Por Leandro Nogueira Coppi
Fotos: Caike Scheffer (*exceto onde descrito)
Ainda que integrado por músicos brincalhões e carismáticos, tanto em cima quanto fora do palco, o Trezzy não é uma banda “treze” das ideias. Muito pelo contrário, convicta de sua identidade musical, segue fiel cantando em português sob uma mescla sonora contagiante de hard rock moderno com algo pop, alternativo e ao mesmo tempo pesado. E lá se vão dez anos que o grupo paulistano surgiu com essa fórmula. Para celebrar sua primeira década, o Trezzy reuniu fãs, amigos, personalidades e músicos conhecidos do cenário nacional no Red Star Studio, no último dia 9 de março. Foi um rolê com a seguinte matemática: Trezzy comemorando 10 anos, mas que na verdade serão onze ainda em 2024. Números à parte, ao longo dessa sua trajetória o Trezzy ganhou destaque com clipes veiculados no programa TVZ, do canal Multishow, e singles rolando na programação de rádios como KISS FM e 89 FM. Isso sem contar alguns shows memoráveis, tal como o que fizeram no estádio Allianz Parque (SP) em 2019, diante de mais de 15 mil pessoas, quando dividiram palco com Titãs, Dr. Sin, Supla e outros artistas.
Noite de temperatura agradável, antes do show do Trezzy começar a rolar no Red Star Studio, o clima já era especial. Ao som da playlist criada pelo nosso redator-chefe da ROADIE CREW, Ricardo Batalha, rockers se confraternizavam na entrada e no “quintal” do fundo da casa sob uma atmosfera que mais parecia uma festa entre amigos. Para bebericar, a lendária Jack Daniels forneceu um belo presente à banda e ao próprio público: uma estação de drinks onde o garboso uísque era servido totalmente ‘free’, “no Vasco!” (E nem preciso dizer que antes de a noite acabar o “goró” do Tennessee zerou, né?).
Pontualmente às 21h30, o som mecânico despejou como introdução para o show do Trezzy a insólita Lovesick Blues, de Hank Williams. Recebidos aos gritos, Dinho Milano (bateria), Dieego Lessa (baixo), Guilhos (guitarra) e por último o vocalista e fundador Joonior Joe, surgiram no bonito e aconchegante palco tocando a arrastada e pesada Sem Razão, música do, até o momento, único álbum completo de estúdio do grupo, Circo XIII, lançado em outubro de 2017 – disco esse, aliás, que tem uma das mais belas capas do rock and roll nacional. Com o público na mão, Joonior Joe comandou a festa e, de bate-pronto, recebeu de Lessa e Milano um bom reforço em backing vocals, culminando em uma harmonização vocal bem alinhada do trio. Na sequência, veio Alguém Assuma Meu Lugar, na qual o comunicativo Joonior Joe sacou um megafone para cantar as primeiras linhas. Em tempo, a missão de se cantar em português não é tarefa das mais fáceis; é necessário habilidade não apenas para criar melodias cativantes no idioma tupiniquim, mas também para escrever letras convincentes e descoladas, que não soem piegas. No caso do Trezzy, a banda manda bonito com temas variados, espalhando mensagens sobre realidades, frustrações e outras idiosincrasias do cotidiano.
Voltando à festa – digo isso porque o clima ia além de um show convencional -, Joonior mostrou-se preocupado com como o som estava chegando para o público e se deu por satisfeito quando a plateia confirmou que tudo estava nos conformes. Em seguida, ele disse que a próxima música foi a primeira com o guitarrista mineiro Guilhos, integrante mais recente a entrar na banda. Mas antes de dar início à música, Dinho Milano tomou a palavra e, enquanto aguardava alguns ajustes em sua batera, agradeceu a todos pela presença e antecipou que no decorrer do show haveriam algumas participações especiais. Então veio Quem É Você?, single de 2022 que inicia com um ‘teminha’ de guitarra que lembra muito o de Ghost, música do disco de mesmo nome lançado por Slash em 2010. Depois dessa, Joonior avisou: “Não vamos ficar fazendo ‘frescurite’ aguda, pois só tem amigos aqui, vamos fazer um som como se a gente estivesse ensaiando e é isso; não tem muitas performances e etc, então toma um drink (aí)!”. Nesse clima descontraído, ele, Dinho, Dieego e Guilhos foram de Apenas um Segundo, uma das mais legais de Circo XIII, disco que foi gravado em São Paulo e mixado e masterizado na Califórnia. Aliás, mesmo cantando em português, o Trezzy não se limita ao mercado nacional, ao ponto de já ter dividido palco com artistas internacionais como os vocalistas Danny Vaughn (Tyketto, Waysted) e Lizzy DeVine (The Cruel Intentions, ex-Vains of Jenna), por exemplo.
