Após a morte do líder do grupo alemão Stormwitch, Harald “Lee Tarot” Spengler, em 2013, seus ex-companheiros Stefan Kauffmann (guitarra) e Peter Langer (bateria) decidiram finalizar e gravar músicas que estavam trabalhando com ele. Assim, já sob o nome de Witchbound, Tarot’s Legacy foi lançado em 2015. Dois anos depois, a dupla resolveu compor uma nova fase nessa história e reformularam a formação, incluindo Natalie Pereira dos Santos nos vocais. Notou algo neste nome? Sim, a cantora alemã tem um forte vínculo com o Brasil. A ROADIE CREW conversou com ela para saber sobre suas origens e mais detalhes de End Of Paradise, lançado em abril de 2021. Além de Natalie, Kauffmann e Langer, Tobias Schwenk (vocal), Julian Steiner (guitarra) e Frank Bittermann (baixo), completam a banda que faz uma interessante mistura entre vários estilos metálicos.
Espero que tudo esteja bem com você durante a pandemia. E começo a entrevista pelo ponto básico: você é filha de um brasileiro, mas nasceu na Alemanha. Você fala português? Chegou a morar no Brasil?
Natalie Pereira dos Santos: Oi, Alessandro! Muito obrigado, está tudo bem, já que estou saudável. Espero que esteja bem também. Eu vivo em uma pequena cidade chamada Schwaebisch Gmuend, localizada a cerca de 50 quilômetros a leste de Stuttgart. Nunca vivi no Brasil. Meu pai deixou minha família quando eu tinha cinco anos de idade e esse é o motivo pelo qual eu não sei falar esse idioma maravilhoso.
Você acompanha a situação social, cultura e política do Brasil?
Natalie: Neste momento não. Por vários meses a situação social e política da Alemanha está tensa por causa da pandemia. Mas imagino que no Brasil a situação também não esteja fácil.
Mas você conhece as bandas brasileiras de metal?
Natalie: Sim, claro! Acho que todos os headbangers alemães conhecem Sepultura, Soulfly e as demais.
Como você iniciou no mundo do heavy metal?
Natalie: Meu primeiro trabalho foi em uma banda grunge, nos anos 1990. A próxima marca importante da minha jornada musical foi em 1996, quando me uni ao The Blue Season, que era um grupo de gothic rock. Com eles eu toquei em muitos palcos em toda a Alemanha por 10 anos. Depois daquela experiência gótica eu fui uma das fundadoras da banda de metal melódico Envinya, na qual persegui minha paixão pelo metal durante seis anos. Tive alguns projetos de estúdio e outras bandas [incluindo o Bionic Angel] antes de me unir ao Witchbound, em 2017. O que sempre me fascinou sobre o heavy metal são os poderosos riffs de guitarra e baixos estrondosos. O ritmo está no meu sangue.
Quais vocalistas são suas principais influências?
Natalie: Por muito tempo, desde quando eu tinha 15 anos, eu ouvi o grupo holandês The Gathering e o som da voz feminina [de Aneeke Van Giersbergen] me enfeitiçou totalmente. Mas eu não quero imitar a voz dela. Quero cantar com meus próprios sentimentos e meu som. Eu acho que é o jeito correto de ser autêntica em todos os palcos.
Quais são as suas bandas favoritas?
Natalie: Ah, são muitas. The Mercenary, Pink Floyd, Depeche Mode, The Gathering, Joe Bonamassa, Anathema, Dead Can Dance, Lady Antebellum, Pearl Jam, Nirvana, Tiamat, Amorphis, Symphony X e muitas mais.
Algo muito bacana no Witchbound é que você e Tobias [Schwenk, o outro vocalista do grupo] não fazem o típico estilo ‘beauty and the beast’ que grande parte das bandas com cantoras aplicam. Vocês dois usam, e muito bem, vocais limpos. Como funciona o processo de escolha para definir quem fará a voz principal em cada uma das músicas?
Natalie: Em 2018, durante a fase de composição de The End Of Paradise, Martin Wikler [guitarrista] e eu gravamos várias faixas. Antes da morte dele, [no início do ano seguinte] algumas foram finalizadas com minha voz. Então, eu e Tobi trabalhamos juntos nas restantes, mudamos algumas linhas vocais e incluindo o tom exato e as ideias que tínhamos. Esse foi um longo processo e trabalhamos de coração e alma.
A música pesada tem muitos estilos e variantes. Como vocês definem o Witchbound? É heavy metal? power metal?
Natalie: Eu acho que é melódico e power, mas há um pouco de death metal melódico. São músicas de metal clássico e modernos tons ásperos que se mesclam no estilo do Witchbound.
A banda lançou um novo álbum durante a pandemia. Como essa situação toda impactou vocês?
Natalie: Eu acho que fizemos um grande trabalho, pois conseguimos criar e gravar um álbum nesse período. Posso dizer que foi um tempo muito intenso para gravar os vocais com Tobi. Não podíamos estar juntos e nem com os demais integrantes da banda. Isso foi uma viagem difícil, porque o único modo de se comunicar era online e não em uma reunião real. E nós precisamos de ensaios, dos shows, necessitamos nos encontrar e, especialmente, precisamos dos sentimentos entre pessoas. Não ter isso é muito triste!
Como o Witchbound conseguiu compor e gravar as músicas em meio a isso tudo?
Natalie: Tobi e eu gravamos as linhas vocais com Manuel Geisenberger no Dragon Face Studio. Todos os instrumentos foram gravados separadamente.
Vocês têm planos para os primeiros shows?
Natalie: Nesse momento não temos planos para shows, pois a situação está mal na Alemanha. Todos temos esperança de que seja possível estar nos palcos no outono [europeu, entre os meses de setembro e dezembro], mas dependemos das decisões do governo.
E sobre algum dia vir tocar no Brasil?
Natalie: Se você comprar as passagens aéreas, tenho certeza de que vamos! (risos). Mas nesse momento nós ficaríamos felizes se pudéssemos tocar em qualquer palco alemão. Até agora não pensamos nem em datas em outros países da Europa.
Fique à vontade para deixar algumas palavras para o público brasileiro.
Natalie: Tudo o que posso dizer é que continuem saudáveis e fortes e tomem cuidado uns com os outros. Nós somos uma família, música é a chave. Rock on!
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