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Editora divulga trecho de “Rainbow in the Dark”, autobiografia do icônico RONNIE JAMES DIO

Antes de morrer, em 2010, Ronnie James Dio estava escrevendo sua autobiografia, contando a história de como saiu da cena de rock regional de Nova York para liderar três grupos do rock e heavy metal inovadores: Rainbow (com o ex-guitarrista do Deep Purple, Ritchie Blackmore), Black Sabbath, e sua própria banda, Dio. Ao longo da última década, a viúva de Dio, Wendy, e o renomado jornalista musical Mick Wall concluíram o livro, chamado “Rainbow in the Dark: A Autobiografia”, com lançamento mundial em 2021. No Brasil, o livro será lançado em agosto, pela editora Estética Torta.

Neste trecho exclusivo do livro, Dio conta como Sharon Osbourne o apresentou ao guitarrista do Black Sabbath, Tony Iommi, e revela as dúvidas que ele teve sobre substituir Ozzy Osbourne. Ao mesmo tempo, o cantor se lembra da emoção que sentiu ao começar um novo capítulo para a banda icônica, culminando no que seria o sucesso de platina da banda em 1980, “Heaven and Hell”.

“Rainbow in the Dark: A Autobiografia” de Dio chega ao mercado brasileiro em 31 de agosto, com aproximadamente 350 páginas e acabamento de luxo, com capa dura, verniz localizado e pintura trilateral. A pré-venda acontece através do site da editora, aqui.

A editora também lança, concomitante com a autobiografia, a graphic novel Holy Diver: uma adaptação para quadrinhos da história por trás do principal álbum solo de Dio. Garantindo o combo livro + HQ, a editora oferece um desconto de 20% sobre o valor dos produtos, além de um pôster exclusivo. Para adquirir o combo, acesse aqui.

Confira trecho de “Rainbow in the Dark: A Autobiografia”:

Enquanto isso, Wendy tinha feito amizade com Sharon Arden, que logo se tornaria Sharon Osbourne. Sharon estava trabalhando para o pai, Don Arden, um dos empresários mais temíveis do mundo da música. No Reino Unido, era conhecido como Mr. Big. Don gostava de se gabar que tinha ligações com a máfia, gostava que soubessem que carregava uma arma e tinha vários bordões que gostava de usar, como “Tenta a sorte”. Particularmente, era o que a frase sugeria se você fosse otário o bastante para contrariar Don.

Don ganhou dinheiro empresariando artistas tão diversos como Little Richard, Gene Vincent, The Animals, The Small Faces, ELO e, agora, Black Sabbath, para citar apenas alguns. Ele era tão rico, que morava em uma enorme mansão em Beverly Hills que já havia sido propriedade de Howard Hughes. Sharon morava com Don na mansão. Foi por intermédio da conexão de Wendy com Sharon que fui convidado para conhecer os caras do Sabbath. Tudo se deu de modo muito simpático e polido, quando partimos não pensei mais no assunto. Eles estavam se preparando para fazer seu próximo álbum com Ozzy e eu ainda estava pensando em meu próximo passo.

Então o destino resolveu dar uma mãozinha. Certa noite, eu estava no Rainbow quando chegou o alto e taciturno guitarrista do Sabbath, Tony Iommi. Gostei de Tony imediatamente. Sabia que ele era o líder musical do Sabbath, o mentor por trás de alguns dos riffs de guitarra mais clássicos da história do rock. Começamos a conversar e descobrimos que ambos estávamos pensando em fazer um álbum solo. Tony confidenciou-me que a banda havia acabado de expulsar Ozzy. Ozzy foi o primeiro a admitir que era o pior inimigo de si mesmo naquela época, num período em que seu consumo de álcool e drogas estava completamente fora de controle. Ele, dificilmente, foi o único astro do rock a sofrer esse destino. Tony explicou que o baixista da banda e letrista mais frequente, Terry “Geezer” Butler, também estava passando por alguns problemas familiares. Daí a inclinação de Tony em considerar algum tipo de projeto solo.

Naquele momento, eu queria experimentar ideias e sugeri uma possível colaboração. Podia ser que sim. Podia ser que não. Um dia, talvez. Quem sabe, nada demais. A próxima coisa que me lembro é de estar na parte de trás da limusine de Tony rumo a um estúdio em Los Angeles, onde ele queria me mostrar e tocar essa “ideia para uma música”, mas estava tendo problemas em terminar sem um vocalista e algumas letras. Quando ele apertou o play no console, não pude acreditar no que estava ouvindo! Essa não era uma ideia improvisada que ainda precisava de uma tonelada de trabalho. Este era, de pleno direito, o bestial Sabbath!

