O Whitesnake retornou a Curitiba no dia 30 de setembro, sexta-feira, com a “The Greatest Hits Tour”. Até então, a última passagem de Coverdale e companhia pela capital paranaense havia ocorrido em 2013, em turnê conjunta com o Aerosmith. Dessa vez, como única atração da noite, se apresentaram no Live Curitiba, local anteriormente conhecido como Curitiba Master Hall, que foi reformado recentemente. A casa abriu por volta das 20h. Enquanto aguardava, o público ouviu vários clássicos no som ambiente, como Rainbow, UFO e até “Purple Rain” do Prince.
Exatamente às 21h55 as luzes se apagaram e começou “My Generation”, do The Who. Quando a intro estava chegando ao final ela foi reiniciada, causando certa estranheza. Novamente, foi executada do começo e também reiniciada próximo do final. Esse processo de executar e reiniciar “My Generation” se repetiu quatro vezes, até que as luzes foram acesas e uma pessoa da produção local avisou que estavam com problemas técnicos, e que em breve a banda se apresentaria. Inclusive, durante o “repeteco”, David Coverdale apareceu “espiando” no canto do palco. Claro, assim que os presentes o reconheceram, reagiram com diversos gritos.
Alguns roadies fizeram ajustes e, cerca de cinco minutos depois, as luzes se apagaram. Sem ‘intro’, os músicos adentraram ao palco, com Coverdale esboçando um “sorriso largo” no rosto. Primeiramente, apontou para seu pulso, em seguida estendeu os braços para trás, fazendo referência ao pequeno atraso. Todos os integrantes em seus respectivos lugares, Coverdale grita “Curitiba”, seguido dos gritos do início de “Bad Boys”, que se mostrou uma ótima escolha para a abertura do show. Após o solo do meio da canção, feito por Reb Beach, Coverdale disse “Make some fuckin’ noise Curitiba”
Sem pausa, veio “Slide It In”, no mesmo pique da anterior. Com esses dois sons foi possível ter uma boa noção de como seria o restante da apresentação. Coverdale até que se movimentou bastante, fez malabarismos com o pedestal do microfone, e suas tradicionais “caras e bocas”, sorrindo quase o tempo todo. Os guitarristas Reb Beach e Joel Hoekstra no melhor estilo “hard / glam anos oitenta”, principalmente Joel, não raro na hora de solar se ajoelhando ou jogando o cabelo para trás, e Tommy Aldridge mandando muito na bateria.
Quanto à voz de Coverdale, é chover no molhado falar que não é a mesma de vinte ou trinta anos atrás, e muito, mais muito provável que quem compareceu em algum dos shows dessa turnê estava ciente disso, a ponto de não se decepcionar com o que viu. Em todas as músicas ele contou com vocais de apoio dos outros membros, menos do Tommy Aldridge, não apenas nos refrãos, também no meio dos versos, e em todas as canções jogou algumas vezes a letra para a plateia. Diga-se de passagem, os quatro foram muito competentes nessa função de apoiar nos vocais, pois sonoramente não ficou um vazio, salvo as partes que propositalmente foram deixadas para a galera se esgoelar.
Como esperado, muitas das partes que exigiam maior potência vocal foram deixadas de lado pelo Coverdale, mas vale ressaltar que em alguns momentos ele cantou algumas notas mais altas. E a banda passou a impressão de que cada backing vocal estava “milimetricamente calculado”, do tipo quem canta em determinado trecho, quando fica somente para o público, deixando o show um pouquinho com cara de “karaokê com qualidade”.
“Love Ain’t No Stranger” veio em seguida, sendo muito bem recebida, bastando os primeiros segundos do teclado de Michele Luppi para a plateia se entusiasmar. Essa é uma que é perfeita para o público cantar junto, principalmente o potente refrão. Mantendo o clima de amor, “The Deeper the Love” trouxe Coverdale fazendo umas poses e caras de galã de novela mexicana.
O som no geral estava bom, porém nessas primeiras músicas a bateria de Aldridge estava mais baixa, e algumas partes não tão nítidas (nos trechos mais “quebradeira” de “Bad Boys”, por exemplo), assim como o baixo de Michael Devin também não estava tão audível nesse começo. Posteriormente foi melhorado, tanto que um roadie (que usava uma camiseta do U2) ficou indo e vindo do palco algumas vezes durante a apresentação.
Prosseguiram com “Fool for Your Loving”, contendo um trabalho muito bacana no teclado, e com o som da bateria melhorada, ficando mais audível as ótimas viradas realizadas por Aldridge e seus bumbos duplos. Na sequência, Coverdale deu um “boa noite Curitiba”, e continuou, em inglês, dizendo que a próxima seria para voltar ao primeiro “Rock in Rio”, vindo “Ain’t No Love in the Heart of the City”, com toda aquela atmosfera.
Literalmente sem parar, mandaram “Judgement Day”, com grande ênfase nos riffs “cortantes” das guitarras. Essa é uma das canções que possui trechos mais altos, e em determinado momento Coverdale começou um grito agudo, que foi terminado por Luppi. No final dela, Reb Beach assume o controle do palco, iniciando o primeiro solo da noite, que durou mais de seis minutos.
