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WHIPLASH – SÃO PAULO (SP)

19 de maio de 2023 - Jai Club

Por Nelson Souza Lima
Fotos: Dani Moreira (@danimoreirafotografia)

Os americanos do Whiplash fizeram no último dia 19 em São Paulo a sua única apresentação em solo brasileiro. Após passar por Chile e Argentina, os pioneiros do thrash metal estremeceram as estruturas da Jai Club, localizado na zona sul da capital paulista. E para alegria geral da “thrasheirada” essa tour contou ainda com a participação dos colombianos porradeiros da Perpetual Warfare.


Whiplash é banda icônica e muito reverenciada. Liderada pelo vocalista e guitarrista Tony Portaro – único membro da formação original –, surgiu em 1984 em Passaic/Nova Jérsei, e gravou álbuns emblemáticos como “Power And Pain” (1986) e “Ticket To Mayhem” (1987). Atualmente integram o grupo, ao lado de Portaro, o baixista Will Dank DeLong e o batera Ron Lipnicki. O show teve organização e produção da Caveira Velha Produções, que tem primazia em trazer da gringa bandas relevantes da cena pesada. A noite contou também com as locais Suck This Punch, Nuclear Frost, Blasthrash, Cranial Crusher e Cemitério. Ou seja, sete bandas no palco, virou um festival thrash/death/black.


De última hora a organização convocou o STP para abrir os serviços. E, desculpem a brincadeira, não estou falando do Stone Temple Pilots e sim dos limeirenses Suck This Punch. Na estrada desde 2015 o grupo liderado pelo vocalista/baixista Tadeu Bon Scott (será que ele gosta de AC/DC?) vem sedimentando a estrada com coesão e porradarias. As críticas são bastante elogiosas ao grupo e no set mostraram músicas de seus dois discos “Fire, Cold and Steel” (2015) e “The Evil On All Of Us” (2022). Atualmente o STP é um power trio sendo completado por Phil Seven (guitarra e vocais) e Matt Pezzoti (batera). Os riffs, licks e solos competentes de Phil Seven são muito inspirados em Zakk Wylde, se mostrando criativos e envolventes. O show dos limeirenses foi curto, em virtude do tempo, com as envolventes “Blindman”, “Machines”, “Best Gun”, “Just Follows” e “Alone”. Como ainda era cedo havia pouca gente na casa, porém quem estava lá conferiu uma ótima abertura do evento.


Na sequência o corre para preparar o equipo para o Nuclear Frost, um quarteto com sonoridade extrema e apocalíptica formado pela vocalista Gabi Crust Force,  cujo vocal gutural impressiona pela técnica. Ladeando a Gabi estão os competentes F(e)j(a)o (guitarra), Nilson Slaughter (baixo) e Huevo (bateria). O grupo mostrou presença de palco e porradarias dos discos “Nuclear Winter Gloom” (2011) e “Anti-Christ/Anti-Nazi” (2012). Com quase dez anos de carreira, o Nuclear Frost se mostra mais uma das forças da música extrema nacional com condições de alçar voos maiores. Inclusive, o quarteto já realizou uma tour pela Europa em 2014. A essa altura o público na Jai aumentou consideravelmente. Em outras palavras, a temperatura e o termômetro thrasheiro iam subindo à medida que as bandas se alternavam no palco e os fãs chegando.


Terminada a apresentação do Nuclear Frost nova troca de equipo para receber o Cranial Crusher. Mais um trio talentoso com sonoridade que vai do heavy ao crust punk, o Cranial é formado por Renan Stoiani (vocal e baixo), Lucas Aímola (guitarra e aniversariante da noite) e Guilherme “Fruto” Fructuoso (bateria). Vindos de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, o trio está na estrada há 13 anos e é herdeiro daquela leva oitentista metaleira que revelou entre outros o Centúrias com letras engajadas que falam de injustiças sociais, em prol do proletariado. As classes sociais mais baixas são sempre massacradas pelo sistema, o que Stoiani fez questão de destacar durante o show da Cranial Crusher. O mais recente trabalho, “Ciclo da Degradação” (2023), baseou o set do trio que trouxe, entre outras, “Marcha do Regresso”, “Tendência Suicida”, “Ciclo da Degradação”, “Distopia” e “Necrópole”. Além do cover bacanudo “Sign of Evil”, dos alemães do Violent Force. Mais uma apresentação de alto nível. A esta altura as primeiras rodas se formaram. Público e temperatura subindo.


Novo corre dos roadies para receber os paulistanos do Blasthrash. Com vinte e cinco anos de estrada, o quinteto formado por Dario Viola (vocal), Jhon França e Diego Rocha (guitarras), Diego Nogueira (baixo) e Rafael Sampaio (bateria), é uma das forças do thrash brasuca. No currículo dos caras estão apresentações ao lado de gigantes como Tankard, Overkill, Onslaught, Ratos de Porão, D.F.C e Vader. Liderado pelo vocalista Dario Viola, o grupo mostrou um set que passeou pelos álbuns “No Traces Left Behind” (2005) e “Violence Just For Fun” (2008), além do novo single “Fake News”, que fala sobre a onda de mentiras e incertezas provocadas por notícias falsas divulgadas nas redes sociais. Os caras abriram o set com “Freedom Lies Dead” e, entre outras, mandaram “Nudity on T.V”, “Violence Just For Fun”, “VxSxF”, “Assassin”, “On The Shores of Uncertainty” e “Possessed by Beer”, com direito a copos de cerveja ao alto e saudações ao aniversariante Lucas Aímola da Cranial Chusher. Os caras encerraram o set com “P.O.T.N.”. E muitas rodas formadas em outra apresentação de alto nível. A banda agradeceu o convite para tocar, enalteceu a produção da Caveira Velha e pediu aplausos para as bandas que vinham a seguir.


