Há quem possa fazer uma análise sobre o By Fire & Sword traçando um paralelo com o Ghost, por conta da imagem sacral e dos pseudônimos utilizados pelos integrantes de ambos os grupos. No entanto, as comparações caem por terra no momento em que você dá play. A confecção da música da banda norte-americana, natural de Boise, capital do Estado de Idaho, é muito mais voltada ao heavy metal tradicional e à NWOBHM, com doses cavalares do power metal, tudo feito à sua maneira. Nascido no fim de 2017 e tendo em sua formação The Reverend Tim Tom Jones (vocal), Brother Michael e Brother Jeffrey (guitarras), Brother Zachery (baixo) e Brother Michael Francis (bateria) – alcunhas adotadas por Tom Newby, Mike Ward, Jeff Young, Zak Darbin e Mike Mulcock, respectivamente –, o grupo estreou com o EP Freedom Will Flood All Things With Light (2019) e se prepara para soltar um novo disco em 2021. Saiba mais nas palavras de Jeff Young – ou melhor, Brother Jeffrey.
Primeiramente, nos fale sobre a repercussão do EP Freedom Will Flood All Things With Light.
Brother Jeffrey: A resposta ao lançamento do EP tem sido fantástica. Recebemos apoio de lugares do mundo onde jamais imaginaríamos poder alcançar. Apoio por meio de comentários, e-mails etc. Foi muito maior do que havíamos previsto. Nunca pensei que enviaríamos álbuns e camisas para a Rússia, mas às vezes os sonhos se realizam, e nós definitivamente somos abençoados. Claro que também houve pessoas que não gostaram ou não entendem o que fazemos. Mas tendemos a pensar que significa que estamos fazendo algo certo.
Como se deu o período desde o lançamento do disco, em termos de shows e, claro, de composição de novas músicas? Isso até o início da pandemia.
Jeffrey: Fizemos alguns shows na última metade de 2019, depois que o EP foi lançado em julho. Houve uma pequena turnê pelo noroeste dos EUA no outono (do hemisfério norte). Muita gente apareceu, e a resposta foi ótima. A pandemia apareceu antes que pudéssemos realmente sair e aliar o EP com nossos próximos planos, mas a vida é assim. Quanto às novas canções, o novo álbum está quase todo pronto. No momento, The Reverend e eu estamos dando os toques finais nas músicas. Esse foi um lado positivo da pandemia, pois tivemos muito tempo para compor e refletir.
Além disso, a banda lançou uma versão acústica para Testify, com todas as vendas no Bandcamp revertidas para a National Bail Fund Network (N.R.: projeto que trabalha com organizadores, advogados e provedores legais nos Estados Unidos, que usam fundos de fiança como parte de recursos e esforços para mudar os sistemas de fiança locais e reduzir o encarceramento). O que achou da versão e desta ação?
Jeffrey: Eu e Reverend tivemos a ideia de lançá-la apenas por diversão e, com sorte, iluminar um pouco a vida de algumas pessoas. Era abril (de 2020), ninguém sabia realmente o que estava acontecendo com a pandemia, e esperávamos que ela (a versão acústica) pudesse ser uma fonte de alívio para nossos fãs. Na verdade, doamos todas as vendas de todo o nosso catálogo para a NBFN e ficamos entusiasmados com isso. Existem coisas na vida que você não pode controlar, e acreditamos que uma pessoa não deva sofrer qualquer tipo de violência ou nada indigno. Amamos e aceitamos todos os tipos de pessoas, todos são bem-vindos. Bênçãos de amor e luz para todos nestes tempos sombrios!
E há planos para outras versões acústicas ou alternativas do By Fire & Sword?
Jeffrey: Talvez. No momento, não há nada em andamento, mas pode haver uma versão assim ou alternativa. Amamos o EP, mas estamos muito animados com o novo material. Tem quase o dobro do número de canções, então há mais frutas para colher ‘daquela árvore’.
Com relação ao EP, ele traz um heavy metal com referências ao power metal. Como foi o processo de composição e gravação? E de que forma você apresentaria este álbum a alguém que nunca teve a chance de ouvir o som do By Fire & Sword.
