Por Samuel Souza
Fotos: Dani Moreira
Os poloneses do Vader retornaram ao Brasil após um hiato de 8 anos, desta vez, celebrando seus 40 anos de dedicação ao death metal. Veterano, o nome da banda era amplamente reconhecido entre os tape traders no final dos anos 80, na cena underground. Ao lançar o álbum de estreia, “The Ultimate Incantation”, pela Earache Records em 1992, alcançou reconhecimento mundial, mas mantevre um certo status de cult no extremo da cena musical. Não obteve o mesmo destaque no mainstream, como, por exemplo, o Cannibal Corpse e Deicide. Em resumo, o quarteto continua na vanguarda e mantém uma conexão sólida com uma base de fãs mais devota ao seu trabalho. Isso ficou claramente evidenciado na caótica sexta-feira paulistana, dia 03, afetada por um temporal e ventania, que resultaram em vários pontos da cidade sem energia, quedas de árvores e fatalidades. Parecia ser uma premissa dessa noite, na Jai Club, com ingressos esgotados, e um público que conhecia de cor e salteado todo o setlist devastador apresentado por eles.
Sem atrações de abertura, os falantes iniciam às 21h em ponto a introdução “Macbeth”, dando a deixa para a matança com a sequência avassaladora de “Decapitated Saints” e “The Wrath”. Não houve sequer três segundos de espera, a plateia já iniciou o pandemônio insano que se estendeu por toda a apresentação. Com uma qualidade de som bem superior aos shows que já rolaram por lá, como do Nile e do Uada, o Vader entregou muito mais do que se esperava. Pelo formato intimista, a troca de punhos fechados entre músicos da linha de frente e fãs, dava a deixa que essa sinergia brutal também se deve ao fato que eles estão muito bem afiados e prepararam uma revisão repleta de clássicos.
No alto dos seus 58 anos de idade, Peter Paweł, guitarrista e vocalista, único integrante original, mantém sua linha vocal intacta. Com potência peculiar e uma forma de urrar reconhecível a milhas de distância, entrega vivamente riffs que transbordam precisão. Com sorriso de orelha a orelha, reconhecia ali o valor endiabrado dos presentes. E se pegarmos “Chaos” e “Vicious Circle” e o impacto de violência e brutalidade que elas causam até hoje, provam que o poder criativo desse senhor estava além do seu tempo. São músicas que envelheceram muito bem.
A coesão do Vader estende-se claramente à presença de Marek Spider, salvo engano, o guitarrista que está há mais tempo com eles. Imerso no vórtice do death metal que a banda construiu, sua participação nos solos e nas bases que foram elaboradas para quebrar pescoços, não é nada lacônica. “Sothis” representa isso. E sejamos justos: o jovem baterista Michał Andrzejczyk, recrutado há pouco tempo, trouxe um gás a mais, empreendendo a velocidade necessária que uma canção como “Wings” urge. Sabe aquelas partes que chamamos de “HC” no meio de blast beats? Pois bem, “Cold Demons” e “Triumph of Death” trouxeram isso à tona.
Vou voltar um pouquinho na sequência do setlist, para destacar a perfeição que foi ouvir “Black To The Blind” e sua quebradeira desconcertante, aproveitando também para citar a assistência do baixista Tomasz Halicki (já na banda h´s alguns anos), que em meio a esse turbilhão, se destaca. E nas mais cadenciadas “Dark Transmission” e “Helleluyah!!! (God Is Dead)”, entendemos bem como uma cozinha alinhada faz a diferença.
Ainda que o som da casa, em alguns momentos, tenha ensaiado não suportar tanta grosseria, o Vader deixou a melhor das melhores impressões, uma aula autêntica e viva de como fazer Metal da Morte, se reinventando dentro de sua proposta. Encerraram com a imoderada “Shock and Awe”, faixa de abertura do álbum “Solitude in Madness” (2020), reafirmando que a banda ainda tem muita lenha para queimar. Para sorte dos fãs, visivelmente satisfeitos por essa noite intensa.
Em tempo: para aproveitar o desfiladeiro extremo, a Caveira Velha Produções ainda ofereceu uma pós-festa, com shows das bandas Podridão, Justabeli e Chaoslace. Quem já estava entregue ao caos e ao álcool, aproveitou e prestigiou a iniciativa, mostrando também a força do underground brasileiro.