Em um atípico domingo chuvoso carioca, os fãs de Folk Metal tiveram o que comemorar com a inédita e por anos impensável apresentação do Turisas na cidade. Ainda divulgando o ótimo “Turisas 2013”, quarto disco da banda finlandesa, ficou para o Rio de Janeiro o encerramento da turnê brasileira – que contou com apresentações também em Curitiba e São Paulo. O público compareceu ao Teatro Odisseia de maneira apenas razoável, mas compensou com muita intensidade durante cada música, o que foi destacado pelo vocalista Mathias “Warlord” Nygård em dado momento. Felizmente, a ideia inicial de fazer o show no Circo Voador, casa ao menos três vezes maior, foi deixada de lado pela produção.
A apresentação começou pouco depois das 20h, horário ideal para shows aos domingos. Com todos os fãs posicionados nas proximidades do acanhado palco, Nygård, Jussi Wickström (guitarra), Olli Vänskä (violino), Kasper Mårtenson (teclado), Jesper Anastasiadis (baixo) e Jaakko Jakku (bateria) se espremeram no pouco espaço disponível. O que vimos em seguida foi uma apresentação irretocável de um grupo em grande forma. Muito se falou do show em São Paulo em 2013, e vendo na prática o Turisas se mostrou como uma das mais relevantes bandas da atualidade.
O começo com “Ten More Miles” fez o público urrar cada verso da música e agitar sem parar de acordo com o andamento, mostrando a ótima aceitação do trabalho mais recente. Em “A Portage To The Unknown” a coisa fica ainda mais séria, provando a força de “The Varangian Way” (2007). Ainda dele, tivemos em seguida a épica “To Holmgard And Beyond”, dentro de toda a complexidade sonora apresentada por um nome de estilo único, com destaque para o trabalho fenomenal de Olli no violino, algo no mínimo peculiar quando o assunto é Heavy Metal, mas relativamente comum em bandas com essa proposta.
Com o jogo ganho, àquela altura já de goleada, o Turisas sacou do baú mais uma recente, “For Your Own Good”. Nesta, o trabalho do baixista Jesper, em parceria com o tecladista Kasper, foi digno de nota. Com seu belo riff, “The Great Escape” introduziu os cariocas ao clássico “Stand Up And Fight” (2011): a introdução de “Rex Regi Rebellis” mostrou aos presentes que era hora de “Battle Metal” (2004).
A viagem pela breve discografia da banda seguiu com as ótimas “Dnieper Rapids” e “Hunting Pirates”, esta uma bela síntese do que se propõe o Folk Metal. No já clássico “Battle Metal”, a canção, como previsto a coisa saiu do controle de vez. A força dessa pérola é realmente assustadora. “No Good Story Ever Starts With Drinking Tea”, um dos melhores títulos possíveis para uma canção, não deixou por menos, e a também clássica “We Ride Together” encerrou a primeira parte do show.
O bis foi introduzido com muitos agradecimentos do magnífico vocalista Mathias à participação da audiência. É impressionante o desempenho dessa cara, assim como a variedade vocal que ele apresenta, indo do limpo ao gutural sem desafinando em hora alguma. Sem dúvida o Turisas não seria o que é sem a sua voz e o seu carisma em cima do palco. Vale lembrar também o profissionalismo da banda, que mesmo diante de um público não tão numeroso fez uma apresentação tecnicamente perfeita. O som da casa também ajudou. Limpo e num bom volume, algo comum nos shows em que a casa não está tomada pelo público. “Stand Up And Fight” formou uma roda que tomou conta de quase toda a pista, sendo a recepção mais calorosa da noite, e o encerramento foi com a curiosíssima versão para “Rasputin”, da banda Disco Boney M.
Em um show que teve 13 músicas espalhadas em cerca de uma hora e 20 minutos – bem curto, é verdade –, foi quase impossível apontar um defeito grave. O Turisas mostrou porque recebe tanta atenção atualmente, tendo dos presentes uma resposta à altura. Um show grandioso para começar uma semana forte para quem gosta de Heavy Metal no Rio de Janeiro, já que no próximo fim de semana teremos o aguardadíssimo Blind Guardian e o não menos impactante Fear Factory. Apenas esperamos públicos mais numerosos em apresentações futuras, para que a cena carioca continue recebendo shows de tamanha relevância, algo menos comum em 2015 numa comparação a alguns anos anteriores.