Certo, quarta-feira é o dia da semana favorito de pouquíssimas pessoas, mas quando se trata de um feriado, a coisa melhora muito o nosso humor. Considerando que era dia primeiro de maio, feriado do Dia do Trabalhador, o paulistano acordou com um humor muito mais ‘faceiro’ do que o costumeiro para o meio da semana, e isso era evidente no comportamento da maioria das pessoas, pelo menos daquelas que não estavam envolvidas em acaloradas disputas ideológicas típicas da era das mídias sociais. Se para uns o dia era de descanso (ou de debate, cada um descansa como quer, certo?), para outros o dia foi de lenta espera, já que a data marcada o retorno dos italianos do Fleshgod Apocalypse, que cerca de dois anos antes tinha tocado em São Paulo ao lado dos gregos do Septicflesh.
Algumas coisas mudaram em relação ao último show do Fleshgod Apocalypse em São Paulo. Claro, ‘um homem não se banha no mesmo rio duas vezes’, mas o que quero dizer é que os italianos vieram desta vez com seu novo álbum prestes a sair do forno, acompanhados por uma banda diferente, e tocaram na mesma casa, embora esta hoje atenda por um novo nome: o que um dia foi Hangar 110 hoje é The House, e acho que isto também configura uma diferença, embora não das mais chamativas. Bem, para começar a noite com a mais significativa das diferenças, os finlandeses do WOLFHEART adentraram o palco com uma pontualidade quase absurda, para trazer o primeiro gosto de seu show ao vivo para os fãs brasileiros.
Liderados pela figura de seu vocalista e guitarrista Tuomas Saukonnen – que naturalmente foi o último a tomar sua posição no palco – os finlandeses chegaram trazendo a sua instigante mistura de metal extremo com fortes melodias, algo que já não soa inovador há muito tempo, mas que ainda é mais do que capaz de extrair do público uma reação de pura paixão e vigor, aquele algo a mais que as bandas sempre esperam das plateias latino-americanas. E, se a intenção era causar alvoroço logo de cara, a abertura com Everlasting Fall, do álbum de estúdio mais recente, Constellation of the Black Light, lançado no ano passado.
Com uma boa qualidade de som, o show transcorreu de forma tranquila, mas alguns perceberam uma atitude meio ‘blasé’ do vocalista, que, embora seja o mentor e o todo poderoso do grupo, não se comunicava com a plateia, limitando-se a cantar e a tocar suas partes de guitarra. Toda e qualquer comunicação com o público vinha do baixista Lauri Silvonen, que não perdia os intervalos entre Aeon of Cold (Shadow World, 2015), Strength and Valor (Winterborn, 2013) e Breakwater (Constellation of the Black Light, 2018), e aproveitava para sempre saudar os presentes, animar o público e mostrar o quanto estava satisfeito com esta primeira visita da banda finlandesa ao Brasil.
O show, que ainda contou com mais duas músicas do ótimo Winterborn (I e The Hunt) e uma do aclamado Tyhjyys (Boneyard) acabou como esperado, com Silvonen saudando muito e agradecendo os presentes, enquanto Saukonnen ‘fugia’ do palco como se a vida dependesse disso. Um show bom, com repertório forte, e uma bela abertura para a banda que viria em seguida.
A curta espera que antecedeu o show dos italianos do FLESHGOD APOCALYPSE não cansou os presentes. E os italianos, sempre usando suas pesadas vestes, adentraram o palco logo depois daquele tradicional momento em que a soprano Veronica Bordacchini aparece diante do público e bate com o seu cetro no chão, algo que já tínhamos presenciado na passagem anterior da banda por São Paulo. Com seu novo álbum, Veleno, pronto para sair do forno (o lançamento oficial é em 24 de maio), a banda chegou com o jogo ganho, e soube usar a empolgação do público ao seu favor já no início, com The Violation, uma das músicas responsáveis por apresentar a banda para o grande público, com seu segundo álbum de estúdio, Agony, de 2011.
As linhas de bateria rápidas e variadas, acompanhadas por riffs de guitarra intrincados e técnicos logo mostraram que estavam diante de uma banda de outro nível, mais acostumada talvez em lidar com o público. O clima seguiu em alta, com uma performance instrumental no mínimo incrível em Healing Through War, do até este momento mais recente álbum de estúdio da banda, o ótimo King, de 2016. Sem brincadeira, a qualidade desta banda tocando ao vivo é tão grande que em certos momentos você desconfia, mas felizmente Francesco Paoli deu uma ‘atravessada’ na música bem a tempo desse repórter parar de levantar teorias da conspiração em sua mente influenciada por Philip K. Dick e Arthur C. Clarke.
Conforme a apresentação ia ganhando mais cores e tons, a ansiedade também ia aumentando para ouvir algumas das novas músicas ao vivo. O Fleshgod Apocalypse já divulgou em seus canais de mídia algumas das suas músicas, e sendo uma banda extremamente técnica e dona de um caráter bastante teatral ao vivo, é muito grande a expectativa de conferir como as novas músicas soarão em suas apresentações, para nós, pela primeira vez. Das novas, Sugar e Fury apareceram no set, e acho que todos saímos lá de acordo que são ótimas músicas, tanto em estúdio quanto ao vivo. Ademais, algumas músicas não podem nunca faltar: Minotaur (The Wrath of Poseidon) e seu andamento fora do convencional, repleto de orquestrações e ótimas linhas de teclado é o momento de brilho do tecladista Francesco Ferrini, assim como The Fool é capaz de destacar o trabalho de qualquer baterista. Já The Forsaking mostra a banda brilhando como um todo, com todos os músicos trabalhando no máximo de suas habilidades, e não existe encerramento melhor.
Mais uma vez, o Fleshgod Apocalypse fez uma ótima apresentação, agradou seus fãs fieis, e nos deixou ainda mais ansiosos pela audição completa de Veleno. Com ou sem grandes parceiros de turnê, esperamos que voltem em breve. De preferência, muito em breve.