Uma noite de muito peso com generosas doses de melancolia. Assim podemos definir essa noite gelada do dia 25 de abril, véspera de feriado aqui no ABC. Data que contou com um evento memorável: a apresentação do ex-vocalista de grupos como Sanctuary e Nevermore, Warrel Dane. Show que teria como maior atrativo a execução na íntegra do álbum “Dead Heart In a Dead World”, além de outras canções de seus trabalhos. Inicialmente marcada para o mês de abril, a apresentação manteve o mesmo local, o Anexo Brasa. Localizado em São Bernardo do Campo, é conhecido por ser um reduto de estilos como samba e pagode, mas que abriu suas portas para o som pesado e desde então, já recebeu nomes como Krisiun, Dr. Sin, Glória, entre outros.
Antes de Mr. Warrel entrar em cena, às 21h40, a noite contou com a abertura da Heaviest, daqui do ABC paulista. Colhendo os frutos do seu álbum Nowhere (2015), Mário Pastore (vocal), Márcio Eidt (guitarra), Guto Mantesso (guitarra), Renato Dias (baixo) e Vito Montanaro (bateria) fizeram uma apresentação que agradou aos presentes que estavam na casa. Desde a abertura com o “Nowhere” (o hit dos caras) e a quebrada “Buried Alive”, o que se viu foi uma banda segura e solta no palco, talvez por estarem num lugar mais intimista e pelo fato de estarem tocando em casa.
Porém, o melhor estava por vir. “Resurrection” foi um dos pontos altos da apresentação, assim como “Time”, com solos que beiram o Hard Rock. O som estava tão bom que era possível ouvir com clareza todas as nuances das guitarras e baixo. Em especial dos graves, cujas linhas lembram bandas como Korn e Disturbed. “Betrayed” encerrou a ótima apresentação do grupo, que ainda vai dar muito que falar.
Após rápidos ajustes, às 22h55, Warrel Dane e sua banda formada pelos talentosos Johnny Moraes (guitarra, Hevilan), Thiago Oliveira (guitarra, Seventh Seal), Fabio Carito (baixo, Instincted) e Marcus Dotta (bateria, Hatematter) iniciaram o longo set com “Narcosynthesis”, que logo aos primeiros acordes deu a deixa do que seria a apresentação: público e banda unidos como se fossem uma coisa só, algo que muitas bandas tentam e ficam apenas na intenção. Graças a ótima atuação do vocalista (que se apresentou com uma tipóia no braço) e sua ótima banda.
Interessante dizer é que passados mais de 15 anos de seu lançamento, a sonoridade de “Dead Heart In A Dead World” continua atual e marcante, graças aos momentos de virtuosidade, peso e (principalmente) a carga emocional/melancólica, que além de fazer chacoalhar a cabeça, nos faz refletir.
Voltando ao show, “The Heart Collector” foi um dos pontos altos da noite. Seu inicio acústico e ritmo denso e melancólico levou muitos fãs as lágrimas. Apesar do clima depressivo das canções, o clima do vocal com a banda era outro, totalmente descontraído, com brincadeiras para todos os lados.
Porém, quando o lance era tocar música, a parada era séria. A lenta/pesada “Insignificant” e o hit “Believe In Nothing” foram outros momentos que ficaram na mente de muitos (incluindo este que escreve o texto), com o público ovacionando Warrel e banda. Se fosse até aí já teria valido a noite. Porém havia tempo para mais. O álbum “Dreaming Neon Black”, de 1999 foi lembrado por meio da intro “Obsidian” e “Beyond Within”, que chamou a atenção por seus riffs pesados e carregados.
O passado com o Sanctuary não foi deixado de lado e “Taste Revenge”, de I”nto the Mirror Black”, de 1990 foi executada, cujo destaque ficou para a precisão do baterista Marcus Dotta e os riffs fielmente executados. De volta ao Nevermore, “Next In Line” e “Enemies of Reality” deram números finais ao espetáculo, que deixou todos os presentes satisfeitos e com o sorriso de orelha a orelha.
Felizes aqueles que tiveram a oportunidade (e coragem de encarar uma noite fria) de assistirem a um espetáculo histórico, que aos poucos vai colocando novamente o ABC paulista na rota dos grandes shows.