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RAFAEL BITTENCOURT: Projeto Exército da Esperança lança música com mensagem otimista em meio à pandemia

Era março de 2020 e a pandemia estava no início quando o guitarrista do Angra Rafael Bittencourt viu que um momento de mudança estava chegando e escreveu a música Dar as Mãos, cuja letra é uma parceria com MC Guimê. Reuniu um time com inúmeros nomes da música brasileira e agora, mais de um ano depois, o tema foi lançado. A intenção, segundo ele, era criar uma canção que trouxesse esperança nesse momento tão difícil. Para acompanhá-lo, convidou nomes como Carlinhos Brown, Luana Camarah, Toni Garrido, Família Lima, Livia Dabarian, Alírio Netto, Thiago Bianchi, Andria Busic e Marcello Pompeu, entre vários outros. Nesta entrevista, Rafael fala sobre o lançamento da música e do vídeo de Dar as Mãos e sobre o projeto como um todo.

Foto: Julio Mendoza

A música Dar as Mãos foi escrita em março de 2020, ou seja, bem no começo da crise da covid-19. Você já tinha percebido a encrenca que ia ser a pandemia?

Rafael Bittencourt: Vou te confessar que sim. Eu tive uma sensação de que uma grande mudança tinha chegado, como alguns acreditavam que chegaria. Eu notei que algo sério estava acontecendo e que era preciso fazer uma introspecção porque o mundo passaria por uma grande mudança e era uma boa oportunidade para a gente aprender com aquilo. Também entrei em choque, pensando: ‘Quem vai morrer ao meu redor?’ Teve um dia que minha filha ficou resfriada e eu entrei em pânico, comecei a chorar. ‘Minha filha está com covid, ela vai morrer, depois sou eu…’ Porque no começo a gente tinha muito pouca informação. No fim, era só um resfriado, mas naquele começo existia muito drama. Hoje nós nos acostumamos, a coisa continua séria, mas a gente habituou a viver com isso. E eu vi que esse podia ser o momento de a gente repensar o mundo, repensar os valores individuais e coletivos.

Por que demorou mais de um ano para ela ser lançada?

Rafael: Quando ela começou a tomar vulto e envolver outros artistas, complicou um pouco porque eu passei a depender da disponibilidade desses artistas, além de enfrentar algumas limitações técnicas, já que nem todo mundo consegue gravar em casa, então eu tive que juntar gravações feitas em celular com gravações em estúdio profissional, e tive que fazer tudo isso soar de forma coesa – nem o que foi gravado em celular podia soar tão mal, nem o que foi gravado em estúdio podia soar tão bem. E depois de gravado o áudio eu tive que fazer os vídeos, mixar tudo e partir pra edição, que ficou a cargo do Thiago Kiss. E além disso eu tive dois grandes contratempos. O primeiro foi com o produtor musical, Oscar Gonzalez, teve um infarto em julho do ano passado e ficou 45 dias no hospital. Eu não queria mudar o produtor, então esperei ele receber alta. E um dos outros parceiros, que foi inclusive quem me colocou em contato com o MC Guimê, teve o retorno de um câncer e passou a ter que fazer quimioterapia duas vezes por semana. Isso atrapalhou, porque eram pessoas que estavam comigo no projeto. Eu comecei a rezar mais por eles do que pelo projeto. E isso foi aumentando a minha angústia interna, porque juntou a vontade de lançar o projeto, o medo por aquilo que o mundo estava passando e estava me compadecendo desses parceiros que estavam entre a vida e a morte. Foram muitas angústias pessoais. Foi quando eu deixei pro Universo: ‘Quando você achar que isso deve funcionar, a gente faz.’ Fui esperando e mais de um ano depois ele foi lançado.

Foto: Gabriel Costta

Apesar do que estamos vivendo, a letra passa uma visão otimista para o fim disso tudo. Eu já vi gente dizendo essa pandemia está despertando o que há de pior nas pessoas e que só tende a piorar. Você consegue ter uma visão otimista disso?

