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Os álbuns imperdíveis do WINGER — e aquele que leva o rótulo “menos melhor”

Os anos 1980 marcaram o surgimento, a ascensão e a explosão mundial do hard rock “made in USA”, e a segunda metade daquela década foi responsável pela formação de supergrupos. Recém-saídos da banda de Alice Cooper, Kip Winger (baixo e vocal) e Paul Taylor (teclados e guitarra) recrutaram o experiente batera Rod Morgenstein (Dixie Dregs) e o jovem guitarrista Reb Beach, que acompanhava a cantora Fiona quando conheceu Kip.

Era 1987, ano em que o gênero deu ao mundo os multiplatinados Whitesnake (o famoso “1987”, do grupo de David Coverdale), Hysteria (Def Leppard), Appetite for Destruction (Guns N’ Roses) e Girls, Girls, Girls (Mötley Crüe). O novo quarteto, que começou sob a alcunha de Sahara e em seguida adotou o sobrenome do líder, não demoraria a acompanhar seus pares.

Os dois primeiros álbuns, Winger (1988) e In the Heart of the Young (1990), foram um enorme sucesso e renderam hits que venceram a barreira do tempo, mas aí vieram os anos 1990. O fracasso comercial de Pull (1993), já sem Taylor, e algumas polêmicas fizeram o Winger encerrar as atividades no ano seguinte ao lançamento do terceiro disco. O primeiro retorno aconteceu em 2001, e hoje, com a formação original mais a adição do guitarrista John Roth, a banda envelhece como vinho.

*Publicado originalmente na edição 277 da Roadie Crew (clique aqui para comprar a revista).

Collection: Winger

Imperdíveis

In the Heart of the Young (1990)

Mais de um milhão de cópias vendidas somente nos Estados Unidos e o 15º lugar no Top 200 da Billboard, numa época de briga de cachorro grande – vendia-se muitos CDs e (ainda) vinis, realmente, e figurar no mais importante ranking americano era, de fato, significativo. O segundo disco do Winger veio no rastro do sucesso do álbum de estreia, só que foi muito além.

A produção de Beau Hill soa menos pasteurizada, o que favorece a excelência das composições, porque Kip Winger, Reb Beach, Paul Taylor e Rod Morgenstein estavam abençoados pelos deuses da música. A começar por uma daquelas canções que marcam uma geração e um estilo: “Miles Away”, composição de Taylor cuja primeira versão demo tinha Eric Martin (Mr. Big) nos vocais.

E não bastasse ser um hit gigantesco, trouxe como lado B a genial “Rainbow in the Rose”, um exemplo do instrumental extremamente sofisticado – e incomparável – do Winger. Algo impensável para um nome jogado no contestado rótulo “hair metal”, a faixa mostrava uma banda que, com toques de jazz fusion, abria uma nova frente: prog hard rock.

Para completar, ainda há uma sequência de clássicos – “Can’t Get Enuff”, “Loosen Up”, “Easy Come Easy Go” e “You Are the Saint, I Am the Sinner” – ao lado de canções igualmente maravilhosas – “In the Day We’ll Never See”, “Under One Condition”, “Baptized By Fire” e até o bônus “All I Ever Wanted”.

Pull (1993)

O terceiro álbum do Winger apresentou aos fãs uma banda repaginada, sem Paul Taylor e com uma sonoridade mais pesada, ressaltada pela produção mais orgânica de Mike Shipley com Kip Winger. Mas não, o Winger não seguiu os passos de Dokken, Warrant e tantos outros que tentaram se adaptar ao tempestuoso momento, uma vez que, somada à saturação do estilo, a onda grunge já começava a varrer o que via pela frente.

“Spell I’m Under”, “The Lucky One” e “Who’s the One” são provas de que a identidade estava muito bem preservada, e “Blind Revolution Mad”, “Junkyard Dog (Tears on Stone)”, “No Man’s Land” e “In for the Kill” (com uma letra que, 30 anos depois, segue absoluta e infelizmente atual) colocavam à frente um trio com sangue nos olhos. A nova roupagem destaca até o groove, marcantes em “Down Incognito” e “Like a Ritual”, e reforça em “In My Veins” algo que passara despercebido até então: Kip canta uma barbaridade.

