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WATAIN – São Paulo (SP)

Por Heverton Souza

Fotos: Leonardo Benaci

E mais uma vez a banda sueca Watain trouxe, através da KLF Productions, seu caos satânico para São Paulo, um dia após os vizinhos da banda Lucifer passarem pela cidade, exatamente na mesma casa de shows, localizada na Zona Oeste da capital paulista. Porém, nessa mesma noite nem tão longe dali, o Exodus se apresentava com sua nova tour para casa cheia. Isso tudo é logo dito para expor ao leitor que talvez tenha sido um fim de semana de brigas injustas para os bolsos e escolhas de headbangers. Tínhamos o ineditismo de uma banda em nossas terras, a volta de um nome clássico amado por praticamente qualquer headbanger que se preze e no meio dessa “treta” estava o Watain, o que talvez justifique que pouco menos de metade da capacidade (cerca de 650 pessoas) do Fabrique Club estava presente para ver a banda na noite chuvosa de domingo, 4 de dezembro.

Mas missão dada é missão cumprida e ela começou a ser devidamente representada pela abertura às 19h, com a apresentação de Manu Joker and the Rottens, trazendo seu show do álbum Rotting, dos mineiros do Sarcófago. Uma homenagem de Manu à sua passagem pelo mais clássico nome do black metal nacional. Os “rottens” que acompanham Manu são ninguém menos que Maurício Nogueira (guitarra, Tribal Scream, ex-Krisiun, Torture Squad, Matanza), Vitor Munhoz (guitarra e teclado, Zarta, Led Cover SP), Michel Crisaor (baixo, Crisaor, ex-Amazarak) e Bráulio Drummond (bateria, Dorsal Atlântica, ex-Unearthly), ou seja, um time experiente e competente que teve nessa noite sua primeira experiência em palco.

Ainda dava pra sentir uma certa crueza e talvez a falta de maior entrosamento, mas não há o que se falar da banda tecnicamente. Manu não encara essa apresentação com uma postura “black metal”, mas sim com seu conhecido jeitão meio “mano”, meio punk, como lembramos dele à frente da banda Uganga. Então, o foco dessa abertura ficou mesmo na música, que cumpriu o prometido ao tocar Rotting completo, apesar de Manu se atrapalhar com a ordem do set em um determinado momento, com ele mesmo tirando sarro disso ali em palco.

A apresentação ainda contou com um som do Angel Butcher, outra das bandas de Joker, que esteve em atividade nos anos 1980, e, conforme a ordem de Rotting, terminou com a música Nightmare, que contou com a participação de ninguém menos que Beelzeebubth, guitarrista e vocalista da icônica Mystifier. Uma verdadeira homenagem ao black metal brasileiro.

Diferentemente de uma apresentação como a do Emperor, que ocorreu em maio, nessa noite não se via um grande encontro de velhas figuras de músicos e fãs do black metal, mas para os que reconheceram, havia um mestre camuflado entre nós: Reverendo Fábio Massari, VJ da era clássica de nossa MTV, responsável pelo comando de programas como Lado-B e Clássicos MTV. E essa não é a primeira vez que esse repórter aqui encontra o reverendo em meio ao público do “lado negro da força”. Massari é grande fã e entendedor de black metal e confessou uma grande expectativa ali em ver o Watain ao vivo pela primeira vez. Foi então, às 20h12, que os suecos deram as caras pintadas em palco devidamente decorado com parte dos candelabros personalizados da banda.

Erik “E.” Danielsson, como tradicionalmente faz, surgiu com uma tocha em mãos, de forma até arriscada levando em conta que a chama facilmente alcançava uma das vigas de madeira que sustentava o teto da casa, mas a calma com que tudo ocorria ali passava a segurança de que a banda tinha tudo sob controle. Junto de Erik, o time formado por Pelle “P.” Forsberg e H. Death (guitarras), Alvaro Lillo (baixo) e E. Forcas (bateria). E assim o Watain deu início ao caos luciferiano com Ecstasies in Night Infinite, faixa que abre o mais recente trabalho, The Agony & Ecstasy of Watain (2022), primeiro pela Nuclear Blast.