Encerrando seu solo, Beach retirou-se sob aplausos, e Joel Hoekstra e Luppi retornaramm, com Joel fazendo um solo cheio de feeling (e pose), com uma bela guitarra roxa cheia de glitter, tendo também o “WS” do logotipo da banda desenhado, que seria usada apenas nesse número. O solo contou também com um trecho no violão. Possivelmente menos técnico que o realizado anteriormente por Beach, porém mais dinâmico, até por contar com o apoio do teclado. Somando, os dois solos passaram dos dez minutos de duração, o que acabou quebrando um pouco o ritmo do show.
Felizmente, “Slow an’ Easy” veio em seguida. Pessoalmente, penso que foi o ápice da noite, com uma baita sonoridade blues rock, contando com um slide realizado por Hoekstra, baixo cheio de força, boas viradas de Aldridge, e principalmente, performance energética de Coverdale, que andou de um lado para o outro a canção inteira. Cantou boa parte dela sem tanto apoio dos demais membros, justificando a pausa anterior, e a que viria na sequência. No finalzinho dela, Coverdale viu que uma pessoa próxima da grade estava levantando um pacote, e cutucou um segurança, para que este o trouxesse para ele. Assim foi feito, com uma “ajudinha”, o presente chegou nas mãos de Coverdale.
A propósito, quando retornou em “Slow an’ Easy”, Coverdale estava com outra camisa, essa preta e com o logo do grupo estampado na frente e nas costas. Na primeira parte da apresentação estava usando uma camisa branca, com uma bandeira do Brasil estilizada, contendo no círculo o logo da banda.
A noite avançava com mais um solo, Michael Devin “brincando” com seu baixo, numa performance mais curta que a dos guitarristas, e bem legal, onde usou alguns efeitos bem interessantes, por exemplo, o de captar uma melodia em algum de seus equipamentos, a deixando em loop enquanto solava por cima, criando camadas de baixo.
Todos de volta, era hora de “Crying in the Rain”, executada na versão “heavy” do álbum homônimo de 1987, onde Aldridge novamente mostrou suas habilidades com bumbo duplo, sendo a deixa para os demais integrantes se retirarem, para ele começar um solo, e não um solo qualquer, mas “o solo” da noite, como bem demonstrado na excelente receptividade do público. Após alguns minutos demonstrando enorme habilidade no instrumento, Aldridge atira suas baquetas para a plateia, e continua o solo somente com as mãos, impressionante! Vale lembrar que ele é o integrante mais velho do grupo, com 66 anos, contra 65 de Coverdale.
Continuando, todos voltaram, tocando ainda mais um trecho de “Crying in the Rain”. No intervalo Coverdale trocou novamente de camisa, utilizando uma que nas costas possuía estampada a seguinte frase: “Make some f@ckin’ noise!!!”. Na sequência ele apresenta os músicos, quando chega no Joel Hoekstra diz que esta é a primeira vez que ele vem para o Brasil.
Era hora de outra balada, “Is This Love”, introduzida por Coverdale com a seguinte fala: “Curitiba, a question for you, is this love?”. “Give Me All Your Love” dá continuidade, esta ficou bem naquela linha “karaokê com qualidade”, pois os quatro ajudaram bastante nos vocais. Aproximando-se do final, “Here I Go Again”, que gerou enorme reação na plateia, capaz de ter sido a maior da noite, justamente por ser uma canção com um refrão perfeito para cantar junto, sendo muito difícil não funcionar ao vivo. A propósito, também tocada como na versão de 1987.
Nessa vibe de euforia, deixam o palco, após exatas 1h 20m dos primeiros acordes terem ecoado pelo Live. Voltaram rapidamente, sem nem mesmo deixarem tempo para gritarem o nome da banda, mandando “Still of the Night”, onde todos tiveram algum trecho com seus respectivos instrumentos ganhando destaque, e visto que já estava no final da noite, comparando com o que foi realizado até então, Coverdale segurou bem as pontas, inclusive no momento antes do trecho final do som, onde as luzes do palco foram apagadas, construindo uma atmosfera relacionada a temática da letra.
Finalizando de vez, como não poderia faltar, uma referência aos tempos de Deep Purple, “Burn”, numa versão “turbinada” com duas guitarras, e claro, com o teclado fazendo a diferença. Todos despediram-se do público, jogando as tradicionais palhetas, setlists e baquetas, ao som de “We Wish You Well” no ambiente. Michael Devin pegou um celular e filmou a galera.
Um show focado mesmo na música e performance dos músicos, com um cenário simples, apenas com três logotipos da banda, e iluminação bem feita, mas nada que ganhasse grande atenção. Merece menção a boa estrutura do Live Curitiba, deixando apenas na “memória não muito distante”, os tempos em que volta e meia se sofria com aperto e calor no Curitiba Master Hall. Ao adentrarem o backstage, já com as luzes acesas, rola a sempre icônica “Always Look on the Bright Side of Life”, do Monty Python. Após cerca de 1h 40m vendo o “Bright Side”, parece um conselho desnecessário.
Set list:
1. Bad Boys
2. Slide It In
3. Love Ain’t No Stranger
4. The Deeper the Love
5. Fool For Your Loving
6. Ain’t No Love in the Heart of the City / Judgement Day
7. Reb Beach Solo
8. Joel Hoekstra Solo
9. Slow an’ Easy
10. Michael Devin Solo
11. Crying in the Rain / Tommy Aldridge Solo
12. Is This Love
13. Give Me All Your Love
14. Here I Go Again
Bis
15. Still of the Night
16. Burn