Porém, mesmo brilhante, Pull nasceu soterrado por fatores externos: na série Beavis and Butt-Head, da MTV, o personagem nerd Stewart usava sempre uma camisa do Winger; e no clipe de “Nothing Else Matters”, do Metallica, Lars Ulrich aparece jogando dardos num pôster de Kip Winger – o que fez James Hetfield, duas décadas depois, ligar pedindo desculpas no lugar de Lars, que, diga-se, não tem metade do talento da unha do dedo mindinho do pé esquerdo de Kip.

Excelentes

Karma (2009)

Segundo trabalho depois do retorno à ativa, Karma é o equilíbrio do Winger do fim dos anos 1980 com o do início dos anos 1990, especialmente o lado mais objetivo do homônimo primeiro álbum com o peso de Pull. Assim, você tanto tem canções arrasadoramente pesadas quanto momentos mais, digamos assim, melódicos, e uma música pode ser apontada como a interseção perfeita entre os dois mundos: “Pull Me Under”, afinal, imagine-a com a aquela produção típica do início da banda… Sim, ela poderia muito bem estar em qualquer um dos dois primeiros discos.

Além dela, há outras canções que resgatam o Winger do passado trazendo-o, porém, totalmente para o presente, casos de “Witness”, “Always Within Me” e a divina “After All This Time”, que acrescenta uma veia blues à sua beleza e traz uma performance impecável de Kip Winger. E não é só isso, claro, porque Supernova surpreende positivamente ao destoar do restante do material, e os riffs, solos e refrãos de “Deal With the Devil”, “Stone Cold Killer”, “Big World Away” e “Feeding Frenzy”, que rasgam no peso, são o complemento da receita que faz do quinto disco do Winger um dos melhores trabalhos do hard rock nos anos 2000.

Better Days Comin’ (2014)

Continuação natural de Karma, mas com vida própria, uma vez que o lado mais melódico e característico é mais forte do que opeso apresentado anteriormente pelo quarteto – que vez ou outra virava quinteto à época, graças a aparições esporádicas de Paul Taylor. A fase pode até ser resumida em “Better Days Comin’”, a música, mais cadenciada e com um refrão que faz da faixa-título uma ode à esperança, mesmo.

Outro dos fatores mais do que interessantes é a espontaneidade levada do palco para o estúdio, e “Queen Babylon” ratifica esse ponto ao se transformar, no fim, numa jam para que Reb Beach e John Roth troquem ótimos solos – a dupla, aliás, atinge aqui um alto nível de entrosamento, o que a rápida “Rat Race” comprova.

O instrumental elegante e sofisticado, destacado anteriormente, está em todos os lugares, mas se livra das amarras do hard rock em “Tin Soldier”, com uma seção à la Dixie Dregs em que obviamente brilha o enorme talento de Rod Morgenstein. E entre tantos destaques, como “Midnight Driver of a Love Machine”, “So Long China” e “Out of This World” (Beach brilhando!) há “Ever Wonder”, uma das baladas mais bonitas que você vai escutar nesta e em outras vidas.

Seven (2023)

A discografia não é extensa, realmente, e é ainda menor se considerarmos que o Winger começou em 1987. Mas você reparou que no quesito “Excelentes” estão os três últimos trabalhos da banda?

E Seven, na verdade, poderia muito bem estar na página ao lado, porque o talento e a relevância da banda, ao andarem de mãos dadas, deram vida ao melhor álbum de 2023. Está na resenha publicada na ed. #275 da ROADIE CREW que o sétimo disco do quinteto – sim, porque Paul Taylor está oficialmente de volta – serve de verbete para definir o que é perfeição, e o mais interessante: de lá para cá, a análise segue intocável, no sentido de que não dá para mudar uma vírgula sequer.

Depois de nove anos, “Proud Desperado” e “It All Comes Back Around”, os dois primeiros singles, mostraram tanto uma volta ao peso de Pull e Karma quanto a genialidade de Kip Winger, respectivamente. Seven, no entanto, é o resultado de talentos individuais extraordinários em prol do coletivo, não importa quem seja o autor de cada canção. Por isso, “Heaven’s Falling”, “Resurrect Me”, “Do or Die”, a belíssima “Broken Glass” e a magistral “Tears of Blood” também estão entre as melhores músicas do ano.

