de aproveitar cada momento e esperar, logo seremos uma banda com trinta anos de carreira.
Deve ser engraçado a sensação de estar alcançando essa marca, afinal, há apenas alguns anos, você era apenas um fã esperando a sua banda favorita celebrar algo assim. Hoje, seus fãs esperam por isso.
Patrik: É verdade, se você parar para pensar sobre isso, é algo realmente bem maluco. Lembro que quando começamos, as pessoas falavam que em alguns anos o Black Sabbath comemoraria três décadas, o Deep Purple também, que o The Who e outros caras eram ainda mais antigos, o pessoal chamava de dinossauros do rock. Porra, não quero ser um dinossauro ou algo do tipo, mas vamos lá, fazer o que? (risos gerais). Mas é bem legal ver que tantas pessoas se importam com isso, pois mostra que, no fim das contas, aquilo que fizemos ao longo desse tempo foi admirado por algumas pessoas, e isso dá uma ótima sensação.
Imagino que vocês devam até esquecer isso, até serem lembrados.
Patrik: Sim, às vezes são tantas coisas acontecendo que nem percebemos a passagem do tempo, e lembramos mais de datas assim quando os fãs nos lembram. Se é importante para eles, então é importante para nós, não somos o tipo de banda que simplesmente vai falar ‘tanto faz’.
Ao mais legal é que, com o passar dos anos, vocês viram muita coisa se transformando. Imagino que o cenário em que nasceram era muito diferente do atual.
Patrik: Ah, totalmente! Bem, nós somos da Suécia, e quando começamos a própria cena daqui já era algo diferente daquelo que víamos quando éramos apenas fãs de música, no final dos anos 80. Antes, a cena era bastante pequena, mas absolutamente unida, todas aquelas bandas se conheciam, eram amigos, compartilhavam integrantes, foi a época do início, e era bem legal ser parte daquilo tudo. Quando o Thyrfing nasceu, a Suécia já tinha um cenário maior, conhecido em todo o mundo, com várias bandas de renome mundial, quer dizer, muitos olhos estavam virados para cá em busca de uma nova grande banda, e isso em relação a vários gêneros musicais, era uma febre. Muitas bandas conseguiram contratos simplesmente por serem da Suécia, foi uma época cheia de empolgação e esperança, e novas bandas surgiam todos os dias. Era engraçado, pois naquela época achávamos que tinha coisas demais acontecendo, mas a verdade é que não era nada se comparado ao que vivemos hoje. Atualmente você tem mil álbuns de metal extremo sendo lançados todos os dias, é complicado sobreviver nesse mundo, pois você simplesmente não consegue se manter atualizado com tudo o que está acontecendo.
Você nem imagina o quão bem eu entendo as suas palavras.
Patrik: É, você tem que acompanhar, né? Boa sorte (risos gerais). Eu sei que é complicado, pois você tem um milhão de discos sendo lançados, e todos muito facilmente acessíveis. Ao mesmo tempo, existem milhares de outras distrações concorrendo com a música, você tem milhares de filmes, séries, livros, jogos, tudo acessível o tempo todo, instantaneamente, com um clique. Acho que isso é ótimo, mas acredito que as pessoas gastam mais tempo tentando descobrir o que fazer do que realmente fazendo algo, e isso complica a situação para todos. Quanto a música pesada em si, prefiro ver isso como algo positivo, pois acredito que os melhores vão acabar sobressaindo, não importa quanto tempo leve. Não sou do tipo que acha que o cenário hoje é formado por ‘não reais’, como alguns gostam de dizer, não acho que as bandas antigas são melhores que as novas e muito menos que não existem boas músicas sendo feitas hoje. Falar uma baboseira dessa é como dizer que você não acredita na música, e não sou assim. Existem ótimas novas bandas e ótimas novas músicas, apenas é o caso que isso tem que competir com coisas demais. Essa é a principal mudança que vejo no cenário, tudo acessível o tempo todo deixou tudo muito mais competitivo, para o bem e para o mal.
E esse é um ponto de vista interessante, pois um dia vocês foram os novatos, e enquanto alguns podiam dizer que estavam apenas surfando na onda, tantos outros preferiram curtir um álbum como Valdr Galga (1999) e absorver tudo o que estavam oferecendo em termos de música e letras.
Patrik: É isso aí, é disso mesmo que estou falando. Imagina como foi quando o Black Sabbath surgiu, se todos os caras que curtiam Beatles ficaram dizendo que Ozzy e os caras eram ‘posers’. Depois, se os fãs do Black Sabbath ficaram se lamuriando e dizendo que os caras do Metallica eram posers? Isso não existe, cara, isso é besteira! O único jeito dessa coisa continuar é apoiando as bandas que estão surgindo. E não é porque hoje somos uma banda ‘das antigas’ que vamos esquecer quem somos e de onde viemos, então, força aí para todos que estão chegando no mundo do metal, fãs, músicos, jornalistas, todos são muito bem-vindos, não deixem os outros dizer o que vocês podem fazer ou devem gostar.
Não tenho como discordar. Bom, em 2002 vocês lançaram Vansinnesvisor, um álbum que mudou o status do Thyrfing. O que lembra daquele período?
Patrik: Aquela foi uma época bem especial. Vínhamos de três álbuns em que pouco a pouco estávamos ganhando mais espaço na cena, e apenas queríamos manter o bom momento, por assim dizer, então não buscávamos – e nunca buscaremos – fazer algo totalmente diverso do que fizemos antes, mas lembro que trabalhamos um bocado em Vansinnesvisor. Uma coisa que lembro muito claramente é que estávamos ficando um pouco mais exigentes em relação ao que fazíamos, e isso valia tanto para a música quanto para as letras. Quando começamos ainda éramos garotos realmente jovens e inexperientes, tudo o que queríamos era fazer música que realmente agitasse nossos corações e então letras que combinassem com aquelas músicas, e acho que conseguimos fazer isso com sucesso. A mitologia e a História nórdica nos dão ótimo material para isso, e acho que fomos ficando cada vez melhores em mesclar esses elementos na música e nas letras. Com Vansinnesvisor acredito que demos um grande salto, especialmente naquilo que se refere as letras, pois foi algo bem mais pessoal e profundo do que havíamos alcançado antes. ‘Canções da Loucura’, é isso que aquele título significa, e basicamente fala sobre viver nossas vidas sem perspectiva alguma, apenas seguindo o fluxo das coisas dia a dia, sem questionar, sem buscar nenhuma mudança, apenas se encaixar no esquema das coisas. Foi legal as pessoas se identificarem tanto com aquele álbum, até hoje ouvimos falar coisas boas dele.
Ficamos felizes em perceber que mantiveram essa postura e qualidade no mais novo álbum, Vanagandr, mas espero que não esperem mais oito anos para lançar um novo álbum.
Patrik: Ah cara, isso foi inesperado até para nós (risos). Quando lançamos De Ödeslösa (2013) jamais pensamos em ficar oito anos sem um novo álbum, mas foi exatamente o que aconteceu, acho que estivemos muito ocupados no período (risos). Bem, mantivemos a banda ativa por todo esse tempo, fizemos alguns shows em grandes festivais nesse período, e, acredite se quiser, começamos a compor bastante cedo, acho que em 2014 já tínhamos ideias para algumas canções. Então, foi apenas uma questão de o avanço ter sido lento. Mas, fiquem tranquilos, o próximo não vai demorar tanto assim.
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