VITAL REMAINS

Anunciado pela produtora Fame Enterprises, o Vital Remains voltou ao Brasil com a tour “Anthology Of Evil”, em comemoração aos 26 anos de banda. A última passagem do grupo por aqui foi em 2012, e a exceção de Tony Lazaro, com uma formação totalmente diferente. Desde então, os fãs estão à espera de um novo álbum, protelado já há algum tempo, principalmente por constantes trocas de integrantes. Felizmente algo mais sólido além de entrevistas veio em primeira mão a público na noite de sábado para a seleta audiência do Inferno Club. O line-up do festival contou ainda com as bandas Oligarquia, Mythological Cold Towers, Necromesis, Morfolk e Genocidio que, em jus ao nome da casa (da qual comentaremos mais tarde), compuseram uma matinê memorável e devastadora a níveis extremos.

A primeira banda a subir ao palco foi o Oligarquia. Infelizmente, devido à intempérie daquela tarde, a reportagem da ROADIE CREW não pôde estar a tempo de acompanhar toda a apresentação, chegando quando a banda tocava sua última musica. Pedimos desculpas ao grupo. Pelo pouco que se pôde ver, a banda merece todo o reconhecimento pelo profissionalismo e empenho. Apesar do público ainda bem pequeno, sua qualidade e boa disposição eram notáveis. O Oligarquia é uma banda de Death Metal, com mais de duas décadas de estrada, composta atualmente por Artur Fontenelle (baixo), Guilherme Sorbello (guitarra e vocais), Victor Pancho (guitarra e vocais) e Panda Reis (bateria).

Com um intervalo de quase meia hora (padrão que se manteria entre as bandas convidadas), o expoente do Doom Metal brasileiro, Mythological Cold Towers, tomou rapidamente o palco com Alan “Hamon” (bateria), Marcelo “Nechron” (guitarra), Glauco “Samej” (vocais), Fabio “Shammash” (guitarra), Marcio “Yaotzin” (baixo), e a faixa “In the Forgotten Melancholic Waves Of The Eternal Sea”. Em quarenta minutos se pôde ver e ouvir uma primorosa apresentação de som impecável, facilmente o mais bem ajustado do evento. Com destaque para o monstruoso vocal ao vivo de Samej, que mais parecia estar dublando suas canções, tamanha sua excelência técnica. Em resumo, um momento de total admiração. O público por sua vez foi presenteado com as mais recentes canções, “Beyond The Frontispiece” e “Vestiges”, além das belíssimas “Immemorial” e “Contemplating The Brandish Of The Torches”. Sem dúvidas uma aula de Doom que vale a pena ser vista sempre que possível.

Quem vê a bela Mayara Puertas junto ao Necromesis não deve se deixar levar unicamente pela beleza da moça, pois quando menos se espera ela nos acerta como um chute na cara ao abrir a boca. Sem pedir licença, Gil Oliveira (bateria), Daniel Curtolo (guitarra), Gustavo Marabiza (baixo) e com Mayara chutando a porta em “Desocial Inclusion”, a banda dominou o Inferno Club com faixas de seu novo álbum, “The Poet’s Paradox”, a ser lançado este mês. Entre elas, “Evolving a Paradox”, “Condemned by Themselves” e “The Omission of Living”. A despeito da presença de palco enérgica e contagiante do grupo e da simpatia da vocalista, não se pode deixar de notar alguns problemas no som e certa falta de sintonia entre a banda naquele dia, mas nada que comprometesse o desenvolver do show. Sob aplausos, o Necromesis deixou o palco com um público um pouco maior e mais agitado.

Festivais muitas vezes trazem gratas surpresas na manga. E essa foi a vez do Morfolk. Aos que não conheciam a banda, me incluo, o quinteto de São José dos Campos deixou como cartão de visita meia hora de um Death Metal tradicional, sólido e doentio. Com o som muito bem ajustado, riffs pesados e solos distorcidos dos guitarristas Reinaldo “Tio” e Roberto “Repolho”, excelentes vocais rasgados e guturais de Walter “Pitucha” e uma cozinha técnica e pesada de Ryan Roskowinski (baixo) e Daniel Sanchez (bateria), o set list contou essencialmente com faixas do último álbum, “…Until Death”, como “Blood Lust”, “Hate Beyond The Pain” e “Desordem”, cantada em português. Destruição total era a palavra de ordem no palco do Morfolk, em contraste com a postura simples, um tanto tímida e bem humorada do quinteto, com destaque para o vocalista “Pitucha” que rasgou agradecimentos aos presentes e à produção do festival antes de anunciar a última faixa “No Tomorrow”. Outra ótima apresentação de uma banda que deve ser vista mais vezes na capital paulista.

