VITAL REMAINS

Ah, 13 de julho! Aquele dia em que a grande mídia finge que gosta de nós e nos apoia, e que, sabe lá por qual motivo, resolve que deve nos ‘homenagear’ com tributos que geram mais constrangimento do que orgulho… Mas, enfim, não é só de tributos bizarros que vive o famigerado “Dia Mundial do Rock”. Na verdade, para aqueles que vivem ou que visitavam São Paulo nesta quinta-feira agradável, não faltaram boas e saudáveis atrações rockeiras na cidade. Para aqueles que curtem o lado dos ‘metais pesados’ na tabela periódica, o evento do Clash Club era o mais indicado, e por que não dizer, obrigatório. Afinal, era a chance de conferir três bandas nacionais seminais, além de mais um grande nome da cena mundial do death metal.

Claro que não podíamos começar sem um pequeno percalço. O Dia Mundial do Rock é bacana, é legal, pois costumam rolar alguns shows, mas, como sabemos, não é feriado. E era quinta-feira. E os shows começavam às 19h. Assim, atravessar a capital paulista se mostrou um desafio difícil de ser superado. Mesmo assim, o grupo carioca Coldblood, que há tempos vem chamando atenção para o seu death metal furioso e divulga o ótimo “Indescribable Physiognomy of the Devil” (2016), entrou em cena com uma Clash ainda praticamente vazia.

O trio foi cativando cada um dos que chegavam com sua porrada sonora – na ocasião, amparados pelo excelente técnico de som, que deixou tudo ‘redondo’. Este era o primeiro show da tour que os cariocas estão fazendo com o Nervochaos –  a primeira parte foi com o Justabeli, que faria, em seguida, o seu último show na parceria. O set trouxe músicas de todas as fases, principalmente dos dois últimos trabalhos, “Chronology of Satanic Events” (2013) e “Indescribable Physiognomy of the Devil” (2016). Um dos destaques foi “Kristophobia”, que tem seu começo cadenciado, quase “doom”, e descamba para a porrada. Entre os músicos, destaque para o baterista Markus “MKult” Coutinho, que desafiava os limites da velocidade e, com precisão cirúrgica, fez um belo trabalho ao lado de Diego “D.Arawnn” Mercadante (guitarra e vocal) e Raphael Gabrio (baixo).

O retumbante som de canhões e ‘metrancas’ de guerra, um prelúdio que anunciava a iminência do início da apresentação dos paulistas do Justabeli. Também com novo trampo na área, o EP “Blast the Defector” (2017), o trio vinha de uma longa turnê ao lado do Nervochaos, que chegava justamente neste show ao seu final, a vigésima quinta de uma série que veio subindo do Sul para o Sudeste do nosso país. Rafael Ferreira (bateria), Julio “Blasphemer” Pinheiro (guitarra) e War Pheris (baixo e voz) já começaram o show detonando, mostrando que a longa turnê deixou a banda mais afiada do que nunca. Mas, se o início foi interessante, a segunda metade foi avassaladora.

Para a execução de “Ad Bellum et Gloria” a banda chamou para o palco o vocalista Lauro Nightrealm do Nervochaos, e juntos foram responsáveis por um dos momentos de “ensandecimento geral” da noite, que ainda estava no começo. A sequência matadora com “Parabellum”, “We Are the Elite” (dedicada aos fãs presentes no show), “Cause the War Never Ends…” e a derradeira “War Crime” deixou o público com o sangue quente, prontos para o holocausto que viria na sequência.

Era então a vez do Nervochaos uma das mais preparadas e respeitadas bandas do underground nacional dar o seu show. A empolgação, tanto da banda quanto do público, era visível e Lauro (guitarra e vocal), Thiago Anduscias (baixo), Cherry (guitarra) e Edu Lane (bateria) não decepcionariam. Devolvendo a gentileza anterior, Lauro chamou para o palco War Pheris e Blasphemer do Justabeli para a execução de “Ad Maiorem Satanae Gloriam”, uma das melhores faixas do recente “Nyctophilia” (2017), que a banda vem divulgando.

