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VENOM / VULCANO

No Natal de 1985, o primeiro filme “De Volta Para o Futuro” ganhou a atenção dos fãs e as bilheterias de todo o mundo com um enredo muito simples, que envolvia um cientista maluco, uma máquina do tempo e um viajante temporal. Quase um ano depois disso, o Venom tocava pela primeira vez em solo brasileiro, na época junto dos canadenses do Exciter, e, aqui em São Paulo, com o poderoso Vulcano.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Simples: desde que vi aquele filme pela primeira vez (lá no tardio 1992), eu sempre soube exatamente para qual data gostaria de voltar. Eu queria ter a chance de ver o Venom e o Vulcano juntos. Sim, de tantas coisas, era isso que eu queria presenciar. O tempo passou, e nenhum Delorean movido a 1,21 Gigawatts de eletricidade me ofereceu carona antes de acelerar até as 88 milhas por hora necessárias. Então, só me restou torcer pelo futuro, enquanto assistia (também atrasado, em 1994) “De Volta Para o Futuro 2”, em que Marty McFly e o Dr. Emmett Brown viajavam para o futuro, para o dia 21 de outubro de 2015. Quando lembro desta cena hoje, só consigo pensar ‘caras, vocês erraram por dois anos e um dia’. Talvez, se junto ao capacitor de fluxo eles tivessem um ‘capacitor de Nostradamus’, eles pudessem ter previsto que um dos eventos que mais fez metalheads desejarem uma máquina do tempo estava acontecendo em São Paulo. Venom e Vulcano mais uma vez dividiriam o palco nesta cidade!

“Ah, muita coisa estava diferente…”. Sim. “Um homem não pode se banhar no mesmo rio duas vezes”, diria Heráclito, aquele filósofo grego invejoso, que nem sequer viu o show original para poder comentar. Porém, quando o Vulcano pisou no palco e começou a noite de maldição e triunfo com “Witche’s Sabbath”, ninguém mais pensou nas diferenças entre passado e presente. Agora a tenda estava armada e a festa havia começado. Diante de uma recepção calorosa, o vocalista Luiz Carlos Louzada disparou: “Desta vez a gente optou em não tocar nada muito recente, vamos ficar mais nos anos 80, firmeza?”. Diante dos gritos de aprovação intensos, ele emendou “eu acredito que todo mundo conheça o ‘Bloody Vengeance’, certo?”… Assim, Zhema Rodero e Gerson Fajardo (guitarras), Carlos Dias (baixo) e o gigante Arthur von Barbarian (bateria) despejaram todo o ódio e urgência de “Dominios of Death”, faixa de abertura daquele clássico fantástico de 1986.

“Para quem tem o Bloody Vengeance, a gente vai tocar a segunda música do álbum”, anunciou Louzada, enquanto a plateia fez por si mesma as honras de apresentar “Spirits of Evil”, que foi dominada pelos ‘circle-pits’ e a atuação de um Gerson Fajardo inspiradíssimo no palco. “Ready to Explode” arrancou ainda mais furor dos fãs, em um momento de magia tão absoluto que Louzada disse para seus companheiros de banda, “acho melhor a gente tocar o ‘Bloody Vengeance’ inteiro, hein?”. Felizmente isso aconteceu, mas ainda tinha muita coisa especial para acontecer na noite.

“Holocaust” passou como um furacão desorientado, e seus versos fortes eram a síntese da histórica noite de black metal na capital paulista. “Incubus” precedeu aquela que a banda dedicou “a todos que vivem o verdadeiro underground”, “Death Metal”. E então rolou algo que todos desejamos, e que parecia bom demais para realmente acontecer: Louzada chamou para o palco o lendário vocalista que gravou o clássico “Bloody Vengeance” e fez a história do metal extremo junto com o Vulcano, o poderoso Angel.