Na sequência subiu ao palco o trio Cemitério. Com seu death metal cinematográfico, o trio paulistano formado por Hugo Colon (vocal e baixo), Douglas Maciel (guitarra) e Guilherme Souza (bateria) deu mais uma mostra de competência e domínio de palco e público. A esta altura as rodas já se formavam, com direito a fãs mais exaltados subindo no palco para o insano stage dive. Indo na contramão da maioria dos grupos, o trio traz letras em português com referências a clássicos B do terror. Na discografia se destacam o full length “Cemitério” (2014), o EP “Oãixac Odéz” (2016), reverência a José Mojica Marins, (1936-2020), o Zé do Caixão. No set insano do Cemitério porradas como “Pague para Entrar, Reze para Sair”. “Natal Sangrento”, “A última Casa à Esquerda”, “Sentinela dos Malditos”, “Sexta-Feira 13”, “Holocausto Canibal”, “A Vingança de Crospy”, “Quadrilha de Sádicos”, “Morte Infernal” e “Tara Diabólica”. Várias rodas se formaram durante o cataclisma do Cemitério o que só elevou ainda mais a temperatura para Perpetual Warfare e Whiplash.


Como já disse outras vezes, shows em casas pequenas como a Jai Club permitem contato bem próximo com os músicos. Ver os grupos de pertinho, trocar ideia e cervejas enquanto se preparam o equipo é de boa. Foi o caso novamente. Quando o Perpetual Warfare subiu ao palco para sua apresentação os fãs já se acotovelavam saudando os colombianos. A Perpetual Warfare é dos grandes representantes, senão o maior, do Thrash Metal feito no país vizinho. Criados em 2006 na capital Bogotá, a banda liderada pelos irmãos Camilo Muñoz (vocal e guitarra) e Wilson Muñoz (baixo) trouxe para São Paulo a Power and Warfare Tour, mostrando maturidade, praticando o melhor Thrash, ótimo domínio de palco e interação com os fãs. Wilson além de dominar o contrabaixo faz caras e bocas e tomou vários goles de cerveja presenteado pelo público.

A banda estava super à vontade, saudando os fãs e propondo união entre os povos sul-americanos contra a dominação econômica gringa. Camilo alegou não falar muito bem português, porém com a energia passada pela galera o astral estava lá em cima. Foram pouco mais de sessenta minutos de apresentação em alta voltagem com músicas de todos seus álbuns lançados pelos colombianos. Letras em inglês e espanhol em arranjos muito porradeiros demonstram que a PW deu conta do recado. “Terminator Seed” do disco The Age Of War, de 2013, abriu o set dos caras, seguidos por “A.C.A.B (Total Hate)” do Earthliens, de 2018 e “Showbixxx”, também do The Age Of War. Aliás, o disco estreante da banda foi o que mais contribuiu com o set list. Desse álbum vieram ainda “Otro Cadaver Más”, com direito a refrão cantado a plenos pulmões pelos fãs e “Noche Violenta”. Do disco “Grita o Muere (15 anos de Guerra)”, de 2021, mandaram a faixa-título, “Borrego de Dios” e “Realidad Maldita Realidad”; de “Justicia, Liberta y Decadencia” (2010), mandaram “Muerto on Pogo”, com direito a uma roda insana e muitos stage dives. A banda fechou o set com “The Agony”, de 2020, mostrando que sua primeira passagem pelo Brasil já deixou aquele gostinho de quero mais.


Mesmo após uma saraivada de bandas e porradarias o público ainda queria mais. O gran finale, tão aguardado com o Whiplash não demorou pra começar. Quando Portaro, Lipnicki e Delong subiram ao palco para sua apresentação os fãs mostraram estar empolgados e com fôlego. Pra ver os americanos a casa já estava lotada, sinal de rodas e mergulhos do palco. Rápida passagem de som para abrirem já no gás com “Last Man Alive”, do clássico álbum “Power and Pain”. Aliás, o disco de estreia foi o que mais contribuiu para o set. Nada mais natural, já que figura entre os maiores do thrash metal.

Tony Portaro disse que quando lançaram “Power and Pain” não tinham ideia de que faria sucesso e que ali estava ele tocando o álbum quase quarenta anos depois. Antes de encerrarem com quatro músicas de “Power and Pain” tocaram “Killing On Monroe Street”, de “Thrashback” (1998), “Burning of Atlanta” e “Walk The Plank”, de “Ticket to Mayhem”, e “Insult To Injury”, do disco homônimo de 1989.

Ao tocarem “Stagedive”, Portaro pediu para se formar uma grande roda e que todos perdessem a sanidade. Devidamente atendido a sequência de mergulhos do palco também foi louca. E como prometido o trio mandou uma sequência final com as porradarias: “Red Bomb”, “Spit On Your Grave” e Power Thrashing”, todas de “Power and Pain”. Apesar dos gritos de mais um e apelos, os caras encerraram a apresentação. A tradicional distribuição de palhetas e pedidos para fotos mostraram que o Whiplash tem muitos seguidores em nosso país. Valeu a pena esperar tanto tempo pra ver os caras pela primeira vez.  Se vão voltar, não se sabe. Mas que os fãs estão na febre, isso estão.

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