Celebração. Esse foi o clima que pairou no ar na tarde do sábado, dia 13 de dezembro, durante o ‘pocket-show’ do baterista Sérgio Facci, com seu projeto V Project. Primeiro, por ser a oportunidade que muitos teriam de ver, ou rever o baterista novamente em cena, ao lado de convidados ilustres e, melhor ainda, tocando músicas das bandas lendárias por onde passou, como Vodu, Viper e Volkana, além de conferirem alguns clássicos mundiais do Heavy Metal, sendo tocado pelos mesmos. Segundo, pelo fato de o evento marcar o lançamento do EP homônimo do V Project, que traz regravações de alguns desses temas que foram originalmente gravados pelo baterista. E, por último, o local escolhido, que foi nada mais nada menos, que a histórica loja Woodstock Rock Store (antiga Woodstock Discos), de propriedade do icônico Walcir Chalas, e situada na tão comentada Rua Dr. Falcão, local que muitos consideram ser o “marco zero” na história do Heavy Metal brasileiro. Facci comentou a escolha do local: “A Woodstock foi escolhida por dois motivos, em consideração ao Walcir, que sempre deu uma força não só para o Vodu na época, mas para todas as bandas de Metal, e também pelo fato de nunca termos tocado ali.”
Às 14h20, por trás de uma cortina negra, Walcir, o mestre de cerimônias, comentou que estava feliz de a loja voltar a receber uma banda ao vivo após oito anos, e então apresentou o V Project, retomando o seu famoso bordão: “Pau!”. – Quem acompanhou o extinto programa “Comando Metal” na Rádio 89 FM, certamente se lembra dessa expressão que Walcir gritava no microfone quando ia começar a tocar os lançamentos trazidos por ele ao país. Quem estava ali e se lembrou, certamente se arrepiou. Dessa forma, Sérgio entrou em cena com o V Project, acompanhado pelos guitarristas Val Santos (Toyshop, Bazooka, ex-Viper) e José Luis “Xinho” (ex-Vodu), o baixista Artur Silveira (Dressing Rock) e o vocalista André Góis (Face Of Desaster, ex-Vodu), tocando “Final Conflict”, música homônima do primeiro álbum do Vodu, que foi lançado em 1986. O bom público que compareceu era constituído pela nova geração e também por muitos headbangers que no passado foram assíduos frequentadores da loja e que estavam emocionados por poder reviver aqueles velhos momentos, presenteados por uma boa qualidade de som durante toda a apresentação do grupo.
Para a sequência, André Góis convidou a carismática Cláudia França, que fez parte da segunda fase do Volkana, antiga banda feminina brasiliense de Thrash Metal, que quando se estabeleceu em São Paulo, antes mesmo do primeiro álbum, passou a contar com Facci na formação até o fim das atividades em 1996. E foi do segundo álbum, “Mindtrips” (1994) que tocaram “When 2 Are 1”, uma espécie de balada Thrash, que começa com um dedilhado – algo comum nas bandas do gênero da época -, e que no decorrer vai ganhando peso. A formação que acompanhou Facci deu uma cara um pouco diferente nas composições, tanto no show quanto no EP. O primeiro cover foi “Prowler” do Iron Maiden, que foi dedicado a Walcir Chalas. Durante a apresentação, o baterista mostrava que não perdeu a pegada de outros tempos e batia pesado.
Novamente, Cláudia assumiu o microfone e mostrou que continua cantando muito ao mandar “Darkness”, música que faz parte do álbum de estreia do Volkana, “First” (1991), mas que na verdade foi gravada pela vocalista original, Marielle Loyola. Um momento engraçado se deu quando o próximo convidado, Marcos “Naza” (ex-guitarrista do Skycrapper, atual Bazooka), foi chamado para cantar a música seguinte. O músico arrancou gargalhadas de todos ao dizer que só sabe cantar Heavy Metal de forma visceral se olhar para a foto da Preta Gil, que carrega em sua pasta. Na verdade, o que continha nela era a letra da música que iria cantar. Antes disso, contou sua história de adolescência vivida como frequentador da Woodstock e agradeceu Walcir por tudo o que lhe foi proporcionado através da loja. Naza, acompanhado por André Góis, cantou “Ace Of Spades” do Motörhead, que foi bastante ovacionada ao final.
