Por Marcelo Gomes
Fotos: Sandra Rosato
A noite de 30 de novembro de 2024 no Vip Station, em São Paulo, foi marcada por uma verdadeira devoção ao metal, com um line-up que reuniu o melhor do underground brasileiro com Vazio, Flageladör, Whipstriker, a estreia do Warbringer e o aguardado retorno do lendário Venom aos palcos brasileiros.
A primeira banda do evento foi o Vazio. Com o público ainda chegando, o quarteto paulista apresentou o melhor do black metal tupiniquim cantado em português. A performance foi marcada por riffs densos e atmosferas carregadas, que capturam a essência do vazio existencial que a banda evoca em suas composições. A presença de palco foi poderosa, com os integrantes projetando uma energia quase ritualística, enquanto o vocal de Renato Gimenez e o instrumental preciso criaram uma parede sonora poderosa. O resultado foi uma apresentação que reafirmou seu lugar como um dos nomes mais promissores da cena underground brasileira.
Em seguida foi a vez do Flageladör, que subiu ao palco para apresentar seu speed/thrash em músicas como Conjuração, Máxima Voltagem e Assalto da Motoserra. Como tradicionalmente acontece, o vocalista Armando Macedo estava encapuzado, dando um ar sombrio à apresentação. O destaque foi para Queimando nas Chamas do Heavy Metal, dedicada a Pit Passarell do Viper e a Paul Di’Anno (ex-Iron Maiden), que nos deixaram recentemente. Encerraram com Unidos pelo Metal e prometeram um show especial em 2025 para celebrar os 25 anos de carreira. O público fez a sua parte, abrindo rodas, cantando e, em diversos momentos, gritando o nome da banda, que fez uma excelente apresentação.
Fechando a participação brasileira no evento, o Whipstriker chegou diretamente do Rio de Janeiro para apresentar, como eles mesmos se classificam, seu ‘mayhemic speed metal’. Abriram com Troopers of Mayhem e Nuclear Metal Blood, e a partir de Lucifer Set Me Free começaram a ter problemas técnicos na guitarra. Chegaram a tocar Waiting for the Doomsday somente com uma guitarra e decidiram parar até que o problema fosse sanado, o que levou alguns minutos. Com tudo resolvido, mandaram duas pedradas, Merciless Artillery e Rape of Freedom, que agitaram o público. Fizeram uma homenagem a Mantas, ex-guitarrista do Venom, em Mantas’ Black Mass e encerraram com Crude Rock’n’Roll. Apesar das adversidades enfrentadas durante a apresentação, conseguiram entregar um bom show, recebendo o apoio dos fãs.
A estreia do Warbringer em São Paulo foi uma explosão de energia e intensidade que deixou os fãs de thrash metal completamente extasiados. A banda californiana, conhecida por sua sonoridade agressiva e performances eletrizantes, entregou um setlist matador que destacou tanto o material mais antigo quanto faixas mais recentes, garantindo uma noite memorável. Atualmente formada por John Kevill nos vocais, Adam Carroll e Chase Becker nas guitarras, Chase Bryant no baixo e Carlos Cruz na bateria, abriram com a potente Firepower Kills, e os primeiros riffs já incendiaram o público, que não parou de agitar e abrir rodas durante a sequência destruidora com The Black Hand Reaches Out e Crushed Beneath the Tracks.
A reação dos fãs foi visceral, com uma conexão intensa entre banda e público. Nas partes instrumentais, John batia cabeça como um fã da banda, e cada música era recebida com entusiasmo, especialmente hinos como Living in a Whirlwind e Severed Reality, que fizeram o público cantar. Momentos mais técnicos, como a épica Defiance of Fate, mostraram o equilíbrio da banda entre brutalidade e habilidade musical. Encerrando com a clássica Total War e o hino de resistência Remain Violent, John Kevill comandou a plateia como um verdadeiro general, enquanto a banda entregava uma performance coesa e cheia de vigor. O grupo entregou uma performance consistente e mostrou sintonia impecável no palco. O público paulistano correspondeu à altura, demonstrando por que o Brasil é conhecido por sua paixão pelo metal. Foi uma noite que reafirmou o Warbringer como um dos grandes expoentes da cena thrash contemporânea, deixando os fãs ansiosos pelo próximo encontro.
O Venom chegou à Vip Station para escancarar as portas do inferno e entregar um show inesquecível. A formação atual da banda, liderada por Cronos (vocal e baixo), conta com La Rage na guitarra e Dante na bateria. Mostrando a força de seu legado, e sem a pontualidade britânica, já que atrasou 15 minutos, o grupo abriu a noite com o clássico Black Metal, o que foi suficiente para mostrar o quão alto os fãs podiam cantar. O público, formado por veteranos do metal e jovens fãs ávidos por conferir o peso do Venom ao vivo, respondeu com rodas e cantando altíssimo seu refrão icônico – afinal, estamos falando de um hino que definiu um estilo. A sequência com Welcome to Hell e In Nomine Satanas reforçou a consistência, enquanto Cronos comandava a multidão com sua presença de palco imponente e seu vocal característico. Rage, por sua vez, entregava solos cortantes e riffs que carregam décadas de influência no metal mundial.
O setlist equilibrava clássicos obrigatórios e faixas mais recentes, como Bring out Your Dead e 100 Miles to Hell, provando que o Venom ainda sabe como criar novas músicas sem perder sua essência. A verdade é que não importava se eram hinos do passado ou faixas mais recentes: a intensidade do público permanecia brutal. No meio do caos, as rodas pegavam fogo, enquanto a banda retribuía com uma entrega eletrizante.
No entanto, foram faixas lendárias como One Thousand Days in Sodom, Buried Alive e Don’t Burn the Witch que levaram os presentes ao delírio. A cada refrão era possível sentir o chão da Vip Station tremer, enquanto o público entoava os versos com paixão quase religiosa. A performance da clássica Leave Me in Hell e da mais recente Suffering Dictates, com seus riffs rápidos, mantiveram a empolgação em alta, destacando a habilidade da banda em criar sons impactantes, independente da fase.
Caminhando para o final, um dos momentos mais esperados veio com mais dois hinos: Countess Bathory e Witching Hour transportaram a plateia diretamente para a gênese do black metal, reforçando a importância histórica do Venom. O público, tomado por uma espécie de transe coletivo, cantava cada verso e não dava sinais de cansaço. Cronos, sempre carismático, interagia com os fãs, agradecendo a recepção calorosa dos brasileiros e relembrando a longa trajetória do Venom. A banda deixou o palco, mas o público parecia incansável, clamando por mais em um coro ensurdecedor. Quando retornaram para o bis com Warhead, o encerramento foi apoteótico: lavaram a alma dos fãs com muito peso e agressividade, coroando uma noite memorável.
Ao final do show, ficou evidente que o Venom ainda carrega o espírito rebelde e incendiário que definiu sua carreira. Cronos e companhia provaram que, mesmo após décadas, continuam relevantes e fiéis ao gênero que ajudaram a criar. Para os fãs que lotaram a Vip Station, o show foi mais do que uma performance, foi um ritual de celebração ao metal extremo e à história que a banda construiu, com São Paulo como testemunha de mais um capítulo glorioso.
Setlist Venom
Black Metal
Welcome to Hell
In Nomine Satanas
Bring out Your Dead
One Thousand Days in Sodom
100 Miles to Hell
Buried Alive
Don’t Burn the Witch
Leave Me in Hell
Suffering Dictates
Countess Bathory
Witching Hour
Warhead
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