A sequência se deu com Black Flames March, do disco Wild Hunt (2013). Até aqui, o som ainda soava embolado, com bateria e vocal muito mais à frente que todo o restante, mas pra sorte dos fãs, o técnico da mesa conseguiu melhorar a qualidade justamente a partir de The Howling, que apesar de ser parte do novo disco, já soa ao vivo como um novo clássico da banda.

I Am The Earth nos levou de volta ao ano de 2003, do álbum Casus Luciferi e mesmo em palco até um pouco apertado e sem a casa cheia, a entrega da banda era como a de se tocasse em um grande festival de estádio. E uma coisa que poucos notaram eram os olhares tortos de Erik para seus músicos, como se uma mera palhetada errada fosse ouvida e reprovada por ele ali de forma discreta. Um perfeccionismo que nem de perto afeta o público que só tinha um show perfeito até ali.

“E”, como um bom frontman de black metal, não é de muitas palavras, mas quando fala, é devidamente ouvido como um líder de um exército e ele fez questão de oferecer a próxima música a nomes clássicos do metal brasileiro: Genocídio, Sexthrash, Holocausto e obviamente Sarcófago e Mystifier, remetendo não somente à abertura de Manu Joker, mas também à relevância desses nomes ao black metal nacional. A música oferecida? Nada menos que Reaping Death.

O show chegava em sua metade com um momento icônico das apresentações do Watain em Devil’s Blood, que é quando Erik espalha sangue em parte dos presentes na beira do palco. Isso gera um conhecido e forte cheiro em seus shows, mas que desta feita passou dos limites. Sem a possibilidade de comprar sangue “fresco” por questões legais, uma reserva circula em turnê pela mala do vocalista, atravessando continentes e os mais diversos climas. Quando ele abriu esse recipiente durante a música para espalhar nos fãs, um cheiro podre de carniça tomou conta da casa de forma que parecia que o sangue estava em cada um de nós ali na pista.

Segundo fontes, até em camarim o cheiro era tão forte que nem a banda dava conta. Mas conseguiu causar um desconforto em todos que é mais que válido em uma banda de black metal e manteve uma parte do ritual de “E” que parecia se conectar com cada um nesse momento do show. Erik é muito intenso, não se trata de um personagem, e isso é claro pra quem conhece um pouco mais da banda, e toda essa intensidade é sentida em palco. Por vezes ele canta olhando um total vazio e em outras, escolhe uma pessoa ali presente e olha diretamente pra ela como se adentrasse à sua alma enquanto berra com uma voz aguda e rouca.

Serimosa também foi um grande momento do novo disco, cujas músicas se saem muito bem ao vivo, tanto que a sequência seguiu nele com a passagem Not Sun nor Man nor God e a música Before the Cataclysm, essa última com destaque para a execução do baterista E. Forcas, principalmente pela precisão em seus bumbos.
Nuclear Alchemy representou o fraco Trident Wolf Eclipse (2018) e poderia muito bem ter dado lugar a uma música como Sworn to the Dark, um dos clássicos dos suecos que ficou de fora do set dessa tour.

Mas aquela que se tornou o clássico mor da banda lá estava para fechar a noite, com sua melodia contagiante e refrão grudento. Malfeitor era a dona da vez para encerrar o show dos caras, com direito a Erik conduzindo um coral entre os presentes para cantar a marcante frase de guitarra. Um momento arrepiante para todos, que dava fim a um show curto, nada diferente do que é uma apresentação da banda e sim por todos ali desejarem mais, exceto por ter que suportar o cheiro de carniça que prosseguiu noite adentro ali na pista.

Após toda a banda se fazer presente na beira do palco para agradecer, todos saem e apenas Erik fica para finalizar seu ritual, de joelhos, de costas ao público, virado apenas para o palco em cruzes invertidas e luzes vermelhas, enquanto um som sinfônico em ‘chorus’ soava nos PAs. Um momento bonito, talvez compreendido por poucos, mas respeitado por todos que aplaudiram o músico ao ficar de pé e mais uma se inclinar a todos em agradecimento.

Foi uma pena o Watain concorrer com outros eventos em um mesmo final de semana e perdendo uma parte de um possível público. Mas quem foi não se arrepende e sentiu mais uma vez que um show da banda é muito mais que uma apresentação musical e só não saíram todos de alma lavada, porque um bom banho se fez necessário ao chegar em casa para não dormir com o “apetitoso” cheiro de carniça da noite.

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