Pela primeira vez, Sérgio Facci tomou o microfone e apresentou cada um dos músicos e agradeceu ao público e a Walcir pela oportunidade de poder tocar dentro da Woodstock. Sérgio Facci convocou a subir ao palco o vocalista Flávio Guilherme Maenaka, que dividiria a próxima com André Góis. Para a alegria de todos, Facci virou-se para o teclado, que estava disposto ao lado esquerdo de sua bateria, e tocou a famosa introdução da clássica e mais aguardada, “Living For The Night” do Viper. A música faz parte do mundialmente aclamado “Theatre Of Fate” (1989) que embora tenha sido gravado inteiramente por Facci, foi Guilherme Martin (atual Toyshop, ex-Viper e Megaton), que estava no meio da plateia, que fez a turnê. O ‘pocket-show’ ia chegando ao seu final e, mais uma vez, o Vodu foi relembrado através de “Let Me Live (I Don’t Wanna Die)”.
Para o encerramento, o palco virou uma verdadeira festa. Curiosamente, Sérgio Facci convidou seu sucessor no Viper, Guilherme Martin, para assumir as baquetas. Guilherme aproveitou a ocasião e comentou com todos que considera Facci um dos grandes bateristas do país. Nesse momento, Walcir novamente surgiu no palco, dessa vez acompanhado por seus “três amigos suecos”, que nada mais eram do que os músicos da banda de Black Metal Watain, que estavam se apresentando no país para divulgar seu último álbum de estúdio “The Wild Hunt” (2013). Os músicos brindaram suas cervejas e se retiraram. André aproveitou e agradeceu Facci pela oportunidade de poder participar, tanto do evento quanto do EP, e salientou que se não fosse pelo encontro do baterista com o ex-baixista André “Pomba” Cagni no lendário primeiro show do Kiss no Brasil, no Estádio do Morumbi, em 1983, pela turnê do álbum “Creatures Of The Night”, o Vodu não teria sido formado. Sérgio foi para os vocais de apoio e todos finalizaram o repertório com “Highway To Hell”, hino absoluto do AC/DC.
Essa tarde tão bacana e nostálgica foi encerrada com todos os músicos confraternizando com quem compareceu para prestigiar. O baterista Sérgio Facci revelou à ROADIE CREW a emoção que sentiu nessa data que ficará para sempre em sua memória: “Foi uma tarde para marcar na lembrança! Rever os amigos de décadas e poder tocar para essas pessoas algumas das músicas que marcaram o Metal nacional, foi algo indescritível. Ver as emoções que estavam rolando ali, e, principalmente rever o pessoal agitando e curtindo tudo aquilo, foi algo que compensou todo o trabalho”, disse. “Agora, seguiremos em frente, pois no ano que vem vamos para a estrada, levar estes sons para outros lugares. Foi muito bom!”, acrescentou. Da mesma forma, o emocionado Walcir Chalas, que atualmente comemora o lançamento do documentário “Woodstock – Mais Que Uma Loja…”, nos confidenciou: “Em primeiro lugar, agradeço ao Sérgio Facci pela iniciativa de produzir este evento dentro da Woodstock. Foi mágico, pois no momento em que o André Góis me ofereceu ‘Prowler’, passou um filme não de oito, mas de 34 anos atrás, que foi quando ouvi Iron Maiden pela primeira vez, e novamente agora, através da performance de pessoas que vi crescer em todos os sentidos. Gostaria de deixar o meu agradecimento a todos que estiveram no palco da loja.” Simplesmente memorável.