Por Mitch Lafon
A união de Ted Poley (vocal, Danger Danger), Steve Brown (guitarra e teclado, Trixter), Greg Smith (baixo, Ted Nugent, Rainbow, Alice Cooper e outros) e Chuck Burgi (bateria, Rainbow, Blue Öyster Cült, Joe Lynn Turner e Billy Joel) já tinha dados bons frutos no disco de estreia, homônimo, lançado em 2017. Porém, eles conseguiram se superar com Lions. O repertório dinâmico e agradável traz faixas que irão contentar não somente fãs de Danger Danger e Trixter, mas de hard e melodic rock em geral.
No novo álbum do Tokyo Motor Fist temos a presença do baterista Chuck Burgi (Billy Joel), Greg Smith (baixo,Ted Nugent, Rainbow, Alice Cooper) e Ted Poley (vocal, Danger Danger). É um típico supergrupo da gravadora Frontiers, mas esse sairá em turnê, certo?
Steve Brown: Claro! Isso é o principal que gostaria de dizer para todos e o que nos diferencia da maioria dessas outras bandas. Sem desrespeito aos outros projetos, bandas e supergrupos, mas tocamos ao vivo. Acho que o fato de todos morarmos na costa leste (dos EUA), facilita um pouco nossa vida, porque podemos ensaiar. E, levando tudo em consideração, esse é o nosso projeto principal. É surpreendente que isso tenha se tornado minha principal ocupação e estou adorando cada minuto disso. Adoro fazer música com esses caras e dá para perceber no álbum. Estamos no meio de uma pandemia e aqui estou lançando o segundo álbum do Tokyo Motor Fist. Só lançar um álbum em 2020 já é motivo de orgulho. Sou um cara positivo e olho o lado bom das coisas. No meio de uma situação terrível, conseguimos lançar um grande registro. E o mais importante é a mensagem positiva que ele tem, além do ótimo rock’n’roll. Os 47 minutos dele vão deixar a vida de todos que o ouvirem, melhor.
Como tudo aconteceu? É um projeto bem pessoal, composto e produzido por você. É um risco não ter outra pessoa para produzir e dar um toque ou simplesmente alguém para trocar ideias, ou é melhor fazer tudo sozinho para deixar como você quer?
Brown: Veja, eu gravo álbuns há 30 anos e tenho um estúdio na minha casa há 27, então, acho que cheguei a um ponto que sei o que estou fazendo. Se não soubesse, deveria me aposentar ou largar tudo. O que posso dizer é que por mais que eu ame fazer turnês e tocar ao vivo, desde que lançamos o primeiro álbum do Trixter – que completa 30 anos esse ano – eu me apaixonei por estar em um estúdio e fiquei obcecado em aprender cada minúsculo detalhe de gravação. Eu me apaixonei tanto por Eddie Van Halen, Gene Simmons e Paul Stanley, quanto por “Mutt” Lange e Bruce Fairbairn. No nosso segundo álbum, trabalhando com Jim Barton, foi quando eu descobri a mágica de um estúdio. Eu não precisava de ajuda com as composições, mas queria alguém que o levasse para outro nível e foi isso que consegui. Foi um grande período, em que ainda se gravava como antigamente, em um grande estúdio com a banda toda junta. As bandas hoje em dia jamais vão passar por isso, foi uma época mágica. E eu sempre adorei trabalhar em equipe. Por mais que tenha produzido os dois últimos do Trixter, o baixista, P.J. Farley, funciona como coprodutor. E nesse do Tokyo Motor Fist, estive sempre aberto a sugestões, tanto que pedi ao Bruno Ravel (guitarrista, Danger Danger, The Defiants) para me ajudar na mixagem e ele fez um trabalho fantástico. Sempre acreditei que esse álbum era muito especial, por isso achei que outra visão poderia levá-lo a um nível ainda mais alto.
Em termos do processo de gravação, em algum momento vocês ficaram os quatro no estúdio ao mesmo tempo ou foi tudo por troca de arquivos?