A sequência veio com “The Urge to Feel Pain”, do aclamado “Quarrel In Hell” (2006), disco que apresentou o Nervochaos para muitos de seus fãs. “Moloch Rise”, outra do disco novo aqueceu os presentes, e a próxima música foi dedicada aos presentes, com Lauro fazendo uma boa sacada com o título da música: “essa fala sobre o verdadeiro espírito do underground, ela é para vocês, pois todos estamos aqui “For Passion Not Fashion”.

Desnecessário falar o quão bem esta faixa de “The Art Of Vengeance” (2014) foi recebida, então, a pauleira seguiu em frente, atingindo novo ápice em “Total Satan”, de “Battalions of Hate” (2010), e “Mighty Justice”, do debut, “Pay Back Time” (1998). Após o show ainda tivemos a chance de falar com Edu Lane, durante a passagem de som do Vital Remains, e ele comentou um pouco a extensa turnê do Nervochaos pelo Brasil, a maior da banda até o momento: “estamos trazendo a cultura que a gente vê na Europa e nos Estados Unidos, onde as bandas viajam de ônibus, e a gente consegue explorar realmente o nosso território… algo que já deveria ter acontecido, mas antes tarde do que nunca”, ele comemora.

O show do Vital Remains foi, seguramente, um dos espetáculos mais insanos que São Paulo teve a graça de comportar, e todos os presentes podem testemunhar isso. Insanidade total e sem limites, perpetrada principalmente pelo doidaço vocalista Brian Werner. Acompanhado pelo baixista Gator Collier, os guitarristas Dean Arnold e o lendário Tony Lazaro, e pelo baterista Eugene Ryabchenko, Werner adentrou o palco trajando uma camiseta onde se lia em letras garrafais a frase “I Kill Priests”, além de um cinto de onde pendiam ossos e demais utensílios de primeira grandeza metálica. O início apoteótico com a introdução “Where is Your God Now?”, tradicional momento em que Werner incendeia pela primeira vez a sua Bíblia. Aqui não foi diferente, e na sequência a explosão causada por Icons of Evil precisaria ser estudada por especialistas em detonação, tamanho o impacto causado nos presentes.

Declarando que a banda costuma esperar um certo nível de selvageria em seus shows, conclamou um ‘circle pit’ em “Scorned”, e, se você não esteve lá, acredite, o maluco participou dele, e não uma única vez na noite. “Vocês já estão cansados?”, perguntou o vocalista, para a eufórica negativa da plateia, “que bom, pois nós ainda tocamos apenas dois malditos sons”, ele gritou, enquanto Lazaro puxava adiante a insana “Savior to None… Failure to All…”, do clássico “Dechristianize” (2003), disco que contou com os vocais de Glen Benton, do Deicide. “Isto aqui é um show de death metal, ou a porra de uma biblioteca?”, berrou Werner enquanto anunciava a nova “In a World Without God”, faixa que estará no próximo disco, que deverá sair muito em breve. O nível de insanidade mais uma vez chegou ao extremo com o ‘wall of death’ ocorrido em “Hammer Down the Nails”, e o clima ficou ainda mais denso com as palavras ao seu final: “não importa o gênero de metal que você ouve. Death, black, thrash, porra, pode ser até power metal. Vocês sabem, somos nós contra o mundo, nós contra o maldito pop de merda”, esbravejou antes de iniciar um dos maiores hinos da história do death metal, o clássico soberbo de 1997, “Forever Underground”. Não houve quem não vibrasse como um insano… Além disso, não restou dúvida de como o Vital Remains soaria sem Dave Suzuki, pois estava claro que a banda estava mais enlouquecida e potente do que nunca!

O final com “Into Cold Darkness”, dedicada aos fãs ‘old school’, e a clássica “Dechristianize”, formaram um fim de noite perfeito, onde uma banda acima da média criou um espetáculo que nos transportou diretamente para a insanidade dos shows dos anos 80 e 90. O público saiu sorrindo, com alguns hematomas pelo corpo, mas com aquela sensação de que há muito tempo não tinha se divertido tanto assim. Não tínhamos mesmo. O Vital Remains elucidou o significado prático de um show de death metal. Que bom que prometeram voltar logo com o novo disco.

 

 

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