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WARMEN: AGRESSIVAMENTE RESSIGNIFICADO

 

Ex-tecladista do Children of Bodom, Janne Warman revela como trabalhou seu projeto paralelo para tornar-se a continuação de sua ex-banda

Por Guilherme Spiazzi

O Warmen começou como um projeto paralelo do tecladista Janne Warman (ex-Children of Bodom) ao lado do seu irmão, o guitarrista Antti Warman, e diferentes músicos ao longo de cinco discos de estúdio. Porém, o fim do CoB em 2019 e o falecimento do vocalista Alexi Laiho em dezembro de 2020 abriram uma lacuna na vida desse finlandês que por pouco não se aposentou da música. Por sorte, Janne não se rendeu e nos conta toda sua jornada do final do CoB até a reunião com Antti, Petri Lindroos (vocal, Ensiferum), Jyri Helko (baixo) e Seppo Tarvainen (bateria) para uma guinada no projeto com o lançamento do sexto disco, “Here for None”.

Acredito que “Here for None” seja o disco da virada na sua carreira, uma vez que ele continua de onde o Children of Bodom parou. Qual é a principal razão para isso e por que você sentiu-se confortável para seguir essa direção?
Janne Warman:
Quando o CoB acabou, eu larguei a música. Em um ano eu só toquei uma música e foi no casamento de um amigo. Dá para dizer que eu estava deprimido musicalmente por conta de tudo que aconteceu. Porém, Antti e Helko começaram a me incentivar a fazer algo com o Warmen. Eu não queria, mas acabamos indo para uma cabana fazer um som e para a minha surpresa as músicas começaram a surgir naturalmente. Foram quatro temas logo no primeiro encontro. Ali eu percebi que talvez ainda houvesse ideias musicais em mim.

Essa percepção veio acompanhada de algum sentimento de pressão?
Janne:
Não, porque em paralelo a isso eu estava estudando na universidade em tempo integral, não planejava voltar a ser músico profissional. Possivelmente, nunca mais volte. Então, não havia pressão alguma e a música que começou a vir era muito agressiva. Com as composições finalizadas e a chegada de Lindroos a coisa tomou forma. Com ele, a direção sonora do material se aproximou muito mais daquilo que o CoB fazia. Eu pensei: ‘OK, foda-se. Deixe que soe como CoB mesmo.’ Eu não estava muito preocupado com isso. Foi isso que aconteceu.

Há quem diga que você estaria tentando copiar o som do CoB, mas, convenhamos, é justo que você continue fazendo o que já fazia.
Janne:
Exato! A minha música agressiva de metal eu fazia no CoB, e o Warmen era um projeto paralelo voltado para algo diferente quando a banda principal não estava fazendo nada. Porém, agora que o CoB não existe mais, nós resolvemos compor as melhores músicas que podíamos. O resultado está aí.

La atrás você experimentou bastante com o Warmen e vários vocalistas passaram pelo grupo. Você chegou a pensar em manter isso?
Janne:
Quando começamos a compor, não sabíamos se trabalharíamos com vários cantores ou apenas com um. A coisa começou a fazer mais sentido quando decidimos ter apenas uma pessoa cantando no disco. Quando encontramos Lindroos – que conheço há 25 anos –, ele pareceu a melhor e a mais lógica opção. Estou feliz por termos escolhido ele.

O que fez de Lindroos a melhor opção? Foi o estilo vocal ou o fato de ele ser finlandês?
Janne:
Tudo isso. Quando escutei a demo, podia meio que ouvir Laiho cantando nela. O único estilo de voz que se encaixava era o dele. Desse ponto em diante, veio a ideia de chamar Lindroos para a banda. Quando eu compus as primeiras músicas, estava inclinado a ter melodias de voz nos refrãos e eu de certa forma estava pensando em chamar Björn Strid (Soilwork) para cantar. Porém, a música foi se desenvolvendo de tal forma que passou a pedir um vocal que fosse agressivo o tempo todo, então nem falei com ele.

Parece-me que ter vocais melódicos no refrão faria a sua música soar de forma muito genérica.
Janne:
Isso é verdade. Muitas bandas fazem isso, então nosso som é mais único. Eu nunca havia pensado dessa forma e acho que você está absolutamente correto. O que fazemos é bem o estilo do metal finlandês que o CoB fazia.

Você já trabalhava em novas músicas para o Warmen antes de o CoB encerrar as atividades. Inclusive, parece que o material tinha uma pegada synthwave, certo?
Janne:
Sim, eu estava fazendo isso para me divertir. Compus várias músicas e uma delas está nesse disco.

Nenhuma faixa remete ao synthwave, de qual faixa estamos falando?
Janne:
Falo de Too Much too Late e claro que ela foi retrabalhada. O resto eu joguei fora porque não era sério o suficiente… Eu só estava brincando com o teclado ao invés de me concentrar em compor. Na época eu estava ouvindo muito synthwave, então isso obviamente me influenciou.