Brown: Infelizmente, não houve muito do primeiro. No álbum de estreia, Chuck Burgi veio até aqui gravar a bateria, porque mora na cidade ao lado. Mas nesse, ele quis fazer algumas experiências e merece elogios por isso, uma vez que não é nenhum garoto e ainda tem fome de aprender e tentar coisas novas. Então, gravou na casa dele, onde tem um pequeno estúdio e ficou fantástico. Greg gravou o baixo na Pensilvânia, mas Ted veio até aqui para gravar os vocais, porque, em minha opinião, os vocais são a coisa mais importante nesses álbuns do que chamamos de melodic hard rock, então eu queria poder orientá-lo na direção certa. O principal nesses discos é que não quero fazer ninguém perder tempo. Eles sabem o que eu quero, não estamos tentando reinventar a roda. E devo dizer, mesmo nessa nova era, esse álbum tem aquela sensação de banda, porque temos química e adoramos tocar juntos. Já fizemos de sete a oito shows e, como você sabe, para esses supergrupos, isso por si só já é um milagre.
Para essas bandas isso é uma turnê mundial! (risos)
Brown: Sim, tocamos na Europa e no ‘Monsters of Rock Cruise’. E, quando foi nossa vez, estávamos em Belize ou algum lugar do Caribe, logo, é uma turnê pelo mundo (mais risos).
Como você se prepara para uma situação como as que viveu de ter que tocar como substituto no Def Leppard e na banda solo de Dennis de Young (teclado e vocal, ex-Styx)? Chega com toda confiança do mundo, como se não fosse nada ou se prepara muito? No caso do Def Leppard é bem complicado, já que você substitui os dois.
Brown: Com Dennis eu também substituo os dois guitarristas. Minha abordagem? Da forma mais antiquada. Compro um caderno dos mais baratos e coloco um nome na frente. Tenho um para cada coisa que faço: Def Leppard, Dennis de Young, Joe Lynn Turner, a versão da Broadway de “Rock of Ages”. Faço anotações como fazia quando era jovem: quando o tempo não está ao seu lado, você ouve tudo e com sorte consegue versões ao vivo, como é o caso do Def Leppard e vai anotando. Primeiro, analiso as progressões dos acordes, porque acertando isso, já é metade do caminho. Isso é o mais importante, descobrir como passar por toda música da forma mais simples, porque sejamos sinceros: numa arena 98% das pessoas não vai notar algum arpejo que você deixou passar. Devo dizer uma coisa: aprender o catálogo do Def Leppard e da fase Dennis de Young do Styx foi muito mais difícil do que achei que seria. E quem fala aqui é um devotado fã de Eddie Van Halen e Randy Rhoads.
Já que aprende o catálogo do Def Leppard e o do Styx e depois vai gravar com o Tokyo Motor Fist e outros álbuns, isso muda seu modo de tocar? Aprende coisas novas e incorpora isso ao Tokyo Motor Fist, Trixter ou na Eric Martin Band?
Brown: Sim, influencia em tudo. Faz oito anos que estou sempre pronto para o Def Leppard. Tenho que estar, na hora que eles chamarem. Já está e, na verdade, sempre esteve no meu DNA. Sempre ajuda quando a banda para qual você vai trabalhar é uma das suas favoritas e eles estão com certeza no meu Top 3 de todos os tempos. Kiss, Van Halen, Def Leppard, Bon Jovi, Mötley Crüe. Com o Dennis de Young é um pouco diferente porque não cresci um grande fã do Styx. Gosto e admiro as músicas, mas não era o que eu ouvia. Mas quando comecei a escutar, virei um grande fã e conheci a composição brilhante de Dennis e do Styx. Eles e o Def Leppard, nos últimos cinco anos, tornaram-se partes integrantes de tudo que faço. Quem ouvir o Lions vai perceber. Veja uma música como Monster In Me, em que há uma enorme influência de “Mutt” Lange e Def Leppard. A faixa-título, que é minha predileta, tem um solo de teclado de Dennis De Young. Isso é influência direta. Eu não teria composto essa música se não tivesse tocado com ele pelos últimos cinco anos. Esses trabalhos me proporcionam cores diferentes para tocar progressões de acordes e arpejos que jamais tocaria. Fora o nível de confiança como artista, compositor, vocalista e guitarrista que isso me dá.
Como você mencionou, esse ano comemoramos trinta anos do álbum de estreia do Trixter e da música One In A Milllion.
Brown: E também acabei de fazer cinquenta anos! Como fiquei tão velho? (risos) Joe Elliott (vocal, Def Leppard) me disse: ‘Bem-vindo ao Inferno!’ (risos). Mas esse aniversário também marca 15 anos que estou sóbrio. Voltando ao Trixter, se não fosse por essa banda, eu não estaria aqui falando com você. E, como músico, ela me proporcionou tudo o que sempre quis, multiplicado por mil. Só 1% dos músicos consegue isso.