Prosseguindo, a banda veio com outra de Circo XIII, que admitiram ter sido pouco tocada ao vivo, a pesada Quando a Luz Apaga, música que tem um instrumental inicial que remete ao hit Wild Child, do segundo álbum do W.A.S.P., The Last Command (1985). Engraçado que ao ser anunciada, de fato a luz se apagou – bola levantada para Joonior Joe chutar para o gol brincando com o ocorrido. Revisitando o passado, o Trezzy voltou dez anos no tempo, abriu seu baú de relíquias e resgatou o single Tente Entender, música que, assim como o show como um todo, foi dedicada ao seu baixista cofundador Mauricio Amaro, que faleceu no dia 27 de abril de 2016, vítima de acidente automobilístico, e também ao fã Tiago Leme, que morreu no início deste ano. Não reparei se isso ocorreu em outras músicas do repertório, mas nessa foi curioso notar que em dado momento Guilhos estava tocando sem fazer uso de palheta.
Conforme antecipado por Milano, alguns convidados estavam escalados para participarem da festa, todos eles ex-integrantes do Trezzy. O primeiro a ser convocado ao palco foi o guitarrista Alexandre “Alezinho” Novaes, que saiu do Trezzy para estudar música fora do Brasil, e deixou alguns solos gravados no álbum. Com ele, o grupo mandou Silêncio, uma das músicas mais porradas e aceleradas do Trezzy e que encerra Circo XIII. Falando em circo, essa temática presente na identidade do Trezzy, automaticamente remente aos tempos em que Joonior Joe performava caracterizado de palhaço nas apresentaçãos da banda Viva Noite, do programa Pânico. Antes da próxima, Joonior explicou que em 2023 não deu para a banda comemorar muito e justificou antecipando o motivo, de que eles já estavam trabalhando nas músicas do segundo álbum. Depois da explicação do frontman, a banda emendou Suas Certezas, Sombras e Redenção – outra com uso de megafone. De volta ao ano de sua criação, 2013, o Trezzy deu nova luz a primeira música de sua carreira, Ninguém Vai Nos Salvar, que terminou com Milano em pé atrás da batera.
Estrategicamente, se a banda tocou a primeira música de sua história, na sequência foi a vez da mais recente, Nunca, que saiu como single em novembro de 2023. Curiosamente, no decorrer dessa, há uma caída que remete ao som do Madame, extinta banda dos anos 90 que tinha como frontman Pulga Joe, irmão de Joonior. Mais curioso e coincidente ainda, é que a próxima música do set, Frio, leva o mesmo título de uma música do próprio Madame. Para essa, que foi cantada com energia pelos fãs e amigos, a banda contou com o segundo convidado da noite, o guitarrista Roger Benet, que estava no Trezzy quando Circo XIII foi gravado.
Além de ser beneficiado com a presença de palco de Joonior Joe, que, como dito anteriormente, tem o público na mão, o Trezzy é um grupo que dispõe também da perfomance de Dieego Lessa (ex-Salário Mínimo), baixista que além de tocar muito bem, com precisão e segurança, ainda colabora com competência nos vocais de apoio e distribui sorrisos e caretas ao público. O show já caminhava para acabar, então tanto Dieego quanto Joonior deram início aos agradecimentos, porém ainda havia tempo de uma trinca final…
Primeiro foi a vez de Abismo, que antecipou novos agradecimentos e o discurso de Joonior sobre a importância das pessoas valorizarem as bandas undeground, bem como a compra de merchandising para ajudá-las. Depois disso, os músicos foram apresentados ao público e a banda saudou a esposa de Guilhos, que está grávida e estava curtindo o show da pista. E foi nesse clima que a banda mandou a contagiante e pulsante Circo, outra com megafone e com um refrão bem legal, tanto em termos melódicos quanto líricos – arrisco dizer que essa é minha favorita do Trezzy. Para fechar, a banda optou pela pesadíssima Manipula, um dos dois primeiros singles de sua história. Essa fecharia com os dois convidados da noite tocando junto com a banda, porém como Roger havia sumido, ficou de fora. Enquanto lhe procuravam, a banda segurou o público tocando o começo instrumental de Would?, clássico do Alice in Chains.
Foi uma noite memorável, que durante todo o evento emanou uma energia muito boa. E ao final do show, Guilhos atendeu a ROADIE CREW e resumiu o que foi a festa de 10 anos do Trezzy, expressando seu sentimento em relação ao público que compareceu em bom número e prestigiou a banda:
“Para mim foi fantástico. É inacreditável ver a galera cantando as músicas, então isso para mim é satisfatório, porque eu tive uma história de banda antes, eu sou de Minas (Gerais), e quando vim para São Paulo e conheci o Trezzy e hoje ver toda essa galera que ama as músicas, que canta (até) as antigas, e se deliciando pelas novas, das quais eu estou fazendo parte agora, meu irmão, (isso) é sem preço, é sensacional”.
Trezzy – setlist
– Intro
- Sem Razão
- Alguém Assuma o Meu Lugar
- Quem É Você?
- Apenas Um Segundo
- Quando A Luz Apaga
- Tente Entender
- Silêncio
- Suas Certezas
- Sombras
- Redenção
- Ninguém Vai Nos Salvar
- Nunca…
- Frio
- Abismo
- Circo
- Manipula
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