Falamos bastante de você, mas como os outros integrantes estão encarando essa fase da banda?
Janne:
Estamos muito empolgados. Perto do final da carreira do CoB, infelizmente eram tantos os problemas com Laiho, seu alcoolismo… Eu percebo agora que eu nem estava tão empolgado com os dois últimos discos da banda porque era difícil trabalhar com ele. Não me refiro ao estúdio, mas ao clima geral da banda, que estava em queda livre devido aos problemas de Laiho. Os discos foram lançados, mas eu nem… Enfim, agora eu estou muito empolgado com o novo trabalho do Warmen. Eu amo ele! Tudo bem que Lindroos tem o Ensiferum e não estamos tentando roubar ele, mas todos nós estamos muito empolgados para nos reunir e tocar. Estamos muito ansiosos para ser uma banda de verdade.

Mesmo assim as chances de uma turnê são pequenas, não?
Janne:
Sim… Como eu tenho mais dois anos na universidade até concluir meu mestrado, além de dois filhos pequenos, não tenho vontade de sair em turnê nos próximos dois anos. Sei lá, se recebermos uma oferta matadora nesse período, quem sabe a gente faça uma turnê.


No meio de tudo isso, como fica a continuidade do Warmen? Você pensa num próximo disco com a mesma formação?
Janne:
Se fizermos algo, certamente será com a mesma formação. Como estamos empolgados com o lançamento, não conversamos sobre isso. Acho que nesse período de dois anos eu terei tempo para compor e tal.

Foram mais de vinte anos viajando e vivendo as loucuras da estrada com o CoB. Como você enxergou a vida e seu futuro com o fim da banda?
Janne:
Eu estava muito confuso com o que faria pelo resto da vida. Foi Helko quem me disse que eu não tinha mais nada para conquistar. O CoB havia feito tudo. Vendemos 2,5 milhões de discos, viajamos o mundo… Não pensei em formar uma banda para atingir o mesmo nível de sucesso. Quando montamos o CoB, o meu sonho era ser arquiteto, mas na época eu não entrei na universidade por coisa de um ponto. Com o fim do CoB a minha esposa disse: ‘Se você não quer mais fazer música, por que não volta para universidade e faz Arquitetura?’ Aos 40 anos, eu completei o bacharelado e daqui dois anos serei mestre em Arquitetura. Isso me dará a liberdade para fazer o que eu quiser com o Warmen.

Durante esses vinte anos de carreira, foram seus fãs que estudaram, construíram uma carreira e formaram famílias…
Janne:
(risos) Sim, verdade! Aos 40, eu tive meu primeiro filho e voltei para a escola (mais risos). Eu não mudaria nada do que aconteceu, pois se eu tivesse tido filhos quando era mais jovem, teria sido confuso fazer turnês e tudo mais. Sou feliz por ter feito as coisas ao contrário.

Você ainda tem contato com os ex-integrantes do CoB?
Janne:
Henkka (Blacksmith, ex-baixista), Jaska (Raatikainen, ex-baterista) e eu ficamos muito mais próximos porque cuidamos do legado do CoB. Estamos escrevendo um livro e queremos continuar lançando material para os fãs. Queremos manter a comunidade ativa. Recentemente abrimos um bar. Hoje eu faço mais coisas relacionadas ao CoB do que fazia quando a banda estava ativa.

Fale mais sobre esse livro, por favor.
Janne:
Nós decidimos chamar o guitarrista original, Alexander (Kuoppala), para contar sobre os primeiros anos até o primeiro disco. É um livro sobre o início da banda. Eu acho que ele será lançado ainda em 2024.

Como você se comportaria diante de uma oferta para show tocando CoB com Lindroos no vocal?
Janne:
Blacksmith, Raatikainen e eu já conversamos muito sobre isso. O trigésimo aniversário de “Something Wild” (1997) se aproxima e nossos sentimentos vão oscilando. Não sabemos se faria sentido tocar sem Laiho. Sei que as ofertam financeiras podem ser muito boas, mas fizemos um acordo entre nós que prevê que se nenhum de nós estiver 100% a fim de fazer, não iremos para o palco juntos. Se fizer sentido, aí talvez possamos fazer uma turnê de um ano para esse aniversário. Não é completamente impossível, mas no momento não parece viável. Acho que esse aniversário seria a única razão para isso mesmo.

Que mensagem de encorajamento deixaria para os fãs que têm que equilibrar expectativas quanto ao futuro, sonhos, família etc.?
Janne:
Boa pergunta. A música mudou tanto que nem eu entendo muito bem como as bandas conseguem sair em turnê sem a venda de discos físicos. Acho que tudo se resume a sempre acreditar em si e fazer a música que você quer fazer da melhor forma possível. Foi o que fizemos em “Here for None”.

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