Feliz escolha foi a do Genocidio para anteceder o Vital Remains. A essa altura, quem deveria chegar ao festival já havia chegado e com a casa pouco mais cheia, a banda aqueceu os fãs com seu clima denso e peculiar. Os veteranos Murillo Leite (vocais e guitarras), Rafael Orsi (guitarras), Wanderley Perna (baixo) e João Gobo (bateria) subiram ao palco com “Birth Of Chaos”, seguida de “Kill Brazil”. A regulagem de som da casa não estava nos seus melhores dias, por diversas vezes a microfonia se fazia ouvir, motivo para pequena reclamação do vocalista, que apesar disso não deixou de agradecer o público e prosseguir o show. Os pontos altos do set foram “Come To The Sabbath”, cover de Mercyful Fate, as clássicas “The Grave” e “Up Roar”, a frenética e derradeira “The Clan”, despedindo do palco um dos gigantes de nossa cena.

Intervalo de mais de uma hora, após um interminável ajuste de instrumentos e som, a principal atração da noite, Vital Remains, inicia sua devastação sonora com a ‘intro’ “Where Is Your God Now?” e “Icons of Evil”. Atualmente o grupo é formado por Brian Werner (vocais), Gaeton “Gator” Collier (baixo e vocais), os mais recentes integrantes James Payne (bateria) e Dean Arnold (guitarras), e a eterna lenda Tony Lazaro (guitarra). A próxima hora de show seria um tributo aos 26 anos de banda, passando por todos os trabalhos com um presente especial para o público: a mais nova faixa, “In A World Without God”, tocada pela primeira vez ao vivo. A música conta com uma introdução mecânica, de clima apocalíptico e, sem desmerecer os clássicos, foi uma das melhores do show. Devastadora, insana, monstruosa. Fica a expectativa para que o novo álbum seja de fato lançado em breve.

O aspecto mais notável da apresentação do Vital Remains é a agressividade que Brian destila, tanto com sua postura, incitando o público, batendo cabeça e mostrando o dedo do meio para o alto diversas vezes, declarando seu total ódio e desprezo por “Deus”, quanto sua capacidade vocal, sempre violenta. Em conjunto com os vocais de “Gator”, mesclavam guturais e rasgados, dando à audição ao vivo um clima agressivo fora do comum. James Payne é um garotão que já pode ser chamado de monstro. O rapaz é uma máquina incansável. Idem para o jovem Dean. E parece mesmo que Tony Lazaro ainda tem muita estrada para rodar, apesar de não agitar muito no palco, não ficou devendo nada.

O profissionalismo e excelência do grupo foram corroborados pelo incidente com seus instrumentos originais, perdidos pela companhia aérea United Airlines. A banda teve de correr atrás de novos instrumentos em tempo para o show de São Paulo. Ficam os parabéns pelo excelente show mesmo sob circunstâncias adversas.

É difícil escolher destaques no set list, pois o show dos estadunidenses, parafraseando nosso fotógrafo, é “como uma parede caindo em cima de você ininterruptamente”. Faixas como “Black Magic Curse”, “Scorned”, “Hammer Down The Nails” e “Forever Underground” figuraram a apresentação, além é claro, de inúmeras rodas, moshs, stagedivings (um tanto capengas) e um pequeno ‘wall of death’ sob ordem do vocalista. “Let The Killing Begin” e “Dechristianize” fecharam com primor a matinê de “gente grande” do Vital Remains. A banda parece estar em plena forma, o que é muito bom.

A grande ressalva da noite foi o lugar escolhido, que deixou claro precisar de uma reforma urgente. No decorrer dos shows, baldes começaram a figurar no meio da pista para conter goteiras. Sim, goteiras. No meio da pista, em um show de Death Metal. A todo momento funcionários da casa precisavam secar o chão e fazer “manutenção” dos baldes, que atrapalhavam muito a movimentação das pessoas. Até o final da noite não sobrou balde sobre balde para contar história, mas não podemos deixar de apontar o desconforto e o visual fundo de quintal do Inferno naquela tarde. Fica o apelo para que os produtores repensem a escolha de certas casas, pensem no público, nas bandas e na qualidade de seu evento. Um bom evento, numa boa casa, será sempre frequentado, sem saldos negativos na conta.
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