Texto e fotos: Daniel Croce
Quis o destino que esse vos escreve, mesmo devidamente credenciado para a cobertura da dobradinha Trivium e DragonForce, em setembro de 2012, ficou impossibilitado de comparecer por motivos de… Duas pernas quebradas. C’est la vie. Agora, em 14 de dezembro de 2022, finalmente pude assistir ao vivo a potência da NWOAHM (new wave of American heavy metal) no Cine Joia, casa localizada no bairro da Liberdade, em São Paulo.
Aquela banda classificada de “emo metal” ali nos idos dos 2004-05, nem de longe é mais a mesma coisa. As piadinhas de estrelismo que pesavam contra o guitarrista, cantor e principal compositor, Matthew Kiichi Heafy, também são uma nota cômica de rodapé na biografia da banda. Depois das inevitáveis comparações a “novo Metallica” graças ao terceiro disco, The Crusade (2006), a banda americana deu o recado final mostrando que os adolescentes haviam crescido e amadureceram o som deles com o mega hit divisor de águas Shogun (2008), quarto registro de estúdio.
A partir do ano seguinte, começou uma troca que parecia infindável e baseada em “dedo podre” de bateristas. O piloto das baquetas desde Ascendancy, de 2005, vazou pouco depois de Shogun, e desde então não teve substituto à altura, apesar dos discos em estúdio serem verdadeiras pérolas do estilo. Mas todo mundo sabe que treino é treino, e jogo é jogo. Ao vivo ninguém parecia a altura de interpretar o que era gravado. O jogo virou com a entrada de Alex Bent, a partir do registro de 2017, The Sin and the Sentence, e aí, meu amigo, a banda “caiu pra cima”, como se fala no jargão popular.
E é com o trio de frente, Matt Heafy, Corey Beaulieu na outra guitarra e guturais, e Paolo Gregoletto no baixo e backing vocals limpos, somado a Bent, que o quarteto americano Trivium passou igual um trator pelo público seleto que lotava até o último metro quadrado do Cine Joia. Com o décimo disco (você não leu errado) de estúdio debaixo do braço, o quase “perfeito-nível-Shogun” intitulado In the Court of the Dragon, de 2021, a banda desfilou 100 minutos de pincelados hits novos e antigos, e até algumas gratas surpresas.
Respeitando pedidos dos fãs, duas gratas surpresas figuraram no set list: Shogun, faixa-título do supracitado magnum opus da banda, e Forsake Not The Dream, faixa de In Waves, uma das minhas favoritas e que não figura em shows desde a época do próprio álbum que a abriga. Aliás, o público reagiu como se deve em termos de Brasil: cantou refrãos, linhas melódicas de guitarras, aquele “ôôooo” que faz a alegria de todo gringo e que nos tornou lendários e rota de show em todo mundo. Uma verdadeira ‘beatlemania’ do metal moderno.
O nome da tour, “Deadmen and Dragons”, representa os dois lançamentos mais recentes, mas não se limitou a isso. Ainda bem. O segundo álbum, Ascendancy (2005), responsável por “pinpoint” a banda no cenário de novas bandas, foi super bem representado por Pull Harder on the Strings of Your Martyr e A Gunshot to the Head of Trepidation. Infelizmente, nada de The Crusade (2006) ou do debut, Ember to Inferno (2003). Vida que segue, talvez na próxima.
O frontman Matt Heafy não cansou de elogiar tanto o público quanto aspectos da cultura brasileira que ele incorporou no seu dia a dia. Segundo ele, graças a passagem da banda em 2012, descobriu as maravilhas da nossa culinária e começou a praticar jiu-jitsu. Revelou seu apreço por Krisiun, Angra e, claro, Sepultura, que eles até gravaram Slave New World como bônus em In Waves (2011). Fanfarrão, desfilou algumas palavras em português – graças a experiência anterior em regravar e performar ao vivo com o cantor luso Toy – e fez postagens nas redes sociais desde o dia anterior comendo feijoada, churrasco, com trilha sonora de pagode. Ok, Matt, por você tá liberado pecar.
Como não poderia deixar de ser, a conclusão com a música In Waves botou a casa toda pra se agachar e pular no começo do primeiro breakdown. Um clássico de shows de metal moderno, principalmente em shows do Slipknot na faixa Spit It Out. Este fato certamente se repetirá nos próximos shows das duas bandas, culminando no Knotfest no dia 18 de dezembro (domingo), onde ambas vão tocar.
Com o Brasil redescoberto pela banda, fica a expectativa deles não levar outra década para nos agraciar novamente.
Set list:
IX
What the Dead Men Say
Down From the Sky
The Sin and the Sentence
Until the World Goes Cold
A Gunshot to the Head of Trepidation
Forsake Not the Dream
The Shadow of the Abattoir
In the Court of the Dragon
Catastrophist
To the Rats
The Heart From Your Hate
Shogun
Strife
Pull Harder on the Strings of Your Martyr
Capsizing the Sea
In Waves
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