Jeffrey: Eu compus quase todo o EP, antes (de chegar a) esta formação da banda. Então, há todas as minhas influências daquela época. Como ouço muito power metal, não fico surpreso que você tenha ouvido partes deste estilo em todas essas músicas. Gravamos o EP em duas sessões diferentes, em março e novembro de 2018. Gravamos Testify e Where The Light Lets Itself In primeiramente para poder fazer um acordo com gravadoras. Depois, nos cansamos disso, gravamos a última metade do álbum e decidimos lançá-lo nós mesmos. Se eu fosse apresentar nossa música a alguém pela primeira vez, sem saber das preferências musicais dessa pessoa, acho que daria o EP e diria para manter a mente aberta. Não quero impor qualquer tipo de expectativa. É um heavy metal, com algum power metal. Não acho que necessariamente seja um EP de power metal. Eu encorajaria a pessoa apenas a ouvir, em vez de colocar numa faixa específica.
Quais as influências da banda que você diria estarem presentes no EP?
Jeffrey: A coisa mais presente que eu poderia dizer são muitos dos harmônicos que gosto de usar e que aprendi com músicas do Dragonforce na minha adolescência. E estava ouvindo muito Wintersun, Dream Troll, Blind Guardian, Unleash The Archers, GloryHammer e coisas assim na época que estava compondo, embora eu não diria que o EP soe necessariamente como qualquer um desses. O Orden Ogan é realmente ótimo em épicos refrãos, então isso é uma coisa que eu sei que tentei emular. O Gloryhammer tem algo muito legal nas linhas da guitarra, e isso foi importante para mim também. Você tenta não pegar nada emprestado diretamente, mas às vezes pode ser difícil mascarar suas influências.
Há pessoas que apontam alguma influência de Ghost no By Fire & Sword. Você concorda com isso?
Jeffrey: Posso entender isso, com certeza. Creio que seja uma coisa estilística, porque musicalmente não soamos parecidos em nada. Mas quando você tem uma vibe religiosa, com um frontman carismático como nós temos, posso definitivamente ver a comparação. É uma coisa boa, dependendo de como alguém fala isso. Muitos dos fãs ‘true’ de metal não gostam do Ghost. Isso (a comparação) é algo que antes víamos como uma crítica. Mas o Ghost é inegavelmente enorme. Então, se alguém em algum quarto qualquer, nos ouvir por meio desta conexão, acho ótimo.
A banda promete um álbum mais pesado e mais melódico no futuro, certo? E qual a data prevista para o lançamento?
Jeffrey: Sim, certamente pensamos que será mais pesado e melódico. Me parece que será maior para nós, mais épico, com mais orquestração, mais vocais… Tudo que eu pessoalmente gosto, e temos certeza de que nossos fãs serão receptivos quanto ao som. Será mais heavy metal, com algum tempero de power metal e algumas influências de doom épico. Vai ser muito diferente do nosso EP, mas definitivamente uma amostra de crescimento e maturidade.
O By Fire & Sword teve apresentações canceladas ou adiadas devido ao coronavírus, incluindo no Legions of Metal Festival, ao lado de Exciter e The Rods e outras bandas. Como você tem encarado essa situação?
Jeffrey: Além da óbvia decepção com a falta dessa oportunidade, tínhamos uma turnê completa planejada em torno desse festival e que foi cancelada junto com ele. Foi muito decepcionante. Usamos todo esse tempo que a pandemia nos deu para compor o próximo álbum, então acabou não sendo uma perda total. Também nos apresentaríamos no Treefort Music Fest aqui em nossa cidade-natal, que também foi remarcado. Às vezes, parece que este ano (2020) é uma longa sequência de cancelamentos e reprogramações, um após o outro. Estamos apenas usando esse tempo para melhorar e ficar conectados com nossos fãs e iluminar um pouco o mundo.
Para encerrar, Jeffrey, por favor nos fale sobre o lançamento de The Fate of Kings and Men, de seu projeto Weald and Woe. Como é para você transitar entre o heavy do By Fire & Sword e o black metal do Weald and Woe?
Jeffrey: É muito fácil alternar entre os dois estilos. Acho que o material do By Fire penetra mais no Weald & Woe do que o contrário, mas tudo vem de mim para começar. É muito interessante ver as reações das pessoas quanto ao Weald and Woe, principalmente quando percebem que sou o cara de By Fire & Sword. Quando as pessoas percebem, às vezes levam um tempo para entender que o cara da banda de ‘church metal’ também tem um projeto de black metal, mas a maioria das pessoas é muito receptiva. De modo geral, a recepção a ambas as bandas tem sido extremamente positiva, e presumo que continuará assim.