Começava melancólica e incandescente, violões ágeis, realçados por trechos mágicos de guitarra. Então, de repente, após cerca de 40 segundos, lá estavam, saindo dos alto-falantes como uma tempestade de relâmpagos, os derradeiros riffs monstruosos. Nenhum outro guitarrista na história do rock poderia ter surgido com algo parecido. Pesado, puro, mas ainda brilhando como um farol. Antes que a música tivesse chegado à metade, antes que Tony pudesse perguntar o que eu estava pensando, já estava rabiscando as palavras que me vieram imediatamente.

“In the misty morning, on the edge of time, we’ve lost the rising sun, a final sign…”.

Então eu estava cantando no microfone, Tony rolando o som, um sorriso enorme estava esculpido em seu rosto. Era a primeira coisa que Tony e eu escrevíamos juntos, e era uma das melhores. Chamamos de “Children of the Sea” e, da primeira vez que reproduzimos a demo, nas primeiras horas da manhã seguinte, nós dois sabíamos. Isso é o que faríamos a seguir, acontecesse o que acontecesse.

No início, a conversa era eu trabalhar com Tony em seu álbum solo. Essa noção foi rapidamente dissipada à medida que criamos juntos mais e mais músicas incríveis. Com Ozzy definitivamente fora e Geezer começando a voltar de sua crise familiar, Tony e Bill deram o próximo passo lógico e me convidaram para entrar no Black Sabbath. A verdade é que ele nunca quis terminar o Sabbath. Ele simplesmente não conseguia ver como poderiam continuar sem Ozzy.

Admito que, de início, evitei a expectativa. Estava desesperado para fazer minhas próprias coisas novamente, depois de anos trabalhando sob as leis de Ritchie Blackmore. Eu também não tinha certeza de como diabos deveria substituir Ozzy Osbourne no Black Sabbath. Diferentemente dos anos seguintes, quando grupos como Van Halen, Bad Company, Iron Maiden, e até mesmo Queen, conseguiram trazer um novo frontman impunemente, no final dos anos 1970, a ideia de uma banda mundialmente famosa, como o Sabbath, substituir seu frontman era considerado impensável. Led Zeppelin sem Robert Plant, Rolling Stones sem Mick Jagger? Sacrilégio.

O fato de eu já ser bem conhecido do público do rock, como o cantor do Rainbow, era uma faca de dois gumes, a meu ver. Eu poderia, no fim, afastar tanto os fãs do Sabbath quanto do Rainbow. Por outro lado, na opinião de Tony, trazer um novo vocalista, do qual ninguém nunca tinha ouvido falar, era um risco muito maior. Tony me disse que tinha certeza de que eu era capaz de ser o substituto. Bem, vocalmente, com certeza. Ozzy era um grande frontman, mas um grande cantor? Não muito. Mas Ozzy era o Sabbath, no que dizia respeito às legiões de fãs em todo o mundo. Como eles iriam gostar do cara americano do Rainbow, não importa o quão bem eu pudesse cantar?

Alguém que, definitivamente, não achava que eu estava à altura do trabalho era Don Arden, que enlouqueceu ao descobrir o que Tony tinha feito, ameaçando com todo o tipo de retaliação. Don sabia muito profundamente, no entanto, que a situação com Ozzy não era mais sustentável. Também fazia anos que aquela formação não tinha um recorde de sucesso nos Estados Unidos. A certa altura, até sugeriu que eu compusesse com Tony e cantasse no álbum, mas que levassem Ozzy para uma turnê.

Quando Tony disse a Don onde ele poderia enfiar aquela ideia estúpida, aquilo foi o fim do Sabbath, no que dizia respeito a Don. Ele cancelou o aluguel da casa que estava alugando para eles e vendeu o contrato de gestão empresarial para um cara chamado Sandy Pearlman, então empresário do Blue Öyster Cult, uma das muitas bandas americanas dos anos 1970 a ser diretamente influenciada pelo pioneirismo do Sabbath. Ele então disse a Sharon para começar a cuidar de Ozzy como um artista solo: o início de uma estrada longa e incessantemente sinuosa que merece um livro próprio.

Porém, para ser justo com Don, eu também ainda não estava inteiramente convencido. O que inclinou minha mão no final foi a absoluta qualidade das canções que Tony e eu estávamos compondo. Isso, mais o fato de que Tony me garantiu que não seria como a minha situação no Rainbow, onde Ritchie era o chefe e ponto-final. Se eu me juntasse a ele no Sabbath, seria como um parceiro com voz em pé de igualdade, tanto musicalmente quanto ao que dizia respeito aos negócios.

O argumento decisivo, em verdade, foi quando Wendy pegou e me disse com toda franqueza: “Ronnie, temos menos de 800 dólares no banco, precisamos fazer alguma coisa!”.

Wendy estava certa, é claro. Sempre estava. Liguei para Tony: “Ok, cara, tô dentro. Quando começamos?”.

Trecho extraído de Rainbow in the Dark: A Autobiografia © 2021 by Estética Torta. Todos os direitos reservados.


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