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UNDERGROUND METAL FEST

Aquele sábado foi para guardar na memória, muitos shows com bandas de renome nacional e internacional da cena metálica há algum tempo já vêm sendo realizados no Ceará. O estado que é um dos detentores mais fortes da cultura nordestina, hoje se vê entregue também a uma representação de crescimento constante do heavy metal brasileiro – e para homenagear esse fenômeno que cresce em todo o seu território, a ‘Underground Produções’, capitaneada por seu fundador, Fabrício Moreira (vocal, Maleficarum, Blasfemador), teve a idéia de realizar em Fortaleza um evento que levou para aquela capital, sete bandas da maior representatividade nacional, agregando também ao festival a turnê brasileira do M-Pire of Evil.

O festival batizado com o nome de ‘Underground Metal fest’, como já era de se esperar conseguiu reunir bangers de vários pontos do Norte, Nordeste e de outras regiões, resultando num enorme encontro entre público, bandas e parceiros. O lugar (que já recebeu o Possessed no mês de agosto) felizmente pôde mais uma vez atender no espaço e conforto às pessoas, oferecendo alimentação, estandes de vendas e um bar com preços maravilhosamente populares. Depois das dezoito horas, como programado, os portões foram abertos e em alguns instantes pouco prolongados as primeiras atrações abriram a noite.

Quando a enorme cortina negra se afasta revelando o palco do U.M.F., o Carcara dá início ao massacre com o seu thrash metal fiel à velha escola. A banda de Fortaleza ainda sem um lançamento oficial, mas bastante conhecida do cenário local, executou um repertório variando nas suas três demos, Ressurreição dos Seres Ocultos (2003), Executores do Grande Massacre (2007) e Nova Ordem dos séculos (2010). Além das músicas conhecidas, o grupo apresentou ainda duas inéditas que farão parte de seu full-length, Comandante do Caos e Tríade de Destruição. A presença do público já nesse primeiro momento mostrava grande euforia, já que muitos acompanham a banda desde o primórdio. Foi um belíssimo set e uma prova de fogo para os P.A.s que dali por diante teriam que suportar toneladas de peso sonoro.

Uma pausa para os próximos preparos e um pequeno pronunciamento do locutor do evento, a próxima atração chegaria para fazer tremer literalmente os ouvidos da moçada. A vez foi do Facada, outro grupo anfitrião que está em fase de divulgação do seu CD, Nadir (2013), mas que fez um set variado com canções de toda a sua carreira. Para estar num show desses cearenses ou você explode em energia ou a energia do som te explode, pois os caras mandam um ‘crust/core’ pra derreter a pista. Hoje a banda é um dos maiores representantes do Brasil no estilo, e faixas como O Joio, Descendo Sangue Igual Torneira e Nadir exemplificam esse critério. Infelizmente a galera não pôde conferir o baixo de James (também vocalista), pois o músico estava lesionado e com o braço numa tipóia, mas isso não afugentou a banda que cumpriu o seu papel mantendo as vinte e uma músicas que rechearam a sua apresentação.

Depois que tudo voltou ao seu lugar, hora de começar a conferir a segunda parte do festival que contou com lendas do metal nacional. A primeira a subir foi a banda de Santo André (SP), MX que aproveitou essa primeira visita e mandou bem para os cearenses. De cara se percebe que o baterista Alexandre Cunha é excelente também no vocal, o cara impressiona pela condução de suas partes lá atrás, porém a todo instante interage com as pessoas. Morto, o ‘mascarado’ também fazia o seu papel com excelente desenvoltura de palco, animando os presentes e desenfreando a riferama com Dumbo onde os dois revezavam entre baixo e guitarra. Entre os clássicos da banda os paulistas também tocaram clássicos mundiais como A lesson in Violence do Exodus e uma brincadeira que começou com a introdução de Raining Blood que logo mudou para Angel of Death do Slayer. Diego Nogueira, vocalista do Anthares ainda fez uma participação em palco antes que o espetáculo do MX terminasse, foi na canção Dirty Bitch, clássico do álbum de 1988, Simoniacal – vale ressaltar que, os presentes em peso acompanharam todas as músicas, onde mais tarde Alexandre Cunha me contou que a banda ficou impressionada com aquele coro.

Em todo Brasil o Anthares sempre teve um papel importante na cena underground inclusive refletindo também no Nordeste – assim como todas as outras visitantes dessa noite. O seu álbum No Limite da Força (1987) é uma das referências do thrash metal nacional e pela primeira vez a banda foi mostrar aos alencarinos os grandes clássico deste e novas composições. Diego Nogueira, que registrou uma demo em 2005, saindo da banda e em seguida e retornando em 2008, muito ativo no palco, chamava todos para a integração. A plateia sempre presente respondia acompanhando os trechos, bangeando e formando rodas a todo instante.

