WARREL DANE

Quando a banda Nevermore soltou seu quarto álbum de estúdio, naquele primeiro ano de um novo milênio, ninguém imaginava que o que estava vindo se tornaria um clássico. “Dead Heart in a Dead World” veio em (mais) um momento em que muitos diziam que o Heavy Metal flertava com seu fim. A cena americana estava tomada por bandas de New Metal, e o espaço para a parte mais pesada da indústria começava a esmagar os que não fugiam da mesmice. E foi então que eles marcaram a ferro quente seu nome na história. Um disco poderoso, com letras fortes, construções rítmicas intrincadas sem alienar o peso, guitarras criativas e riffs marcantes. E um vocal cada vez mais característico. Em pouco tempo, o álbum passou a fazer parte da cabeceira de vários Metalheads mundo a fora, e se tornou um dos itens obrigatórios para audições de gerações futuras. E, passados quinze anos desse momento, com a banda já dissolvida e com seus membros tocando suas carreiras em caminhos separados, o responsável pelo microfone do citado clássico veio ao Brasil para celebrar aquele momento. Assim como foi comunicado ao término de seu show solo em 2014, este ano Warrel Dane estaria de volta para executar, na íntegra, “Dead Heart in a Dead World”. A data de 28 de março quase fechou exatamente um ano da última apresentação. O local dessa vez foi o Inferno Club, e os convidados para abertura dessa vez foram os paulistanos do Fates Prophecy.

Por motivos não comunicados, o início da apresentação teve por volta de meia hora de atraso. E, para um público que ainda era pequeno, Leonardo Beteto nos vocais, Carlos Kippes e Paulo Almeida nas guitarras, Rodrigo Brizzi no baixo e Sandro Muniz na bateria iniciaram sua apresentação com “New Degeneration”, música que integra o mais recente álbum de estúdio da banda, lançado em 2013. O Fates Prophecy é o tipo de banda que ou se ama ou se odeia, por um simples motivo: eles não fazem a menor cerimônia em exibir suas extremas influências de Iron Maiden. Muitos dizem que eles soam como uma banda cover. Mas a verdade é que isso agrada a uma boa parcela dos fãs da Donzela, pois era facilmente perceptível pessoas na pista cantando todas as letras e curtindo bastante o show. Leonardo procurava se dirigir ao público nos intervalos entre as músicas, sempre agradecendo e demonstrando o prazer de estarem envolvidos em um evento daquela importância para os presentes. Após mais ou menos meia hora de apresentação, anunciam a derradeira, e agora sim o real Maiden: o cover de “Phanton of the Opera”. Similaridades a parte, o Fates Prophecy cumpriu com primor sua função, executando muito bem todo seu repertório.

Quase uma hora se passou até que voltássemos a ter movimentação no palco. E foi a mesma banda de apoio do ano anterior, formada apenas por músicos emergentes individualmente do cenário Metal paulista, que fez as honras. Thiago Oliveira e Johnny Moraes nas guitarras, Fabio Carito no baixo e Marcus Dotta na bateria já se tornaram a banda de confiança de Warrel Dane em nossas terras. E, com os quatro no palco, e a ‘intro’ “Precognition” rolando, Mr. Dane se fez presente. Ovacionado calorosamente por um público que nesse momento havia se multiplicado bastante em relação a hora anterior, o vocalista trajava seu indefectível chapéu de abas dobradas e óculos escuros, que não permaneceram uma música em seu rosto. E então o presente aos fãs brasileiros se iniciou com a primeira faixa de “Dead Heart”, “Narcosynthesis”. Os presentes se apertavam diante do acanhado palco do Inferno, como que querendo se fundir ao seu ídolo. Incrível como este jovem senhor de 54 anos consegue transmitir tanta energia no exercício de sua função. Como um maestro, Warrel vai “regendo” o público entre suas frases. “Desintegrate” veio na sequência, e então a casa começou a complicar uma noite que poderia ter sido perfeita: o microfone de Warrel simplesmente some durante a execução desta, ele não percebe e continua cantando, mas a única voz que se ouve é a de Carito no backing vocal. Neste momento, boa parte das pessoas se voltam para a área da técnica de som, gesticulando e avisando que algo estava errado. Não adiantou. A música se seguiu quase completa sem vocal, enquanto Warrel parecia dublar sem som sua música. Problema corrigido, felizmente, pois a que seguiria seria o hino “Inside Four Walls”, música que possui uma força toda particular, e teve seu refrão gritado a todos pulmões pelos presentes.

