Por Samuel Souza
Fotos: André Santos
Foi um sábado movimentado na capital paulista, com diversos eventos para os variados gostos subterrâneos. Isso demonstra, mais uma vez, que, mesmo com um ou outro evento tendo uma média de público razoável, há, ao menos, opções diversas e a cidade comporta diferentes cenários, para o bem e/ou para o mal. No nosso caso, escolhemos ir à missa negra dos noruegueses do Tsjuder. Apesar da chuva incessante durante todo o sábado (25), os verdadeiros fãs da banda estavam lá no Jai Club para testemunhar um dos melhores shows de black metal deste ano.
Sem bandas de abertura e sem atrasos, às 20h, o trio iniciou sua consagração nefasta de forma ríspida e com um gosto de enxofre que se alastrou por toda a noite. Fundada por Nag (baixo) e Draugluin (vocais/guitarra) em 1993, a banda passou por várias mudanças na formação ao longo dos anos, mantendo o duo como remanescentes genuínos. Tanta estrada aliada às dificuldades desta jornada fez com que sua experiência se manifestasse de forma direta e sem frescuras. Não houve sequer um “boa noite” ou qualquer interação ensaiada com a audiência. Pura violência sonora! E era exatamente isso que os fãs queriam e tiveram com intensidade.
O ataque inicial foi com “The Daemon Gate”, do álbum “Kill for Satan”, causando um impacto imediato com a avassaladora presença do baterista Jon Rice, que há pouco tempo estava ao vivo com o Behemoth. Uma máquina bruta e técnica! A sequência de músicas não deu trégua, com “Helvete” seguida por “Iron Beast”, consolidando ainda mais a entrega dos fãs, que não paravam de bradar o nome do grupo.
Do excelente disco atual, “Helvegr”, apresentaram “Iron Beast”, “Gods of Black Blood” e “Prestehammeren”. Essas canções mantêm a ferocidade de outrora, trazendo mais complexidade e harmonizando perfeitamente com as faixas mais antigas, como a poderosa “Slakt”, ponto alto do show. É uma música feita para bater cabeças, com aquele jeitão carniceiro de riffs e levadas rítmicas que poderiam fazer até os mortos saírem das profundezas para se saciarem de mais sangue. É metal puro!
E quando falamos da brutalidade das músicas mais antigas, referimo-nos às execuções primordiais de “Kill for Satan” e “Sodomizing the Lamb”, faixas que alternam entre velocidades e contratempos absurdos, demandando uma qualidade sonora à altura. E, por sorte nossa, o som da casa e a mesa técnica colaboraram, diga-se. Tirando o pé do acelerador, tivemos a cadenciada “Antiliv”, uma das suas melhores canções quando se trata de transportar o ouvinte para uma dimensão infernal. No final, ela abandona a beleza densa e mergulha diretamente no puro ódio e maldição. Que som foda!
É relevante destacar que essa passagem pelo Brasil, que teve uma data cancelada em Brasília devido à baixa venda de ingressos, marca o encerramento da turnê do Tsjuder pela América Lati na. Assim, os mais curiosos que acompanharam o setlist deles por aqui não foram pegos de surpresa quando tocaram “Sacrifice” do Bathory, também muito bem recebida. A justa homenagem aos brasileiros veio com “Troops of Doom”, com Nag deixando de lado o baixo, trazendo aquela energia juvenil e empolgante que um clássico ainda possui. Em certo momento, ele até mencionou “fucking the bass” e encerraram a noite com a aniquiladora “Kaos”.
No derradeiro acorde, o Jai Club se tornou um portal para além do comum. A união entre palco e plateia transcendia a música; era um ritual, uma fusão de energia e devoção que se estendeu para o exterior da casa, com banda e fãs confraternizando na calçada. A chuva se escondeu sob o leve vento frio que nos recebia lá fora. Para quem hesitou em comparecer, lamento dizer que perdeu. O Tsjuder proporcionou uma apresentação memorável, profissional e direta ao ponto. Apesar de uma plateia não tão numerosa, é importante dar créditos à Venus Concerts, Till Dawn They Count Brazil (liderada pelo lendário Eric De Haas, presente no evento e fazendo as vezes de roadie de batera) e à produção do Caveira Velha por manterem a data em São Paulo.