A acolhida não poderia ser melhor, logo nos versos que anunciam a pedrada “Bloody Vengeance” (ou seja, a faixa “Voices from Hell”), sentiu-se um clima diferente no ar, algo que não era só saudosismo, nem só reconhecimento… Foi algo único, memorável, e que ficou ainda mais insano com a execução de “Total Destruição”, cujos versos anunciam de forma orgulhosa “o final já está profetizado / Metal negro, total destruição”. O fim do show não poderia ter sido mais emblemático: na noite do black metal em São Paulo, “Guerreiros de Satã” encerrou a apresentação de maneira furiosa, perfeita… Sim, mais um daqueles eventos que perdurará para sempre na memória.

E então chegara a vez do Venom. Os longos oito anos que passaram desde a última vinda de Conrad “Cronos” Lant, Stuart “La Rage” Dixon e Danny “Danté” Needham pareceram transcorrer entre o fechar das cortinas no fim da apresentação do Vulcano e a entrada triunfal do trio inglês, tamanha era a apreensão e a expectativa que tomavam conta de um Carioca Club absolutamente abarrotado de fãs sedentos. O baterista Danté, primeiro a adentrar o palco, permaneceu sentado atrás de seu ‘kit’, com os braços erguidos e recebendo a ovação dos que ali estavam para, em muitos casos, conferir pela primeira vez um show desses caras. E, por mais que parecesse muito tempo, não demorou até que o guitarrista Rage e o lendário Cronos aparecessem no palco, este último empunhando o seu baixo tradicional, e já mandando o som de escavadeira típico dos anos 1980. Mas, pelo menos no início, o trio buscou uma abordagem mais ‘moderna’, se é que isso é possível. “Long Haired Punks”, de “From the Very Dephts” (2015) fez o trabalho inicial, rapidamente seguida por “The Death of Rock n’ Roll”, e então “Bloodlust”, que mostrou que as coisas iriam sim (e ainda bem) pender para o passado, como tanto desejávamos.

“Pedal to the Metal”, a única de “Fallen Angel” (2011), foi seguida por “Grinding Teeth” do disco mais recente. Agora, tudo estava pronto para que o holocausto do passado começasse de fato, em uma intensa e perigosa viagem no tempo, que começou com um medley de “Buried Alive”, “Pandemonium” e “The Evil One”, faixa de abertura de “Cast In Stone”, que há exatos vinte anos tentava reunir o trio original e lendário que formou a lenda de Newcastle.

Ainda esmagados pelos riffs intensos dessa última, ouvimos os primeiros acordes de “Welcome to Hell” com cara de descrença, e quase pudemos nos sentir de fato no tal Delorean do Dr. Brown quando enfim tivemos a chance (no meu caso, pela primeira vez) de ouvir “Countess Bathory” ao vivo na voz de Cronos. Meu amigo, isso é uma experiência que não tem preço, e que jamais será esquecida. Com repertório suficiente para seguir só com hits por mais algumas horas, eles nos fizeram lembrar disso com “Warhead”, que quase arranca sangue pelos olhos, tamanho é o peso evocado por essa faixa ao vivo.

“Rise”, do disco mais recente, acabou passando meio batida no meio da sequência de clássicos, que ganhou seus capítulos finais com a fenomenal “Black Metal” e a não menos histórica e incrível “Witching Hour”, que sagrou o fim dos ritos noturnos no Carioca Club. Uma noite incrível e inesquecível. Essa foi a sensação que tínhamos ao fechar das cortinas naquele palco, onde antes demônios pisaram, e que agora ficava apenas enegrecido pela treva total e silencioso como um sepulcro solitário. No fim das contas, não houve máquina do tempo, não houve Dr. Brown, e nenhum filme pode fazer justiça ao que presenciamos neste 22 de outubro chuvoso. Afinal, nada mais justo do que as lágrimas dos céus sobre os corpos daqueles que curvaram suas almas para os deuses do rock’n’roll. BLACK METAL!

 

 

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