“Evolution 169” e “The River Dragon Has Come” seguiam com o clássico, enquanto todos em cima do palco procuravam se adaptar as falhas técnicas da casa. Na sequência, uma das mais fortes músicas do álbum, veio precedida de um discurso caricato melancólico sobre todas as garotas colecionadoras de corações que existem mundo afora, o que nitidamente anunciava “The Heart Collector”. Essa música é verdadeiramente emocionante ao vivo! EnginesofHate veio para acabar com a calmaria, acompanhada de “The Sound of Silence”. “Insignificant” trouxe um momento inusitado: Dane parece ter esquecido o exato momento em que deveria entrar em uma das estrofes, se equivoca, para e é rapidamente auxiliado por Carito, que lhe deu a deixa para que tudo continuasse como deveria. Para fechar, os dois petardos de estados emocionais ambíguos: “Believe in Nothing” e a homônima do álbum, “Dead Heart in a Dead World”, não cantada, mas berrada por todos os presentes. Álbum executado, promessa cumprida, a banda se retira para respirar um pouco e deixar que as fichas devidas caíssem no público.

Coisa de cinco minutos conteve a espera para que todos voltassem, para executarem a segunda parte do show, essa distribuída pelo restante da carreira de Mr. Dane. A intro “Ophidian” trouxe todos de volta ao clima da apresentação, e dando passagem para “I, Voyager”. E, assim como foi feito ano passado, com a convidada Juliana Rossi no vocal feminino de apoio, “Dreaming Neon Black” dessa vez trouxe ao palco Mizuho Lin, vocalista da banda paranaense Semblant. Mizuho deu um breve show a parte, com sua excelente extensão vocal. Teria sido verdadeiramente lindo se seu microfone tivesse funcionado corretamente durante toda a música. Mas como essas falhas técnicas já haviam se tornado uma das tônicas da noite, o show prosseguiu ignorando o fato. “Emptiness Unobstructed”, “This Sacrament” e “My Acid Words” continuaram chutando tudo o que viam pela frente, com essa última incentivando definitivamente que a tão esperada roda se fizesse presente no show. Um pouco tímida ainda, mas ali. “Messenger” foi a única de sua carreira solo executada, e então Warrel faz uma pausa para um comunicado. Respirando fundo, querendo criar um ar dramático a sua anunciação, ele diz a todos que a próxima teria seu debut ao vivo. Nunca executada antes, “Sell my Heart for Stones” veio para colocar sorrisos nos rostos dos fãs mais fieis.

“Enemies of Reality” elevou novamente a energia, e a banda faz mais uma pequena pausa para um último fôlego. E então Dane pergunta se estão todos vivos, todos bem, ainda com energia suficiente para mais uma? Sim? Então, se por gentileza, poderiam abrir uma roda e gastassem toda sua reserva energética, pois, como ele disse, a próxima seria uma bem rápida! E então Born foi executada. E ao seu fim também se findou o show.

Durante todo o extenso set list, era perceptível que Warrel Dane não estava com o pique do ano anterior. Notícias diziam que ele estava com alguns problemas de saúde o incomodando, nada que o impedisse de realizar o show, mas suficientemente chatos para que ele se comportasse de forma mais contida. Sua voz continua potente, seu carisma inabalável. Essas recentes vindas para o Brasil tem exposto um lado humano poucas vezes visto em astros da música da importância e relevância que este homem carrega. Isso sem dúvida alguma apenas aumenta a aura icônica que ele carrega entre os fãs. A banda se mostrou mais afiada que na última tour, o que apena reforça a ideia de que esse contato, enquanto a música exigir, será vitalício. E todo esse conjunto formou mais uma incrível noite, jamais imaginada ser possível quando do nascimento desse clássico. Como ouvi de uma pessoa presente ao público “Tem muito “gringo” com inveja de nós aqui hoje!”. Não serei eu que discordarei disso!

Confira abaixo “Dead Heart 15th Anniversary Brazilian Tour“, um mini documentário produzido por Iza Rodrigues (Menina Headbanger), com cenas ao vivo gravadas no show de São Paulo/SP e São José dos Campos/SP e entrevistas com os membros da banda.

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