Em dado momento Diego pergunta aos presentes qual seria a próxima execução e em uníssono os empolgados respondiam: “Vingança”! E assim a dupla Maurício Amaral e Eduardo Topera (guitarras) brindou os bangers com os riffs desse clássico. A reação do público foi instantânea vibrando até com as músicas que estarão no próximo disco, Sementes Perdidas, Ócio, Pesadelo Sul-americano e Canibal. Durante o set percebi que alguém muito especial para a banda e seus fãs, estava curtindo o som no meio do público, tratava-se de Henrique Poço, vocalista original do Anthares que gratamente saudou a galera e pôs mais lenha na fogueira com uma participação incendiária cantando em No Limite da Força.

Nova pausa para os preparos e agora quem saia de trás do manto negro era a banda de São José dos Campos, Attomica. Também uma das mais significativas das últimas décadas, aqui no Brasil. Os caras levaram um verdadeiro comboio sonoro para Fortaleza. Depois de um justo agradecimento à produção do evento e amigos da cidade, o vocalista Alex Rangel junto com os companheiros dá continuidade à festa mostrando trabalhos dos quatro lançamentos da banda, Attomica de 1987 (Marching Over Blood), Limits of Insanity de 1989 (Limits of Insanity), Disturbing the Noise de 1991 (Deathraser) e 4 de 2012 (Blood Bath, Wanted, Yakuza, Nigth Killer, Down the Drain e Black Death). A levada violenta dos rapazes deu continuidade ao contágio do povo que absorvia cada nota dos riffs. Jonas ‘Kaggio’ Rodrigues (guitarra) com a sua ‘Dimebag Sinature’ ceifava o ar velozmente em cada movimento. Não longe da excelência, a cozinha viceral do experiente André Rod (baixista e membro original da banda) completava a artilharia com o seu parceiro Fryggy Mad Beats (bateria) que não perdoou as peles e pratos de seu quite. A revoada de clássicos foi tamanha e, Alex, mesmo estando na banda desde 2012 soube levar os temas de cada período com perfeição.

A banda carioca Taurus sempre teve um cartaz diferenciado no Ceará, pois as suas músicas sempre são coverizadas pelos grupos locais onde maioria deles são influenciados pelos fluminenses. Receber os caras com a formação de hoje, a mesma que praticamente protagonizou todos os clássicos dos anos oitenta, foi como um sonho realizado – a prova disso foi a aglomeração que se formou diante do palco à primeira chamada do locutor. Ao abrirem as cortinas, a banda não quis saber de enrolação, emendou logo Signo de Taurus com o hino Mundo em Alerta arrancando de cada pessoa a força dos pulmões que soou por todo o ambiente. A pista parecia um campo de batalha com gladiadores prontos a cumprir uma jornada. A cada tema o ‘circle pit’ se intensificava ainda mais e houve um momento em que seu tamanho aumentou tanto que chegou a poucos centímetros da mesa de som. Otávio Augusto (vocal) e Jeziel de Oliveira (baixo, vocal) dominaram bem o set com fúria e garra, enquanto os irmãos Bezz, Cláudio (guitarra) e Sérgio (bateria), triunfantes dividiam com os outros dois a energia do seu público. Canções como Batalha Final, Dias de Cão e Fissura, deram um banho de prazer em todos os ‘thrashers’ presentes. Um show memorável que certamente, somado aos outros dessa noite, transmutará como lenda nas próximas gerações.

A última atração nacional levou os representantes de Minas Gerais, Sextrash, que mostrou ao vivo a façanha de seu death/thrash metal, impulsionado a já animada platéia.  A clássica introdução de Sexual Carnage (1990) no começo da apresentação já deixava todos prontos e caminhando em círculos aguardando a entrada de Psychoneurosis. Selvageria total! No palco, quatro ídolos do público nacional que com suas experiências não decepcionaram em momento algum. O gigante Doom evocava a todos com seus guturais estridentes fazendo aqueles jovens ensandecidos voarem em ‘stage dinvings’ da divisória de proteção do palco – também embalados pelos riffs mortíferos de Marck Monthebar. Impossível não reparar na performance de Luck Arnold (bateria) que acrescentou o próprio tempero à receita de Eduardo ‘D.D. Crazy’ e vem se mantendo dignamente na banda desde o segundo lançamento, Funeral Serenade de 1992. Enquanto eu apreciava o espetáculo dos mineiros liderados pelo baixista Tommy Simmons, eis que alguém acidentalmente toca o meu braço – me virei e estava lá ao meu lado a meio palmo de distância, Tony Dolan, o Demoilition Man do M-Pire of Evil, contemplando maravilhado o som e segurando uma garrafa de cachaça genuinamente cearense. Disse-me que o festival estava fantástico e que a banda (Sextrash) o chamou muito à atenção. Por fim, me ofereceu uma dose de sua bebida onde tive que recusar pelas circunstâncias da minha atividade naquele momento. Pequei em tirar a atenção da banda, mas um momento único daquele com Tony, não poderia deixar passar em branco. Enfim, Dever cumprido dos mineiros, agora é aguardar os headliners entrarem em campo.

