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ClassicTBT #12: CADAVERIA – The Shadows’ Madame

Para aqueles que gostavam de chafurdar nos pântanos do underground extremo, a cena italiana nos anos 90 ia ‘muito bem, obrigado’. Embora o cenário não parecesse tão prolífico se comparado com outras nações (Suécia, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos viviam um furor quase desenfreado), as bandas que apareciam na Itália vinham carregadas de um caráter único, e mesmo os grupos oitentistas entraram na nova década lançando alguns de seus registros mais apreciados. NECROMASS, MORTUARY DRAPE, CULTUS SANGUINE, DEATH SS e muitos outros mantinham a cena ativa, enquanto o NECRODEATH passava a década de 90 praticamente inteira ensaiando um retorno que só de fato aconteceria em 2000, com o álbum Mater Of Evil (antes dele, a banda tinha lançado os álbuns clássicos Into The Macabre e Fragments Of Insanity em 1987 e 1989, respectivamente).

Lado a lado com os gigantes citados, existia uma outra banda, que também cravava o seu nome entre as lendas da música extrema. Claro, estou falando do OPERA IX. Nascido no final dos anos 80, e contando sempre com a liderança do guitarrista Ossian D’Ambrosio, a banda adentrou a então nova década com força total, lançando logo de cara um registro definitivo do black metal italiano, o crucial The Call Of The Wood, de 1994. Em seguida, mais um clássico foi forjado, Sacro Culto, de 1998. Tudo seguia muito bem, e no ano 2000, o terceiro álbum completo chegava para provar que a banda vivia um grande momento: The Black Opera: Symphoniae Mysteriorum in Laudem Tenebrarum era um álbum denso e forte, repleto de ótimos momentos brutais, além de uma aura negra e mística que colocava o grupo de vez entre os gigantes do black metal. Tudo parecia correr muito bem, mas a verdade é que não era bem assim.

Cerca de um ano após o lançamento do seu terceiro álbum completo, a OPERA IX passou por uma grande cisão: o baterista Flegias e a vocalista Cadaveria decidiam abandonar o barco, enquanto a banda continuava adiante com novos integrantes. Se a OPERA IX já apareceu no ano seguinte com o álbum Maleventum (que conta com a bateria de Taranis e os vocais de Madras, ambos que registraram apenas este álbum), a coisa não seria diferente com a nova banda dos ‘desertores’, muito adequadamente intitulada CADAVERIA. A escolha desse nome fora providencial, como a própria vocalista explicou na época para a ROADIE CREW: “Eu queria que todas as pessoas soubessem que a Cadaveria era parte de uma nova banda, e que isso fosse imediatamente reconhecido”. Mas esse não era o único motivo, então ela acrescenta, “ao mesmo tempo, dar o meu nome à banda foi um ato para mostrar que ela possui uma grande parte de mim, porque no CADAVERIA eu sou totalmente livre para expressar quem realmente sou.”

Essa liberdade para expor os rincões mais recônditos da sua alma foi fundamental para que Raffaella Rivarolo (nome verdadeiro da vocalista) abandonasse a antiga banda: “Nós (ela e Flegias, que doravante assinava Marcelo Santos, mas na verdade chamado Alberto Gaggiotti, também vocalista do NECRODEATH) não concordávamos com a direção artística e ideológica que os outros integrantes do OPERA IX estavam tomando, então, depois de nove anos os nossos caminhos se separaram”, ela declarou para a ROADIE CREW, enquanto acrescentava que a ideia de uma nova banda não era algo novo na vida dela: “Eu sempre pensava em começar um projeto paralelo, mas o tempo sempre foi um tirano, pois o OPERA IX retinha todo o meu tempo livre. Quando deixei a banda, tinha muitos objetivos musicais a realizar, então aquela remota ideia de um projeto paralelo imediatamente se tornou realidade, e agora a CADAVERIA é a minha banda definitiva.”

Porém, a nova banda jamais assumiu a cara de um projeto paralelo, nem tampouco a faceta de ‘banda solo da ex-vocalista do OPERA IX’. As coisas aqui eram encaradas com total seriedade, e Cadaveria e Marcelo Santos trataram logo de unir um bom time para acompanha-los. Baron Harkonnen (ex-KILLERS LODGE, atual DYNABYTE) assumia os teclados, Killer Bob (ex-NECRODEATH e RAZA DE ODIO, atual WINTERNIUS, DYNABYTE e KILLERS LODGE) ficou com o baixo, e Frank Booth (que tocou com o OPERA IX nos tempos de Sacro Culto) assumiu a guitarra. Sólida e centrada, a formação não demorou a começar a trabalhar nas composições de seu álbum de estreia, material que a vocalista vinha colecionando nos últimos meses: “As músicas do The Shadows’ Madame foram construídas em cima de ideias que eu já tinha há mais de um ano”, contou-nos a vocalista, “propus as minhas letras e melodias para o restante da banda. Frank começou a transpor algumas partes na guitarra, Flegias trabalhou em sua bateria e, dia após dia as faixas começaram a ganhar forma. Entramos em estúdio quando as músicas estavam 90% prontas.”

Gravado entre setembro e novembro de 2001 no estúdio Capitan Woofer (Itália), com produção de Killer Bob e masterização de Alberto Cutolo (DIABLERIE, NECRODEATH, SADIST, SKYLARK, WHITE SKULL e muitos outros), The Shadows’ Madame é imensamente diferente daquilo que Cadaveria e Flegias fizeram nos seus tempos de OPERA IX, e essa diferença era proposital. “No OPERA IX as músicas e as letras seguiam uma direção definida” contou a vocalista, “enquanto no CADAVERIA tudo é composto com mais liberdade artística, sem medo de abrir o estilo que fazemos para novas influências. A variedade do som deve ser creditada às diferentes influências que cada membro da banda possui.”

E ‘variedade’ talvez seja a palavra-chave para compreender e apreciar por completo este The Shadows’ Madame. Intencionalmente estranho e bizarro em momentos, o álbum não exclui os velhos elementos black metal que marcaram a jornada de Cadaveria e Flegias, mas incorpora uma gama tão grande de elementos diversos que é quase impossível encaixar o disco sob um único rótulo, com a maior parte dos resenhistas recorrendo ao pouco claro ‘black gothic metal’ para tentar definir o som aqui apresentado. E ainda assim, você não entenderá claramente o que se passa nos pouco mais de 38 minutos do álbum. Isso fica evidente logo de cara, pois já na abertura Spell o ouvinte é surpreendido por uma canção que vai de um frenético ‘avantgarde black metal’ para uma abordagem mais arrastada e ‘sludge’ em segundos, tudo para depois retomar para algo mais corrido e extremo. Esse clima de pluralismo musical permanece firme em Declaration of Spiritual Independence, e ganha tons ainda mais nítidos no ataque midtempo que marca o início de In Memory Of Shadows’ Madame.

Porém, se você quer ver variedade real, mergulhe fundo em Circle Of Eternal Becoming, dona de riffs de metal clássico, e uma abordagem vocal épica e limpa, que ilustra com perfeição toda a versatilidade de uma das melhores vocalistas de todo o cenário. E, já que o lance aqui é experimentar, que tal curtir a abordagem ‘70’s occult rock’ que impregna a ótima The Magic Rebirth? Ou seja, a não ser que você busque por uma continuação daquilo que era feito pelo OPERA IX, este The Shadows’ Madame tem tudo para te agradar. Tudo mesmo, pois este disco jamais permanece preso em um único caminho, e mostra a força da grande ‘dama das sombras’, que recentemente superou o câncer e já trabalha em novas músicas.

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