Bons

Winger (1988)

Chega a ser injusto classificar o álbum de estreia do Winger apenas como “bom”, mas são as regras do jogo. De qualquer maneira, Winger tem mesmo o único momento desnecessário de toda a discografia da banda: o cover de “Purple Haze”, de Jimi Hendrix. Ao modernizar o clássico do maior guitarrista de todos os tempos – e modernizar àquela época, que fique bem claro –, Kip Winger, Reb Beach, Paul Taylor e Rod Morgenstein, que ainda contaram com a participação de Dweezil Zappa, erraram feio na mão – no ano seguinte, curiosamente, Ozzy Osbourne e Zakk Wylde fizeram igual com a mesma canção.

Mas a pisada na bola é muito bem compensada com as outras nove faixas, sejam aquelas de menor apelo popular, como “State of Emergency”, “Time to Surrender”, “Poison Angel” e “Without the Night”, e esta é uma das melhores músicas do Winger; sejam as que se tornaram clássicas: “Madalaine”, “Hungry”, “Seventeen” (cuja letra envelheceu mal, realmente, e recentemente ganhou um mea-culpa de Kip) e “Headed for a Heartbreak”, na qual Beach larga palheta e dedos num dos solos mais f*das de toda aquela geração de guitarristas.

Winger Live (2007)

Primeiro e até agora, infelizmente, único álbum ao vivo da banda, Winger Live é mais do que bom. E por três razões, a começar pela simplicidade de ser, veja só você, apenas e tão somente banda e plateia, sem estardalhaços visuais. Ou seja, a música foi a única protagonista da apresentação no Galaxy Concert Theater, em Santa Ana, na Califórnia.

Depois, o setlist, que não se esqueceu do então novo álbum, com três amostras de IV, ao mesmo tempo em que resgatou clássicos e grandes canções. Por último, a performance do quarteto, e aqui é necessário falar de “Rainbow in the Rose”, uma vez que é desumano o que esses caras fazem ao vivo numa música que em estúdio já é um grande quebra-cabeça – e que banda de hard rock dos anos 1980 tinha/tem um batera como Rod Morgenstein? Sério, é de tirar o fôlego, e ainda bem que também tem o DVD – aliás, “Hungry” entrou como bônus do vídeo, enquanto “Blue Suede Shoes” (não, não é a que ficou consagrada na voz de Elvis Presley) aparece somente no CD. Para completar, em “Seventeen” a banda não perde a piada ao alterar um dos refrãos por “she’s only 35”.

Cuidado

IV (2006)

Regras do jogo: da mesma maneira que Winger Live é mais do que bom, IV não merece um sinal de alerta, mas é preciso separar o material. E contextualizar.

Não há dúvida de que o álbum que marcou o retorno do Winger é o menos querido da discografia, e talvez você possa classificá-lo como o “menos melhor” do quinteto – Kip Winger, Reb Beach, John Roth e Rod Morgenstein tinham aqui a companhia de Cenk Eroglu (teclados e guitarra). Por quê?

Talvez por ser um álbum mais progressivo, guardadas as devidas proporções. Talvez pelo contexto lírico, uma vez que Kip abordou conceitualmente o lado dos soldados americanos, e num momento em que a invasão ao Iraque pela coalização liderada pelos EUA não saía das manchetes, culminando com a captura, o julgamento e a execução de Saddam Hussein.

Na prática, canções como “Blue Suede Shoes”, “M16”, “Disappear”, “Generica”, “Livin’ Just to Die” e “Can’t Take it Back” dão esse clima ao disco, enquanto “Right Up Ahead”, “Four Leaf Clover”, “Your Great Escape” e a espetacular “On a Day Like Today” equilibram a balança, que, no fim das contas, fica a favor do subestimado IV.

Outros

Todos sete discos de estúdio e o único álbum ao vivo do Winger puderam ser destrinchados neste Collection, mas há mais de onde eles saíram.

  • Lançada em 2001, ano em que a banda ensaiou seu primeiro retorno, The Very Best of Winger socializou “Hell to Pay”, bônus da versão japonesa de Pull, e trouxe uma inédita, “On the Inside”, finalizada exclusivamente para a coletânea.
  • Outro lançamento deveras interessante é o duplo Demo Anthology (2007), que, como o nome já diz, traz versões demo de canções que vão até o Pull, mas com toques curiosos, como as versões originais de “In My Veins” (chamada de “Hour of Need”), “Baptized By Fire” (“Star Tripper”) e “Hell To Pay” (“Give Me More”), além das inéditas “Written in the Wind”, Until There Was You”, “Without Warning” e “Just Another Face”. Em tempos de YouTube, valem mais do que os “home videos” lançados em VHS entre 1989 e 1991.

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