A madrugada há muito já tinha varado a noite e o amanhecer já estava por vir (no Ceará, devido a posição geográfica, o sol nasce mais cedo que em muitos outros estados brasileiros). Passando das três da manhã, Vansmacy Vangleuson, o excêntrico orador do evento anunciava a entrada de M-Pire of Evil. Fumaças de gelo seco começavam a ultrapassar as brechas do manto negro, que continuava fechado. Era o show da ‘Brazilian Assault Tour 2013’ que estava para assombrar Fortaleza. Os primeiros riffs pesados de Demone abriram as cortinas e o set – a galera, que ainda estava em brasa, respondeu ovacionando o trio formado por ex-integrantes do Venom, Tony ‘The Demolition Man’ Dolan (baixo, vocal), Jeffrey ‘Mantas’ Dunn (guitarra, backing vocal) e Mark ‘JXM’ Jackson (bateria). Como o tempo não estava mais favorável, as saudações não foram muito prolongadas, mas o trio britânico usou de extrema carisma para interagir com o público. O repertório como era de se esperar, trouxe composições do Venom e umas poucas autorais como foi a música de abertura, Hell to the Holy e Metal Messiah.

O primeiro clássico a tocarem foi Die Hard, levando a galera à loucura, seguindo com Walking up Dead do álbum de 2012. A dupla de senhores sabia como agradar todo mundo com perfeita movimentação de palco unido a um desfile de verdadeiros patrimônios sonoros, como a próxima, Don’t Burn the Witch do álbum que revolucionou o mundo do metal, Black Metal de 1982 (fonte de criação para estilos mais extremos como a vertente de nome homônimo). Blackned Are the Priest do álbum Prime Evil (1989) foi a primeira do Venom já com Tony no vocal, que fez a dobradinha com Carnivorous. Mantas, excelente guitarrista, também segura muito nos ‘backings’ às vezes até cantando partes inteiras das canções.

Depois da execução da ótima Temples of Ice (outra da fase Tony Dolan) o trio inglês executa mais uma autoral, Hell to the Holy que mostra um peso esmagador, mas é em Welcome to Hell que a galera faz a festa novamente – todos de punho pra cima bradando o clássico refrão. JXM se agiganta com seu quite de bateria sempre acompanhado pelo potente baixo de Demolition Man. O simpático baixista fala da satisfação em estar fazendo essa turnê pelo Brasil e logo engata Metal Messiah, uma das melhores do álbum Hell to the Holy – mas o público ainda não acostumado com M: Pire of Evil e maravilhado por estar diante de sinônimos do Venom, começou a pedir Black Metal tão logo terminou essa última execução. Porém o trio preferiu seguir com o repertório, tocando HellSpaw para então atender a solicitação do público – assim o megaclássico, Black Metal foi recepcionado com participação em massa dos que estavam ali. Uma leve pausa para tomar água (pois os efeitos do calor cearense já se espelhavam nos semblantes dos músicos) e o trio já arrebenta nos ouvidos, Witching Hour com direito a encenação de sangue saindo da boca de Tony. Uma das mais perfeitas execuções da noite (já quase dia), mas não a melhor porque a próxima viria a quase por no chão a estrutura do local – Countess Bathory. Os guerreiros mesmo chegando ao final da apresentação, nutriam ainda mais a sede do povo que sempre respondia com intenso valor os chamados de Mantas. Leave me in Hell foi outro grande momento, com destaque para os socos no baixo e uma performance arrasadora dos veteranos, mas ao final da festa quem se destacou mesmo foi o público cantando em marcha, In League With Satan – assim os monstros se despedem, deixando uma marca profunda naquele final de semana . Show do M: Pire of Evil e festival terminados, demorou para muitos que estavam ali acreditar que presenciaram um fato histórico na cena underground de Fortaleza – tantas bandas aclamadas pelo metal brasileiro e uma visitante de peso da Europa, fizeram do ‘Underground Metal Fest’ o mais novo grande evento do Nordeste. É fato que por motivo de adiamento da turnê que levaria o Onslaught e Artillery à mesma data, não deu para lotar a casa, mesmo assim devido ao sucesso que as demais fizeram acontecer, já valeu a intenção do produtor em realizar o segundo evento, talvez em 2014. E que venha o Underground Metal Fest II.

Set list M: Pire of Evil:
Demone;
Die Hard;
Waking up Dead;
Don’t Burn the Witch;
Blackned are the Priests;
Carnivorous;
Temples of Ice;
Hell to the Holy;
Welcome to Hell;
Metal Messiah;
HellSpaw;
Black Metal;
Witching Hour;
Countess Bathory;
Leave me in Hell;
In League With Satan

 

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