Rafael: Algumas contradições apareceram. A gente precisava estar unido e fomos forçados a ficar separados; a sociedade estava mascarada e hipócrita e foi obrigada a usar máscara… Então há uma série de condições que nos faz concluir que o que estamos vivendo é uma questão espiritual. É comum quando há alguma tragédia alguns quererem só se salvar e outros preferirem ser solidários, empáticos com a situação. Quem tinha tendência ao individualismo está sendo mais individualista, mas quem tem empatia e acha que tudo isso está sob o comando de algo maior, esse se solidariza com o outro, estende a mão. Ele vê isso como algo que vai sirvir para nosso crescimento, não só como indivíduos, mas espiritual. E esse crescimento é em vão se for só de um indivíduo. A verdade é que a gente tem que caminhar espiritualmente e coletivamente. A minha esperança é que no fim vai vencer a união.

O chamado Exército da Esperança é super eclético, com gente de vários gêneros musicais. Como você chegou nesses nomes?

Rafael: A música é uma conversa. E eu imaginei assim, uma conversa minha com outros artistas. Eu percebi que com a pandemia o artista tinha assumido uma nova importância social. As pessoas passaram a ficar sozinhas em casa procurando os artistas – ouvindo música, vendo lives, assistindo séries, lendo livros. Então, eu imaginei uma conversa entre os artistas, e nós nos revelando também na nossa fragilidade, na nossa solidão. O artista hoje é super glamourizado e as pessoas têm uma referência meio falsa. Eu achei que seria importante mostrar nossas fragilidades dizendo: ‘Nós também estamos angustiados, nós também estamos sozinhos, mas estamos juntos. Então, vamos nos unir e não deixar o otimismo ser perdido.’ Eu acho que essa pode ser a oportunidade de as pessoas olharem por cima do muro, por cima das diferenças, das fronteiras das diferenças. O primeiro em que eu pensei foi o Carlinhos Brown. Imaginei como seria conversar com ele sobre isso tudo. E pensei na Família Lima, que são meus amigos, no pessoal do Bittencourt Project, no Alírio, que é meu amigo, no Andria, no Pompeu… São pessoas que eu tenho amizade e admiração mútua.

Foto: Julio Mendoza

Por que a parceria na composição foi com um MC?

Rafael: Esse meu amigo que esteve tratando câncer me sugeriu, porque é amigo dele. E eu tinha dito que queria um parceiro para escrever. Eu tenho muitos parceiros musicais e poucos parceiros para texto. E eu já tinha falado que eu gosto da narrativa do hip hop, acho até mais interessante do que a narrativa do heavy metal em muitos aspectos, é mais coloquial, mais intensa, mais profunda. Quando ele me sugeriu o MC Guimê a música já estava pronta, mas eu gostei da ideia, sempre gostei de misturar estilos. Então eu abri um buraco na música. E por coincidência o produtor do MC Guimê, Bruno Agra, é meu amigo há muitos anos. Aí eu compus aquele trecho junto com o Bruno, passei a ideia pro Guimê e ele entendeu perfeitamente. Quando ele me ligou e leu os versos eu comecei a chorar. Eu disse: ‘Você tá fazendo um metaleiro chorar.’ (risos) E a música engrandeceu porque ele é um grande letrista.

Você está lançando esse projeto e qual é a ideia depois dele? Qual vai ser a continuidade?

Rafael: A ideia é o Rafael começar a fazer mais coisas sociais; a ideia é o Rafael começar a fazer música para artistas de outros estilos cantarem; a ideia é o Rafael continuar a escrever músicas em português; a ideia é o Rafael continuar criando coisas que não sejam destinadas necessariamente para o público do heavy metal. Eu gostaria que essa música fosse usada numa campanha que levasse recursos para quem precisa, adoraria licenciar pra uma ONG que auxilie pessoas necessitadas. O heavy metal atende um público específico de uma maneira muito específica. Desde que eu decidi ser músico, eu imaginei conversar com a sociedade em geral de uma maneira mais ampla. Então, essa música visa isso e a extensão é essa: escrever para outros artistas, trazer outros artistas para cantarem comigo – hip hop, sertanejo, transexual, o Rafael está aberto pra isso, para a quebra dos preconceitos. Isso é mais difícil de fazer dentro do Angra, o público do Angra é mais conservador, o público do heavy metal em geral é mais conservador, mas eu com minha própria imagem estou super livre e pronto pra isso.

Para assistir ao vídeo de Dar as Mãos:

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